Como
aproximar a ciência e o cidadão
Soraya Pereira*
Pesquisa realizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia
já em 1987 (A imagem da ciência e tecnologia junto
à população urbana brasileira), e refeita
em outros anos, revelava que as pessoas se interessam por ciência
e tecnologia e gostariam de ver assuntos relacionados a essa área
com mais freqüência na mídia. No entanto, apesar
do indicativo, poucos projetos editoriais ganharam corpo. Entre
os motivos podem estar a falta de preparo para cobertura desses
temas, a dificuldade de relacionamento entre jornalistas e pesquisadores
e problemas nas estratégias de comunicação.
Em relação à imprensa, alguns estudos mostram
a dificuldade de divulgar o processo científico. Um artigo
do professor Wilson Bueno, da Universidade Metodista de São
Paulo, ele expõe a necessidade da mídia resgatar
o sentido autêntico da ciência, como uma aventura
humana, voltada para a descoberta e para realização
do talento humano. Para isso, é preciso que o jornalismo
se liberte da apologia dos resultados e do exótico e destaque
o processo de criação numa perspectiva crítica
e contextualizada.
Algumas poucas instituições como a Embrapa, o Museu
Emílio Goeldi (PA) e a Universidade de Campinas (SP) investiram
na contratação de profissionais da área de
comunicação com o intuito de facilitar o contato
com jornalistas e comunidade em geral. A iniciativa deu maior
visibilidade a esses centros de pesquisa e tem contribuído
para aproximar diversos públicos que se beneficiam do conhecimento
gerado pelos pesquisadores.
Por outro lado, muito ainda precisa ser feito para que a comunicação
se estabeleça naquelas regiões onde as distâncias
impõem limites quase que intransponíveis. Há
poucos dias, visitei uma comunidade de pequenos produtores de
abacaxi a 100 km de Rio Branco (AC) e notei a falta de informações
relativas à cultura. Quando questionei sobre o acompanhamento
de notícias que tratam do universo rural em rádios,
TVs e jornais, as respostas soaram como um alarme.
Mesmo o rádio, um veículo de grande alcance, tem
perdido espaço para a TV com a chegada da energia elétrica.
Ao mesmo tempo, aquelas casas não recebem o sinal da TV
local. Portanto, mais que saber produzir uma boa pauta sobre ciência
e tecnologia é preciso desenhar estratégias para
que a informação chegue e reverbere.
Neste contexto, a Embrapa adotou algumas estratégias. Uma
delas é o programa de rádio Prosa Rural, que tem
formato e duração definidos, se pauta por temas
de aplicabilidade no cotidiano rural e é distribuído
gratuitamente para mais de 570 rádios comerciais e comunitárias
nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Em 15 minutos,
assuntos peculiares de cada região são discutidos
com pesquisadores e produtores e ainda há espaço
para manifestação cultural com obras de artistas
da terra ou receitas típicas. No Acre, o Prosa é
transmitido pelas rádios Aldeia FM (sábado, 7h),
Difusora (sábado, 17h) e Alvorada (sábado e domingo,
às 5h).
As opções de horários, dias e freqüências
ampliam as chances de audiência do programa. No entanto,
reconhecemos que é preciso melhorar alguns aspectos, principalmente
a linguagem radiofônica e o uso de "temperos"
como salientou a jornalista Mara Régia que produz, há
14 anos, o programa Natureza Viva, que trata de assuntos da Amazônia
e a vida das populações tradicionais da região.
Os temperos são todas as coisas que dão ritmo, enriquecem
a sonoridade e pluralizam a mensagem. Recursos que Mara Régia
domina como ninguém a ponto de mobilizar pessoas a saírem
da mata e descerem os rios só para enviar uma carta ao
programa. Por ano, o Natureza Viva recebe mais de 500 cartas vindas
de ouvintes dos lugares mais remotos da Amazônia. É
uma experiência que precisa ser melhor documentada para
trazer subsídios a projetos similares.
Mas para que as estratégias de comunicação
encontrem eco a outra ponta tem que estar apta para receber a
mensagem. A educação surge como componente chave
e por isso a Embrapa Acre tem investido no fomento de minibibliotecas
em comunidades rurais. O projeto piloto teve início esse
ano com foco em Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia,
Xapuri e Capixaba. O objetivo é ter um acervo diversificado
para despertar o gosto pela leitura e, a partir dela, ampliar
os horizontes daqueles que assumirão a propriedade. Esse
projeto, conduzido pela analista Mauricília Pereira, realizou
oficinas com professores para discutir formas prazerosas de leitura,
tornando-a parte do dia-a-dia.
Paralelamente, estão sendo produzidos spots de um minuto
para rádio com soluções para as principais
questões do campo como conservação do solo
e produção de sementes. Alunos da Escola Técnica
de Comunicação, do Centro de Educação
Profissional Campos Pereira, deram voz aos spots dramatizados.
E outros estão sendo produzidos com testemunho dos próprios
agricultores que falam da experiência com algumas tecnologias.
Por serem curtinhos, os spots poderão entrar a qualquer
momento na programação das rádios várias
vezes por dia. A veiculação terá início
em 2007.
O acesso às informações
de ciência e tecnologia é premissa para o exercício
da cidadania porque na medida em que a população
tem elementos para refletir pode decidir sobre seu destino. Por
isso, a comunicação tem papel fundamental no que
tange a aproximação da ciência e o cidadão.
Cabe a nós, comunicadores, estudarmos novos caminhos e
mecanismos mais eficientes para a socialização do
conhecimento.
---------------------------------------------------------------------------------
Soraya Pereira
Jornalista da Embrapa Acre.
---------------------------------------------------------------------------------
|