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O
preconceito contra a divulgação científica
Governos,
pesquisadores, educadores etc reconhecem , pelo menos em discurso,
que a divulgação científica - e o jornalismo
científico em particular - desempenham papel fundamental
no processo de democratização do conhecimento. Estas
duas atividades têm como objetivo reduzir o analfabetismo
científico e permitir, com isso, que um número maior
de cidadãos brasileiros participe ativamente do processo
de tomada de decisões e consiga entender o que está
acontecendo à sua volta, com impacto dramático no
universo do trabalho, do lazer, na sua própria vida afinal.
Esta
constatação não tem sido acompanhada, no
entanto, de medidas práticas para estimular a circulação
de informações de ciência e tecnologia junto
ao chamado público leigo, seja através dos meios
de comunicação, seja pela edição de
livros didáticos, patrocínio de publicações
especializadas (fascículos e guias ) ou produção
de recursos multimídia (CDs, DVDs), sites etc.
Muito
pelo contrário: assiste-se, com a cumplicidade de boa parte
de professores, pesquisadores, de instituições e
de governos, o esvaziamento do processo de divulgação,
ainda que, aqui e acolá, surjam iniciativas importantes,
como as promovidas pela FAPESP, em São Paulo (revista,
agência de notícias, bolsas de pesquisas) e pela
equipe coordenada pelo prof. Ildeu Araújo (com seu projeto
de apoio à divulgação científica),
efetivamente comprometida com o aumento da massa crítica
na área.
Os
nossos centros de produção de ciência e tecnologia
(universidades, institutos de pesquisa etc) , ressalvadas as exceções
- que são poucas - continuam ignorando a divulgação
da ciência, sem uma política definida e ações
concretas para tornar acessíveis aos cidadãos os
resultados de seus projetos e trabalhos.
O
que mais incomoda , no entanto, é a visão equivocada
dos órgãos ou entidades que avaliam os programas
de pós-graduação em Comunicação,
que continuam dando as costas ao esforço necessário,
obrigatório, de interação entre a Academia
e a sociedade. Isso está consolidado no sistema de avaliação
da Capes para a área que não valoriza os esforços
feitos nestes sentido, julgando-os como produção
ou contribuição menor.
A
avaliação da produção de Programas
e de docentes não pode reduzir-se ao esforço de
disseminação (circulação de informações
entre especialistas) , mas contemplar (e portanto incentivar)
a participação de professores e pesquisadores na
divulgação de resultados de pesquisa e no diálogo
com a sociedade. É importante publicar um artigo numa revista
científica Qualis A, mas não é menos importante
colaborar com a mídia, produzindo artigos ou debatendo
como fonte temas de interesse nacional.
Se
o modelo atual não for alterado, continuaremos reforçando
o distanciamento entre os centros de produção do
conhecimento e a comunidade que os financia. Esta falta de sensibilidade
não contribui para fortalecer as universidades e os institutos
de pesquisa, mas os torna vulneráveis a críticas,
a incompreensões daqueles que julgam que o investimento
em pesquisa não é importante porque não traz
retorno. Alguns governantes de plantão e muitos parlamentares
sanguessugas tendem a acreditar que a ciência e a tecnologia
devam fazer parte apenas dos programas de Governo de países
desenvolvidos, que é mais importante construir "singapuras"
do que canalizar recursos para a pesquisa.
A
divulgação científica não pode ser
vista como despesa, mas como investimento. Ela é, sobretudo,
um ato de cidadania e de inclusão social.
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