A
ciência como agenda política
Antes
mesmo de definidas as candidaturas para a eleição
presidencial e dos Estados em 2006, os debates entre os postulantes
já estavam a pleno vapor, particularmente nos meios de
comunicação, especialmente com o embate PT x PSDB
(Lula x Alckmin) para a Presidência da República.
Como
de costume, a discussão tem se centrado (e podemos imaginar
que tenderá a permanecer assim até o dia das eleições)
em determinados temas, como segurança, ética e corrupção,
desenvolvimento, alimentada por interesses particulares e pela
busca do voto a qualquer preço. Poucas chances novamente
de a ciência e a tecnologia ganharem espaço, seja
nos programas de governo, seja nas falas dos candidatos que, a
exemplo de tantos outros que já os sucederam, não
as contemplam entre suas temáticas preferidas, certamente
admitindo que elas estão longe das preocupações
de brasileiros e brasileiras.
Há
um imenso equívoco nestas posições, simplesmente
porque a ciência e a tecnologia tendem a ser percebidas
como processos e/ou atividades que se desenvolvem em lugares privilegiados
por mentes também privilegiadas, quando não como
algo que nada tem a ver com o "aqui e agora".
Embora
o presidente Lula esteja se reportando, até com alguma
frequência, ao programa do Biodiesel, notadamente para aproveitar
um nicho bastante explorado atualmente pela mídia, existe
um discurso enorme entre a teoria e a prática. O Governo
nem mesmo tem conseguido manter estável o preço
do álcool que continua oscilando ao sabor dos interesses
dos usineiros, que estão mais atentos ao preço internacional
do açúcar do que motivados para a adesão
a qualquer alternativa energética. Fala-se em Nanotecnologia,
mas os recursos são tímidos para colocar o Brasil
em condições de competir com outros países
que, de há muito, já perceberam as vantagens de
financiar projetos estratégicos nessa área. A vigilância
sanitária tropeça nas próprias pernas e sofre
assédio permanente dos grandes lobbies industriais nos
quais se destaca o permanente esforço da indústria
farmacêutica, da indústria agroquímica etc
para aumentar vigorosamente os seus lucros.
As
universidades e os centros de pesquisa (estaduais ou federais)
continuam enfrentando inúmeras dificuldades, com os investimentos
para a pesquisa e os salários dos pesquisadores deteriorando-se
a olhos vistos, numa lento mas dramático processo de sucateamento.
Lula
e Alckmin têm mesmo pouco a falar sobre ciência e
tecnologia porque, ao longo de suas trajetórias, não
tem contribuído efetivamente para alterar o cenário
desfavorável em que elas se encontram. Enquanto isso, o
País despenca no ranking da produtividade e da inovação
e continua apostando que o futuro está apenas na exportação
de commodities.
Alguns
centros de excelência, como a Embrapa, têm sido penalizados
por este olhar vesgo e têm se valido da competência
e dedicação de seus pesquisadores e técnicos
para manter e ampliar projetos de relevância para o País.
Ao mesmo tempo, surgem recursos para auxiliar empresas e setores
que, se encontram dificuldades para manter empregos, é
porque têm se caracterizado por uma gestão pouco
competente, como as montadoras.
A
comunidade científica, as universidades, os institutos
de pesquisa, os jornalistas e comunicadores de ciência não
podem se omitir nesse momento e estarem empenhados para que a
ciência e a tecnologia frequentem a agenda dos candidatos.
Elas não podem continuar sendo acionadas apenas quando
servem a interesses eleitoreiros e podem render bons espaços
na mídia.
A
ciência e a tecnologia brasileiras precisam de compromisso,
não de discursos.
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