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Jornalismo
Científico, por Maysa Salles da Costa Lima
Vera
Rolim Salles é professora da Fundação
Instituto Tecnológico de Osasco (FAC-FITO).
"A
Declaração Sobre a Ciência e o Uso do Conhecimento
Científico, adotada pela Conferência Mundial de Budapeste
realizada pela UNESCO, reconheceu que o acesso ao conhecimento
científico, a partir de uma idade muito precoce, faz parte
do direito à educação de todos os homens
e mulheres, e que a educação científica é
de importância essencial para o desenvolvimento humano,
para a criação de capacidade científica endógena
e para que tenhamos cidadãos participantes e informados.
A Declaração insiste em que a educação
em ciência, sem discriminação e abrangendo
todos os níveis e modalidades, é um requisito fundamental
da democracia e também do desenvolvimento sustentável."
Werthein
A
divulgação científica é hoje instrumento
essencial na democratização do conhecimento, como
forma de promover o diálogo entre a esfera dos artigos
científicos e a sociedade, não apenas na forma de
simples difusor de informações, mas também
como uma pré-condição do avanço econômico
e tecnológico. Nos últimos anos, vem sendo dada,
em nosso país, uma maior importância à veiculação
da ciência para os leigos, o que pode ser comprovado através
do número crescente de veículos e canais que vêm
sendo criados para incrementar este diálogo.
Segundo
a professora Vera Rolim Salles, da Fundação Instituto
Tecnológico de Osasco (FAC-FITO), tem ocorrido um incremento
da divulgação científica no Brasil nos últimos
dez anos, tanto em quantidade como em qualidade, especialmente
devido à consolidação de editorias especializadas
em Ciência nos grandes jornais. Entre os meios de comunicação
brasileiros especializados mais competentes, a professora destaca
as Revistas da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
e da Fapesp e as emissoras de televisão Cultura e Globo.
Em
contrapartida, ressalta, o Brasil é um país de ensino
deficiente, onde a alfabetização científica
é precária e o incentivo do governo à educação
é muito pequeno. Mesmo quando a pessoa apresenta boa formação,
os valores da sociedade atual são vinculados diretamente
ao mercado. A professora aponta esta deficiência no ensino
público como uma das causas do analfabetismo que, consequentemente,
acaba por gerar a falta de acesso às informações.
Tais deficiências têm reflexo direto na mídia
televisiva, onde programas educacionais e de temas científicos
não recebem o espaço adequado: "(...) a televisão
aberta, que é uma das mídias mais assistidas no
país, dedica pouco espaço à ciência,
colocando programas sobre temas científicos em horários
de baixa audiência", completa a professora.
Apesar
da ampliação da ciência e tecnologia como
temas nos veículos de comunicação, inúmeros
problemas caracterizam a cobertura. A professora aponta, dentre
eles, a preferência da mídia por assuntos bizarros,
de maior apelo do povo, e o tratamento sensacionalista das notícias
como forma de vender mais facilmente a informação.
No entanto, o profissional deve buscar ser competente a ponto
de não perder a credibilidade, precavendo-se contra informações
de idoneidade duvidosa apenas para conseguir maior audiência.
A
linguagem dos artigos, bem como a competência do jornalista,
são fatores determinantes para o sucesso na transmissão
da informação, o que implica necessariamente em
profissionais que saibam comnunicar-se de forma atraente e correta.
O risco de distorção é inerente à
tarefa de transmitir a informação, mas pode ser
minimizado pelo jornalista por um maior domínio do assunto
em pauta.
A
jornalista julga que formação de jornalistas científicos
no Brasil ainda é deficiente, talvez pela existência
de poucos cursos voltados para esta questão (cita o Laboratório
de Jornalismo Científico da UNICAMP como referência.
A professora destaca a importância da formação
de jornalistas científicos em cursos de especialização
apropriados que estejam vinculados especialmente às instituições
científicas, universidades e que tenham espaço na
grande espaço, como por exemplo, Grupo Folha, Estado, Abril
e Globo.
Além
da falta de incentivo na formação de profissionais
competentes, constata-se também grande resistência
dos cientistas em relação à mídia
e a divulgação de seus trabalhos. Cientistas e jornalistas
possuem regras próprias e interesses diversos, o que favorece
a ocorrência de atritos neste relacionamento. Escrever sobre
ciência para um público leigo exige simplificação
e apelo, já que o veículo precisa "vender"
a informação e despertar o interesse do receptor.
Como o cientista privilegia o trabalho metódico, lento
e preciso, onde não se postulam "verdades" e
sim paradigmas provisórios , ele teme a generalização
e distorção como forma de atrair o interesse da
população.
Vera
Salles julga ser difícil o convívio entre os "donos"
das informações e os responsáveis pela sua
transmissão ao público leigo:"(...) é
uma questão de linguagens e formações diferentes;
a do profissional jornalista voltada para o geral e a do cientista
para o específico". Concorda com o fato de o cientista
julgar-se mais sábio que o profissional de comunicação,
uma vez que o primeiro dispõe no curriculum de uma formação
de pelo menos 4 anos no assunto, em contraposição
às noções gerais do jornalista.
Como
exemplo de relação saudável entre jornalista-cientista,
a professora Vera R.Salles relata uma experiência profissional
positiva vivida há dois anos na SBPC, quando coordenou
a edição e publicação de suplementos
sobre ciência em jornais. Eles tinham como objetivo dar
suporte aencontros regionais de professores do ensino médio
realizados em várias capitais do país e baseavam-se
em materiais, informações cujas fontes eram os pesquisadores.
Desta relação, ela guarda lembranças positivas,
considerando a experiência rica exatamente porque se baseou
em um trabalho em conjunto e em parceria.
Vera
Salles julga que é preciso fazer uma distinção
entre a disseminação científica e a divulgação
científica. A divulgação científica
veicula informações de linguagem acessível
para o público leigo através do trabalho de jornalistas
responsáveis. Já a disseminação científica
preocupa-se em produzir textos especializados, através
dos próprios pesquisadores, carregados de detalhes e termos
técnicos para conhecimento e debate da comunidade científica.
Atualmente, existem universidades e instituições
de pesquisa no Brasil que possuem veículos de informações
científicas de acesso livre ao público. No entanto,
conforme a jornalista, esse trabalho ainda precisa melhorar, uma
vez que inúmeras teses e monografias , resultado de pesquisas
importantes, ainda permanecem arquivadas e não chegam ao
conhecimento do público. Além disso, o há
um descompasso que precisa ser reduzido: nos centros de pesquisa
ainda se investe mais na transmissão do conhecimento entre
os próprios cientistas do que na divulgação
para a população.
Vera Salles defende a tese de que o progresso da divulgação
científica depende de três personagens principais
que devem estar articulados: o pesquisador (a fonte), o jornalista
( que veicula a informação) e o público alvo,
que normalmente estão inseridos num contexto político,
caracterizado por interesses e disputas de poder.. É preciso,
segundo ela, que a sociedade esteja disposta e mobilizada para
lutar pela transparência da informação como
um direito do cidadão, que incentive e valorize a democratização
do conhecimento, que favoreça o fomento de novas pesquisas
e que apoie o desenvolvimento tecnológico efetivamente
comprometido com o desenvolvimento econômico e social.
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