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Divulgação
Científica e Saúde, por Natália Favrin Keri
Ana Cláudia de Assis Rocha Pinto é doutora
em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo na área
de Endocrinologia. Atualmente ela é diretora do Personal
System Care Plus, programa de pesquisa privado, pertencente a
uma empresa que comercializa planos de saúde, que estuda
a prevenção de doenças como diabetes e hipertensão.
A pesquisadora é membro do American College of Preventive
Medicine. Em entrevista realizada no dia 11 de abril de 2006,
a endocrinologista e pesquisadora falou das diferenças
entre a divulgação das pesquisas realizadas em âmbito
privado e em âmbito universitário. Ana Cláudia
realizou sua graduação em Medicina na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, na Faculdade
de Medicina de Sorocaba. Fez, então, pós-graduação
na Unifesp, dando aulas nesta instituição entre
1983 e 1999. Durante a pós-graduação, ela
publicou diversos artigos em revistas internacionais sobre o desenvolvimento
de suas pesquisas. No endereço eletrônico PubMed
(1), mecanismo de busca de artigos científicos da área
de medicina, há 7 artigos cadastrados pela pesquisadora,
todos em língua inglesa.
Ana Cláudia afirma que escolheu veículos como Journal
of Endrocrinological Investigation ou o The Journal of Clinical
Endovrinology and Metabolism para encaminhar os seus artigos,
devido ao grande prestígio destas publicações.
Segundo ela, o pesquisador da área médica só
é efetivamente reconhecido por seu trabalho, quando publica
um artigo nesses meios de comunicação.
Ana Cláudia ressaltou que a consagração de
ter um artigo científico publicado em revista internacional
impõe uma série de dificuldades, desde a redação
correta em língua inglesa até o enquadramento do
estudo nos padrões exigidos pelas publicações.
A pesquisadora acredita que até existem revistas científicas
nacionais boas, mas a falta de rigor na seleção
de trabalhos e a maior facilidade de publicação
diminuem o prestígio, a credibilidade e a qualidade das
informações dos veículos nacionais.
O orientador do projeto de pesquisa de pós-graduação
tem um papel essencial de estímulo à divulgação
do andamento dos trabalhos. Ela conta que o departamento de endocrinologia
da Unifesp tem uma tradição de publicar o conhecimento
ali gerado. Outra dificuldade para a divulgação
científica, segundo Ana Cláudia, é o fato
de que "no Brasil, o pesquisador faz tudo", desde a
coleta de material clínico até a contabilidade do
projeto, ficando um tempo escasso para a preparação
de material de divulgação. Uma pesquisa é
fruto de um dispêndio de dinheiro público e de um
desgaste emocional muito grande, sendo "uma obrigação
quase moral publicar seus resultados".
Em seu projeto atual, no Personal System, Ana Cláudia desenvolve
trabalhos que poderiam ser publicados. No entanto, sofre restrições
na divulgação por ser uma pesquisa de caráter
privado. As restrições surgem principalmente do
medo de alimentar a concorrência com os dados publicados.
Outros entraves são as dificuldades em se obter o consentimento
informado dos participantes da pesquisa. Como Ana Cláudia
é uma pesquisadora da área de saúde, suas
pesquisas envolvem a observação e participação
de pacientes. Para que a pesquisa seja publicada, é necessário
que cada um dos participantes aceite a publicação.
A endocrinologista acredita que as pessoas não estão
habituadas aos procedimentos científicos e à pesquisa
na área de saúde, o que dificulta a obtenção
do consentimento.
Durante sua vida profissional e acadêmica, Ana Cláudia
entrou em contato com a mídia em diversas ocasiões.
Em anexo, há uma das reportagens em que ela foi fonte,
intitulada "Enquanto você dorme" e publicada na
Revista Criativa da Editora Globo, na edição 199,
em 03/11/2005. Ela conta que todos os contatos com jornalistas
foram muito gratificantes e que, em suas experiências pessoais,
houve um relacionamento "bem bacana". Ela relata que
a maioria dos jornalistas enviou a matéria para ela realizar
eventuais correções antes de ser publicada.
A pesquisadora sente como muito positiva a divulgação
de assuntos relacionados à saúde nos meios de comunicação.
Alerta, porém, que as informações oferecidas
pela mídia devem servir como estímulo para que as
pessoas busquem orientação médica. Tendo
em vista a grande quantidade de informações disponíveis
sobre saúde, uma das tarefas do médico é
indicar fontes de informação seguras ao paciente.
O avanço da internet, por exemplo, faz com que os pacientes
tenham um maior acesso aos dados sobre saúde, nem sempre
confiáveis.
Como endocrinologista que também atua na área clínica,
Ana Cláudia observa que a falta de tempo nas consultas
e a ausência de vínculos com o médico, causadas
pela precariedade das condições de trabalho do profissional
de medicina, fazem com que o paciente muitas vezes confie mais
nos meios de comunicação que no próprio médico.
A pesquisadora acredita que há quantidade suficiente de
informações sobre saúde na mídia.
Devido à sua atual pesquisa, ela recolhe matérias
sobre a prevenção de doenças. Ela relata
que houve um grande crescimento de publicação de
reportagens sobre saúde durante os últimos sete
anos, sendo atualmente muito raro encontrar uma edição
de revista semanal em que não haja uma matéria ligada
a esse assunto.
Ana Cláudia aponta alguns fatores que podem prejudicar
a credibilidade e a precisão das informações
na mídia: em primeiro lugar, a reportagem é a interpretação
de dados técnicos por uma pessoa leiga, não podendo
ser tomada como expressão de uma verdade absoluta; em segundo
lugar, em diversas reportagens pode-se perceber que há
a articulação de interesses comerciais de hospitais
e laboratórios, que colocam sua auto-promoção
acima da precisão das orientações. Como um
exemplo deste segundo caso, ela apontou uma matéria da
revista Veja que indicava a todos os maiores de 40 anos um exame
de colonoscopia, medida considerada desnecessária por boa
parte da classe médica. Por trás da indicação,
transparecem os interesses do único hospital que realiza
tal exame. Em anexo, há uma cópia da matéria
de Veja, "Check-up: você ainda vai fazer um",
publicada na edição 1799 em 23 de abril de 2003
(2).
Na área de saúde, Ana Cláudia indica dois
veículos de informação brasileiros que, na
sua opinião, desenvolvem um ótimo trabalho de divulgação
científica. O primeiro é voltado para os profissionais
de saúde: é o Projeto Diretrizes (3), uma espécie
de livro de medicina on-line que funciona como um guia de conduta
para médicos em diversas ocasiões. O segundo, voltado
para o público em geral, é o endereço eletrônico
do Hospital do Câncer (4), que oferece orientações
para toda a população.
Os problemas na cobertura de ciência e tecnologia, principalmente
na área de saúde, seriam minimizados com um esforço,
por parte do jornalista, em manter-se bem informado, tanto sobre
os assuntos básicos da medicina, quanto sobre as articulações
econômicas que também permeiam este campo. Para a
pesquisadora, a leitura prévia de informações
sobre o assunto a ser abordado, a fim de se elaborar as perguntas
certas à fonte e de se compreender as respostas da mesma,
melhoraria tanto a cobertura quanto o relacionamento entre o pesquisador
e o jornalista.
Ana Cláudia afirma que, se por um lado "é a
obrigação do profissional de saúde fazer-se
entender", por outro lado, o jornalista que se dedica à
área de saúde precisa ter em sua formação
pessoal uma bagagem básica de assuntos relacionados à
medicina. Ela conta que, em geral, não há uma preocupação
da escola médica em preparar os futuros médicos
e pesquisadores para trabalhos de divulgação científica
nem para o relacionamento com a mídia. A disposição
para um trabalho de parceria com a imprensa parte do bom senso
de cada pessoa.
Ana Cláudia observa que, quanto mais distante o pesquisador
está do paciente, mais dificuldade ele sente em traduzir
o palavreado técnico para leigos e, portanto, mais dificuldade
tem em cooperar com a divulgação científica
voltada para o público em geral. Ela ainda aponta que entre
as antigas gerações de médicos havia uma
espécie de orgulho profissional que fazia com que vissem
o relacionamento com a mídia como algo desagradável.
A nova geração, ela garante, percebe a necessidade
de compartilhar seus conhecimentos e procura cooperar com a mídia.
Notas
1) PubMed - www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi
- consultado em 22/04/2006
2) A matéria também
está disponível no endereço http://veja.abril.com.br/230403/p-074.html
- consultado em 22/04/2006
3) www. projetodiretrizes.org.br
- consultado em 22/04/2006
4) www.hcanc.org.br
- consultado em 22/04/2006.
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