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A
divulgação científica no Brasil e o interesse
público
Caroline Petian Pimenta*
A
tarefa de transmitir ciência ao público tem sido
exercida não só por jornalistas, mas pelos próprios
cientistas. Um trabalho recente desenvolvido por mim e por colegas
da Universidade Metodista de São Paulo, mostrou que na
revista Scientífic Americam Brasil, importante revista
de divulgação científica distribuída
no Brasil, as grandes reportagens são, quase que exclusivamente
feitas por cientistas. E essa realidade pode acontecer, talvez
pela falta de aprofundamento do repórter quanto ao tema,
ou mesmo por uma questão de credibilidade, o cientista
está, muitas vezes, à frente de reportagens sobre
C&T, no Brasil.
A
divulgação da ciência é uma atividade
que influencia na economia do país, nas estratégias
industriais e mais, ajuda em descobertas importantes para a vida
do homem. Por esses motivos, a ciência deveria ser de interesse
público e este público deveria ser suficientemente
informado sobre o que está sendo pesquisado no país.
No Brasil, diferentes veículos, se propõem a fazer
a divulgação da ciência. Ao divulgar seu trabalho,
o cientista "(...) presta contas à sociedade daquilo
em que ela investiu. Isso cria uma cumplicidade de que tudo o
que é investido acaba retornando em benefícios."
(COSTA [sd]).
Seria
equivocado dizer que a divulgação científica
está ligada apenas às ciências tradicionais,
como a física, a química, a biologia e a matemática.
A ciência hoje está em todas as áreas do conhecimento,
desde a religião até a comunicação.
No entanto, a população brasileira nem sempre busca
ou tem acesso ao conteúdo científico, talvez por
acreditar que a divulgação científica sirva
apenas para os pares. No entanto, uma pesquisa realizada pelo
Instituto Gallup em 1987, sob encomenda do CNPq, sobre o tema
"O que o brasileiro pensa da Ciência e da Tecnologia",
revelou que 70% da população urbana brasileira tem
interesse em Ciência e Tecnologia. (OLIVEIRA, 2000, p.314-315).
Então, já que a população se interessa
por C&T o que pode estar faltando para haver um entrosamento
entre divulgador e leitor seja uma cumplicidade em que os pesquisadores
mostrariam, de forma clara, o que está sendo pesquisado,
para que os cidadãos tomem gosto, cada vez mais, por assuntos
de C&T.
Se
a população conhece o que está sendo produzido
pela ciência, os projetos de pesquisa podem receber ou não
o aval e o respaldo da população e, conseqüentemente,
poderá haver maior suporte financeiro do poder público
e de instituições de apoio a pesquisas.
Copérnico, em seu prefácio dedicado ao Papa Pablo
III Farnesio, dizia: "As matemáticas são escritas
para os matemáticos". Pelo contrário, no século
XIX, um matemático, Gorgonne, afirmava: "Ninguém
pode orgulhar-se de ter dito a última palavra sobre uma
teoria, no entanto, não se pode explicá-la em termos
simples a qualquer um que se encontre na rua". Como disse
Le Lionnais, ao comparar estas duas afirmações,
a verdade deve ser encontrada entre estas duas posições
extremas. (HERNANDO, 2002, www, tradução nossa)
O
discurso da ciência não pode ser direcionado apenas
aos pares, mas também não pode se fundamentar apenas
na linguagem popular, já que os termos específicos
da linguagem científica precisam ser compreendidos a partir
dos preceitos em que foram criados. Assim, a divulgação
científica, ainda que popularize o discurso científico,
sempre se fundamentará nas particularidades que definem
a linguagem da ciência.
A
Ciência, ao longo de sua história, foi gradativamente
assumindo a condição de porta-voz da verdade que
supostamente estaria contida nas coisas. Tal status, na medida
em que lhe atribui autoridade, confere-lhe um perfil institucional.
A fim de corroborar tal posição, seu discurso deve
se constituir a partir de uma perspectiva universal, e não
do ponto de vista de um sujeito particular. A impessoalidade e
a objetividade características do discurso científico
atribuem-lhe, dessa forma, um caráter de inquestionabilidade
e, portanto, de veracidade. (LEIBRUDER, 2002, p.237).
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética
da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
BUENO, Wilson da Costa. Manuel
Calvo Hernando, um exemplo e uma referência. Disponível
em <http://www.jornalismocientifico.com.br/artigojorciencalvohernandosabercientifico.htm>
Acesso em 12 de junho de 2006.
COSTA, Flora Inês Matos.
A nobre missão da divulgação científica.
Disponível em http://www.zenite.nu/tema/ Acesso em 15 de
junho de 2006.
HERNANDO, Manuel Calvo. La divulgación
científica y los desafios del nuevo siglo. Disponível
em <http://www.jornalismocientifico.com.br/artigodivciencalvohernandocongressousp.htm>.
Acesso em 01 de junho de 2006
HERNANDO, Manuel Calvo. El saber
científico y tecnológico se digiere mal <http://www.jornalismocientifico.com.br/artigojorciencalvohernandosabercientifico.htm>
LEIBRUDER, Ana Paula. Discurso
de Divulgação Científica. In BRANDÃO,
Helena Nagamine. Gêneros do Discurso na Escola. 3ª
ed. São Paulo: Cortez, 2002.
OLIVEIRA, Fabíola de. O
jornalismo como instrumento para a formação de uma
cultura científica no país. In: DOWBOR, Ladislau;
IANNI, Octavio; RESENDE, Paulo-Edgar A.; SILVA, Hélio (org).
Desafios da Comunicação. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2000.
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Caroline Petian Pimenta
Jornalista, mestranda em Comunicação Social
pela Universidade Metodista de São Paulo e bolsista CNPq.
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