<% pagina = "http://" & request.ServerVariables("HTTP_HOST") & request.ServerVariables("URL") %> Ciência & Comunicação - Artigos
Volume 3
Número 4

20 de julho de 2006
 
 * Edição atual    

          A divulgação científica no Brasil e o interesse público

Caroline Petian Pimenta*

          A tarefa de transmitir ciência ao público tem sido exercida não só por jornalistas, mas pelos próprios cientistas. Um trabalho recente desenvolvido por mim e por colegas da Universidade Metodista de São Paulo, mostrou que na revista Scientífic Americam Brasil, importante revista de divulgação científica distribuída no Brasil, as grandes reportagens são, quase que exclusivamente feitas por cientistas. E essa realidade pode acontecer, talvez pela falta de aprofundamento do repórter quanto ao tema, ou mesmo por uma questão de credibilidade, o cientista está, muitas vezes, à frente de reportagens sobre C&T, no Brasil.

          A divulgação da ciência é uma atividade que influencia na economia do país, nas estratégias industriais e mais, ajuda em descobertas importantes para a vida do homem. Por esses motivos, a ciência deveria ser de interesse público e este público deveria ser suficientemente informado sobre o que está sendo pesquisado no país. No Brasil, diferentes veículos, se propõem a fazer a divulgação da ciência. Ao divulgar seu trabalho, o cientista "(...) presta contas à sociedade daquilo em que ela investiu. Isso cria uma cumplicidade de que tudo o que é investido acaba retornando em benefícios." (COSTA [sd]).

          Seria equivocado dizer que a divulgação científica está ligada apenas às ciências tradicionais, como a física, a química, a biologia e a matemática. A ciência hoje está em todas as áreas do conhecimento, desde a religião até a comunicação. No entanto, a população brasileira nem sempre busca ou tem acesso ao conteúdo científico, talvez por acreditar que a divulgação científica sirva apenas para os pares. No entanto, uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup em 1987, sob encomenda do CNPq, sobre o tema "O que o brasileiro pensa da Ciência e da Tecnologia", revelou que 70% da população urbana brasileira tem interesse em Ciência e Tecnologia. (OLIVEIRA, 2000, p.314-315). Então, já que a população se interessa por C&T o que pode estar faltando para haver um entrosamento entre divulgador e leitor seja uma cumplicidade em que os pesquisadores mostrariam, de forma clara, o que está sendo pesquisado, para que os cidadãos tomem gosto, cada vez mais, por assuntos de C&T.

          Se a população conhece o que está sendo produzido pela ciência, os projetos de pesquisa podem receber ou não o aval e o respaldo da população e, conseqüentemente, poderá haver maior suporte financeiro do poder público e de instituições de apoio a pesquisas.

           Copérnico, em seu prefácio dedicado ao Papa Pablo III Farnesio, dizia: "As matemáticas são escritas para os matemáticos". Pelo contrário, no século XIX, um matemático, Gorgonne, afirmava: "Ninguém pode orgulhar-se de ter dito a última palavra sobre uma teoria, no entanto, não se pode explicá-la em termos simples a qualquer um que se encontre na rua". Como disse Le Lionnais, ao comparar estas duas afirmações, a verdade deve ser encontrada entre estas duas posições extremas. (HERNANDO, 2002, www, tradução nossa)

          O discurso da ciência não pode ser direcionado apenas aos pares, mas também não pode se fundamentar apenas na linguagem popular, já que os termos específicos da linguagem científica precisam ser compreendidos a partir dos preceitos em que foram criados. Assim, a divulgação científica, ainda que popularize o discurso científico, sempre se fundamentará nas particularidades que definem a linguagem da ciência.

          A Ciência, ao longo de sua história, foi gradativamente assumindo a condição de porta-voz da verdade que supostamente estaria contida nas coisas. Tal status, na medida em que lhe atribui autoridade, confere-lhe um perfil institucional. A fim de corroborar tal posição, seu discurso deve se constituir a partir de uma perspectiva universal, e não do ponto de vista de um sujeito particular. A impessoalidade e a objetividade características do discurso científico atribuem-lhe, dessa forma, um caráter de inquestionabilidade e, portanto, de veracidade. (LEIBRUDER, 2002, p.237).

           Referências

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BUENO, Wilson da Costa. Manuel Calvo Hernando, um exemplo e uma referência. Disponível em <http://www.jornalismocientifico.com.br/artigojorciencalvohernandosabercientifico.htm> Acesso em 12 de junho de 2006.

COSTA, Flora Inês Matos. A nobre missão da divulgação científica. Disponível em http://www.zenite.nu/tema/ Acesso em 15 de junho de 2006.

HERNANDO, Manuel Calvo. La divulgación científica y los desafios del nuevo siglo. Disponível em <http://www.jornalismocientifico.com.br/artigodivciencalvohernandocongressousp.htm>. Acesso em 01 de junho de 2006

HERNANDO, Manuel Calvo. El saber científico y tecnológico se digiere mal <http://www.jornalismocientifico.com.br/artigojorciencalvohernandosabercientifico.htm>

LEIBRUDER, Ana Paula. Discurso de Divulgação Científica. In BRANDÃO, Helena Nagamine. Gêneros do Discurso na Escola. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.

OLIVEIRA, Fabíola de. O jornalismo como instrumento para a formação de uma cultura científica no país. In: DOWBOR, Ladislau; IANNI, Octavio; RESENDE, Paulo-Edgar A.; SILVA, Hélio (org). Desafios da Comunicação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

 

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Caroline Petian Pimenta
Jornalista, mestranda em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo e bolsista CNPq.

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