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A
Universidade, a Ciência e o Público
Cidoval Morais de Sousa*
Nada mais louvável do que as iniciativas da Fapesp e do
Ministério da Ciência e da Tecnologia de disponibilizarem,
na Internet, os indicadores de C&T das universidades e institutos
de pesquisa brasileiros. A Fapesp é pioneira nesse processo,
uma vez que, já há algum tempo, publica os indicadores
disponíveis do Estado de São Paulo. O MCT, reconhecendo
o caráter estratégico desse tipo de informação,
a partir da plataforma Lattes, hoje tem condições
de tornar público o que os pesquisadores brasileiros estão
produzindo.
Para quem tem paciência e um pouco de curiosidade, é
possível, a partir dos dados disponíveis, fazer
algumas inferências e chegar a conclusões surpreendentes.
Uma delas é que a produção da Ciência
e da Tecnologia no Brasil não está mais só
concentrada nas Universidades e Institutos Públicos. As
universidades particulares e autarquias, como a Universidade de
Taubaté, hoje já despontam com números que,
analisados e comparados proporcionalmente, chegam a ser mais interessantes
do que o dos chamados grandes pólos científicos
e tecnológicos.
Para se ter uma idéia, a produção média
anual do professor pesquisador de uma universidade particular,
de uma fundação ou de uma autarquia, chega a ser
maior, em várias áreas (diga-se de passagem, áreas
de ponta), do que a de um pesquisador da USP ou da UNICAMP, por
exemplo. Enquanto na USP a média de produção
de artigos científicos publicados em revistas indexadas,
em língua inglesa, como mandam todos os figurinos acadêmicos,
varia de 1,2 a 2 por pesquisador/ano, na Universidade de Taubaté,
seguindo os mesmos critérios, a média, nos últimos
três anos, variou de 3 a 4 por pesquisador.
O mesmo aconteceu em algumas áreas na UNIVAP. Isso significa
que não existe um núcleo ou poucos núcleos
irradiadores de Ciência, mas que se polariza pelo Brasil,
particularmente aqui no Estado de São Paulo, centros de
excelência. Uma outra leitura que se pode fazer –
e aí o curioso precisa descer a alguns detalhes mais complexos,
como a verificação dos currículos dos pesquisadores
para conferir o tipo de produção, é que a
Ciência desse grupo considerado "periférico"
tem mais vínculo com as necessidades do grande público,
do que grande parte da pesquisa dos grandes centros e institutos.
Em outras palavras, a idéia de desenvolvimento regional
chegou mais cedo a essas universidades, até pela localização
(geralmente no interior) e pela proximidade de seu público.
Quando um pesquisador experimenta plantas nativas como alternativas
de recuperação de solos contaminados, ele não
está inventando a roda da fitorremediação,
mas, ao contrário, partindo do que já existe para
reduzir os custos de produção do pequeno agricultor,
e, com, isso, assegurar-lhe mais competitividade no mercado.
Da mesma forma, quando um outro grupo se preocupa em identificar
as condições de uma determinada bacia hidrográfica,
como a do Rio Una, aqui no Vale, a intenção que
o move não é só preservacionista, mas, com
toda certeza, a da busca de alternativas sustentáveis para
o uso dos recursos naturais disponibilizados ao longo da bacia.
Nesse sentido, o caráter prático e social da "pesquisa
periférica" se sobressai em relação
à pesquisa e aos pesquisadores do "centro".
Por fim, chamo a atenção para mais um detalhe: se
considerarmos só números não há mais
tanta diferença entre a quantidade de mestre e doutores
entre o "centro" e a "periferia". A formação
dos pesquisadores "periféricos" também
não pode deixar de ser considerada. Passaram pelo "centro",
geralmente com distinção e louvor e, hoje, têm
vida própria. Este texto não é uma ode à
"periferia", mas uma provocação. Os números
"frios" estão no site http://lattes.cnpq.br/
. É só conferir.
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Cidoval Morais de Sousa
Jornalista, professor de Sociologia da Universidade de Taubaté
(SP), Doutorando em História e Ensino de Ciências
pela Unicamp (IGE) e Diretor Acadêmico da ABJC.
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