<% pagina = "http://" & request.ServerVariables("HTTP_HOST") & request.ServerVariables("URL") %> Ciência & Comunicação - Notícias
Volume 1
Número 1

20 de dezembro de 2004
 
 * Edição atual    

          A ciência não pode ser só dos cientistas

          Uma leitura, ainda que ligeira, dos editoriais sobre C & T dos principais jornais brasileiros evidencia uma triste realidade: a imprensa não apenas acredita mas defende a tese de que o debate de temas complexos de ciência e tecnologia devam ficar restritos à comunidade científica. Esta tem sido a posição advogada pela mídia durante a tramitação do projeto conhecido como Lei da Biossegurança, que incorpora entre outros temas candentes, a liberação dos transgênicos e a possibilidade de pesquisa com células-tronco.
          Ao que parece, a grande imprensa, comprometida com uma visão elitista, quer convencer a opinião pública de que apenas os entendidos devem estar envolvidos no processo de tomada de decisões que define estudos, pesquisas e aplicações da ciência e da tecnologia.
          Repudiamos esta postura porque ela afronta a democracia e perpetua o hiato entre os que dominam o conhecimento e os que vivem à margem dele, ainda que estes sintam na pele o impacto do progresso técnico sobre suas vidas, sobre o mundo do trabalho, sobre o seu futuro.
          A história tem mostrado que, necessariamente, a ciência e a tecnologia não estão sempre a serviço das demandas e das expectativas da população, mas podem voltar-se contra elas, quando patrocinadas por grandes interesses e por governos que sobrepõem suas ambições às da sociedade.
          Os exemplos que podem ser apontados são inúmeros, mas talvez o mais contundente é o que associa os investimentos em pesquisa à indústria da guerra, que hoje consome recursos financeiros fabulosos e talentos humanos que, infelizmente, decidiram jogar contra a vida, a paz, a dignidade humana.
          Num país em desenvolvimento, como o nosso, em que os investimentos em C & T não costumam ser generosos, a participação da sociedade na definição das prioridades é fundamental, assim como é importante a prestação de contas sobre os recursos alocados nas universidades e nos institutos de pesquisa.
          A divulgação científica e o Jornalismo Científico cumprem esse papel, socializando o conhecimento científico , dando transparência aos investimentos e conclamando a sociedade para um debate amplo em que a ética, o retorno social e a cidadania sejam tão importantes quanto o progresso científico.
          A ciência e a tecnologia não podem estar descoladas das demandas sociais urgentes e precisam ser submetidas ao crivo da opinião pública. Cabe aos cientistas, pesquisadores, governos e comunicadores da ciência incluirem a sociedade neste debate porque ela, inevitavelmente, será afetada pelas decisões que são tomadas nos laboratórios, nos gabinetes dos ministérios e nas associações e sociedades científicas.
          A parceria entre a mídia e a comunidade científica é o melhor caminho para vencer a ação dos lobbies que buscam defender interesses estranhos à ciência e a tecnologia e estabelecem o sigilo e o controle sobre a produção e a informação científica. Ela, se bem conduzida, poderá, a médio prazo, reduzir substancialmente o analfabetismo científico, que impede o exercício pleno da cidadania.
          Que a mídia , a universidade, as empresas e os institutos de pesquisa estabeleçam um pacto no sentido de aumentar a circulação de informações científicas e criem condições para um debate amplo e democrático que inclua a sociedade. Caso contrário, continuaremos assistindo, em nosso País, à degradação da pesquisa, dos salários e das condições de trabalho de pesquisadores e cientistas de reconhecida competência.
          Os governos não poderão relevar a ciência e a tecnologia a um papel secundário, quase residual, como tem acontecido no Brasil, se a sociedade estiver consciente de sua importância, de seu vínculo indissociável com o desenvolvimento e a soberania. A divulgação da ciência e da tecnologia nacionais contribui para conferir legitimidade às nossas universidades e aos nossos institutos de pesquisa.

 

 
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