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Divulgação
de Ciência Básica na TV: uma experiência em
terceira dimensão
Edilson Pepino Fragalle*
Élson Longo*
Resumo
O
artigo faz uma reflexão sobre a importância da divulgação
científica como forma de inclusão das pessoas na
sociedade atual e relata uma experiência de divulgação
de Ciência Básica. O tema é a Nanotecnologia,
hoje, uma das áreas que apresentam maior desenvolvimento
nas pesquisas e vultosos investimentos. Na Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar), está localizado um dos núcleos
de excelência sobre estudos nanométricos, o que propiciou
e ainda possibilita a realização de diversas reportagens
para a televisão, em particular, para a EPTV Central, emissora
afiliada à Rede Globo de Televisão, no interior
de São Paulo. A análise, com base na teoria do francês
Pierre Lévy, aponta a utilização de simulações
digitais – especificamente animações em Terceira
Dimensão - para estudar fenômenos até então
inobserváveis, na era do homem informático-mediático.
A divulgação, com a utilização da
3D, logrou êxito através das reportagens não
somente na emissora regional, mas também em âmbito
nacional pela própria Rede Globo de Televisão e
outras emissoras. Tal procedimento continua sendo empregado pelos
pesquisadores do LIEC para a divulgação de Nanotecnologia
nas reportagens de televisão e em trabalhos de educação
científica.
Palavras-chave:
Divulgação Científica; Televisão;
Terceira Dimensão
Introdução
Hoje
a ciência evolui enormemente. Entretanto, a cada dia existem
explicações pseudo-científicas e místicas
que ocupam cada vez mais os espaços dos meios de comunicação.
Segundo Carl Sagan, em meio a anjos e ETs, astrólogos e
médiuns, fundamentalismos religiosos e filosofias alternativas,
dois mais dois continuam a ser quatro e as leis da mecânica
quântica permanecem valendo em qualquer parte do planeta.
"Acho que os cientistas
têm a responsabilidade de ensinar ciência às
pessoas. A razão principal para fazer isso não
é atrair mais pessoas para a química, por exemplo,
mas informar o público em geral. Quando as pessoas
adquirem algum conhecimento científico, podem compreender
melhor as decisões, o que é fundamental numa
sociedade democrática. Caso contrário, poderão
se tornar vítimas de demagogos e especialistas."
A
declaração é do químico polonês
Roald Hoffmann, prêmio Nobel de química de 1981 (1),
e foi reproduzida no Pequeno Manual de Divulgação
Científica (VIEIRA, 1998, p.11). Já no final do
século XX, ele apontou um dos inúmeros motivos para
a divulgação da ciência e que hoje, no início
do terceiro milênio, exerce um papel estratégico
a instituições de pesquisa, à mídia
e à própria sociedade.
Na
análise do professor Paulo César R. Alvim, "cada
vez mais o papel de difusão do conhecimento científico
para o público em geral é colocado como um instrumento
de inclusão na Sociedade do Conhecimento (2). A diversidade
e a quantidade de conhecimento exigem cada vez mais maiores esforços,
no sentido da difusão e comunicação dos avanços
da ciência. Com maiores volumes e fluxos de comunicação
científica, a sociedade como um todo clama por acesso e
uso desse conhecimento científico." (DUARTE, TEIXEIRA
DE BARROS orgs., 2003, p.47).
O
Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno complementa e indica que "numa
sociedade em que a educação formal tem se descuidado
do ensino de ciências, relegando-o a um segundo plano, os
meios de comunicação desempenham um papel fundamental
no processo de alfabetização científica.
As inovações tecnológicas, as novas descobertas
da ciência básica precisam ser trabalhadas pela mídia
para que os cidadãos possam compartilhar delas." (DUARTE,
TEIXEIRA DE BARROS orgs,. 2003, p.131).
A
experiência relatada neste artigo demonstra justamente uma
iniciativa de pesquisadores e da mídia – especificamente
a televisão – em divulgar resultados de Ciência
Básica. O grupo de pesquisa do Laboratório Interdisciplinar
de Eletroquímica e Cerâmica (LIEC), da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar), interagiu, a partir de
2001, com o Departamento de Jornalismo da EPTV Central (3) (emissora
afiliada à Rede Globo de Televisão), para levar
ao conhecimento da comunidade dos municípios da região
central de São Paulo, cobertos pela emissora, os avanços
da Nanotecnologia, que resultam em benefícios para o país.
Faz-se
necessário destacar ainda que o LIEC pertence ao Centro
Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos
(CMDMC), um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação
e Difusão (CEPID) criados pela Fundação de
Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp),
com o objetivo de atuar de maneira inter e multidisciplinar na
geração de conhecimento, formação
de recursos humanos e difusão da informação
da pesquisa científica na área de cerâmica.
Justificativa
A
Nanotecnologia aparentemente pode não parecer familiar
para a maioria das pessoas, entretanto, ela já se faz presente
com freqüência na mídia, em notícias
de jornais, emissoras de rádio e televisão. As próprias
crianças têm contato com essa área do conhecimento,
através do desenho animado "Meninas Super Poderosas",
no qual as protagonistas Lindinha, Florzinha e Docinho combatem
"nanobos" (robôs com dimensões nanométricas),
para salvar Townsville.
A
Nanotecnologia pode ser definida como a ciência que cria,
manipula e explora materiais com escala nanométrica (4)
e, por isso, tem despertado grande interesse dos países
e empresas. Ao se dominar as técnicas da Nanotecnologia,
torna-se possível obter novos dispositivos eletrônicos,
cada vez menores, produzir robôs tão pequenos, que
poderiam ser injetados no organismo para desobstruir artérias
(a ficção avançou em relação
ao mundo real e mostrou, no filme "Viagem Insólita",
uma cena na qual uma nave tripulada é injetada dentro do
organismo), entre outras diversas aplicações.
Essa
verdadeira revolução, que também vai permitir
a melhoria da tecnologia já utilizada, tem despertado interesses
por todo o mundo, visto que o domínio dos materiais, em
escala nanométrica, já se tornou um fator de desenvolvimento
e de competitividade no mercado.
Por
isso, ela foi um dos destaques da 56ª reunião anual
da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
realizada em julho de 2004, em Cuiabá (MT). Conforme notícia
divulgada na página A-13 da edição do dia
21 de julho pelo jornal "O Estado de S. Paulo", hoje
o mundo investe US$ 2 bilhões, por ano, em pesquisas e
produção de produtos nanotecnológicos. Nessa
mesma reunião, o coordenador do Programa de Nanotecnologia
do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Alfredo
de Souza Mendes, informou que o Brasil vai investir R$ 46,7 milhões
em Nanotecnologia em 2005. Estima-se que nos próximos 10
anos este mercado possa ser superior a 20 bilhões de dólares.
A Nanotecnologia já é uma realidade do 3º milênio
e veio para ficar.
Com
todo esse potencial de crescimento e de informação,
uma questão fundamental se colocava: qual a forma de divulgar
a Nanotecnologia em televisão? Quais seriam as imagens
para pesquisas de Ciência Básica, envolvendo Materiais
Luminescentes, Filmes Finos, Varistores, Pigmentos Cerâmicos,
Química Teórica, Catálise, Sensores, Nanotecnologia?
O
desafio estava lançado.
"Palavra
e imagem são como cadeira e mesa: se você quiser
se sentar à mesa, precisa de ambas." (5) (JOLY, 2003,
p. 115). Partimos da premissa do cineasta francês Jean-Luc
Godard, um indicativo para o desafio de divulgar Ciência
Básica em televisão. A palavra – a teoria
- estava pronta, faltava justamente a imagem.
Mas
antes, torna-se importante caracterizar o contexto do desafio
de onde começou essa forma de divulgação
científica. A EPTV Central tem 41 municípios em
sua área de cobertura, na Região Central do Estado
de São Paulo, que totaliza uma população
em torno de 1.600.000 pessoas.
A
cidade sede da emissora é São Carlos, também
chamada de "Capital da Tecnologia", por possuir um universo
de 1 pesquisador para cada grupo de 32 habitantes e 1 doutor para
cada grupo de 250 habitantes; a cidade abriga a Universidade de
São Paulo (USP), a UFSCar, dois centros de pesquisa da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
além de faculdades particulares.
Na
região de cobertura da emissora, existem ainda campi da
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita
Filho" (Unesp) em Araraquara e Rio Claro, da USP em Piraçununga,
bem como diversas instituições privadas de ensino
superior e outros institutos públicos de pesquisa.
Percebe-se
que o tema Ciência & Tecnologia está presente
em parte significativa da área de cobertura da EPTV Central,
o que envidou esforços consideráveis, para buscar
uma interface à divulgação científica
de Nanotecnologia pela emissora e pelos pesquisadores.
A
necessidade de promover a divulgação científica
de forma mais massiva e de maneira inovadora na mídia,
especialmente na televisão, pode ser comprovada também
pelos números da pesquisa realizada pela Rede Ibero-Americana
de Indicadores de Ciência e Tecnologia (Ricyt/Cyted), da
Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) (6).
A
pesquisa revelou a freqüência de consumo de informação
científica em televisão na Argentina, Uruguai, Espanha
e Brasil. Em nosso país, 58,6% dos entrevistados se informam
ocasionalmente sobre as pesquisas científicas pela televisão,
28,4% informam-se regularmente e 13% nunca utilizam essa mídia
para obterem informações científicas (VOGT,
POLINO orgs., 2003, p. 137).
Outro
dado revelador, nesse trabalho, indica a percepção
da oferta de informação científica, nos noticiários
de televisão. Para 85% dos entrevistados, no Brasil, ela
é escassa; somente 14% das pessoas ouvidas disseram que
a oferta de informação científica é
suficiente, nos noticiários de televisão (VOGT,
POLINO orgs., 2003, p. 141).
Para
tentar alterar esse panorama, pelo menos no âmbito regional
de divulgação da EPTV Central, faltava cumprir o
objetivo de levar a informação científica
aos telespectadores e desmistificar a idéia de não
haver condição adequada, para fazer a interface
entre a ciência básica e a televisão.
Objetivos
Equacionar
de maneira simples os conceitos básicos da nanotecnologia,
a partir de animações em terceira dimensão
(3D) e difundi-los pela televisão; divulgação
do conhecimento científico para o público, como
instrumento de inclusão na Sociedade do Conhecimento.
Referencial
teórico e metodológico
"As
simulações também podem servir como substituto
racional do inobservável." (JOLY, 2003, p. 24). Ao
partirmos da afirmação da Profª Martine Joly,
uma das referências no estudo sobre imagem, podemos dizer
que a imagem animada em Terceira Dimensão (3D) foi a maneira
de simulação encontrada, para substituir a até
então inobservável escala nanométrica, para
as reportagens de televisão – no caso, a emissora
regional.
É
importante ressaltar também que , de acordo com a Fundação
Otorrinolaringologia (7), "a tridimensionalidade nos rodeia
o tempo todo e é, inclusive, uma característica
relevante para a acuidade visual do ser humano. Possuir os olhos
alinhados e situados anteriormente à face é o que
nos propicia a percepção da profundidade. Quando
olhamos para alguma coisa vemos o mesmo objeto a partir de dois
pontos de vista ligeiramente diferentes: uma imagem vista pelo
olho esquerdo e outra pelo olho direito. Olhando com os dois olhos
juntos, aquelas duas imagens se sobrepõem e formam uma
outra tridimensional. É essa visão, também
chamada de estereoscópica, que nos auxilia na orientação
e interação no espaço que nos cerca.
Desde
de que o homem compreendeu esse mecanismo que torna possível
a visão tridimensional, inventou maneiras de reproduzi-la.
Essas tentativas de reprodução de imagens estereoscópicas,
para fins de documentação ou entretenimento, surgiram
paralelamente ao desenvolvimento da fotografia, ao longo da primeira
metade do século XIX.
A
partir daí, o interesse pela reprodução dessas
imagens tem variado de acordo com a época. Hoje em dia,
a sofisticação tecnológica nos permite entrar
em contato com elas, mais freqüentemente. No entanto, suas
possibilidades de aplicação estão longe de
se esgotarem. A tridimensionalidade pode ser uma peça importante
para atividades nas quais, até pouco tempo atrás
só se empregavam ilustrações bidimensionais".
A comunicação e o ensino são exemplos.
"Os
cientistas de todas as disciplinas recorrem cada vez mais a simulações
digitais para estudar fenômenos inacessíveis à
experiência ou simplesmente para avaliar de forma menos
custosa o interesse de novos modelos, mesmo quando a experimentação
é possível. Enfim, programas de inteligência
artificial podem ser considerados como simuladores de capacidades
cognitivas humanas: visão, audição, raciocínio
etc.", revela-nos Pierre Lévy, em sua já consagrada
obra "As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento
da Era da Informática." (LÉVY, 2004, p.122)
Para
Lévy, "a manipulação dos parâmetros
e a simulação de todas as circunstâncias possíveis
dão ao usuário do programa uma espécie de
intuição sobre as relações de causa
e efeito presentes no modelo. Ele adquire um conhecimento por
simulação do sistema modelado, que não se
assemelha nem a um conhecimento teórico, nem a uma experiência
prática, nem ao acúmulo de uma tradição
oral." (LÉVY, p.122)
Em
seu trabalho, Lévy acrescenta que "tendo em vista
os resultados de numerosas experiências da psicologia cognitiva,
vários cientistas, entre os quais Philip Johnson-Laird,
criaram a hipótese de que o raciocínio humano cotidiano
tem muito pouca relação com a aplicação
de regras da lógica formal. Parece mais plausível
que as pessoas construam modelos mentais das situações
ou dos objetos sobre os quais estão raciocinando, e depois
explorem as diferentes possibilidades dentro destas construções
imaginárias. A simulação, que podemos considerar
como uma imaginação auxiliada por computador, é,
portanto, ao mesmo tempo uma ferramenta de ajuda ao raciocínio
muito mais potente que a velha lógica formal que se baseava
no alfabeto." (LÉVY, 2004, p.124)
Foram
criadas animações em computador, que fazem a simulação,
por exemplo, da corrosão dos altos-fornos da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), com a utilização
do recurso da 3D. A parceria entre a UFSCar e a CSN existe desde
1989 e já resultou em ganhos da ordem de US$ 85 milhões,
somando-se a melhoria de produtividade da usina siderúrgica
de Volta Redonda (RJ) e o aumento da qualidade dos aços
ali obtidos.
Com
a simulação feita por computador, a televisão
pôde mostrar, pela primeira vez em âmbito regional,
a contribuição da pesquisa para aumentar a vida
útil dos altos-fornos da CSN. De acordo com a argumentação
de Lévy, "o conhecimento por simulação
e a interconexão em tempo real valorizam o momento oportuno,
a situação, as circunstâncias relativas, por
oposição ao sentido molar da história ou
à verdade fora do tempo e espaço, que talvez fossem
apenas efeitos da escrita." (LÉVY, 2004, p.126)
Para
explicar a corrosão em cadinho de alto forno (aonde deposita
o ferro líquido) , realizou-se uma simulação
3D, em que mostra os átomos de cálcio interagindo
com a superfície de carbono. Esta interação
produz uma forte corrosão na superfície do cadinho
pela eliminação de átomos de carbono. Ao
final tem-se uma superfície totalmente danificada pela
corrosão promovidada pelo cálcio. Desta forma, deu-se
uma noção pictórica da corrosão do
cadinho de alto forno, podendo os telespectadores e alunos terem
uma idéia virtual do que realmente esta ocorrendo na corrosão
do cadinho.
Na
avaliação do pensador francês, "a teoria,
sobretudo em sua versão mais formalizada, é uma
forma de apresentação do saber, um modo de comunicação
ou mesmo de persuasão. A simulação, pelo
contrário, corresponde antes às etapas da atividade
intelectual anteriores à exposição racional:
a imaginação, a bricolagem mental, as tentativas
e erros." (LÉVY, 2004, p.124) E diversas tentativas
foram feitas para simular a teoria em reportagens como, por exemplo,
o aumento da capacidade de memória dos computadores, posteriormente
exibida também em rede nacional pelo Jornal Hoje, da Rede
Globo de Televisão.
A
Rede Globo também levou ao conhecimento do público
brasileiro, em 2004, outra reportagem produzida pela EPTV Central,
com a simulação feita, por computador da melhoria
de resistência do grafite do lápis, projeto desenvolvido
em parceria pelo LIEC e a Faber Castell, uma das principais empresas
do ramo em todo o mundo.
Nesta
oportunidade simulou-se a estrutura do grafite a partir de uma
coleção de lápis. Nesta simulação
foi demonstrado como o grafite risca o papel produzindo a grafia.
Levou-se em conta a estrutura correta do grafite e deu-se também
a idéia de como esta estrutura fica organizada na superfície
do papel.
Assim
sendo, estavam associados às imagens em 3D vários
conceitos científicos e a descoberta do mundo molecular.
Desta forma, houve a transposição para a realidade
virtual de vários desenvolvimentos tecnológicos,
como da reação entre moléculas e superfície,
e excitação de uma estrutura molecular por elétrons
produzindo a luminescência.
Um
dos grandes problemas da humanidade é a energia para as
futuras gerações. Por outro lado esta energia tem
que ser uma energia limpa, ou seja, uma energia que não
cause poluição ao meio ambiente. As pesquisas mostraram
a possibilidade real da obtenção de nanopartículas
de níquel na superfície do óxido de silício
(sílica). A simulação mostra a mistura do
gás metano (gás de cozinha) com o dióxido
de carbono (gás carbônico). Estes dois gases são
aquecidos e em seguida, interagem com o catalisador níquel
(nanopartícula). O resultado é a formação
de hidrogênio e monóxido de carbono que poderão
ser ultilizados para geração de energia limpa.
Considerações
finais
"O
estado de humanidade global, perseguido pelo homem da escrita
e da história é hoje vivenciado pelo homem informático-mediático.
Isto não significa nem que todos os grupos sociais que
vivem no planeta participem deste tipo de humanidade, nem que
a cultura da televisão e do computador possa ser considerada
como um final feliz para a aventura da espécie." (LÉVY,
2004, p.126)
Essa
reflexão de Pierre Lévy serve como norteador para
pesquisadores e para a mídia, justamente no intuito de
buscar novos resultados científicos e levá-los a
um grupo cada vez maior de pessoas. É uma imbricação
da própria comunicação científica
e de seu trabalho de inclusão na Sociedade do Conhecimento.
Como
afirma o Prof. Paulo César R. Alvim, "a ciência
existe para a sociedade e, neste sentido, esforços vêm
sendo desenvolvidos e incrementados para levar o conhecimento
científico até a sociedade, para a qual, além
dos sistemas e instrumentos clássicos de difusão
do conhecimento, devem ser incorporados outros meios que são
utilizados em outras áreas. (DUARTE, TEIXEIRA DE BARROS
Org., 2003, p.63)
Na
opinião da Profª Graças Caldas, da Universidade
Metodista de São Paulo, "cabe aos jornalistas e cientistas
refletirem de forma interdisciplinar com as diferentes áreas
do conhecimento para atuarem conjuntamente como educadores, na
divulgação da ciência e da tecnologia numa
perspectiva crítica e de reflexão permanente sobre
questões que envolvam a produção do conhecimento
e a política científica."(GUIMARÃES
org., 2003, p. 74 )
Para
o Prof. Wilson da Costa Bueno, "a decodificação
do discurso científico pelo público leigo ainda
é um obstáculo a ser vencido, particularmente nos
países emergentes em que o analfabetismo científico
se aprofunda, dada a velocidade com que novos fatos, conceitos
e processos são trazidos à tona." (DUARTE,
TEIXEIRA DE BARROS Org., 2003, p. 117)
A
parceria entre o LIEC e a EPTV Central, ainda que não estabelecida
de maneira formal para receber essa denominação,
é um caminho nessa tentativa de decodificação
do discurso científico, ao buscar um caminho – a
simulação do conhecimento pela 3D – para realizar
essa interface entre a divulgação da Ciência
Básica e a televisão.
Até
o presente momento, a realização de reportagens,
nesse padrão, e a reprodução delas, em âmbito
nacional, pela Rede Globo, TV Cultura, Rede 21 (Bandeirantes)
e em âmbito estadual pela TV Globo da Paraíba, TV
Globo do Piauí, TV Universidade do Rio Grande do Norte,
demonstra que a união de esforços entre pesquisa
e mídia deu frutos.
É
importante ressaltar ainda que o modelo desenvolvido para a divulgação
pela televisão também proporcionou e continua proporcionando
a própria educação científica, visto
que as animações em 3D também têm sido
utilizadas para apresentações em seminários,
congressos científicos, cursos para professores do ensino
secundário, bem como em cursos para alunos do ensino fundamental
e médio de São Carlos e região.
Entretanto,
novas "tentativas e erros" deverão ocorrer, pois
o próprio tema Nanotecnologia irá gerar ainda muita
discussão, em nível governamental, empresarial e
mesmo em conversas cotidianas. Os exemplos aqui citados e as projeções
apresentadas, serão brevemente consolidadas e em pouco
tempo novas formas de simulação do conhecimento
serão adotadas. Essas são características
da Nanotecnologia, ou seja, uma tecnologia dinâmica e sem
limite de expansão, assim como a própria Comunicação.
Notas
1) Entrevista à revista
Ciência Hoje, da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (vol.14, nº 82, 1992, p.45)
2) Para o Prof. Paulo César
R. Alvim, "a Sociedade do Conhecimento é a realidade
que se vive hoje no ambiente das organizações. Com
o impacto na vida cotidiana das pessoas, a Sociedade do Conhecimento
é decorrência principalmente dos avanços ocorridos
nas últimas décadas, na ciência e nas tecnologias
de informação e comunicação".
(DUARTE, TEIXEIRA DE BARROS orgs,. 2003, p.48).
3) Edílson Pepino Fragalle
exerceu a Gerência do Departamento de Jornalismo da EPTV
Central entre dezembro de 2000 e setembro de 2003
4) Um nanômetro (abreviado
como nm) é um metro dividido por um bilhão; 1 nm
é igual a 10-9 m. Para se ter uma idéia do que isso
representa, um fio de cabelo tem cerca de 100x10-6m quanto 0.1mm
de diâmetro, ou seja, é 100.000 vezes maior que um
nanômetro.
5) Jean-Luc Godard em "Ainsi
parlait Jean-Luc, Fragments du discours d´ un amoreaux des
mots", Télérama, nº 2278, 8/9/93.
6) Os resultados foram publicados
no livro "Percepção Pública da Ciência"
(VOGT, POLINO orgs., 2003).
7) Informações retiradas
da home-page da Fundação Otorrinolaringologia, Unidade
Vinculante da Divisão de Clínica Otorriolaringológica
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo.
Referências
bibliográficas
A VISÃO TRIDIMENSIONAL.
Fundação Otorrinolaringologia. Faculdade de Medicina
da USP. Divisão de Clínica Otorrinolaringológica
do Hospital das Clínicas da FMUSP. Disponível em
<http://www.forl.org.br/noticia.php?ID=56>.Acesso em: 07
ago. 2004.
DUARTE, Jorge; TEIXEIRA DE BARROS,
Antonio, editores técnicos. Comunicação para
Ciência, Ciência para Comunicação. Brasília,
DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2003.
EPTV 20 anos. São Paulo:
Klick, 1998.
GUIMARÃES, Eduardo. (org.).
Produção e Circulação do Conhecimento:
Política, Ciência, Divulgação. Campinas,
SP: Editora Pontes. 2003.
JOLY, Martine. Introdução
à Análise da Imagem. 6.ed. Campinas, SP: Papirus,
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LÉVY, PIERRE. As tecnologias
da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática.
1.ed. 13. reimp. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
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página A-13.
SAGAN, Carl. O mundo assombrado
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SÃO CARLOS, Capital da Tecnologia.
Feira de Alta Tecnologia de São Carlos. Disponível
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em: 28 ago. 2004.
VOGT, Carlos; POLINO, Carmelo;
(orgs.). Percepção Pública da Ciência,
Resultados da Pesquisa na Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai.
Campinas, SP: Editora Unicamp; São Paulo, SP: FAPESP, 2003.
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Edilson Pepino Fragalle
Jornalista, mestrando em Comunicação, Faculdade
de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp)
– Campus de Bauru. E-mail: fragalle@terra.com.br
Élson Longo
Coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica
e Cerâmica (LIEC) e do Centro Multidisciplinar para Desenvolvimento
de Materiais Cerâmicos (CMDMC) .Professor Titular do Departamento
de Química da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar). E-mail: dels@power.ufscar.br
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