<% pagina = "http://" & request.ServerVariables("HTTP_HOST") & request.ServerVariables("URL") %> Ciência & Comunicação - Artigos
Volume 1
Número 1

20 de dezembro de 2004
 
 * Edição atual    

          Divulgação de Ciência Básica na TV: uma experiência em terceira dimensão

Edilson Pepino Fragalle*
Élson Longo*

          Resumo

          O artigo faz uma reflexão sobre a importância da divulgação científica como forma de inclusão das pessoas na sociedade atual e relata uma experiência de divulgação de Ciência Básica. O tema é a Nanotecnologia, hoje, uma das áreas que apresentam maior desenvolvimento nas pesquisas e vultosos investimentos. Na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), está localizado um dos núcleos de excelência sobre estudos nanométricos, o que propiciou e ainda possibilita a realização de diversas reportagens para a televisão, em particular, para a EPTV Central, emissora afiliada à Rede Globo de Televisão, no interior de São Paulo. A análise, com base na teoria do francês Pierre Lévy, aponta a utilização de simulações digitais – especificamente animações em Terceira Dimensão - para estudar fenômenos até então inobserváveis, na era do homem informático-mediático. A divulgação, com a utilização da 3D, logrou êxito através das reportagens não somente na emissora regional, mas também em âmbito nacional pela própria Rede Globo de Televisão e outras emissoras. Tal procedimento continua sendo empregado pelos pesquisadores do LIEC para a divulgação de Nanotecnologia nas reportagens de televisão e em trabalhos de educação científica.

          Palavras-chave: Divulgação Científica; Televisão; Terceira Dimensão

          Introdução

          Hoje a ciência evolui enormemente. Entretanto, a cada dia existem explicações pseudo-científicas e místicas que ocupam cada vez mais os espaços dos meios de comunicação. Segundo Carl Sagan, em meio a anjos e ETs, astrólogos e médiuns, fundamentalismos religiosos e filosofias alternativas, dois mais dois continuam a ser quatro e as leis da mecânica quântica permanecem valendo em qualquer parte do planeta.

"Acho que os cientistas têm a responsabilidade de ensinar ciência às pessoas. A razão principal para fazer isso não é atrair mais pessoas para a química, por exemplo, mas informar o público em geral. Quando as pessoas adquirem algum conhecimento científico, podem compreender melhor as decisões, o que é fundamental numa sociedade democrática. Caso contrário, poderão se tornar vítimas de demagogos e especialistas."

          A declaração é do químico polonês Roald Hoffmann, prêmio Nobel de química de 1981 (1), e foi reproduzida no Pequeno Manual de Divulgação Científica (VIEIRA, 1998, p.11). Já no final do século XX, ele apontou um dos inúmeros motivos para a divulgação da ciência e que hoje, no início do terceiro milênio, exerce um papel estratégico a instituições de pesquisa, à mídia e à própria sociedade.

          Na análise do professor Paulo César R. Alvim, "cada vez mais o papel de difusão do conhecimento científico para o público em geral é colocado como um instrumento de inclusão na Sociedade do Conhecimento (2). A diversidade e a quantidade de conhecimento exigem cada vez mais maiores esforços, no sentido da difusão e comunicação dos avanços da ciência. Com maiores volumes e fluxos de comunicação científica, a sociedade como um todo clama por acesso e uso desse conhecimento científico." (DUARTE, TEIXEIRA DE BARROS orgs., 2003, p.47).

          O Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno complementa e indica que "numa sociedade em que a educação formal tem se descuidado do ensino de ciências, relegando-o a um segundo plano, os meios de comunicação desempenham um papel fundamental no processo de alfabetização científica. As inovações tecnológicas, as novas descobertas da ciência básica precisam ser trabalhadas pela mídia para que os cidadãos possam compartilhar delas." (DUARTE, TEIXEIRA DE BARROS orgs,. 2003, p.131).

          A experiência relatada neste artigo demonstra justamente uma iniciativa de pesquisadores e da mídia – especificamente a televisão – em divulgar resultados de Ciência Básica. O grupo de pesquisa do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (LIEC), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), interagiu, a partir de 2001, com o Departamento de Jornalismo da EPTV Central (3) (emissora afiliada à Rede Globo de Televisão), para levar ao conhecimento da comunidade dos municípios da região central de São Paulo, cobertos pela emissora, os avanços da Nanotecnologia, que resultam em benefícios para o país.

          Faz-se necessário destacar ainda que o LIEC pertence ao Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) criados pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), com o objetivo de atuar de maneira inter e multidisciplinar na geração de conhecimento, formação de recursos humanos e difusão da informação da pesquisa científica na área de cerâmica.

          Justificativa

          A Nanotecnologia aparentemente pode não parecer familiar para a maioria das pessoas, entretanto, ela já se faz presente com freqüência na mídia, em notícias de jornais, emissoras de rádio e televisão. As próprias crianças têm contato com essa área do conhecimento, através do desenho animado "Meninas Super Poderosas", no qual as protagonistas Lindinha, Florzinha e Docinho combatem "nanobos" (robôs com dimensões nanométricas), para salvar Townsville.

          A Nanotecnologia pode ser definida como a ciência que cria, manipula e explora materiais com escala nanométrica (4) e, por isso, tem despertado grande interesse dos países e empresas. Ao se dominar as técnicas da Nanotecnologia, torna-se possível obter novos dispositivos eletrônicos, cada vez menores, produzir robôs tão pequenos, que poderiam ser injetados no organismo para desobstruir artérias (a ficção avançou em relação ao mundo real e mostrou, no filme "Viagem Insólita", uma cena na qual uma nave tripulada é injetada dentro do organismo), entre outras diversas aplicações.

          Essa verdadeira revolução, que também vai permitir a melhoria da tecnologia já utilizada, tem despertado interesses por todo o mundo, visto que o domínio dos materiais, em escala nanométrica, já se tornou um fator de desenvolvimento e de competitividade no mercado.

          Por isso, ela foi um dos destaques da 56ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho de 2004, em Cuiabá (MT). Conforme notícia divulgada na página A-13 da edição do dia 21 de julho pelo jornal "O Estado de S. Paulo", hoje o mundo investe US$ 2 bilhões, por ano, em pesquisas e produção de produtos nanotecnológicos. Nessa mesma reunião, o coordenador do Programa de Nanotecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Alfredo de Souza Mendes, informou que o Brasil vai investir R$ 46,7 milhões em Nanotecnologia em 2005. Estima-se que nos próximos 10 anos este mercado possa ser superior a 20 bilhões de dólares. A Nanotecnologia já é uma realidade do 3º milênio e veio para ficar.

          Com todo esse potencial de crescimento e de informação, uma questão fundamental se colocava: qual a forma de divulgar a Nanotecnologia em televisão? Quais seriam as imagens para pesquisas de Ciência Básica, envolvendo Materiais Luminescentes, Filmes Finos, Varistores, Pigmentos Cerâmicos, Química Teórica, Catálise, Sensores, Nanotecnologia?

          O desafio estava lançado.

          "Palavra e imagem são como cadeira e mesa: se você quiser se sentar à mesa, precisa de ambas." (5) (JOLY, 2003, p. 115). Partimos da premissa do cineasta francês Jean-Luc Godard, um indicativo para o desafio de divulgar Ciência Básica em televisão. A palavra – a teoria - estava pronta, faltava justamente a imagem.

          Mas antes, torna-se importante caracterizar o contexto do desafio de onde começou essa forma de divulgação científica. A EPTV Central tem 41 municípios em sua área de cobertura, na Região Central do Estado de São Paulo, que totaliza uma população em torno de 1.600.000 pessoas.

          A cidade sede da emissora é São Carlos, também chamada de "Capital da Tecnologia", por possuir um universo de 1 pesquisador para cada grupo de 32 habitantes e 1 doutor para cada grupo de 250 habitantes; a cidade abriga a Universidade de São Paulo (USP), a UFSCar, dois centros de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além de faculdades particulares.

          Na região de cobertura da emissora, existem ainda campi da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) em Araraquara e Rio Claro, da USP em Piraçununga, bem como diversas instituições privadas de ensino superior e outros institutos públicos de pesquisa.

          Percebe-se que o tema Ciência & Tecnologia está presente em parte significativa da área de cobertura da EPTV Central, o que envidou esforços consideráveis, para buscar uma interface à divulgação científica de Nanotecnologia pela emissora e pelos pesquisadores.

          A necessidade de promover a divulgação científica de forma mais massiva e de maneira inovadora na mídia, especialmente na televisão, pode ser comprovada também pelos números da pesquisa realizada pela Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia (Ricyt/Cyted), da Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) (6).

          A pesquisa revelou a freqüência de consumo de informação científica em televisão na Argentina, Uruguai, Espanha e Brasil. Em nosso país, 58,6% dos entrevistados se informam ocasionalmente sobre as pesquisas científicas pela televisão, 28,4% informam-se regularmente e 13% nunca utilizam essa mídia para obterem informações científicas (VOGT, POLINO orgs., 2003, p. 137).

          Outro dado revelador, nesse trabalho, indica a percepção da oferta de informação científica, nos noticiários de televisão. Para 85% dos entrevistados, no Brasil, ela é escassa; somente 14% das pessoas ouvidas disseram que a oferta de informação científica é suficiente, nos noticiários de televisão (VOGT, POLINO orgs., 2003, p. 141).

          Para tentar alterar esse panorama, pelo menos no âmbito regional de divulgação da EPTV Central, faltava cumprir o objetivo de levar a informação científica aos telespectadores e desmistificar a idéia de não haver condição adequada, para fazer a interface entre a ciência básica e a televisão.

          Objetivos

          Equacionar de maneira simples os conceitos básicos da nanotecnologia, a partir de animações em terceira dimensão (3D) e difundi-los pela televisão; divulgação do conhecimento científico para o público, como instrumento de inclusão na Sociedade do Conhecimento.

          Referencial teórico e metodológico

          "As simulações também podem servir como substituto racional do inobservável." (JOLY, 2003, p. 24). Ao partirmos da afirmação da Profª Martine Joly, uma das referências no estudo sobre imagem, podemos dizer que a imagem animada em Terceira Dimensão (3D) foi a maneira de simulação encontrada, para substituir a até então inobservável escala nanométrica, para as reportagens de televisão – no caso, a emissora regional.

          É importante ressaltar também que , de acordo com a Fundação Otorrinolaringologia (7), "a tridimensionalidade nos rodeia o tempo todo e é, inclusive, uma característica relevante para a acuidade visual do ser humano. Possuir os olhos alinhados e situados anteriormente à face é o que nos propicia a percepção da profundidade. Quando olhamos para alguma coisa vemos o mesmo objeto a partir de dois pontos de vista ligeiramente diferentes: uma imagem vista pelo olho esquerdo e outra pelo olho direito. Olhando com os dois olhos juntos, aquelas duas imagens se sobrepõem e formam uma outra tridimensional. É essa visão, também chamada de estereoscópica, que nos auxilia na orientação e interação no espaço que nos cerca.

          Desde de que o homem compreendeu esse mecanismo que torna possível a visão tridimensional, inventou maneiras de reproduzi-la. Essas tentativas de reprodução de imagens estereoscópicas, para fins de documentação ou entretenimento, surgiram paralelamente ao desenvolvimento da fotografia, ao longo da primeira metade do século XIX.

          A partir daí, o interesse pela reprodução dessas imagens tem variado de acordo com a época. Hoje em dia, a sofisticação tecnológica nos permite entrar em contato com elas, mais freqüentemente. No entanto, suas possibilidades de aplicação estão longe de se esgotarem. A tridimensionalidade pode ser uma peça importante para atividades nas quais, até pouco tempo atrás só se empregavam ilustrações bidimensionais". A comunicação e o ensino são exemplos.

          "Os cientistas de todas as disciplinas recorrem cada vez mais a simulações digitais para estudar fenômenos inacessíveis à experiência ou simplesmente para avaliar de forma menos custosa o interesse de novos modelos, mesmo quando a experimentação é possível. Enfim, programas de inteligência artificial podem ser considerados como simuladores de capacidades cognitivas humanas: visão, audição, raciocínio etc.", revela-nos Pierre Lévy, em sua já consagrada obra "As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento da Era da Informática." (LÉVY, 2004, p.122)

          Para Lévy, "a manipulação dos parâmetros e a simulação de todas as circunstâncias possíveis dão ao usuário do programa uma espécie de intuição sobre as relações de causa e efeito presentes no modelo. Ele adquire um conhecimento por simulação do sistema modelado, que não se assemelha nem a um conhecimento teórico, nem a uma experiência prática, nem ao acúmulo de uma tradição oral." (LÉVY, p.122)

          Em seu trabalho, Lévy acrescenta que "tendo em vista os resultados de numerosas experiências da psicologia cognitiva, vários cientistas, entre os quais Philip Johnson-Laird, criaram a hipótese de que o raciocínio humano cotidiano tem muito pouca relação com a aplicação de regras da lógica formal. Parece mais plausível que as pessoas construam modelos mentais das situações ou dos objetos sobre os quais estão raciocinando, e depois explorem as diferentes possibilidades dentro destas construções imaginárias. A simulação, que podemos considerar como uma imaginação auxiliada por computador, é, portanto, ao mesmo tempo uma ferramenta de ajuda ao raciocínio muito mais potente que a velha lógica formal que se baseava no alfabeto." (LÉVY, 2004, p.124)

          Foram criadas animações em computador, que fazem a simulação, por exemplo, da corrosão dos altos-fornos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com a utilização do recurso da 3D. A parceria entre a UFSCar e a CSN existe desde 1989 e já resultou em ganhos da ordem de US$ 85 milhões, somando-se a melhoria de produtividade da usina siderúrgica de Volta Redonda (RJ) e o aumento da qualidade dos aços ali obtidos.

          Com a simulação feita por computador, a televisão pôde mostrar, pela primeira vez em âmbito regional, a contribuição da pesquisa para aumentar a vida útil dos altos-fornos da CSN. De acordo com a argumentação de Lévy, "o conhecimento por simulação e a interconexão em tempo real valorizam o momento oportuno, a situação, as circunstâncias relativas, por oposição ao sentido molar da história ou à verdade fora do tempo e espaço, que talvez fossem apenas efeitos da escrita." (LÉVY, 2004, p.126)

          Para explicar a corrosão em cadinho de alto forno (aonde deposita o ferro líquido) , realizou-se uma simulação 3D, em que mostra os átomos de cálcio interagindo com a superfície de carbono. Esta interação produz uma forte corrosão na superfície do cadinho pela eliminação de átomos de carbono. Ao final tem-se uma superfície totalmente danificada pela corrosão promovidada pelo cálcio. Desta forma, deu-se uma noção pictórica da corrosão do cadinho de alto forno, podendo os telespectadores e alunos terem uma idéia virtual do que realmente esta ocorrendo na corrosão do cadinho.

          Na avaliação do pensador francês, "a teoria, sobretudo em sua versão mais formalizada, é uma forma de apresentação do saber, um modo de comunicação ou mesmo de persuasão. A simulação, pelo contrário, corresponde antes às etapas da atividade intelectual anteriores à exposição racional: a imaginação, a bricolagem mental, as tentativas e erros." (LÉVY, 2004, p.124) E diversas tentativas foram feitas para simular a teoria em reportagens como, por exemplo, o aumento da capacidade de memória dos computadores, posteriormente exibida também em rede nacional pelo Jornal Hoje, da Rede Globo de Televisão.

          A Rede Globo também levou ao conhecimento do público brasileiro, em 2004, outra reportagem produzida pela EPTV Central, com a simulação feita, por computador da melhoria de resistência do grafite do lápis, projeto desenvolvido em parceria pelo LIEC e a Faber Castell, uma das principais empresas do ramo em todo o mundo.

          Nesta oportunidade simulou-se a estrutura do grafite a partir de uma coleção de lápis. Nesta simulação foi demonstrado como o grafite risca o papel produzindo a grafia. Levou-se em conta a estrutura correta do grafite e deu-se também a idéia de como esta estrutura fica organizada na superfície do papel.

          Assim sendo, estavam associados às imagens em 3D vários conceitos científicos e a descoberta do mundo molecular. Desta forma, houve a transposição para a realidade virtual de vários desenvolvimentos tecnológicos, como da reação entre moléculas e superfície, e excitação de uma estrutura molecular por elétrons produzindo a luminescência.

          Um dos grandes problemas da humanidade é a energia para as futuras gerações. Por outro lado esta energia tem que ser uma energia limpa, ou seja, uma energia que não cause poluição ao meio ambiente. As pesquisas mostraram a possibilidade real da obtenção de nanopartículas de níquel na superfície do óxido de silício (sílica). A simulação mostra a mistura do gás metano (gás de cozinha) com o dióxido de carbono (gás carbônico). Estes dois gases são aquecidos e em seguida, interagem com o catalisador níquel (nanopartícula). O resultado é a formação de hidrogênio e monóxido de carbono que poderão ser ultilizados para geração de energia limpa.

          Considerações finais

          "O estado de humanidade global, perseguido pelo homem da escrita e da história é hoje vivenciado pelo homem informático-mediático. Isto não significa nem que todos os grupos sociais que vivem no planeta participem deste tipo de humanidade, nem que a cultura da televisão e do computador possa ser considerada como um final feliz para a aventura da espécie." (LÉVY, 2004, p.126)

          Essa reflexão de Pierre Lévy serve como norteador para pesquisadores e para a mídia, justamente no intuito de buscar novos resultados científicos e levá-los a um grupo cada vez maior de pessoas. É uma imbricação da própria comunicação científica e de seu trabalho de inclusão na Sociedade do Conhecimento.

          Como afirma o Prof. Paulo César R. Alvim, "a ciência existe para a sociedade e, neste sentido, esforços vêm sendo desenvolvidos e incrementados para levar o conhecimento científico até a sociedade, para a qual, além dos sistemas e instrumentos clássicos de difusão do conhecimento, devem ser incorporados outros meios que são utilizados em outras áreas. (DUARTE, TEIXEIRA DE BARROS Org., 2003, p.63)

          Na opinião da Profª Graças Caldas, da Universidade Metodista de São Paulo, "cabe aos jornalistas e cientistas refletirem de forma interdisciplinar com as diferentes áreas do conhecimento para atuarem conjuntamente como educadores, na divulgação da ciência e da tecnologia numa perspectiva crítica e de reflexão permanente sobre questões que envolvam a produção do conhecimento e a política científica."(GUIMARÃES org., 2003, p. 74 )

          Para o Prof. Wilson da Costa Bueno, "a decodificação do discurso científico pelo público leigo ainda é um obstáculo a ser vencido, particularmente nos países emergentes em que o analfabetismo científico se aprofunda, dada a velocidade com que novos fatos, conceitos e processos são trazidos à tona." (DUARTE, TEIXEIRA DE BARROS Org., 2003, p. 117)

          A parceria entre o LIEC e a EPTV Central, ainda que não estabelecida de maneira formal para receber essa denominação, é um caminho nessa tentativa de decodificação do discurso científico, ao buscar um caminho – a simulação do conhecimento pela 3D – para realizar essa interface entre a divulgação da Ciência Básica e a televisão.

          Até o presente momento, a realização de reportagens, nesse padrão, e a reprodução delas, em âmbito nacional, pela Rede Globo, TV Cultura, Rede 21 (Bandeirantes) e em âmbito estadual pela TV Globo da Paraíba, TV Globo do Piauí, TV Universidade do Rio Grande do Norte, demonstra que a união de esforços entre pesquisa e mídia deu frutos.

          É importante ressaltar ainda que o modelo desenvolvido para a divulgação pela televisão também proporcionou e continua proporcionando a própria educação científica, visto que as animações em 3D também têm sido utilizadas para apresentações em seminários, congressos científicos, cursos para professores do ensino secundário, bem como em cursos para alunos do ensino fundamental e médio de São Carlos e região.

          Entretanto, novas "tentativas e erros" deverão ocorrer, pois o próprio tema Nanotecnologia irá gerar ainda muita discussão, em nível governamental, empresarial e mesmo em conversas cotidianas. Os exemplos aqui citados e as projeções apresentadas, serão brevemente consolidadas e em pouco tempo novas formas de simulação do conhecimento serão adotadas. Essas são características da Nanotecnologia, ou seja, uma tecnologia dinâmica e sem limite de expansão, assim como a própria Comunicação.

          Notas

1) Entrevista à revista Ciência Hoje, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (vol.14, nº 82, 1992, p.45)

2) Para o Prof. Paulo César R. Alvim, "a Sociedade do Conhecimento é a realidade que se vive hoje no ambiente das organizações. Com o impacto na vida cotidiana das pessoas, a Sociedade do Conhecimento é decorrência principalmente dos avanços ocorridos nas últimas décadas, na ciência e nas tecnologias de informação e comunicação". (DUARTE, TEIXEIRA DE BARROS orgs,. 2003, p.48).

3) Edílson Pepino Fragalle exerceu a Gerência do Departamento de Jornalismo da EPTV Central entre dezembro de 2000 e setembro de 2003

4) Um nanômetro (abreviado como nm) é um metro dividido por um bilhão; 1 nm é igual a 10-9 m. Para se ter uma idéia do que isso representa, um fio de cabelo tem cerca de 100x10-6m quanto 0.1mm de diâmetro, ou seja, é 100.000 vezes maior que um nanômetro.

5) Jean-Luc Godard em "Ainsi parlait Jean-Luc, Fragments du discours d´ un amoreaux des mots", Télérama, nº 2278, 8/9/93.

6) Os resultados foram publicados no livro "Percepção Pública da Ciência" (VOGT, POLINO orgs., 2003).

7) Informações retiradas da home-page da Fundação Otorrinolaringologia, Unidade Vinculante da Divisão de Clínica Otorriolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

          Referências bibliográficas

A VISÃO TRIDIMENSIONAL. Fundação Otorrinolaringologia. Faculdade de Medicina da USP. Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da FMUSP. Disponível em <http://www.forl.org.br/noticia.php?ID=56>.Acesso em: 07 ago. 2004.

DUARTE, Jorge; TEIXEIRA DE BARROS, Antonio, editores técnicos. Comunicação para Ciência, Ciência para Comunicação. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2003.

EPTV 20 anos. São Paulo: Klick, 1998.

GUIMARÃES, Eduardo. (org.). Produção e Circulação do Conhecimento: Política, Ciência, Divulgação. Campinas, SP: Editora Pontes. 2003.

JOLY, Martine. Introdução à Análise da Imagem. 6.ed. Campinas, SP: Papirus, 1996.

LÉVY, PIERRE. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. 1.ed. 13. reimp. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

O ESTADO DE S.PAULO. 21/07/2004. página A-13.

SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1996.

SÃO CARLOS, Capital da Tecnologia. Feira de Alta Tecnologia de São Carlos. Disponível em <http://www.fealtec.com.br/fealtec/saocarlos.php>. Acesso em: 28 ago. 2004.

VOGT, Carlos; POLINO, Carmelo; (orgs.). Percepção Pública da Ciência, Resultados da Pesquisa na Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai. Campinas, SP: Editora Unicamp; São Paulo, SP: FAPESP, 2003.

 

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Edilson Pepino Fragalle
Jornalista, mestrando em Comunicação, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) – Campus de Bauru. E-mail: fragalle@terra.com.br
Élson Longo
Coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (LIEC) e do Centro Multidisciplinar para Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) .Professor Titular do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail: dels@power.ufscar.br

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