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Aproximações
e afastamentos entre ciência e mídia
Antonio Luiz Oliveira Heberlê*
A
mídia, não é uma mediadora neutra. Os discursos presentes na mídia,
ao refletirem em parte (nem tudo está na mídia) o movimento das
idéias, podem permitir que se perceba os sentidos discursivos.
Na medida em que operam os discursos e estruturam os seus discursos,
os meios passam a compor ou recompor os elementos significativos
da cotidianidade, essencialmente discursiva. Constituem-se (os
meios), por isso, num bom lugar para compreender a vida cotidiana
e temáticas de alta complexidade, como as que envolvem alguns
dos principais temas científicos. A passagem da ciência pela mídia,
entretanto, ao tempo que mostra muitas aproximações, marcadas
pelo interesse público de ambas as atividades. Mostra também vários
afastamentos, alguns dos quais destacamos neste texto.
Existem
diversas razões para que se trabalhe com essa noção de desencaixe
entre os campos científico e o midiático, ao se observar as lógicas
que presidem as suas operações. As temporalidades e contextos
que regulam os mundos da produção discursiva no campo da ciência
e da mídia tendem a não ser iguais. A ciência trabalha com desenvolvimentos
de médio e longo prazo. Projetos de uma década são comuns, dependendo
da área do conhecimento. Embora as agências de financiamento façam
pressão cada vez mais intensa para que os projetos apresentem
resultados mais proximamente, a própria lógica da maturação que
regula a observação em áreas como a biologia animal e vegetal,
por exemplo, impõe uma temporalidade própria, da natureza.
Não
se pode dizer o mesmo dos procedimentos midiáticos. A instantaneidade,
a ousadia de dizer antes, se possível antecipando-se aos fatos,
é da lógica deste campo. Ao analisar o impeachment de Fernando
Collor, Antonio Fausto Neto (1994) mostra que a mídia já havia
decretado o seu afastamento meses antes da votação no Congresso
Nacional. Ou seja, a mídia trabalha com um produto de consumo
imediato (informação) no jogo concorrencial.
Outra
noção conflituosa entre os interesses da ciência e da mídia se
refere à ampla visibilidade do processo da área da comunicação,
regulado pelo funcionamento do contexto social capitalista de
mercadorias, que valoriza o produto-informação em função da capacidade
de apresentar características originais para esta troca.
Isso
contrasta com a ciência, que em sua operação produtiva prescinde
de privacidade, sendo esse o valor que garante a originalidade
da troca. Portanto, nesse caso é o inverso do valor na mídia.
Em setores de tecnologia de ponta, o segredo é elemento do processo
industrial. Não pode ocorrer "vazamento" de informação,
pois significa perda do elemento básico para a concorrência.
Mesmo
áreas de grande interesse social, como saúde pública (pesquisas
sobre AIDS, câncer, vacinas, remédios, engenharia genética, etc)
os direitos de propriedade passam a ser essenciais. Tanto que
o registro, com a finalidade de domínio de patente e conseqüente
exploração econômica através de royalties, é fundamental
para as empresas (públicas e privadas) no caminho das inovações.
Com
a rápida evolução das tecnologias e a velocidade de reprodução
industrial, registrada especialmente a partir da segunda metade
do século XX, a discussão sobre patenteamento das invenções se
acirrou. Nos casos que envolvem tecnologia de ponta, ou tecnologias
de alto valor agregado (química fina, micro-eletrônica, biotecnologia,
por exemplo), a questão é ainda mais presente.
Para
continuar a crescer, o mercado mundial requer mais inovações,
o que implica demanda crescente de investimentos para a pesquisa.
Por essa razão, conforme já se observou, além do financiamento
público, a pesquisa exige o apoio de financiamentos privados.
Esses interesses acentuam-se no setor de biotecnologia e da
medicina, onde a criação de uma molécula nova, por exemplo,
requer, segundo a indústria farmacêutica, cerca de doze anos
de atividades de pesquisa e 230 milhões de dólares de investimentos.
Tal contexto explica porque a idéia de rentabilidade deixou
de ser indiferente à pesquisa e esta se tornou objeto de competição
acirrada entre indústrias e países (Scholze, 2002, p.97).
Assim
que, no debate que envolve a nova engenharia de produtos (biotecnologia,
nanotecnologia, etc) as referências de perspectiva financeiras
passam a ser fundantes, já que são as compensações que estimulam
as empresas. O sigilo e a proteção dos direitos de propriedade
intelectual, para garantir o retorno do investimento e os lucros
derivados das aplicações industriais dos novos produtos e processos,
são decisivos. O mesmo se dá quando o investimento é de origem
pública, pois há a competição entre países e pressão pela hegemonia
por parte do investimento privado em ciência.
Mas
não se pode dizer que é exatamente isso que acompanha os desejos
midiáticos. O ideário da mídia é ter um olho eletrônico contínuo
a vigiar a realidade social, numa espécie de visão panóptica de
Bentham, revisitado por Foucault (2002, p.162-187).
O
panóptico funciona como uma espécie de laboratório de poder.
Graças a seus mecanismos de observação, ganha em eficácia e
em capacidade de penetração no comportamento dos homens; um
aumento de saber vem se implantar em todas as frentes do poder,
descobrindo objetos que devem ser conhecidos em todas as superfícies
onde se exerça (Foucault 2002, p.169).
Em
megalópolis como São Paulo, helicópteros caça-eventos (especialmente
tragédias) rondam a cidade durante o dia e as vezes também à noite
afim de oferecer a descrição mais imediata possível. Trata-se
ainda do acontecimento bruto, em que não se sabe ainda bem o que
aconteceu, mas é um produto de alto valor de consumo, que a TV
descobre para entregá-lo, ainda fresco, à população, com a aura
da primeiridade peirceana.
A
primeiridade é a mera possibilidade de ser, uma qualidade absoluta,
considerada em si mesma, sem relação a nenhuma outra coisa. Charles
S. Peirce (1839-1914) mostra que esse sentimento primeiro se trata
de mera possibilidade que surge na consciência a respeito de algo,
de modo que é a significação do que é tal como é, sem referência
a nada.
As
pessoas estão em casa e de repente irrompe na sala a imagem na
TV mostrando a cidade captada por um helicóptero (as pessoas sequer
fazem essa racionalização, captam apenas aquele instante). Não
se sabe o que vai acontecer. Uma grande felicidade ou uma tragédia,
um acidente ou uma celebridade em destaque, ou mesmo uma informação
banal. Há somente uma tentativa do espectador em ligá-la a algo,
mas ainda nada liga a nada. Trata-se da qualidade sonora e visual,
sem nenhum conhecimento prévio do receptor que lhe possibilite
estabelecer uma razão a respeito. Naquele momento, em que o fato
pode ser qualquer coisa, uma vez que sem conexão, há apenas uma
possibilidade de virar outra coisa. Os fatos necessitam de experiência,
experiência colateral a respeito do que ali pode vir a ser dito,
para que surja algum efeito de sentido. Naquele momento o processo
de comunicação encontra-se dependente de outros contatos ou experiências
para existir a compreensão. Ou seja, a Primeiridade chega como
pura qualidade, que ainda não está revestida das noções que envolvem
o fato.
Mesmo num momento maior de consciência, fora da primeiridade,
quando o repórter diga:
-
Neste momento sobrevoamos São Paulo e se pode notar uma grande
aglomeração que se formou neste bairro na Zona Sul da cidade.
Ainda
assim, sabendo que alguma coisa existe, é o aspecto de não se
saber exatamente o quê, a promover uma excitação. Julgamos que
é esta excitação emanada pela primeiridade. Muitas vezes o próprio
repórter também não sabe, ele simplesmente corre atrás de algo
novíssimo, que pode vir a ser algo. Ele também necessita de informação
colateral para que faça algum sentido.
Nessa
medida, o primeiro (primeiridade) é presente e imediato, de
modo a não ser segundo para uma representação. Ele é fresco
e novo, porque se velho, já é segundo em relação ao estado anterior.
Ele é iniciante, original, espontâneo e livre, porque senão
seria um segundo em relação a uma causa. Ele precede toda a
síntese e toda diferenciação; ele não tem nenhuma unidade nem
partes. Ele não pode ser articuladamente pensado; afirme-o e
ele já perdeu toda a sua inocência característica, porque afirmações
sempre implicam a negação de uma outra coisa. Pare para pensar
nele e ele já voou (Santaella, 2002, p.46-47).
Talvez
por isso, pelo frescor, pela sensação que encerram ao serem mostradas,
a imaturidade das notícias sejam tão atrativas. Logicamente outras
são as explicações psicológicas sobre esse desejo das pessoas
em ver os acontecimentos o mais próximo possível do local onde
acontecem. Importa é que as mídias se especializaram não apenas
em mediar, mas imediatizar. Não apenas em traduzir de forma imediata,
mas para alcançar o frescor da primeiridade, recorrem às angulações.
Isso se pode notar pela capacidade em mostrar eventos como jogos,
shows e outras transmissões jornalísticas de diversos pontos,
proporcionando ao espectador uma visão tal dos fatos que jamais
se teria mesmo estando no próprio ambiente dos acontecimentos.
Tudo aqui e agora, muito novo, de tal forma que qualquer coisa
pode acontecer, inclusive nada.
No
Rio de Janeiro, a multinacional da informação, CNN, fez um acordo
com o Curso de Jornalismo da Universidade Estadual, onde os alunos-câmeras
rondam a cidade em busca de "flagrantes" da cidade.
As redes de TV dispensam os seus padrões de qualidade técnica
da imagem para se render ao factual, captado com marcas de amadorismo
por alguém que estava no lugar dos acontecimentos com uma câmera
nas mãos. Servem igualmente imagens borradas das câmeras fixas
de segurança.
Assim
como os demais campos, dificilmente o campo científico deixaria
de refletir ou se embater de alguma forma com as lógicas do mundo-mídia.
Portanto, é improvável que o campo científico seja imune às tensões
na modernidade, ao cruzar-se com o campo midiático. Genericamente,
o campo científico não funciona isoladamente e tampouco constitui
um mundo à parte na sociedade.
Fazer
ciência supõe o sujeitamento às suas regras. Foi a prática de
pesquisa que mostrou que fazer ciência é algo sistematizado, agregado
e essencialmente coletivo, com grande sintonia com o interesse
público.
O
interesse público é também um dos pilares da atividade comunicacional.
Ainda guardadas as suas peculiaridades, mídia e ciência convivem
melhor quando a divulgação das informações originárias da ciência
envolve cuidados e critérios próprios da operação espaço-temporal
do desenvolvimento científico. Uma informação imprecisa, dados
incompletos ou deformados, podem comprometer fortemente o curso
da investigação.
Por
isso, na apresentação pública não é raro ver-se o campo científico
refém da saga midiática, o que têm levado a situações constrangedoras
para institutos científicos e também para a própria mídia. O imediatismo
midiático se cruza com a força do crédito atribuído ao discurso
científico, enquanto discurso especializado. Ou seja, a mídia
recorre ao campo da ciência para instituir ou substanciar valores
(como verdade e credibilidade) que lhe são caros, agregando assim
capital adicional (na sua apresentação social) para a competitiva
economia onde atua.
Para
a ciência o resultado às vezes é complicado, pois para aparecer
precisa ser levada ao patamar de espetáculo, pelo viés do inusitado,
sendo apresentada com as características naturais de qualquer
material noticioso, de forma descontextualizada, rápida, fragmentada.
Nesse contexto, o que se evidencia é o que tem apelo midiático,
reduzindo-se aos seus mitos e ritos.
Esse
mito aparece sob vários aspectos. Dentre eles destaca-se o de
encantamento do mundo, no qual a ciência apresenta todas as
soluções buscadas pelo homem, que magicamente (seria o lado
glamouroso da ciência). Isso é da natureza do mito: sua função
é justamente pretender dar uma solução para uma contradição
(Siqueira, 1996, p.109).
Quando
Denise Siqueira analisou a presença da ciência no programa Fantástico
da Rede Globo de Televisão, que tem grande parte da sua pauta
ancorada nos resultados inusitados das pesquisas, observou alguns
aspectos interessantes da cobertura.
O tom de mistério e medo é largamente utilizado, assim como
as matérias que remetem ao místico. Nesses casos, quando a ciência
não explica os fenômenos naturais/sobrenaturais, o texto é sensacionalista,
às vezes amedrontador. E, por vezes, o discurso do editor
os textos lidos pelos locutores destoa da reportagem
(discurso do repórter), das imagens e dos depoimentos dos especialistas
(Siqueira, 1996, p.111).
Ao
tempo que os campos se especializaram, hoje também se relacionam
e interdependem, embora esse acoplamento nem sempre satisfaça
plenamente os diferentes segmentos. No caso da ciência e da mídia,
têm levado a situações constrangedoras para ambos os campos. No
início da década de 80, na época a principal revista semanal brasileira,
Veja, abriu manchete para a fusão genética entre o tomate
e boi. A impulsividade futurista fez com que inadvertidamente
a revista entrasse numa brincadeira (falso ensaio) da Revista
Nature, comemorativa ao dia dos bobos.
Ao
analisar o famoso caso Schering, que envolveu a adulteração de
pílulas anticoncepcionais em seus laboratórios, em dissertação
defendida no PPGCC da Unisinos, Rosane Rosa (2000, p.145) mostra
que o jornal é um "campo polêmico, onde falas contraditórias
se confrontam, acusam-se ou se complementam e que na construção
do discurso da atualidade o jornal é o mestre de cerimônia, deixando
falar as várias falas, porém controlando e guardando para si uma
apreciação específica do caso".
Talvez
se possa agregar que esse "mestre de cerimônias" não
é algo que está lá, estático, esperando que passem os discursos.
Fosse assim a mídia não sobreviveria. Porque há toda uma operação
de apresentação, de performance midiática, característica dessa
forma de mediação. Mas ao estabelecer a sua mediação, os veículos
reproduzem certos valores, evidenciam outros, estruturam a informação
a partir de determinados pressupostos, elegem as vozes e anunciam
as falas, no amplo contexto da discursivização (Duarte, 2000).
Realizam, portanto, as suas estratégias discursivas, compondo
elementos que funcionam como legitimadores da proposta intencionalmente
definida para a mensagem ou "versão" dos fatos.
Ao
optar por uma divulgação de cariz cultural, ao privilegiar determinados
públicos, ao relatar benefícios de uma descoberta, um divulgador
deve ser bem consciente dos valores que está a veicular. A actividade
de divulgação não se alimenta apenas de conhecimento científico
e de técnicas de comunicação, mas também de indispensáveis perspectivas
históricas, sociológicas e culturais (Pereira e outros, 2004,
p. 158).
Esse
fator cultural é importante, porque os meios se constituem num
lugar privilegiado na cena social para a vulgarização do conhecimento
e por extensão para os estudos que buscam a compreensão de temas
polêmicos, adversativos, como os que envolvem a ciência. Entretanto
é também o lugar onde a ciência tem se defrontado com grandes
dificuldades em termos de divulgação dos seus resultados, justamente
em função das características do campo midiático.
Não
sendo a ciência algo que se constrói fora do mundo dos mortais,
é rica em vida, comunicação, interação, tramas, disputas, conflitos,
trincheiras de lutas políticas, ideológicas. Mas isso pouco
aparece na mídia. O jornalismo científico praticado hoje no
Brasil e no mundo, longe de aproximar os conteúdos científicos
do público leigo, colabora para que o gap existente entre
um e outro permaneça sem perspectiva de solução. Falta vida,
sobra resultado. As características humanas da ciência desaparecem.
Em contrapartida exploram-se, com ênfase, os fragmentos que
podem produzir sensação, espetáculo, dar idéia de ritual, confirmação
de estereótipos (Sousa, 2004, p.27)
Por
outro lado, é muito difícil defender a idéia de uma ciência desinteressada,
absolutamente neutra e despretensiosa, como se o pesquisador "ao
entrar no laboratório, pudesse se despir da sua condição de sujeito
social, dos seus valores, dos seus interesses profissionais, acadêmicos
ou financeiros" (Sousa, 2004, p.30). Ou seja, não se pode
imaginar que os cientistas estejam desligados e que os métodos
que adotam para buscar o conhecimento mais preciso possível a
respeito de alguma coisa possa conferir-lhe o dom metafísico de
ser o único ser a promover a verdade. Pelo contrário, os cientistas
se vêem envoltos em dúvidas, contradições e convivem constante
e criticamente com a possibilidade de erro, limite este necessário
para o encaminhamento de seus estudos.
Em
parte isso pode igualmente ser dito em relação à prática do jornalismo,
já que as noções de neutralidade, objetividade, isenção, passam
a ser enquadradas dentro da esfera da deontologia e da ética profissional
e não como finalidades em si mesmas. E não se pode esquecer o
caráter de mercadoria das notícias. Ou seja, na produção jornalística,
escolhas estão sendo feitas em todo momento, segundo critérios
mais ou menos adequados aos princípios de quem os faz. Isso porque,
fazer notícias envolve também negociações diversas entre os campos
que exercem pressão em seu contexto produtivo.
Estão em jogo interesses diversos (econômicos, políticos, ideológicos,
sociais, etc) tanto na esfera da mídia, quanto na esfera da ciência.
Uma e outra atividade se distinguem porque utilizam instrumentos
diferentes ou "diferentes abordagens e formas diferentes
de representação. Não é, portanto, acidental que especialmente
entre ciência e mídia haja competição dura e até mesmo conflitos
sobre adequação de imagens" (Sousa, 2004, p.19).
Identificamos, então, alguns fatores que aproximam e outros que
afastam mídia e ciência, os quais podem ser comparados segundo
as principais variáveis aqui revisitadas:
Variável |
Mídia |
Ciência |
Interesse social |
Alto |
Alto |
Interesse econômico |
Alto |
Alto |
Imediatismo (temporalidade) |
Alto |
Baixo |
Objetividade |
Alta |
Alta |
Polêmica |
Alta |
Baixa |
Precisão |
Baixa |
Alta |
Sigilo |
Baixo |
Alto |
Neutralidade |
Baixa |
Média |
Performance (espetacularização) |
Alta |
Baixa |
Fragmentação (dos fatos) |
Alta |
Baixa |
Visibilidade |
Alta |
Baixa |
Contextualização |
Baixa |
Alta |
Credibilidade |
Média |
Alta |
Busca pela verdade |
Média |
Alta |
Salientamos
que as escalas utilizadas no quadro não constituem valores absolutos
e tampouco definitivos. Dada a dificuldade de se constituir valores
escalares para fatores relacionados ao comportamento social, tal
escala tem apenas função comparativa. Pode-se substituir as avaliações
para: maior, menor e intermediária, com resultados satisfatórios.
Entretanto, a escala utilizada parece deixar mais claro aquilo
que pretendemos mostrar. Em muitos casos, entretanto, pode ocorrer,
dependendo do enfoque, aproximação e afastamentos maiores ou menores,
como nas questões da credibilidade e da verdade, por exemplo.
Por isso, é preciso relacionar detidamente as atividades sempre
que o quadro for lido.
Para
finalizar:
O
primeiro e o último item do quadro parecem indicar para o que
acontece entre mídia e ciência, seus embates, ditados por algumas
contradições de interesses. Ambas têm alto interesse social e
por isso prescindem de se apresentar à sociedade. Porém, as operações
que as presidem são diferentes. A busca pela verdade na mídia
é a verdade aqui e agora, extremamente transitória, viva, loquaz,
sendo disso do que se abastece para ter todo o dia o frescor dos
fatos a narrar. Enquanto que a busca pela verdade na ciência é
uma busca histórica, seqüencial e temporalizada, engendrada pela
sistemática, pela verificação e validação dos dados no plano geral
da sua atividade.
O
que faz prescindir de um campo permanente de negociação entre
ciência e mídia, em busca de entendimento, de tal forma que duas
atividades que caminham lado a lado nessa busca pelos fenômenos
do mundo possam realizar, pelo interesse social, as suas missões
com sucesso. Ou seja, sentar e conversar, ainda são a melhor receita.
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Antonio Luiz Oliveira Heberlê
Pesquisador da Embrapa Clima Temperado,professor da UCPel,
doutorando em Comunicação pela Unisinos.
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