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A
ciência na imprensa capixaba
Alessandra Carvalho*
1.
Introdução
A
necessidade de entender como a mídia do Espírito
Santo cobria informações sobre a pesquisa científica
nos levou a produzir este trabalho. O tema é recorrente
nos meios de comunicação nacionais e regionais,
mas não encontramos nenhuma observação sistematizada
que nos informasse sobre a divulgação científica
no Espírito Santo. Embora, no estado existam instituições
federais, estaduais e municipais que têm desenvolvido pesquisas
e trabalhos de incentivo à pesquisa e divulgação
científica, além do trabalho da imprensa, não
havia índices ou diagnósticos sobre o tema. Portanto,
havia dados a serem produzidos e estudados, termos pelos quais
consideramos importante desenvolver este trabalho. As pesquisas
mais recentes, que identificamos, trataram de visões específicas,
como, por exemplo, sobre o meio ambiente (MIGNONI e NUNES, 2002)
ou sobre saúde (FAFÁ, 2003) na mídia capixaba.
Entendemos
que o interesse pelo tema tende a acontecer cada vez mais, porque
o cenário da ciência mundial se modifica com mais
rapidez, e as pessoas estão mais próximas da atividade
científica, com informações diárias
nos meios de comunicação, aumentando a curiosidade
sobre determinados assuntos. Dessa forma, as estratégias
de comunicação precisam acompanhar melhor esse trânsito
das novidades científicas e tecnológicas que surgem.
Este processo requer uma troca de experiências mais intensa
entre os interessados na divulgação da ciência,
a fim de quebrar preconceitos, reformular conceitos, e, principalmente,
compreender novas visões das relações entre
comunicação e ciência.
Com
o objetivo geral de analisar a mídia capixaba, geramos
esta primeira parte da pesquisa, que consiste em analisar quantitativa
e qualitativamente o conteúdo dos três principais
jornais do Espírito Santo, de periodicidade diária
– Notícia Agora, A Gazeta e A Tribuna. Para isso,
usamos as edições publicadas no período de
setembro a novembro de 2003, de onde destacamos todas as matérias
que se relacionavam à divulgação da pesquisa
científica.
Esta
análise permite um mapeamento dos temas priorizados pelos
jornais e o conhecimento das abordagens desenvolvidas. Com isso,
podem-se analisar também as tendências do jornalismo
científico capixaba no que diz respeito à valorização
de setores da ciência e do uso da linguagem para se falar
de pesquisa. Não existe especialização nas
redações capixabas. Ou seja, os jornalistas que
preparam os jornais de Vitória não trabalham com
a idéia de jornalismo de ciência, ou jornalismo científico,
embora existam os conteúdos específicos sobre o
tema, organizados sob rubricas ligadas à área da
saúde.
2.
Metodologia
A
pesquisa usou a técnica de análise de conteúdo,
como proposta por Hansen (1998) e Laurence Bardin (1995). Este
método de investigação é compreendido
não apenas como "um conjunto de técnicas de
análise das comunicações, que utiliza procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens", mas principalmente com a
"intenção de inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção
(ou, eventualmente de recepção), inferência
esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)"
( Bardin, 1995, p. 38).
Foram
analisadas todas as matérias publicadas de 12 de setembro
a 11 de novembro de 2003 pelos jornais Notícia Agora, A
Gazeta e A Tribuna. O critério geral de seleção
inicial era que a matéria se referisse a alguma pesquisa
desenvolvida por universidades, institutos de pesquisa, pesquisadores
individuais, organizações não governamentais
de pesquisa; mesmo quando não apresentasse fonte, fizesse
menção à alguma fonte confiável, como
por exemplo uma revista de divulgação conhecida.
Ao todo foram 187 matérias publicadas em 60 dias.
Os
jornais escolhidos são os únicos de circulação
estadual. Conforme dados do Instituto de Verificação
de Circulação para o mês de junho de 2004,
o jornal A Gazeta tem uma média mensal de circulação,
em dias úteis, de 21.558 exemplares por edição;
o jornal Notícia Agora, pertencente ao grupo Gazeta, trabalha
com 6.241 exemplares diários; e A Tribuna faz circular
nos dias úteis, 41.024 exemplares por edição.
As
matérias foram analisadas por categorias que implicaram
o uso de ilustrações, gênero jornalístico,
editoria, tempo, argumentos predominantes no texto, forma de apelação
do texto, as fontes das pesquisas, a acessibilidade da linguagem,
o ineditismo do tema, o setor da ciência, lugar de origem
da pesquisa, e as funções da linguagem que mais
se destacaram nos textos. Esta análise por categorias permitiu
a investigação do tema principal apresentado em
diversos desdobramentos. A definição das categorias
se deu por meio de denominações já conhecidas
e/ou a partir de palavras-chave (pesquisa ou pesquisa científica)
contidas nas matérias selecionadas. Em um primeiro momento
do trabalho, fizemos a análise quantitativa, e concluímos
com uma avaliação qualitativa sobre o material produzido
pelos jornais capixabas, considerando, como ponto de apoio, funções
do jornalismo de divulgação de ciência.
3.
Análise da divulgação da ciência nos
jornais capixabas
3.1.
Os setores do conhecimento científico
Pouco
mais da metade das matérias de divulgação
científica são do setor de medicina (51%). O interessante
é que o jornal considerado mais popular, devido ao seu
formato tablóide, com custo menor que os outros, o Notícia
Agora, é o que mais publica matérias sobre esse
assunto, chegando a dedicar quase 70% de suas matérias
de divulgação científica à medicina.
Enquanto isso, o jornal considerado mais tradicional, A Gazeta,
apresenta o setor em 38% das matérias.
O
Notícia Agora veicula diariamente a página "Vida
Saudável", que, invariavelmente, aproxima-se do setor
científico que se sobrepõe nesta pesquisa. O Jornal
A Tribuna publica semanalmente uma página específica
chamada "Saúde e Medicina". A Gazeta publica
também semanalmente uma página chamada "Saúde".
A
prevalência do setor "medicina e saúde"
sobre os demais tem sido uma observação constante
nas pesquisas sobre cobertura da divulgação científica
pela mídia, como verificado por Hansen e Dickinson (1992),
no rádio, TV e jornais da Grã-Bretanha; Fayard (1993),
nos jornais europeus; Carvalho (1996), na capas de revistas brasileiras
de divulgação científica. Teixeira (2002)
na cobertura televisiva no Brasil. Essa superioridade pode ser
muito bem justificada pelo critério do interesse público.
A mídia publica mais sobre saúde, porque esse é
um tema que chama a atenção da população,
ou seja, é um assunto que os públicos consomem.
A vida é prioridade, acima de tudo.
Na
análise dos jornais capixabas, em segundo plano aparecem
matérias sobre as ciências humanas (trabalhamos com
a grande área, sem especificação dos conhecimentos).
Este setor resultou em apenas 12% da freqüência nos
três veículos. Em cada jornal, a posição
deste setor foi aproximada ao que terminou no cômputo geral,
ou seja, aparece também em segundo ou terceiro lugar nas
análises individuais. Essa avaliação mostra
como ainda a pesquisa na área de humanidades é pouco
valorizada pela mídia. Apesar de não termos separado
por objeto de estudo, em geral, as matérias aparecem enfocando
sobre comportamento e psicologia.
3.2.
Onde são alocadas as informações sobre ciência.
Por
causa da peculiaridade de distribuição e organização
das informações pelos veículos, decidimos
não fazer uma avaliação generalizada das
editorias em que aparecem as matérias sobre ciência.
Isto foi resultado da observação individual sobre
o tablóide Notícia Agora, que concentra quase todas
as informações sobre o tema na página diária
"Vida Saudável". Aí aparecem 94% das matérias
publicadas neste jornal. O restante (6%) aparece unicamente na
editoria de Cidades.
A
concentração das matérias em um único
espaço pode ser visto como um recurso que também
direciona a visão do leitor para compreender a ciência
apenas como aquela que trata de saúde e medicina, que estão
diretamente ligadas à proposta de Vida Saudável,
como vimos no quesito anteriormente analisado. Isso leva-nos a
inferir que o leitor do Notícia Agora conhece basicamente
os resultados de pesquisa que têm uma aplicação
prática em seu cotidiano, experiências que melhoram
sua vida.
Os
outros dois jornais pulverizam as informações por
diversas editorias. Nas específicas em divulgação
de saúde, encontramos 32% das matérias, ou seja,
quase 1/3 do material publicado. Analisando ambos, de forma separada,
observamos que A Tribuna é que mais concentra matérias
na sua página semanal, apresentando mais da metade (55%)
do total na editoria "Saúde e medicina".
Assim,
como no jornal Notícia Agora, a editoria Cidade é
a segunda preferida para publicação de matérias
com conteúdo sobre pesquisa científica também
em A Tribuna e A Gazeta. Os dois jornais juntos publicaram nesta
editoria cerca de 20% de informações relacionadas
ao tema em questão. Nesta parte, apareceram matérias,
por exemplo, sobre pesquisas que estavam sendo apresentadas em
congressos na cidade de Vitória, e que serviam de "gancho"
para matérias mais amplas, como: "Excesso de cuidado
pode causar alergia" (A Tribuna, 16.10.2003), por ocasião
do XLIV Congresso Médico Estadual. Porém, algumas
outras matérias que não tinha relação
direta com algo que estivesse acontecendo em Vitória ou
no estado, também apareciam nesse espaço, como,
por exemplo, "Alerta para utilização do filtro
solar" (A Tribuna, 12.10.2003), que se referia a uma pesquisa
feita por um hospital Mount Vernon, do Reino Unido, mas que não
havia nenhuma inserção de informação
sobre o estado.
Em
terceira posição, aparece a editoria Internacional,
onde estavam distribuídos 11% das matérias analisadas.
Essa localização é bem justificada até
pelo fato de que boa parte das informações publicadas,
por esses jornais, é sobre pesquisas ou pesquisadores estrangeiros.
Como
era de se esperar, a opinião (artigos, cartas e charges)
é pouco representativa, aparecendo em apenas 7% do material
analisado. E, muitas vezes, os artigos são aleatórios,
não obedecem a nenhuma "ordem do dia", isto é,
não falam sobre assuntos que estejam sendo debatidos na
sociedade.
3.3.
Origem das pesquisas publicadas
As
pesquisas feitas no Brasil aparecem em primeiro lugar de publicação
(38%). Sendo que, individualmente, o jornal A Gazeta foi o maior
canal de divulgação, onde as pesquisas brasileiras
foram fontes para 66% das matérias publicadas. Por outro
lado, o jornal Notícia Agora apresentou mais pesquisas
americanas (32,3%).
Em
segundo lugar aparecem os Estados Unidos, no total com 23% de
contribuição. A terceira freqüência fica
muito distante dos dois primeiros, com apenas 8% aparece o Reino
Unido.
No
que diz respeito aos lugares de origem das pesquisas dentro do
Brasil, temos como fonte mais freqüente o estado de São
Paulo (34%), seguido pelo Espírito Santo (26%) e pelo Rio
de Janeiro (12%).
Os
resultados apresentados, sob os dois pontos de análise,
foram surpreendentes. Primeiro porque esperamos sempre que as
pesquisas estrangeiras apareçam em primeira posição,
principalmente pelo fato de que há muito mais informações
circulando sobre os trabalhos americanos e europeus nos meios
de comunicação do que sobre as pesquisas nacionais.
No outro aspecto, foi surpresa também que o Espírito
Santo fosse privilegiado em relação ao Rio de Janeiro,
sendo este um estado com maior produção de pesquisa
que o Espírito Santo. Essas conclusões refletem
que os jornais capixabas valorizam a produção científica
no Brasil e no estado, o que é, sem dúvida, uma
atitude muito positiva para que os leitores também agucem
seus olhares sobre o conhecimento produzido em nível nacional
e local.
3.4.
Como os jornais mostram a pesquisa científica
Com
relação a argumentos que aparecem de forma predominante,
observamos que as matérias apresentaram de forma equilibrada
visões otimistas e pessimistas do assunto ao qual estão
ligadas as pesquisas relatadas. Observamos que havia 42% das matérias
que mostravam uma tendência pessimista quanto ao assunto
tratado pela pesquisa científica. Um exemplo é a
matéria "Doping genético já assusta"
(A Gazeta, 14.10.2003). Este assunto do exemple é muito
polêmico e traz, nesta matéria também, a discussão
de que a pesquisa de medicamentos tem possibilitado o desenvolvimento
de super atletas. Do outro lado, a visão otimista aparece
com um pouco mais de pontos, 45%, em matérias que pretendem
mostrar benefícios advindos da pesquisa como, por exemplo,
em "Incaper pesquisa café mais resistente" (A
Gazeta, 22.10.03). A idéia propagada aqui é a da
ciência que trabalha para o progresso da sociedade.
Ao
verificar a questão "competência X incompetência",
57% das matérias não deixavam passar nenhum tipo
de inclinação, ou seja, a maior parte das matérias
é neutra; em 40% os pesquisadores ou institutos de pesquisa
são apresentados, de forma explícita no texto, como
competentes. Quando a questão é a idéia de
"desenvolvimento X subdesenvolvimento’, a maior parte
também é neutra (60%). Porém, 33% mostram
as pesquisa científica como um trabalho que gera desenvolvimento
e apenas 7% mostram a pesquisa sob um ponto de vista do sub-desenvolvimento.
Esta visão última foi revelada por matérias
que falam da necessidade de se desenvolver pesquisas sobre assuntos
ainda obscuros. De forma alguma, a pesquisa foi mostrada como
atividade que gera subdesenvolvimento.
3.5.
A apelação predominante nas matérias
Muitos
textos usaram o humor como forma de chamar a atenção
para os temas apresentados. Este recurso foi usado mais nos títulos
e ilustrações, do que propriamente na redação
da matéria. O Jornal A Tribuna é o que mais lança
mão desse tipo de construção de mensagem,
principalmente nas matérias que publica na página
semanal "Saúde e Medicina". A pesquisas que são
divulgadas nesta página, muitas vezes, não são
relevantes como informação cotidiana, isto é,
não tem aplicação na vida diária e
acabam se transformando mais em "curiosidades" e absurdos
para o leitor. Bons exemplos são matérias sobre
descobertas de fósseis de animais que aparecem em A Tribuna.
Mas em particular, para atrair a atenção do leitor
para os textos, o jornal abusou de montagens e gravuras de humor
duvidoso para ilustrar matérias como "Os animais provocam
efeito estufa" (A Tribuna, 18.10.03), em que aparecem gravuras
de vacas que "soltam gases" em balõezinhos com
a palavra "pum".
Apesar
do uso de um humor de gosto discutível e da espetacularização
pra chamar a atenção nos títulos e nas ilustrações,
o tipo de apelação predominante no texto das matérias
foi o cognitiva, em cerca de 94% do material analisado. Ou seja,
a redação do texto privilegiava a descrição
generalizada e a informação gerada pelas pesquisas,
sobre o processo de pesquisa e sobre os pesquisadores.
A
apelação reflexiva aparece nos 6% restantes. Não
há manifestações sensacionalistas que se
destaquem mais que os outros aspectos da informação,
pois, como já foi dito, os textos apresentavam um enfoque
mais enxuto do assunto abordado, que se contrapunham às
gaiatices feitas nas ilustrações.
3.6.
Uso da linguagem
Sob
o aspecto da acessibilidade da leitura, 95% dos textos eram legíveis,
ou seja, foram usados linguagem coloquial e vocabulário
cotidiano para explicar procedimentos e conclusões da pesquisa.
Apenas 5% apresentaram uma linguagem confusa, por usarem termos
especializados, que não são de domínio do
público.
O
texto de divulgação científica, em sua concepção,
deve transformar o conteúdo científico em uma leitura
agradável e de boa compreensão para o público.
E nesse ponto, os jornais capixabas mostram informações
de forma mais compreensível. O reflexo dessa prática
é verificado na análise feita sobre as funções
da linguagem que se apresentam com mais evidência nas matérias.
A função referencial, que descreve uma situação
de forma objetiva, cognitiva e denotativa (VANOYE, 2003) está
presente em 100% das redações analisadas.
Explicação
e/ou traduções de informações especializadas
ou de palavras do vocabulário científico são
freqüentes nas matérias analisadas. Essas características,
que aparecem em 37% das matérias analisadas, são
da função metalingüística da linguagem,
ou seja, o discurso que focaliza o código que está
sendo usado (VANOYE, 2003). Em terceiro plano, aparece a função
conativa, presente com mais freqüência nos títulos,
com o intuito de encantar, atrair o leitor ou destinatário
da mensagem que se apresenta. Foi possível observar com
clareza o uso desta função em 26% das matérias.
No
que diz respeito a explicações e ilustrações,
o uso é freqüente em praticamente metade das matérias
(49%); a outra parte (51%) não apresentou nenhum tipo de
ilustração ou explicações adicionais.
Para fazermos essa análise, observamos todas as fotografias,
desenhos, boxes, e gráficos que faziam parte das matérias.
As fotos foram o recurso mais usado (em cerca de 69%); em seguida
aparecem os desenhos (26%); os boxes são usados em 25%
das matérias analisadas; poucos gráficos aparecem
(3%). Lembramos que, em certos casos, as fotos e ilustrações
eram meramente adornos do texto, formas de capturar a atenção
do leitor, pois nem sempre apresentavam informação
adicional, ou seja, apenas enfeitavam a matéria.
Lílian
Zamboni (2001, p. 85) diz que a imagem do discurso da divulgação
científica, "longe de ser degradado, empalidecido
e esmaecido, é vivo, colorido e envolvente". Observamos
que os jornais capixabas procuraram por meios diversos dar esse
tom mais ativo às matérias, usando as ilustrações
com humor e fotos coloridas para chamar atenção
do leitor. Mas nem assim, deixou de valorizar, na maior parte
das vezes a informação mais importante para os leitores.
Confirmando, assim mais uma das assertivas que revela as finalidades
da divulgação científica que "embora
modificado, ele mantém sua vinculação ao
campo científico, em que se aloja incomodamente como um
discurso heterogêneo, dialógico e aproximativo".(ZAMBONI,
2001, p. 59)
3.7.
Os gêneros jornalísticos
Os
jornais capixabas privilegiam a notícia como gênero
jornalístico. No período analisado, 70% das matérias
estavam no formato noticioso. De um modo geral, esse é
o formato esperado, já que é o produto típico
do jornal diário. A nota é o segundo formato mais
usado (16%) para o conteúdo analisado. A reportagem aparece
apenas em 9%, sendo freqüente mais aos domingos, em cadernos
como Jornal da Família de A Tribuna. O gênero opinativo
mais destacado é artigo, que aparece em 4% do total de
matérias.
Considerando
que a forma da reportagem representa um investimento no assunto
explorado, podemos concluir que os jornais capixabas pouco investem
em matérias mais trabalhadas ou na exploração
de assuntos. Por outro lado, trabalha expressivamente com os formatos
mais rápidos de texto possibilitados por notícia
e nota.
3.8.
O uso de fontes:
A
maior parte das matérias (84%) faz referência explícita
à fonte das informações. Das fontes que mais
se destacam em freqüência, em primeiro lugar, aparecem
as Universidades em 32% do material. Em segundo lugar, aparecem
os institutos de pesquisa em 20% das matérias analisadas.
Estes institutos foram definidos a partir da nomenclatura dada
na matéria, porém, alguns destes, estavam ligados
às universidades. Também aparecem como fontes os
pesquisadores (individuais), sem citar suas filiações,
e este caso se repete em 11% das matérias. As revistas
de divulgação científica também são
fontes citadas em 10% das matérias. Nestas, notamos que
todos os periódicos citados eram de origem estrangeira.
Apenas em 5% das matérias, as empresas aparecem como fonte
de informações.
Analisando
o uso de fontes comparadas ao item origem da pesquisa, podemos
sugerir que boa parte das informações veiculadas
vem das universidades e institutos de pesquisa brasileiros e americanos;
e que os jornalistas não usam os periódicos científicos
brasileiros como referência de informação
para os textos que constroem.
Considerações
finais
A
observação quantitativa de vários pontos
sobre a divulgação científica nos jornais
capixabas não dá conta da dimensão que representa
esse fator na sociedade e, além disso, é aberta
a uma diversidade de interpretações dos dados, que
tentamos direcionar em nossa análise preliminar e geral
em forma de considerações finais.
Uma
compreensão que nos foi possível a partir de uma
análise que extrapola a quantificação é
que não existe jornalismo científico capixaba. Dos
três jornais, apenas o Notícia Agora, em sua página
diária sobre saúde, apresenta com freqüência
um texto principal escrito por um repórter fixo da redação
do jornal. Ainda que a matéria seja sobre uma pesquisa
desenvolvida por instituições nacionais e não
regionais, o repórter assina o texto. Podemos dizer que
há divulgação científica nos jornais,
e que eles valorizam essa informação, até
por conta das seções fixas que os três veículos
possuem.
Quanto
à produção dessas informações,
pelo que observamos, as matérias que aparecem nessas seções
são produzidas por agências de notícias, embora,
muitas vezes, isto não esteja explícito na matéria.
Um exemplo desta prática é a página "Saúde
e Medicina" de A Tribuna, que invariavelmente apresenta mais
matérias sobre pesquisas internacionais que nacionais.
Geralmente, as matérias regionais ou nacionais aparecem
em outras editorias, mas não naquela específica
em divulgação científica (saúde).
Outro
ponto importante de ser observado é a ratificação
da prevalência de matérias sobre saúde e medicina,
que é solidificada, nos jornais do Espírito Santo,
também pela presença das páginas fixas sobre
o tema, já comentadas anteriormente. Alguns temas aumentam
a proporção de informações sobre saúde
com o passar dos anos. Alguns deles estão ligados ao investimento
de pesquisas em genética, terapias genéticas etc.
Bueno (2002) chama atenção para a maneira irresponsável
e sensacionalista com que o jornalismo trata dessa questão,
muitas vezes dando espaço para notícias sem nada
de interessante ou teses sem propósitos claros.
O
uso de recursos atrativos para a leitura é outro ponto
de discussão. Se entendermos que o objetivo da divulgação
científica é de fato a popularização
das informações, vamos considerar importante que
sejam usadas "iscas" para atrair a atenção
do destinatário da mensagem. O que se discute, no entanto,
é a forma dessa atração. Nos textos analisados,
encontramos uma proporção significativa do uso da
função conativa da linguagem, que reflete uma aproximação
maior da mensagem com o leitor. E isto acontece através
de "ganchos" no texto mais envolvente e nas ilustrações.
As
ilustrações são o único motivo de
polêmica, uma vez que, ou elas servem para adicionar informações,
ou servem apenas para enfeitar o texto. E os enfeites é
que podem descambar até para uma desvalorização
da informação principal da matéria. Alguns
desenhos e fotografias usados pelos jornais capixabas traíam
a seriedade de certos temas das matérias, ou serviam para
ridicularizar pesquisas sem muita relevância no cotidiano.
Tornar
fácil a leitura e compreensão de temas da pesquisa
científica é uma tarefa que pode cair rapidamente
na banalização, supostamente por conta de duas prerrogativas:
a de considerar importante a informação sobre uma
pesquisa sem relevância social imediata (como aquelas sobre
o "elo perdido") e tornar essa pesquisa "engraçadinha"
aos olhos dos leitores. Então, ao olharmos para uma informação
construída de forma duvidosa no jornal, não compreendemos
onde está o espírito crítico tão desejado
do jornalista.
Por
fim, consideramos que a divulgação científica
nos jornais A Tribuna, A Gazeta e Notícia Agora é
valorizada pelos editores como assunto digno de espaço
cativo nas edições diárias (cerca de três
matérias são publicadas diariamente, conforme a
pesquisa que realizamos). A tentativa de transformar a ciência
em algo fácil de ser compreendido não escapa dos
objetivos do jornalismo científico na sociedade. E isto
é espelhado pelo uso da função metalingüística
em cerca de 1/3 dos textos, denotado por uma linguagem acessível
ao leitor dos jornais. O que conflita com o banalização
a que pode chegar essa transformação das informações
mais áridas em algo mais palatável. Nosso alerta
é para que isto não se torne um recurso corrente.
Afinal, a popularização da ciência deve ser
feita de forma responsável. Desta maneira, tanto o conhecimento
científico, quanto o trabalho jornalístico tornam-se
atividades respeitadas na sociedade, se o jornalista respeitar
também o leitor e a ciência, através da forma
como transmite as informações científicas
para o público.
Como
este trabalho ainda não está fechado, deixamos aberto
para outras reflexões e considerações sobre
os outros pontos estudados e que serão acrescentadas posteriormente.
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---------------------------------------------------------------------------------
Alessandra Carvalho
Professora das Faculdades Integradas São Pedro-Faesa-ES
/ Faculdade Estácio de Sá Vitória-ES.
Ana Meneguelli
Professora das Faculdades Integradas São Pedro- Faesa-ES/Wahington
State University-USA.
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