<% pagina = "http://" & request.ServerVariables("HTTP_HOST") & request.ServerVariables("URL") %> Ciência & Comunicação - Artigos
Volume 1
Número 1

20 de dezembro de 2004
 
 * Edição atual    

          A ciência na imprensa capixaba

Alessandra Carvalho*

          1. Introdução

          A necessidade de entender como a mídia do Espírito Santo cobria informações sobre a pesquisa científica nos levou a produzir este trabalho. O tema é recorrente nos meios de comunicação nacionais e regionais, mas não encontramos nenhuma observação sistematizada que nos informasse sobre a divulgação científica no Espírito Santo. Embora, no estado existam instituições federais, estaduais e municipais que têm desenvolvido pesquisas e trabalhos de incentivo à pesquisa e divulgação científica, além do trabalho da imprensa, não havia índices ou diagnósticos sobre o tema. Portanto, havia dados a serem produzidos e estudados, termos pelos quais consideramos importante desenvolver este trabalho. As pesquisas mais recentes, que identificamos, trataram de visões específicas, como, por exemplo, sobre o meio ambiente (MIGNONI e NUNES, 2002) ou sobre saúde (FAFÁ, 2003) na mídia capixaba.

          Entendemos que o interesse pelo tema tende a acontecer cada vez mais, porque o cenário da ciência mundial se modifica com mais rapidez, e as pessoas estão mais próximas da atividade científica, com informações diárias nos meios de comunicação, aumentando a curiosidade sobre determinados assuntos. Dessa forma, as estratégias de comunicação precisam acompanhar melhor esse trânsito das novidades científicas e tecnológicas que surgem. Este processo requer uma troca de experiências mais intensa entre os interessados na divulgação da ciência, a fim de quebrar preconceitos, reformular conceitos, e, principalmente, compreender novas visões das relações entre comunicação e ciência.

          Com o objetivo geral de analisar a mídia capixaba, geramos esta primeira parte da pesquisa, que consiste em analisar quantitativa e qualitativamente o conteúdo dos três principais jornais do Espírito Santo, de periodicidade diária – Notícia Agora, A Gazeta e A Tribuna. Para isso, usamos as edições publicadas no período de setembro a novembro de 2003, de onde destacamos todas as matérias que se relacionavam à divulgação da pesquisa científica.

          Esta análise permite um mapeamento dos temas priorizados pelos jornais e o conhecimento das abordagens desenvolvidas. Com isso, podem-se analisar também as tendências do jornalismo científico capixaba no que diz respeito à valorização de setores da ciência e do uso da linguagem para se falar de pesquisa. Não existe especialização nas redações capixabas. Ou seja, os jornalistas que preparam os jornais de Vitória não trabalham com a idéia de jornalismo de ciência, ou jornalismo científico, embora existam os conteúdos específicos sobre o tema, organizados sob rubricas ligadas à área da saúde.

          2. Metodologia

          A pesquisa usou a técnica de análise de conteúdo, como proposta por Hansen (1998) e Laurence Bardin (1995). Este método de investigação é compreendido não apenas como "um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens", mas principalmente com a "intenção de inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)" ( Bardin, 1995, p. 38).

          Foram analisadas todas as matérias publicadas de 12 de setembro a 11 de novembro de 2003 pelos jornais Notícia Agora, A Gazeta e A Tribuna. O critério geral de seleção inicial era que a matéria se referisse a alguma pesquisa desenvolvida por universidades, institutos de pesquisa, pesquisadores individuais, organizações não governamentais de pesquisa; mesmo quando não apresentasse fonte, fizesse menção à alguma fonte confiável, como por exemplo uma revista de divulgação conhecida. Ao todo foram 187 matérias publicadas em 60 dias.

          Os jornais escolhidos são os únicos de circulação estadual. Conforme dados do Instituto de Verificação de Circulação para o mês de junho de 2004, o jornal A Gazeta tem uma média mensal de circulação, em dias úteis, de 21.558 exemplares por edição; o jornal Notícia Agora, pertencente ao grupo Gazeta, trabalha com 6.241 exemplares diários; e A Tribuna faz circular nos dias úteis, 41.024 exemplares por edição.

          As matérias foram analisadas por categorias que implicaram o uso de ilustrações, gênero jornalístico, editoria, tempo, argumentos predominantes no texto, forma de apelação do texto, as fontes das pesquisas, a acessibilidade da linguagem, o ineditismo do tema, o setor da ciência, lugar de origem da pesquisa, e as funções da linguagem que mais se destacaram nos textos. Esta análise por categorias permitiu a investigação do tema principal apresentado em diversos desdobramentos. A definição das categorias se deu por meio de denominações já conhecidas e/ou a partir de palavras-chave (pesquisa ou pesquisa científica) contidas nas matérias selecionadas. Em um primeiro momento do trabalho, fizemos a análise quantitativa, e concluímos com uma avaliação qualitativa sobre o material produzido pelos jornais capixabas, considerando, como ponto de apoio, funções do jornalismo de divulgação de ciência.

          3. Análise da divulgação da ciência nos jornais capixabas

          3.1. Os setores do conhecimento científico

          Pouco mais da metade das matérias de divulgação científica são do setor de medicina (51%). O interessante é que o jornal considerado mais popular, devido ao seu formato tablóide, com custo menor que os outros, o Notícia Agora, é o que mais publica matérias sobre esse assunto, chegando a dedicar quase 70% de suas matérias de divulgação científica à medicina. Enquanto isso, o jornal considerado mais tradicional, A Gazeta, apresenta o setor em 38% das matérias.

          O Notícia Agora veicula diariamente a página "Vida Saudável", que, invariavelmente, aproxima-se do setor científico que se sobrepõe nesta pesquisa. O Jornal A Tribuna publica semanalmente uma página específica chamada "Saúde e Medicina". A Gazeta publica também semanalmente uma página chamada "Saúde".

          A prevalência do setor "medicina e saúde" sobre os demais tem sido uma observação constante nas pesquisas sobre cobertura da divulgação científica pela mídia, como verificado por Hansen e Dickinson (1992), no rádio, TV e jornais da Grã-Bretanha; Fayard (1993), nos jornais europeus; Carvalho (1996), na capas de revistas brasileiras de divulgação científica. Teixeira (2002) na cobertura televisiva no Brasil. Essa superioridade pode ser muito bem justificada pelo critério do interesse público. A mídia publica mais sobre saúde, porque esse é um tema que chama a atenção da população, ou seja, é um assunto que os públicos consomem. A vida é prioridade, acima de tudo.

          Na análise dos jornais capixabas, em segundo plano aparecem matérias sobre as ciências humanas (trabalhamos com a grande área, sem especificação dos conhecimentos). Este setor resultou em apenas 12% da freqüência nos três veículos. Em cada jornal, a posição deste setor foi aproximada ao que terminou no cômputo geral, ou seja, aparece também em segundo ou terceiro lugar nas análises individuais. Essa avaliação mostra como ainda a pesquisa na área de humanidades é pouco valorizada pela mídia. Apesar de não termos separado por objeto de estudo, em geral, as matérias aparecem enfocando sobre comportamento e psicologia.

          3.2. Onde são alocadas as informações sobre ciência.

          Por causa da peculiaridade de distribuição e organização das informações pelos veículos, decidimos não fazer uma avaliação generalizada das editorias em que aparecem as matérias sobre ciência. Isto foi resultado da observação individual sobre o tablóide Notícia Agora, que concentra quase todas as informações sobre o tema na página diária "Vida Saudável". Aí aparecem 94% das matérias publicadas neste jornal. O restante (6%) aparece unicamente na editoria de Cidades.

          A concentração das matérias em um único espaço pode ser visto como um recurso que também direciona a visão do leitor para compreender a ciência apenas como aquela que trata de saúde e medicina, que estão diretamente ligadas à proposta de Vida Saudável, como vimos no quesito anteriormente analisado. Isso leva-nos a inferir que o leitor do Notícia Agora conhece basicamente os resultados de pesquisa que têm uma aplicação prática em seu cotidiano, experiências que melhoram sua vida.

          Os outros dois jornais pulverizam as informações por diversas editorias. Nas específicas em divulgação de saúde, encontramos 32% das matérias, ou seja, quase 1/3 do material publicado. Analisando ambos, de forma separada, observamos que A Tribuna é que mais concentra matérias na sua página semanal, apresentando mais da metade (55%) do total na editoria "Saúde e medicina".

          Assim, como no jornal Notícia Agora, a editoria Cidade é a segunda preferida para publicação de matérias com conteúdo sobre pesquisa científica também em A Tribuna e A Gazeta. Os dois jornais juntos publicaram nesta editoria cerca de 20% de informações relacionadas ao tema em questão. Nesta parte, apareceram matérias, por exemplo, sobre pesquisas que estavam sendo apresentadas em congressos na cidade de Vitória, e que serviam de "gancho" para matérias mais amplas, como: "Excesso de cuidado pode causar alergia" (A Tribuna, 16.10.2003), por ocasião do XLIV Congresso Médico Estadual. Porém, algumas outras matérias que não tinha relação direta com algo que estivesse acontecendo em Vitória ou no estado, também apareciam nesse espaço, como, por exemplo, "Alerta para utilização do filtro solar" (A Tribuna, 12.10.2003), que se referia a uma pesquisa feita por um hospital Mount Vernon, do Reino Unido, mas que não havia nenhuma inserção de informação sobre o estado.

          Em terceira posição, aparece a editoria Internacional, onde estavam distribuídos 11% das matérias analisadas. Essa localização é bem justificada até pelo fato de que boa parte das informações publicadas, por esses jornais, é sobre pesquisas ou pesquisadores estrangeiros.

          Como era de se esperar, a opinião (artigos, cartas e charges) é pouco representativa, aparecendo em apenas 7% do material analisado. E, muitas vezes, os artigos são aleatórios, não obedecem a nenhuma "ordem do dia", isto é, não falam sobre assuntos que estejam sendo debatidos na sociedade.

          3.3. Origem das pesquisas publicadas

          As pesquisas feitas no Brasil aparecem em primeiro lugar de publicação (38%). Sendo que, individualmente, o jornal A Gazeta foi o maior canal de divulgação, onde as pesquisas brasileiras foram fontes para 66% das matérias publicadas. Por outro lado, o jornal Notícia Agora apresentou mais pesquisas americanas (32,3%).

          Em segundo lugar aparecem os Estados Unidos, no total com 23% de contribuição. A terceira freqüência fica muito distante dos dois primeiros, com apenas 8% aparece o Reino Unido.

          No que diz respeito aos lugares de origem das pesquisas dentro do Brasil, temos como fonte mais freqüente o estado de São Paulo (34%), seguido pelo Espírito Santo (26%) e pelo Rio de Janeiro (12%).

          Os resultados apresentados, sob os dois pontos de análise, foram surpreendentes. Primeiro porque esperamos sempre que as pesquisas estrangeiras apareçam em primeira posição, principalmente pelo fato de que há muito mais informações circulando sobre os trabalhos americanos e europeus nos meios de comunicação do que sobre as pesquisas nacionais. No outro aspecto, foi surpresa também que o Espírito Santo fosse privilegiado em relação ao Rio de Janeiro, sendo este um estado com maior produção de pesquisa que o Espírito Santo. Essas conclusões refletem que os jornais capixabas valorizam a produção científica no Brasil e no estado, o que é, sem dúvida, uma atitude muito positiva para que os leitores também agucem seus olhares sobre o conhecimento produzido em nível nacional e local.

          3.4. Como os jornais mostram a pesquisa científica

          Com relação a argumentos que aparecem de forma predominante, observamos que as matérias apresentaram de forma equilibrada visões otimistas e pessimistas do assunto ao qual estão ligadas as pesquisas relatadas. Observamos que havia 42% das matérias que mostravam uma tendência pessimista quanto ao assunto tratado pela pesquisa científica. Um exemplo é a matéria "Doping genético já assusta" (A Gazeta, 14.10.2003). Este assunto do exemple é muito polêmico e traz, nesta matéria também, a discussão de que a pesquisa de medicamentos tem possibilitado o desenvolvimento de super atletas. Do outro lado, a visão otimista aparece com um pouco mais de pontos, 45%, em matérias que pretendem mostrar benefícios advindos da pesquisa como, por exemplo, em "Incaper pesquisa café mais resistente" (A Gazeta, 22.10.03). A idéia propagada aqui é a da ciência que trabalha para o progresso da sociedade.

          Ao verificar a questão "competência X incompetência", 57% das matérias não deixavam passar nenhum tipo de inclinação, ou seja, a maior parte das matérias é neutra; em 40% os pesquisadores ou institutos de pesquisa são apresentados, de forma explícita no texto, como competentes. Quando a questão é a idéia de "desenvolvimento X subdesenvolvimento’, a maior parte também é neutra (60%). Porém, 33% mostram as pesquisa científica como um trabalho que gera desenvolvimento e apenas 7% mostram a pesquisa sob um ponto de vista do sub-desenvolvimento. Esta visão última foi revelada por matérias que falam da necessidade de se desenvolver pesquisas sobre assuntos ainda obscuros. De forma alguma, a pesquisa foi mostrada como atividade que gera subdesenvolvimento.

          3.5. A apelação predominante nas matérias

          Muitos textos usaram o humor como forma de chamar a atenção para os temas apresentados. Este recurso foi usado mais nos títulos e ilustrações, do que propriamente na redação da matéria. O Jornal A Tribuna é o que mais lança mão desse tipo de construção de mensagem, principalmente nas matérias que publica na página semanal "Saúde e Medicina". A pesquisas que são divulgadas nesta página, muitas vezes, não são relevantes como informação cotidiana, isto é, não tem aplicação na vida diária e acabam se transformando mais em "curiosidades" e absurdos para o leitor. Bons exemplos são matérias sobre descobertas de fósseis de animais que aparecem em A Tribuna. Mas em particular, para atrair a atenção do leitor para os textos, o jornal abusou de montagens e gravuras de humor duvidoso para ilustrar matérias como "Os animais provocam efeito estufa" (A Tribuna, 18.10.03), em que aparecem gravuras de vacas que "soltam gases" em balõezinhos com a palavra "pum".

          Apesar do uso de um humor de gosto discutível e da espetacularização pra chamar a atenção nos títulos e nas ilustrações, o tipo de apelação predominante no texto das matérias foi o cognitiva, em cerca de 94% do material analisado. Ou seja, a redação do texto privilegiava a descrição generalizada e a informação gerada pelas pesquisas, sobre o processo de pesquisa e sobre os pesquisadores.

          A apelação reflexiva aparece nos 6% restantes. Não há manifestações sensacionalistas que se destaquem mais que os outros aspectos da informação, pois, como já foi dito, os textos apresentavam um enfoque mais enxuto do assunto abordado, que se contrapunham às gaiatices feitas nas ilustrações.

          3.6. Uso da linguagem

          Sob o aspecto da acessibilidade da leitura, 95% dos textos eram legíveis, ou seja, foram usados linguagem coloquial e vocabulário cotidiano para explicar procedimentos e conclusões da pesquisa. Apenas 5% apresentaram uma linguagem confusa, por usarem termos especializados, que não são de domínio do público.

          O texto de divulgação científica, em sua concepção, deve transformar o conteúdo científico em uma leitura agradável e de boa compreensão para o público. E nesse ponto, os jornais capixabas mostram informações de forma mais compreensível. O reflexo dessa prática é verificado na análise feita sobre as funções da linguagem que se apresentam com mais evidência nas matérias. A função referencial, que descreve uma situação de forma objetiva, cognitiva e denotativa (VANOYE, 2003) está presente em 100% das redações analisadas.

          Explicação e/ou traduções de informações especializadas ou de palavras do vocabulário científico são freqüentes nas matérias analisadas. Essas características, que aparecem em 37% das matérias analisadas, são da função metalingüística da linguagem, ou seja, o discurso que focaliza o código que está sendo usado (VANOYE, 2003). Em terceiro plano, aparece a função conativa, presente com mais freqüência nos títulos, com o intuito de encantar, atrair o leitor ou destinatário da mensagem que se apresenta. Foi possível observar com clareza o uso desta função em 26% das matérias.

          No que diz respeito a explicações e ilustrações, o uso é freqüente em praticamente metade das matérias (49%); a outra parte (51%) não apresentou nenhum tipo de ilustração ou explicações adicionais. Para fazermos essa análise, observamos todas as fotografias, desenhos, boxes, e gráficos que faziam parte das matérias. As fotos foram o recurso mais usado (em cerca de 69%); em seguida aparecem os desenhos (26%); os boxes são usados em 25% das matérias analisadas; poucos gráficos aparecem (3%). Lembramos que, em certos casos, as fotos e ilustrações eram meramente adornos do texto, formas de capturar a atenção do leitor, pois nem sempre apresentavam informação adicional, ou seja, apenas enfeitavam a matéria.

          Lílian Zamboni (2001, p. 85) diz que a imagem do discurso da divulgação científica, "longe de ser degradado, empalidecido e esmaecido, é vivo, colorido e envolvente". Observamos que os jornais capixabas procuraram por meios diversos dar esse tom mais ativo às matérias, usando as ilustrações com humor e fotos coloridas para chamar atenção do leitor. Mas nem assim, deixou de valorizar, na maior parte das vezes a informação mais importante para os leitores. Confirmando, assim mais uma das assertivas que revela as finalidades da divulgação científica que "embora modificado, ele mantém sua vinculação ao campo científico, em que se aloja incomodamente como um discurso heterogêneo, dialógico e aproximativo".(ZAMBONI, 2001, p. 59)

          3.7. Os gêneros jornalísticos

          Os jornais capixabas privilegiam a notícia como gênero jornalístico. No período analisado, 70% das matérias estavam no formato noticioso. De um modo geral, esse é o formato esperado, já que é o produto típico do jornal diário. A nota é o segundo formato mais usado (16%) para o conteúdo analisado. A reportagem aparece apenas em 9%, sendo freqüente mais aos domingos, em cadernos como Jornal da Família de A Tribuna. O gênero opinativo mais destacado é artigo, que aparece em 4% do total de matérias.

          Considerando que a forma da reportagem representa um investimento no assunto explorado, podemos concluir que os jornais capixabas pouco investem em matérias mais trabalhadas ou na exploração de assuntos. Por outro lado, trabalha expressivamente com os formatos mais rápidos de texto possibilitados por notícia e nota.

          3.8. O uso de fontes:

          A maior parte das matérias (84%) faz referência explícita à fonte das informações. Das fontes que mais se destacam em freqüência, em primeiro lugar, aparecem as Universidades em 32% do material. Em segundo lugar, aparecem os institutos de pesquisa em 20% das matérias analisadas. Estes institutos foram definidos a partir da nomenclatura dada na matéria, porém, alguns destes, estavam ligados às universidades. Também aparecem como fontes os pesquisadores (individuais), sem citar suas filiações, e este caso se repete em 11% das matérias. As revistas de divulgação científica também são fontes citadas em 10% das matérias. Nestas, notamos que todos os periódicos citados eram de origem estrangeira. Apenas em 5% das matérias, as empresas aparecem como fonte de informações.

          Analisando o uso de fontes comparadas ao item origem da pesquisa, podemos sugerir que boa parte das informações veiculadas vem das universidades e institutos de pesquisa brasileiros e americanos; e que os jornalistas não usam os periódicos científicos brasileiros como referência de informação para os textos que constroem.

          Considerações finais

          A observação quantitativa de vários pontos sobre a divulgação científica nos jornais capixabas não dá conta da dimensão que representa esse fator na sociedade e, além disso, é aberta a uma diversidade de interpretações dos dados, que tentamos direcionar em nossa análise preliminar e geral em forma de considerações finais.

          Uma compreensão que nos foi possível a partir de uma análise que extrapola a quantificação é que não existe jornalismo científico capixaba. Dos três jornais, apenas o Notícia Agora, em sua página diária sobre saúde, apresenta com freqüência um texto principal escrito por um repórter fixo da redação do jornal. Ainda que a matéria seja sobre uma pesquisa desenvolvida por instituições nacionais e não regionais, o repórter assina o texto. Podemos dizer que há divulgação científica nos jornais, e que eles valorizam essa informação, até por conta das seções fixas que os três veículos possuem.

          Quanto à produção dessas informações, pelo que observamos, as matérias que aparecem nessas seções são produzidas por agências de notícias, embora, muitas vezes, isto não esteja explícito na matéria. Um exemplo desta prática é a página "Saúde e Medicina" de A Tribuna, que invariavelmente apresenta mais matérias sobre pesquisas internacionais que nacionais. Geralmente, as matérias regionais ou nacionais aparecem em outras editorias, mas não naquela específica em divulgação científica (saúde).

          Outro ponto importante de ser observado é a ratificação da prevalência de matérias sobre saúde e medicina, que é solidificada, nos jornais do Espírito Santo, também pela presença das páginas fixas sobre o tema, já comentadas anteriormente. Alguns temas aumentam a proporção de informações sobre saúde com o passar dos anos. Alguns deles estão ligados ao investimento de pesquisas em genética, terapias genéticas etc. Bueno (2002) chama atenção para a maneira irresponsável e sensacionalista com que o jornalismo trata dessa questão, muitas vezes dando espaço para notícias sem nada de interessante ou teses sem propósitos claros.

          O uso de recursos atrativos para a leitura é outro ponto de discussão. Se entendermos que o objetivo da divulgação científica é de fato a popularização das informações, vamos considerar importante que sejam usadas "iscas" para atrair a atenção do destinatário da mensagem. O que se discute, no entanto, é a forma dessa atração. Nos textos analisados, encontramos uma proporção significativa do uso da função conativa da linguagem, que reflete uma aproximação maior da mensagem com o leitor. E isto acontece através de "ganchos" no texto mais envolvente e nas ilustrações.

          As ilustrações são o único motivo de polêmica, uma vez que, ou elas servem para adicionar informações, ou servem apenas para enfeitar o texto. E os enfeites é que podem descambar até para uma desvalorização da informação principal da matéria. Alguns desenhos e fotografias usados pelos jornais capixabas traíam a seriedade de certos temas das matérias, ou serviam para ridicularizar pesquisas sem muita relevância no cotidiano.

          Tornar fácil a leitura e compreensão de temas da pesquisa científica é uma tarefa que pode cair rapidamente na banalização, supostamente por conta de duas prerrogativas: a de considerar importante a informação sobre uma pesquisa sem relevância social imediata (como aquelas sobre o "elo perdido") e tornar essa pesquisa "engraçadinha" aos olhos dos leitores. Então, ao olharmos para uma informação construída de forma duvidosa no jornal, não compreendemos onde está o espírito crítico tão desejado do jornalista.

          Por fim, consideramos que a divulgação científica nos jornais A Tribuna, A Gazeta e Notícia Agora é valorizada pelos editores como assunto digno de espaço cativo nas edições diárias (cerca de três matérias são publicadas diariamente, conforme a pesquisa que realizamos). A tentativa de transformar a ciência em algo fácil de ser compreendido não escapa dos objetivos do jornalismo científico na sociedade. E isto é espelhado pelo uso da função metalingüística em cerca de 1/3 dos textos, denotado por uma linguagem acessível ao leitor dos jornais. O que conflita com o banalização a que pode chegar essa transformação das informações mais áridas em algo mais palatável. Nosso alerta é para que isto não se torne um recurso corrente. Afinal, a popularização da ciência deve ser feita de forma responsável. Desta maneira, tanto o conhecimento científico, quanto o trabalho jornalístico tornam-se atividades respeitadas na sociedade, se o jornalista respeitar também o leitor e a ciência, através da forma como transmite as informações científicas para o público.

          Como este trabalho ainda não está fechado, deixamos aberto para outras reflexões e considerações sobre os outros pontos estudados e que serão acrescentadas posteriormente.

          Referências bibliográficas

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ZAMBONI, Lilian. Cientistas, jornalistas e a divulgação científica. São Paulo: Autores associados, 2001.

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Alessandra Carvalho
Professora das Faculdades Integradas São Pedro-Faesa-ES / Faculdade Estácio de Sá Vitória-ES.

Ana Meneguelli
Professora das Faculdades Integradas São Pedro- Faesa-ES/Wahington State University-USA.

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