|
Jornalismo e Saúde |
:: O alcoolismo no universo Teen
e a informação que é veiculada nos suplementos
para jovens
|
Aparecida Ribeiro dos Santos e Babette de Almeida Prado Mendoza* "Mesmo para os que, entre nós, consideram-se crescidos,
pensar sobre adolescência, envolve pensar sobre nós
mesmos: sobre o que éramos e somos, sobre o que
poderíamos ter sido, sobre o que esperamos ser"
Isolda de Araújo Günther RESUMO Vivemos sob a "égide da informação",
portanto,parece-nos estranho falarmos da falta de informação sobre os males
que a bebidaalcóolica causa tanto para quem bebe quanto para quem convive com
o adido. Seriam osadolescentes realmente mal informados? Ou o problema residiria
não na falta deinformação ,somente, mas nas formas discursivas como são veiculados
o saber, a culturae a própria informação a esse público jovem? Será que há o
respeito por parte damídia, de educadores de entender essa faixa etária com
seus ídolos, símbolos, idéiase linguagem inovadoras, que são seres que vivem
um momento único, e portanto,angustiante, conflitante na sua busca de uma identidade
social- política ecomportamental?
Essas são algumas das questões que procuraremos
atingir através deum estudo do Pr. Dr. JACQUES VIGNERON (UMESP) e levantamentos
sobre os suplementos parajovens veiculados nos jornais diários, realizado por
MARIA CRISTINA GOBBI (doutoranda daUMESP) e pela ANDI (Agência de Notícias dos
Direitos da Infância). Palavras-chaves: comunicação, suplemento
juvenil, alcoolismo. INTRODUÇÃO A comunicação em suas mais variadas matizes
insere-se numprocesso contínuo de disseminação do saber, da informação e da
conscientização daspessoas:enquanto seres sociais, políticos e históricos. Portanto,
deve fazer-se presentenas discussões tangentes às problemáticas de nossa sociedade,como o alcoolismo, quenão é um assunto só do Brasil, mas de âmbito mundial,
porém no Brasil assume umaspecto diferenciado de outros países, pois como as
nossas leis vigentes a respeito deconsumo e venda de álcool para adolescentes
são ineficazes, delineia-se um quadrobastante caótico e preocupante frente ao
crescente alcoolismo juvenil.
Interessante notar que em estudos desenvolvidos,
como o do ProjetoConhecer de um colégio de ensino médio, revela-nos que
dentre as opções de lazertemos em primeiro lugar a música, em segundo a TV e
em terceiro o bate-papo com oscolegas. O consumo de bebida alcoólica é uma opção
de lazer que pode facilmente seraliada às outras opções. Existe claramente uma
"cultura" de que os encontrostêm de ser regados com bebidas alcoólicas,
pelo seu caráter transgressor que atrai osjovens e por ser um desinibidor que
"abre portas" e integra o indivíduo aogrupo, como se fosse um ritual
de iniciação.
Sabemos que hoje o adolescente é alvo de
muitas publicações quetratam dos mais diversos temas como música, sexualidade,
comportamento, etc. Há jornaisde grande circulação que encartam semanalmente
um suplemento destinado a esse público.As drogas ilícitas estão incluídas na
lista de temas abordados para tal segmento..Resta-nos saber se o abuso de bebida
alcóolica é abordado nesses suplementos e com quelinguagem, ou seja de que maneira
se faz uso desse veículo para fins de prevenção aoalcoolismo juvenil.
Há um mascaramento , uma dissimulação velada
a respeito da drogalícita- o álcool- reforçado por um ritual de apoio ao primeiro
porre e posteriormente o: beber socialmente. Não se vêem campanhas contra o
álcool nas escolas, universidades, equando ocorrem como no período do carnaval
enfatiza-se o perigo de dirigir alcoolizado-"você pode beber desde queoutra pessoa dirija"- é sempre o estímulo ao atode beber. Chega-se ao ponto
de usar como estratégia um comportamento seguro para venderbebida alcóolica,
esse é o caso do anúncio em outdoor de uma cachaça muitoconhecida: "Usar
cinto de segurança é uma Boa Idéia".
Para a professora do Departamento de Medicina
Preventiva da FMUSP,BEATRIZ CARLINI COTRIM, o consumo de álcool aumentou entre
os jovens e os pais nãoimpõem proibições e limites aos filhos: "A sociedade
ficou traumatizada com aditadura e hoje tem dificuldades para estabelecer certas
normas" (site sobrealcoolismo).
Enfim, os pais deveriam se conscientizar
que o álcool já é avaliadocomo a real "porta de entrada" para o mundo
das drogas e os jovens precisam serorientados a adotar um estilo de vida com
menos riscos e um cuidado especial com a saúde.
Esse trabalho pretende atingir a cultura
do uso da bebida alcóolica nouniverso do jovem através do discurso de adidos
jovens em recuperação de um grupo deAlcóolicos Anônimos e a abordagem do tema
em suplementos para jovens que circulam emgrandes jornais do Brasil. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA As estatísticas mostram que o álcool ,
é de longe, a maisperigosa das drogas, responsável por 90% das internações em
hospitais psiquiátricos,responsável, ainda, por 45% dos acidentes com jovens
entre 13 e 19 anos e por 65% dosacidentes fatais. Provocando 350 tipos de doenças
físicas ou psíquicas (www.aprendiz.com.br)
. Portanto não hánecessidade de ser um matemático para que se perceba o engano
ao afirmar-se que osviciados em drogas lícitas também representam um caso grave
de saúde pública.
O Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas (CEBRID) diz que de15.503 estudantes entrevistados nas capitais do país,
53,2% consomem álcool e 6% sãodependentes. Depois de beber, 11% envolvem-se
em brigas e 19% faltam à escola (www.terra.com.br/istoe).
Em outra pesquisa do CEBRID, publicada na
Folha de São Paulo, apontaque a faixa etária que apresenta maior índice de dependência
de álcool entre homens(18,2%) é a de 18 a 24 anos. Essa é a idade que "vê
menos risco em tomar um oudois drinks por semana: 39,6% contra 42,2%
em média" (IZIDORO - Folha de SãoPaulo).
O consumo de bebidas alcoólicas é tão comum
que muitas pessoas nãoimaginam que elas são drogas potentes. A relação entre
álcool e câncer tem sidoavaliada, no Brasil, por meio de estudos de caso-controle,
que estabelecem a associaçãoepidemiológica entre o consumo de álcool e canceres
da cavidade bucal e de esôfago.Além de agente causal de cirrose hepática, em
interação com outros fatores de risco,como, por exemplo, o vírus da hepatite
B, o alcoolismo está relacionado a 2 - 4% dasmortes por câncer, implicado que
está, também, na gênese dos canceres de fígado, retoe, possivelmente mama. Os
estudos epidemiológicos têm demonstrado que o tipo de bebida(cerveja, vinho,
cachaça, etc.) é indiferente, pois parece ser o etanol, propriamente, oagente
agressor. Essa substância psicoativa tem a capacidade de produzir alteração
nosistema nervoso central, podendo modificar o comportamento dos indivíduos
que dela fazemuso. Por ter efeito prazeroso, induz à repetição e, assim, àdependência.(www.inca.org.br)
Esse aspecto endêmico tende a piorar se
pensarmos que:
O álcool fazparte de um mundo simbólico, bacaniano
deiniciação à vida adulta, sendo estimulado até em momentos ditos familiares
como festasinfantis, quermesses de igreja, natal. E o que dizer em festas de
caráter profano como ocarnaval.
O estímulo está em toda a parte na televisão
com os anúnciosdas famigeradas cervejas- há até o dia da cerveja- em outdoors,
revistas,músicas. É o poder do dinheiro , do patrocínio das cervejarias em eventos
culturais ,esportivos- é o paradoxo do paradoxo. Segundo Dra. COTRIM, "o
marketing hoje évoltado para conquistar um público jovem" (FORMENTI).
O álcool é a droga que mais vicia no mundo,
em termos de número depessoas viciadas a substância é livremente anunciada em
toda a mídia: rádios,televisão, revistas. E o que nos parece mais importante:
É exibida como um troféu, parte essencial
dos momentosde prazer, vinculada à sucessos financeiros e acertadas decisões.
O álcool é um grandenegócio, a receita dessa indústria gera milhões anuais no
Brasil e a partir domarketing cria-se imagens sedutoras, procurando encobrir
os efeitos destruidores que oalto e freqüente consumo trazem.
A partir de um projeto do Prof. Dr. VIGNERON
da Universidade Metodistade São Paulo "O papel da comunicação na prevenção
do alcoolismo juvenil narecuperação dos sujeitos alcoólicos jovens no contexto
das organizaçõeseducacionais" analisar-se-á o papel da comunicação
na prevenção doalcoolismo juvenil, assim como, assertivas sobre o assunto em
questão.
Faz-se necessário definir-se o alcoolismo.
Para o leigo é umvício, palavra preconceituosa que provocaa rejeição do sujeitoalcóolico.O
verbete do Dicionário Aurélio - vício tem uma conotação negativa muitoforte;
para comprovar este fato basta ler as definições propostas pelo dicionário dalíngua
portuguesa: "
1- Defeito grave que torna uma pessoa ou coisa inadequadapara certos fins ou
funções.
2- Inclinação para o mal ( nesta acepção , opõe-se avirtude.
3- Costume de proceder mal; desregramento habitual.
4- Conduta ou costumecensurável ou condenável; libertinagem, licenciosidade,
devassidão.
5- Qualquerdeformação física ou funcional.
6- Costume prejudicial"1
Quando se fala de alcoolismo , esta carga
negativa é muito forte eaumenta o grau de rejeição do sujeito alcoólico.
As associações que trabalham na prevenção
do alcoolismo e narecuperação do sujeito alcoólico, tais Alcóolicos Anônimos
"AA","Croix dor" e outras, consideram o alcoolismo
como uma doença: "Oalcoolismo , segundo Croix dOr, constitui progressivamente
uma doença caraterizadapor uma fragilização do indivíduo antes de atingir uma
fase verdadeiramentepatológica. Esta fase é precedida de um longo período de
distorção que evoluilentamente para a inadaptação e depois pela regressão, para
no fim chegar a umaestruturação anárquica no qual o fim é a demência ou obtusão
intelectual e acatástrofe econômica." 2
Em termos de comunicação talvez um dos melhores
trabalhos sobre oalcoolismo que encontramos no Brasil é a biografia de Garrincha
escrita por um dosgrandes jornalistas brasileiros, Ruy Castro "Estrela
solitária"3
Na orelha do livro lemos " Estrela
solitária é umahistória de amor, um romance de ação, um documentário social,
um drama sobre oalcoolismo, um livro para ser lido com a mesma emoção
com que foi escrito."O alcoolismo de Garrincha tem suas origem na própria
cultura da cachaça. Desde cedo elefoi tratado com o cachimbo: "
mistura de cachaça com mel de abelhas e canelaem pau, posta para curtir numa
garrafa envolta de cortiça e pendurada numa viga do teto.O pai certificava antes
se a cachaça era da boa. O cachimbo não era usado para finsrecreativos ou embriagantes
pelo menos não de propósito - mas medicinais. Asmulheres o tomavam durante
a gravidez. Depois do parto, continuavam tomando-o enquantodurasse o resguardo.
Adultos e crianças o tomavam como purgante, xarope fortificante epara combater
gripes, lombrigas, coqueluche, asma e dor de dentes. Aos bebês era dadoaté como
tranqüilizante; uma ou duas colheres antes de dormir para não terem sonhosagitados.
Graciliano Ramos admite em Infância ter sido embriagado muitas vezes dessaforma"(Pg.21).
Amaro o pai de Garrincha foi criado a cachimboe o próprio foi criado
do mesmo jeito. Assim começou o drama da Estrela Solitária.
O alcoolismo é uma realidade complexa e
dramática. O alcoolismo évicio, doença , dependência, sofrimento?. Michel Legrand
quando fala do álcool ocompara com " o Diabo e o Bom Deus", lembrando
o existencialismo deJean-Paul Sartre: "O álcool é conhecido, fabricado
e consumido desde temposimemoriais; é espalhado em todos os recantos do planeta
no horizonte da humanidade. Comoentender, que na sua substância , tem alguma
coisa de pouco comum. Alguma coisa deextraordinário, com que sem dúvida pode
rivalizar nenhuma droga. O que é? Sua infinitaagilidade, sua prodigiosa variedade
e heterogeneidade de expressões de paladares, deefeitos. Pode ser celebrado
como um favor dos deuses ou ser odiado como um malefício,obra de Satanás. Pode
se consumir pouco, nada, muito, apaixonadamente, até a loucura.Para uns exalte
à alegria para outros mergulho na tristeza; para uns torna carinhoso eafetuoso,
para outros exacerba a violência, Para uns exalta , para outros deprime Parauns
levanta até o céu para outros torna o homem bicho. Talvez ainda opera tudo isso.
Deum momento para outro num turbilhões desenfreado, muda, modifica os seus efeitos:exaltação,
euforia, depressão, tristeza, raiva, medo, remorso vergonha. Porque e comose
abster? Mas também como não ter medo quando o consumo desencadeia num mal-estarautodestruidor
do funcionamento alcoólico?"4 Talvez por tudo isso quemnão passou pelo
drama e o sofrimento do alcoolismo entenderá esta problemática.
Nota-se na explanação conceitual e reflexiva
do Prof. Dr. VIGNERON:
A necessidade iminente da comunicação comoviabilizadora
de um processo construtivo da conscientização dos sujeitos alcoólicos.
Segundo a OMS há de se considerar como mais
propenso ao uso das drogaso adolescente:
Sem adequadas informações sobre o efeito
das drogas;com saúde deficiente; insatisfeito com sua qualidade de vida; com
personalidadedeficientemente integrada; com fácil acesso às drogas (Projeto
Conhecer).
A esse trabalho interessa o primeiro item,
ou seja, saber maisà propósito das informações sobre drogas álcool
veiculadas nos:suplementos dirigidos especificamente aos jovens.
A ANDI (Agência de Notícias dos Direitos
da Infância) concluiatravés dos resultados das pesquisas sobre "Os Jovens
e a Mídia"(veiculados em seu site www.bireme.br/bvs/adolec/p/cadernos)que
o comportamento das revistas e suplementos dirigidos especificamente ao público
jovemvêm apresentando mudanças significativas: - as publicações estão abandonando os estereótipos editoriais assuntosconsiderados "áridos" eram riscados da pauta.
- as transformações contribuem para a inclusão de temas importantes como prevenção aoHIV; gravidez precoce; qualidade da educação; violência; medidas sócio- educativasaplicadas ao jovem em conflito com a lei; políticas públicas para a juventude e projetoscomunitários
- tem dado ênfase aos direitos dessa faixa da população
Para essa avaliação fora elaborado um índice
de Relevância Social,correspondendo a um indicador do compromisso dos veículos
para jovens com aformação/informação e segundo suas pesquisas esse indicador
tem crescidosubstancialmente. Quando foi medido pela primeira vez (1997) esse
índice era de 24,2% e amais recente pesquisa (1999) já registra um índice de
36,1%.
São temas considerados de Relevância Social
(para o período denovembro de 1998 a abril de 1999): AIDS & DST; Cultura;
Direitos & Justiça;Drogas; Educação; Família; Formação Profissional; Gravidez;
Kosovo ; Meio Ambiente;Mídia; Portadores de Deficiência; Projetos Sociais; Protagonismo
Juvenil; Saúde;Sexualidade e Violência.
Apesar da crescente cobertura das temáticas
socialmentesignificativas, existe uma dificuldade encontrada, pelos editores
dos veículos, emcontemplar de forma mais homogênea todas as retrancas citadas.
Existe uma certa lentidão em integrar definitivamenteà
pauta questões como Formação Profissional, Saúde, Sexualidade, AIDS & DST
eViolência. Predominam os temas de entretenimento e mesmo que cheguem a abordar
assuntosque contribuam para a formação de seu público, retrancas cruciais como
Gravidez ePortadores de Deficiência estão longe de merecer a devida atenção.
O agrupamento que nos interessa: Família;
Drogas, Projetos Sociais,Gravidez, Meio Ambiente e Portadores de Deficiência
vem sendoignorados em termos deinserções, tem recebido no máximo a faixa de
50 inserções no período de seis meses.Apesar dessa constatação verifica-se uma
tendência de crescimento das temáticasrelacionadas a saúde do adolescente, sem
contudo afirmarmos que se tenha chegado próximoao patamar ideal, como já fora
mencionado.
A ANDI aponta para a necessidade dos profissionais
de jornalismoatingir:
A compreensão quanto ao papel estratégico
querepresentam no processo de conscientização dos jovens, integrando o conceito
de que aoprofissional da mídia jovem cabe também o papel de educador.
Na dissertação de mestrado de GOBBI (doutoranda
da UMESP), Natrilha juvenil da mídia impressa - Identificação, perfil e análise
dos suplementospara jovens veiculados nos jornais diários do Brasil, encontramos
um inventário daquantidade de suplementos para jovens, veiculados nos jornais
brasileiros, distinguindo asdiferenças entre as publicações dos diversos estados,
caracterizando o perfil dossuplementos. Na análise da autora: Nos jornais das cinco regiões e dos três
prestigiepapers, analisados num período de um mês, o tema Drogas
tem uma inserção deapenas 6% e o de Saúde 0%.
O tempo de estudo foi o mês de abril de
1999 e foram analisados oitoperiódicos, com duas edições de cada um, perfazendo
um total de 16 edições. Essesdados nos parece significativos da falta de homogeneidade
das inserções desses temas.
Por outro lado, verificamos a presença do
tema alcoolismo ou altoconsumo de bebida alcoólica em revistas como a VEJA
e no suplemento folhateen, daFolha de São Paulo (várias reportagens).
São matérias com linguagem acessível, comdepoimentos de especialistas, consumidores
adultos e jovens, alcoólatras, familiares dealcoólatras e adidos em recuperação.
Como a informação a respeito dos malefícios
da bebida alcoólicachega ao universo teen?
A revista VEJA em reportagem de 28
de maio de 1997 "Acrua realidade" abordou a questão do alcoolismo
em adultos e jovens. Menciona umencontro de adidos:
Vindas do Brasil inteiro , elas chegavam
de ônibusfretado de carro, bicicleta, táxi ou, quem morava nas redondezas, a
pé mesmo. Passaram oferiado enfurnadas em auditórios e salas, ouvindo palestras
ou dando depoimentos. Mesmosem se conhecer, reconheciam-se no essencial: à exceção
de alguns conferencistas, todoseram alcoólatras. E sobreviventes. Festejavam
os cinqüenta anos de fundação dosAlcoólicos Anônimos, AA. No Brasil. Naquela
platéia , qualquer um que se levantasseteria uma história de perdas e precipício
semelhante para contar.
O Psiquiatra, MARCOS MICELLI, que atua no
Hospital Psiquiátrico doPinel Rio De Janeiro explica na matéria:
"Não creio que exista algum trabalhocientífico
de importância , em algum lugar do mundo, que mostre que o alcoólatra podevoltar
a beber com moderação. Não importa a quantidade ou a freqüência com que apessoa
beba, , ela não consegue diminuir o seu patamar ou mantê-lo diminuído por longotempo".
Ainda na mesma matéria utiliza-se o recurso
de pesquisas de organismosde prestígio com OMS, apontando as possíveis conseqüências
do uso abusivo do álcool ea caracterização da doença do alcoolismo:
Micelli, como cerca de 85% dos médicos
americanos considera oalcoolismo uma doença, no sentido de ser um distúrbio
involuntário. A OrganizaçãoMundial de Saúde classifica a doença do alcoolismo
como síndrome, de causas múltiplas.A metabolização do álcool passa por uma substância
chamadaaldeído acético (amesma encontrada na combustão de motores a álcool )
e se transforma em glicose por umprocesso de transformação celular. Isso explica
porque muitos alcoólatras que tomamcachaça e não comem nada ainda têm energia
para continuar bebendo todos os dias.
Esclarece também quanto a responsabilidade
social da mídia e aimportância da imagem do consumo de bebida alcoólica para
a promoção da "culturado porre" na nossa sociedade:
A pesquisadora Ilana Pinsky, do Instituo
de psicologiadas USP e co-autora, com o professor Ronaldo Laranjeira, do livro
O Alcoolismo,:analisou2107 comerciais de TV para a sua tese sobre propaganda
e bebidas alcoólicas natelevisão brasileira e constatou que há mais comerciais
de bebidasalcoólicas na TV do que de não alcoólicas.
Enfatizando a argumentação exposta na introdução
deste trabalho osautores do livro lembram que:
"hoje, a sociedade não faz outra
coisa senãoconvidá-lo a beber . E, quando você faz parte dos 10% que se tornarão
alcoólatras, elasimplesmente o rejeita".
Quanto ao consumo entre os jovens
aponta para aprecocidade acentuada progressivamente da aquisição desse hábito
entre os jovensbrasileiros. Segundo o psiquiatra gaúcho PAULO KNAPP (autor do
livro Prevenção daRecaída):
"Hoje, a garotada começa a beber
entreos 12 e os 13 anos de idade, ao passo, que cinco ou dez anos atrás a iniciação
se davaentre 14 e 15 anos, em média."
A revista VEJA de 14de maio
de 2000 retoma ao temado alcoolismo focado no adolescente de colégios particulares
"Recreio com cerveja- Adolescentes estão bebendo cada vez mais
cedo em bares vizinhos de colégiosparticulares da cidade de São Paulo".
A matéria tem como ponto forte os depoimentos
deadolescentes que consomem álcool de maneira inconseqüente e que revelam um
traço comum,o da desinformação.
"De segunda a quinta - feira- a
gente só vaiquando falta algum professor, mas na sexta é de lei , a turma sempre
se reúne nobar", diz Ana, 15 anos, aluna do 1º colegial de uma escola no
Butantã.
Já com relação ao consumo próximo aos
colégios a sensação deimpotência fica clara:
Muitos jovens costumam ser transgressores
e,no geral, os colégios pouco podem fazer depois que eles cruzam o portão de
saída. O quechoca é a facilidade cada vez maior com que meninos e meninas compram
e consomem bebidasem lugares públicos.
Especialistas apontam para a necessidade
do esclarecimento e da nãoconivência com atos inconseqüentes dos jovens:
A proibição está longe de ser um simples
moralismo ou uma meraconvenção. Já que, ingerido em grande escala antes dos
18 anos, o álcool acarretagraves conseqüência físicas e psicológicas. "Na
adolescência, o sistema nervosoainda está em formação" explica MARIA
LÚCIA FORMIGONI, coordenadora daUnidade de Dependência de Drogas da Universidade
Federal de São Paulo. "Por isso, a possibilidade de ficar dependente
é muito maior".
A matéria da VEJA, chega a chocar com observações
realistas comoestas:
Veja, São Paulo, percorreu bares próximos
aescolas. Constatou-se a surpreendente naturalidade com que estudantes entre
14 e 17 anos,que muitas vezes tomam achocolatado no café da manhã, às vezes
se embriagam depois dasaulas.
Seguem-se depoimentos de adolescentes:
"Bebo umas três garrafas cada vez
que sentoaqui". Márcio, 15 anos, aluno do 2º colegial Ele contou que sua
mãe sabe que o baré seu destino após as aulas. "Ela só pede para que eu
não exagere." Neide,aluna do 1º colegial:
"Meus pais sabem, mas não gostam,
mas também nãoproíbem. Comecei a beber com 11 anos. Aos 12, tomei o primeiro
porre. O álcool deixavocê mais sossegada, alegre. Toda Sexta a gente vem aqui.
Acho que bebo três vezes porsemana. Sei me controlar . Não vou me tornar uma
alcoólatra". Laura, 15 anos,aluna do 1º colegial:
A matéria também dá espaço para especialistas
que apontampara a necessidade da interferência dos pais para educar e informar
devidamente seusfilhos:
"Educar dá trabalho diz o psiquiatra
epsicoterapeuta de jovens Içami Tiba. Antes de questionar os filhos, eles pensam
na mão-de- obra que vai dar e acabam deixando para lá".
Segundo um levantamento feito em
1997 pela Unifesp, o álcool é adroga mais consumida pelos jovens. De 2730 alunos
de escolas públicas da capital ouvidos,74% o experimentaram pelo menos uma vez.
As taxas de reprovação coincidem com aintensidade do uso. Quem bebe mais leva
mais bomba na escola. Ao contrário do que seimagina, o álcool , e não a maconha,
é a principal porta de entrada parra as drogasmais pesadas.
Aponta também para o meio propício para
a busca de transgressões porpartedos jovens:
O histórico familiar influi muito. "Paisseparados,
brigas e agressões são alguns dos motivos que levam o jovem ao álcool"-afirma
a psicóloga Denise de Michelli.
No âmbito educacional, ou seja, a veiculação
de informações arespeito do crescente alcoolismo juvenil , segundo a professora
IZABEL GALVÃO éprecária e recente. "Há uma década em geral as escolas
achavam que por queacontecia fora de seus muros era apenas problema dos pais.
Hoje isso tende a mudar".
Tenderá a mudar, pois essa política de isolamento,
de não assumirpara si a responsabilidade social, não pode fazer parte das instituições
que lidam comeducação, até porque o reflexo do crescimento do alcoolismo juvenil
expande-se dedentro para fora e de fora para dentro. Não há muros que possam
isolar a escola, o lar eo espaço público.
"O importante , para os pais e
para as escolas,é reconhecer que ele existe e , a partir, daí, mostrar para
o adolescente que a pessoasó pode tomar a decisão de beber quando tiver condições
de assumir todos os riscos eresponsabilidades que essa decisão traz. E isso
nunca acontece antes dos 18 anos"(Içami Tiba).
Um dado que os analistas da ANDI também
verificaram é que ocomportamento dos veículos dirigidos aos jovens apresentam
oscilações nas retrancassocialmente relevantes como Drogas e pode acontecer
devido a dependerem de "ganchosfactuais", aqueles capazes de forçar
as portas da mídia, são as notícias quentes.No caso das drogas um exemplo foi
o lançamento do livro da jovem PALOMA KLISYS: "Qualé o barato",
um relato de sua experiência no mundo das drogas. Esse fatomereceu várias inserções
na mídia jovem.
Entramos em contato com KLISYS, que é estudante
de jornalismo, pedindopara que ela opinasse a respeito do crescente consumo
de álcool entre os jovens. KLISYSescreveu um artigo a respeito deste assunto
especialmente para este trabalho:
"Vivemos em uma sociedade de consumo
que gira emtorno de basicamente três valores: poder, status e dinheiro. As drogas
são um artifíciode união entre estes valores... Há um incentivo cultural ao
consumo de drogas, sendoelas lícitas ou não. Isso indica uma relação de consumo
com as coisas... A drogaatinge todas as camadas sendo um elemento de massificação
apesar de atingir com maiorimpacto as classes subalternas; até porque elas têm
menos chances de se livrarem dadependência por uma questão econômica. O jovem
marginalizado não tem expectativa mas ojovem de classe média enfrenta o mesmo
problema, cercado em um condomínio sem apossibilidade de conhecer outras realidades,
está enclausurado.
O álcool além de ser socialmente aceito,
funciona comoum objeto intermediário entre o adolescente, seu grupo, e o universo
adulto. Seu usoacaba representando um modo de satisfazer a necessidade de auto-afirmação,
deaceitação, acolhimento e de inclusão em determinado contexto.
Exemplificando-se alguns aspectos abordados
por Paloma emsua explanação há o caso do filho mais velho do primeiro ministro
britânico , TonyBlair. Eron de 16 anos foi preso por estar bêbado. A sua prisão
causou um grandeembaraço a Blair, pois recentemente ele reconheceu que os incidentes
de violênciacausados pelos jovens bêbados converteram-se num problema nacional.
Propôs a imposiçãode multas a quem for encontrado em estado excessivo de embriaguez
(Fonte: Estado de SãoPaulo-7/7/2000).
Portanto torna-se:
Perigoso, quanto se trata de informar,
associar o uso dolcool em excesso somente às classes menos favorecidas, o que
gera preconceito emascaramento social. É sem dúvida um problema social que não
escolhe sexo, cor, nemclasse social e que tende à massificação via cultura do
consumismo desenfreado.
Porém se o objetivo é atingir o público
jovem na suatotalidade, a comunicação se torna absolutamente necessária. Há
de analisar-se amídia que está mais perto deste publico alvo e portanto, tentar
refleti-lo em seudiscurso e nas temáticas tratadas nestas publicações de modo
a informá-lo econscientizá-lo . Como exemplo do uso pertinente da mídia podemos
citar o jornal Folhade São Paulo de 3 de maio de 1999 no 6° caderno, folhateen.
O artigo em "Onde acaba esta festa?"
de SILVIA RUIZ discute:
A atitude descompromissada por parte dos
pais queliberam a bebida alcoólica, assim como a provação por parte da sociedade,
do bar quevende e da propaganda que incentiva.
Tendo como resultado imediato desta atitude
complacente eirresponsável o número crescente de adolescentes envolvidos com
a bebida que por vezestorna-se a porta de entrada para outras drogas como a
maconha, cocaína e crack.
Nota-se que houve uma preocupação por parte
da autoraem não ser explicitamente didática e nem assumir uma postura crítica,
fazendo uso deuma linguagem simples, direta e de um formato que seduza o leitor.
Sendo a folhateen um espaço dirigido
aos adolescentesprocurou-se em abordar o assunto por meio de depoimentos com
faixa etária condizente ados leitores e histórias de vida muito parecidas.
F.L.Q, 16 anos " Eu experimentei
bebida pela primeira vez emcasa. Meu pai bebia e me dava a espuminha da cerveja.
Você toma a espuma, depois dá umgole, depois bebe um copo..."
L.L.A, 15 anos "As propagandas influenciam
o subconsciente.Você não percebe, mas o impulso positivo para beber fica gravado
na sua cabeça".
No mesmo artigo há abordagem de como a publicidade
da bebidaalcoólica é veiculada livremente nos meios de comunicação:
Os jovens estão na mira dos fabricantes
de cerveja.A maior parte das campanhas publicitárias elegeu como seu target-
público-alvo.
A cerveja Antártica investe pesado em campanhas
publicitárias. Indode anúncios em revistas voltadas para esse público até a
Internet. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio dos dados expostos nesse trabalho
nota-se que já há umacerta mobilidade por parte da mídia em debater temas tabus.
A folhateen da Folhade São Paulo abriu espaço para discutir o alcoolismo
juvenil, assim como, a revista Vejapor duas vezes abordou esta temática.
Analisando-se estes dados conclui-se que
a mídia omite-se sobreassuntos polêmicos, apesar de haver um sopro preconizante
de que tal situação no futurotenderá a modificar-se. Quanto a eficácia da comunicação
representada pela VEJA e a folhateen observa-se o seguinte:
- A revista VEJA não é uma publicação estritamente
ligada aouniverso teen;
- Uma das reportagens sobre alcoolismo juvenil
restringiu-se a VejaSão Paulo, ou seja, analisou-se um problema de uma forma
local, apesar dos depoimentosdos especialistas. Esta mesma reportagem concentrou-se
no universo da classe média dealunos de escolas particulares;
- Ressalta-se, porém a iniciativa e o conteúdo
recheado pordepoimentos - histórias de vida- que de uma certa forma une o depoente
ao leitor.
- A folhateen fez uma abordagem do
tema com profundidade, massem um tom didático e crítico;
- A folhateen também apoiou-se em
depoimentos a fim de atingiros seus leitores, aproveitando para falar sobre
os sites das cervejarias na Internet e deprogramas como o extinto H (da
emissora Bandeirantes) tão apreciados pelosjovens. Apesar da crítica
implícita aos sites e ao programa que na época aceitava opatrocínio de uma cervejaria,
tudo é tratado de maneira o menos didática possível.
Faz-se necessário ressaltar que é pouco
o que tem sido feito atéagora. Pois o consumo de álcool não é apenas uma questão
de saúde Há a questão daviolência, do dirigir embriagado . Segundo DIMENSEIN
somos órfãos: apesar dos fatose números a respeito dos malefícios da droga
lícita, são raras as campanhas advertindopara os perigos do álcool. As campanhas
sobre o álcool nem pífias são. Inexistem.Pior: a indústria da bebida é ainda
mais agressiva do que a indústria do fumo. Quantomais penso, mais me convenço
de que a educação para a cidadania é a prioridade: nãoé só uma questão de justiça
ou moral. (Folha de São Paulo, 20/5/2000)
Um traço comum encontrado em todas as matérias
é o uso dedepoimentos de consumidores de bebida alcoólica. Outros elementos
encontrados nosdiscursos é a fala do especialista, o discurso competente que
visa esclarecer àpropósito dos males que o consumo abusivo de álcool pode provocar;
referência apesquisas de instituições competentes, com dados numéricos que apontam
para ocrescimento do consumo entre os jovens, juntamente com o crescimento das
conseqüênciastrágicas que esse hábito pode acarretar (desde os múltiplos efeitos
do alcoolismo atéincidência de tragédias como homicídios, atropelamentos e acidentes
automobilísticos);um recurso menos freqüente nos discursos é o de fazer uso
de depoimentos de familiaresde alcoólicos.
Todas as matérias dos suplementos teens
pecam por não sepreocuparem devidamente com o seu papel de educador. A mídia
jovem, aquela que elaboraseus discursos pensando o receptor adolescente vem
vencendo resistências, rompendo comtabus, no entanto os temas de relevância
para os adolescente ainda não atingem umnúmero de inserções favoráveis; além
disso é preciso saber conciliar linguagem"sedutora" (o formato das
matérias dos suplementos teens) e ainformação consistente e reflexiva
(matérias da VEJA). Referências bibliográficas 1 DE HOLLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque Novo dicionário da língua portuguesa.
2 CROIX dOR Op. cit. p. 84 3 CASTRO, Ruy Estrela solitária, um brasileirochamado GARRINCHA. São
Paulo. Companhias das letras, 1995. 520 p. 4 LEGRAND, Michel Le sujet alcoolique, essai depsychologie dramatique.
Paris. Desclée de Brouwer. 1997. P. 17. BIBLIOGRAFIA Bibliografia referente ao alcoolismo,
adolescência e suplementos juvenis: DIMENSTEIN- Autópsia da Insensatez- Folha de São Paulo- 20 dejunho de
19991 FOUREZ, Gérard A Construção das Ciências. São Paulo.Editora Unesp.
1995 GOBBI, Maria Cristina Na trilha juvenil da mídia impressa Identificação,
perfil e análise dos suplementos para jovens veiculados nosjornais diários do
Brasil. São Bernardo do Campo: Dissertação (Mestrado emComunicação
Social) Universidade Metodista de São Paulo,1999.] IZIDORO, Alencar "Alcoolismo é maior entre os homens" Artigo
do Caderno Cotidiano da Folha de São Paulo, de 12 de maio de 2000. SCHIMIDT, Cristina Silva - Viva São Benedito! Ed. Santuário-2000- SP SILVIA, Ruiz "Onde acaba esta festa?" Artigo doCaderno
folhateen da Folha de São Paulo, de 3 de maio de 1999. VIGNERON, Jacques Projeto de pesquisa: O papel dacomunicação na prevenção
do alcoolismo juvenil e na recuperação dos sujeitosalcóolicos para jovens no
contexto das organizações 1997 Sites ANDI Agência de Notícias dos direitos da Infância, Crianças e adolescentes
na mídia (www.andi.org.br) DIMESNTEIN - O país bêbado - (www.aprendiz.com.br) FORMENTI, LIGIA (Site sobre ALCOOLISMO) (www.alcoolismo.com.br) LOBATO, ELIANE & PROPATO, VALÉRIA - ISTO É - (www.terra.com.br/isto/e)
(www.inca.org.br) PROJETO CONHECER (Colégio Bahiense Gávea) - www.bahiense.g12.br/gavea/procon.htm Bibliografia referente a metodologia: ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith & GEWANDSZNA, Fernando OMétodo nas
Ciências Naturais e Sociais Pesquisa Quantitativa e Qualitativa .São
Paulo. Pioneira. 1998 EPSTEIN, Isaac. Apostila de aula. Análise de conteúdo. SãoPaulo, Umesp,
2000 VIGNERON, Jacques Projeto de pesquisa: O papel da comunicação na
prevenção do alcoolismo juvenil e na recuperação dos sujeitos alcóolicos para
jovens no contexto das organizações. 1997. -------------------------------------------------------------------------------- *Aparecida Ribeiro dos Santos é graduada em Letras e mestranda em Comunicação Social na UMESP. *Babette de Almeida Prado Mendoza é graduada em Ciências Sociais e mestranda em Comunicação Social na UMESP. |
|
|
|
|
|