Ademir Pereira da Cruz Júnior*
Resumo
O trabalho analisa as características da
cobertura de Saúde nos jornais A GAZETA e A TRIBUNA, de Vitória, ES. Acompanhamento
diário e análise crítica de 284 jornais, no período de Julho/96 a Fevereiro/97,
inclusive com a organização e estudo de casos representativos dessa cobertura.
E, também, o estudo do processo de produção da notícia e da relação fonte -
jornalista. Observou-se que, quantitativamente, os jornais apresentam uma cobertura
significativa. Qualitativamente, há presença do jornalismo de serviço (1) na
ocasião de epidemias, exceto Aids; falta jornalismo de serviço quando a epidemia
não está localizada perto de Vitória; ocorre falta de aproveitamento de ganchos
jornalísticos de notícias de outras áreas relacionadas com saúde; ocorrência
de matérias bem aprofundadas, com informações úteis para o leitor nas Reportagens
Especiais de A TRIBUNA e na seção Medicina de A GAZETA; falta jornalismo investigativo,
matérias analíticas e interpretativas; ocorre pouca adaptação das notícias de
agência à realidade local; poucos editoriais sobre Saúde, mas presença constante
de cartas de leitores. Na relação fonte - jornalista ocorrem problemas de alguma
gravidade. O principal levantado pelos especialistas e trabalhadores da Saúde
é a mal interpretação, justificando, por isso, as dificuldades que impõem para
conceder entrevistas. Os jornalistas reclamam da dificuldade em contatar as
fontes, principalmente os profissionais de Saúde. Na produção da notícia, o
número limitado de repórteres nas editorias é apontado como limitador da cobertura
além da própria divisão em Editoria.
Introdução
Neste trabalho, Saúde é compreendida como
um direito do cidadão e o jornalismo como atividade fundamental na sociedade
contemporânea, como um serviço público, como sempre lembra Alberto Dines. Assim,
nada justifica a não integração entre as duas áreas. As vantagens são evidentes:
para os produtores da notícia a integração possibilita desenvolver mais o jornalismo
de serviço, permite uma linguagem mais eficaz na propagação de conhecimentos
preventivos, no sentido de colaborar na profilaxia de doenças; explicar e apresentar
com mais facilidade os conceitos das Ciências da Saúde, até mesmo com a compreensão
da realidade profissional dos trabalhadores da área; para os profissionais de
Saúde uma boa cobertura do setor facilita o trabalho com o paciente e permite
inclusive entender melhor a realidade profissional dos produtores de notícias.
Assim, o jornalismo de saúde é potencialmente
útil, inclusive, na promoção da saúde do público; para educação nas ações preventivas;
como estimuladora da consciência dos indivíduos sobre a área; e para monitorar
as políticas públicas (2). E o jornalismo poderia resguardar o leitor com esse
tipo de informação. Porém, o modelo de jornalismo praticado na cobertura de
Saúde, nos jornais do ES, mostra algumas limitações para informação de qualidade
que tanto se persegue.
A primeira é a divisão em Editorias, o que
acarreta uma grande flutuação dos jornalistas nas diversas áreas, gerando falta
de especialização; além do limitado número de repórteres por editoria. Fatores
que contribuem para ocasionar uma possível falta de domínio na área.
A segunda limitação é a complexidade desse
tipo de atividade jornalística, pois os assuntos têm ligação direta com as Ciências
da Saúde, com questões econômicas, políticas, sociológicas; o que exige uma
boa dose de especialização e técnica para reportar o assunto. As outras, se
ligam as dificuldades de relação entre as duas áreas, mas principalmente entre
trabalhadores da saúde e especialistas (médicos, cientistas, administradores
de hospitais) e produtores da notícia. Estes especialistas têm medo da interpretação
errada e fogem dos jornalistas. Por outro lado, os repórteres gastam muito tempo
para conseguir entrevistas e interpretar os jargões científicos.
Essas limitações serão abordadas, neste
trabalho, e discutidas tendo como fundamentação a teoria de newsmaking,
um tipo de abordagem que busca entender, através do estudo das rotinas produtivas
dos jornais, o conceito de jornalismo, da importância jornalística e de noticiabilidade.
E, a definição proposta por Robert E. Park, na qual notícia é considerada uma
forma de conhecimento.
O conhecimento e a produção (referencial
teórico)
Robert Park em seu texto "A notícia
como forma de conhecimento" ( 3) descreve que a reação típica do indivíduo
frente a uma notícia será, provavelmente, o desejo de repeti-la a alguém. Isso
irá gerar a conversação, poderá despertar novos comentários e até uma discussão.
Iniciada a discussão, o acontecimento discutido deixa de ser notícia e, com
as diferentes interpretações de um acontecimento as discussões são transferidas
do plano da notícia para o dos problemas que ela invoca. O conflito de opiniões,
que a discussão proporciona termina, na maioria dos casos numa espécie de opinião
coletiva denominada opinião pública. Assim, é na interpretação dos acontecimentos
presentes na notícia que se fundamenta a opinião pública.
Dessa forma, quanto menos um assunto é analisado,
quanto menor é o domínio, menor será a percepção, havendo menor reflexão e menos
saber acerca, tanto por parte do jornalista, quanto mais ainda por parte
da opinião pública.
Por isso, na construção da notícia, é importante
o desenvolvimento de um aprendizado, pelo jornalista, sobre o assunto que irá
tratar e informar a opinião pública, pois se nem o jornalista domina o assunto
como ele poderá informar? Embora, também, deva-se considerar o curto espaço
de tempo que ele tem para dominar um assunto, devido a rotina. Mas, processo
de produção, empresas de comunicação, rotina produtiva serão abordados a seguir.
Uma das maiores buscas da teoria de newsmaking
(4) é a compreensão, através do estudo das rotinas produtivas e da cultura profissional,
do fato da cobertura jornalística estar voltada, principalmente, para atender
o ritmo do processo produtivo, pois o jornal tem que ser feito todo dia e precisa
de fatos que sustentem essa demanda industrial. Assim, a abordagem de newsmaking
mostra a vinculação da noticiabilidade de um fato e a capacidade do jornal cobrir
o fato sem comprometer seu fechamento.
A teoria de newsmaking também mostra
as formas que as empresas jornalísticas desenvolveram para cobrir uma determinada
faceta da realidade, até onde conseguem ter acesso, da mesma forma que consolidam
valores profissionais que servem para atestar esse processo de produção de notícias
e justificar o fato dos jornais como empresas industriais. Nesse processo industrial
até mesmo a escolha das fontes, o que é uma fase da rotina produtiva, induz
a cobertura para um jornalismo pautado em declarações.
Assim, é necessário ser feito uma rápida
análise dos fatos que podem determinar a escolha das fontes: a - ) oportunidade
de ter acesso a ela; b - ) produtividade da fonte, sendo que as fontes oficiais
e as instituições são as preferidas, pois fornecem material suficiente para
se fazer a notícia; c - ) credibilidade, são consideradas as fontes as quais
a informação precisa de um mínimo de controle; d - ) a garantia, relacionada
a honestidade da fonte; e - ) a respeitabilidade, o que privilegia as fontes
oficiais que ocupam posição de autoridade, pois julga-se que tenham mais credibilidade,
principalmente em situações controversas, já que representam o ponto de vista
oficial (5).
Dessa forma, a escolha da fonte é definida
pela necessidade de concluir a cobertura dentro dos prazos definidos pela redação,
e, muitas vezes, o trabalho do jornalista acaba nas informações dadas pela fonte.
E mesmo caso a informação seja importante, mas não tenha quem assuma ou de algum
modo a apuração possa comprometer o ritmo do trabalho, isso pode não virar notícia.
Por fim, é bom lembrar, que o trabalho ora
apresentado não se baseia somente na teoria de newsmaking clássica (6),
feita com a observação sistemática das redações. Este trabalho irá observar
o produto final, também. Porém, a base de referência de raciocínio para análise
dos jornais é a teoria citada, além das considerações de Robert Park, sobre
jornalismo como forma de conhecimento, e a análise crítica dos pesquisadores.
Metodologia
No período de 17 de junho de 96 a 28 de
fevereiro de 97, na primeira fase da pesquisa, a leitura dos jornais foi diária,
mas a análise crítica foi feita em 284 jornais, 7 por semana em média, escolhidos
de forma aleatória. Para análise foram catalogadas 829 notícias, 25 cartas de
leitores, 12 artigos de opinião e 2 editoriais relacionados ao assunto Saúde.
Do conjunto destas unidades informativas, catalogou-se 452 notícias, 10 artigos,
18 cartas encontradas em 150 edições do jornal A GAZETA, veículo ligado a Rede
Gazeta de Comunicação. E 377 notícias, 2 artigos, 5 cartas, 2 editoriais encontrados
em 134 edições do jornal A TRIBUNA, pertencente ao Grupo Nassau Editora, Rádio
e Televisão Ltda.
A análise crítica se restringiu as notícias.Sendo
verificado: os assuntos tratados(feito um agrupamento); as editorias que publicavam;
as fontes(identificação e contagem do número de declarações; o conteúdo; o espaço
ocupado na página ; a origem(produção pela equipe local, agência nacional ou
internacional) e; se apresentavam ou não o jornalismo de serviço, tanto no corpo
da notícia como nos boxes, sub-retrancas e quadros explicativos. E ainda, a
seleção das notícias da editoria de Internacional; Seção Medicina, publicada
aos domingos em A GAZETA; das Reportagens Especias, de A TRIBUNA e; das chamadas
da primeira página, para análise específica.
Na segunda fase da pesquisa aconteceu as
visitas nas redações e as entrevistas aos representantes das empresas jornalísticas,
João Luiz Caser, diretor de jornalismo de A TRIBUNA e Maria Alice Lindenberg,
assessora de Comunicação de A GAZETA. E aos produtores da notícia Tanit Mário,
editora de Geral de A GAZETA; Claudia Feliz, Vanessa Maia, Cristina DÁvila,
Cíntia Bento Alves, Cileide Zanotti, repórteres da Editoria de Geral; Lino Resende,
editor de Internacional; Giovana Mazzioli, responsável pela Coluna Linha Direta
e; Denise Gonring, repórter free-lancer da seção Medicina vinculada à
Editoria de Geral de A GAZETA. Em A TRIBUNA foram entrevistadas Alelvi Carneiro,
editora de Cidades, e Giovana Rangel, repórter que assina a maioria das Reportagens
Especiais sobre Saúde. As fontes entrevistadas foram o governador do ES, Vítor
Buaiz; o secretário estadual de saúde, Nélio de Almeida; o secretário de saúde
do município de Vitória, Anselmo Tose; o presidente do CRM, Moacir Soprani;
o presidente e o tesoureiro do SindiSaúde, Wagner Papi e Alexandre Fraga. Os
especialistas: foram os professores da Faculdade de Medicina da Ufes, José Geraldo
Mill e Sandra Martins (em fevereiro assumiu a presidência do CRM) e; a pesquisadora
do programa de pós graduação em doenças infecciosas, profa. dra. Maria Carmen
Viana. A principal finalidade dessa fase foi o entendimento do processo de produção
da notícia e da relação fonte jornalista na cobertura de Saúde.
Descrição da Pesquisa
A Saúde nos jornais do ES : Um breve
relato
No agrupamento por assunto (epidemias,
saúde de pessoas muito conhecidas, descaso com a Saúde, acidentes e incidentes,
Saúde e Doença, Ciências da Saúde), foi feito o levantamento de casos representativos.
Na cobertura de epidemias - meningite, dengue
e Aids, ocorreu uma preocupação em alertar a população sobre os sintomas e a
prevenção, no caso da dengue, pois o número de infectados, no estado, era grande.
Já a cobrança de atitudes das autoridades para o controle da epidemia foi limitado.
Com relação a meningite houve uma grande preocupação em cobrar das autoridades
medidas de controle, inclusive a vacinação, mesmo porque o estado corria o risco
de não ter. Porém, ocorreu menos informações sobre os sintomas e o modo de prevenção.
Com relação a Aids, houve pouca produção
de notícias, - foram anotadas 14 em 859 catalogadas - . A maioria teve origem
em agência de notícias, sem uma regionalização, ou pelo menos uma contextualização
ou sequer uma reflexão sobre o controle da doença no ES. Informações como a
notificação, os números da infestação foram, assim, omitidas para o leitorado
dos jornais.. Em todo período de análise só foi lida uma notícia nesse sentido,
publicada em A GAZETA no dia 25/10, "Saúde diz que casos de Aids caíram
30% neste ano", com a defesa do número pelo pessoal da Secretária estadual
e com a contestação pela coordenadora do Grupo Pela Vida, entidade não governamental.
Em A TRIBUNA, no dia 11/12 houve a publicação
da única notícia daquele jornal, "Aidéticos desprotegidos", com boxe
intitulado "Saiba mais sobre a doença" e a sub-retranca "População
é mal informada", na qual se apresenta os sintomas e o modos de prevenção.
E em A GAZETA no dia 09/12 aparece a única notícia com o depoimento dos portadores
do vírus.
Já a "greve na saúde", caso representativo
do agrupamento,"Descaso com a Saúde", esteve sempre presente nos jornais.
Foram catalogadas 44 notícias, com apresentação de várias fontes, - cidadãos,
trabalhadores em saúde -, com várias abordagens. Porém, o assunto ocupou tanto
espaço, por tanto tempo, que ficou difícil ser criativo. Registre-se ao menos
que a banalização da greve não significou o sumiço do noticiário.
Depoimentos reclamando foi a tônica da cobertura.
Os trabalhadores grevistas também foram vocalizados pelos jornais. Mas nas entrevistas
concedidas aos pesquisadores reclamaram, que os jornais não fazem reportagens
sobre o caos que é trabalhar sem condições de trabalho. De fato isto não se
deu. Como também não houve - mais grave - um debate sobre o significado de uma
greve num setor tão essencial como saúde.
Na análise específica da seção Medicina,
publicada todos domingos em A GAZETA, e das Reportagens Especiais relacionadas
ao tema Saúde, em A TRIBUNA. Verificou-se que a seção Medicina, vinculada a
Editoria de Geral, apresenta matérias sobre Doenças, Tratamentos, Pesquisas
na área de Saúde, melhoria da qualidade de Vida das pessoas através da Saúde.
A produção vêm em grande parte das agências, com compra de material da agência
JB. Toda publicação também têm uma matéria da única repórter setorizada em saúde,
Denise Gonring, ocupando, geralmente ½ página. Essas matérias apresentam os
vários desdobramentos da notícia, com boxes e quadros explicativos, ás vezes
ocorre certa confusão na diagramação dos quadros.
As Reportagens Especiais de A TRIBUNA têm
uma abordagem apresentado informações que servem até para educar para a Saúde,
inclusive com o aprofundamento e a discussão de questões importantes, como "Médicos
x Planos de Saúde - Pacientes levam a pior", no dia 06/08/96; "Pânico
dos agrotóxicos",14/01/97; "Movidos a tranqüilizante,09/12/96 ";
"Lipoaspiração: caminho nem sempre seguro"e "Emagrecendo com
segurança", 11/10.
Análise dos resultados
As primeiras páginas.
As notícias de primeira página mereceram
um agrupamento pelo tema. Veja o quadro.
Tabela I - Temas da Primeira página (quantidade de notícias)
Tema | A TRIBUNA | % | A GAZETA | % |
Saúde de pessoas conhecidas | 2 | 15, 4 | 9 | 37, 5 |
Ciências da Saúde | 2 | 15, 4 | 1 | 4, 2 |
Acidentes e Incidentes | 3 | 23, 1 | 4 | 4, 2 |
Epidemias e doenças | 2 | 15, 4 | 8 | 33, 3 |
Greve | 4 | 30, 7 | 2 | 8, 3 |
Total | 13 | 100 | 24 | 100 |
O tema Saúde têm uma frequência, aproximada, de 1 notícia para cada 4 jornais
analisados. Sobre a Saúde das pessoas conhecidas destacaram-se o caso da lipoaspiração
de Claudia Liz e os problemas do papa, apresentando, inclusive fotos com tamanho
maior do que 10/15cm. Com relação aos acidentes e incidentes destacaram-se a
decepação do pênis do comerciante e um menino que foi seqüestrado em hospital
do Rio, ocupando sempre o alto da página,com fotos. Já na cobertura da epidemias
evidenciou-se, principalmente a cobertura da dengue por A GAZETA, com a apresentação
da chamada no alto da página. Meningite teve menor quantidade de notícias na
primeira página, menor até do que a cobertura de Tifo no município de Laranja
da Terra. Com relação as notícias sobre Aids e outras doenças, poucas ocupam
a primeira página, assim como o assunto Ciências da Saúde.
Editoria Internacional
O tema Saúde é pouco frequente nas editorias
de Internacional, a proporção é de 1 notícia para cada 8 jornais analisados,
mas apesar disso, foram agrupadas por tema .Veja o quadro.
Tabela II - Temas das editorias de
Internacional (quantidade de notícias)
Tema | A TRIBUNA | % | A GAZETA | % |
Saúde de pessoas conhecidas | 11 | 55 | 11 | 73,33 |
Ciências da Saúde | 6 | 30 | 2 | 13,33 |
Fatos inusitados | 3 | 15 | 2 | 13,33 |
Total | 20 | | 15 | |
Sobre Saúde das pessoas conhecidas
destacaram-se o Papa, Bóris Yeltsin, madre Tereza de Calcutá e o nascimento
da filha de Madona, todas ocupando um espaço que varia de 1/8 a ¼ da página.
Enquanto as notícias sobre Ciência da Saúde são em menor número e ocupam um
espaço que varia de 1/10 a ¼ da página , no pé da página, algumas parecem notas.
As notícias de fatos inusitados estão relacionadas
com a separação das crianças siamesas por médicos americanos e; o protesto contra
a destruição de embriões na Inglaterra. São pouco frequentes mas ocupam ½ página
e ficam no alto.
Essa análise mostrou o grande predomínio
das notícias sobre saúde das personalidades nas Editorias de Internacional,
aparecendo poucas notícias sobre as Ciências da Saúde. O editor de Internacional
de A GAZETA, na fase da visita as redações, foi questionado sobre essa situação:
"Eu percebo essa situação. E, acho
importante publicar notícias sobre Ciência. Mas, aqui, tenho que publicar também
as notícias sobre guerra e sobre tudo o que está acontecendo no mundo. Tenho
pouco espaço, o que A GAZETA deveria fazer é criar um caderno de Ciência como
os grandes jornais já estão fazendo".
As Editorias e a origem da notícia
A origem da notícia, se ela foi produzida
pela equipe local, agência nacional, agência Internacional. E o número de notícias
por editoria também foi levantado.
Tabela III - Produção da notícia
Origem | A GAZETA | % | A TRIBUNA | % |
Equipe local | 369 | 81,63 | 313 | 83,02 |
Agência nacional | 70 | 13,27 | 58 | 15,38 |
Agência internacional | 13 | 5,10 | 7 | 1,86 |
Total | 452 | | 377 | |
Tabela IV - Editorias que apresentam
notícia sobre Saúde
Editoria | A TRIBUNA | % | A GAZETA | % |
Geral | --- | ----- | 403 | 89,15 |
Cidades | 341 | 90,45 | --- | --- |
Internacional | 20 | 5,30 | 15 | 3,31 |
Esportes | 2 | 0,53 | 5 | 1,11 |
Economia | 1 | 0,26 | 3 | 0,66 |
Segundo Caderno | ---- | ---- | 1 | 0,22 |
Polícia | 6 | 1,59 | 7 | 1,55 |
seção Medicina | ---- | ---- | 18 | 3,98 |
Reportagem Especial | 7 | 1,85 | --- | ---- |
Total | 377 | | 452 | |
A maioria das notícias da editoria de Geral em A GAZETA e de Cidades em A TRIBUNA
são produzidas pela equipe local. Na seção Medicina de A GAZETA, vinculada a
editoria de Geral, também há bastante publicação de notícias de agência, principalmente
JB, e, sempre uma matéria de Denise Gonring, repórter free-lancer, fixa.
Para apurar a procedência e se a notícia
era ou não de agência foi verificado a referência da cidade de origem, já que
esse é o procedimento dos jornais. Exemplo, no início, estava escrita a palavra
Rio, São Paulo, Salvador, - agência nacional. Se estava escrito Buenos Aires,
Nova York, Paris, - agência internacional-, pois apenas A GAZETA conta com um
correspondente em Brasília - que é identificado em suas matérias.
Jornalismo de Serviço na Saúde
Por jornalismo de serviço na área de Saúde
entende-se a função jornalística de auxiliar a população para ter direitos básicos
assegurados e até mesmo informações que sustentem melhorias na qualidade de
vida do leitor. Isso pode ser feito tanto no corpo da matéria, como em quadros
explicativos, boxes, sub-retrancas.
Devido a importância, também foi feita a
distinção das matérias que apresentam esse tipo de jornalismo, principalmente
nos assuntos em que entendemos como fundamental. Assim, na análise quantitativa
dessa característica entraram todas as matérias sobre epidemias, doenças e as
que encaminhavam para o conceito de Saúde proposto por Anselmo Tose (7). Foram
incluídas 7 matérias do agrupamento "Saúde e Doença", 14 de "Aids",
12 sobre Dengue, 9 de Meningite, 6 da Contaminação de xampus(agrupamento acidente
e incidente), 9 sobre epidemias e doenças em outras localidades do estado, 7
Reportagens Especiais de A TRIBUNA e 18 notícias da seção Medicina.
Tabela V - Matérias que apresentam jornalismo
de serviço
Jornalismo de Serviço | A GAZETA | % | A TRIBUNA | % |
Matérias que apresentam | 28 | 54,90 | 20 | 64,52 |
Matérias que não apresentam | 23 | 45,10 | 11 | 35,48 |
Total | 51 | 100 | 31 | 100 |
Entre as matérias que apresentam jornalismo de serviço estão as publicadas
na seção Medicina de A GAZETA; as Reportagens Especiais de A TRIBUNA; as do
caso "Contaminação dos xampus" e; as relacionadas com epidemias, principalmente
dengue, pois as matérias sobre meningite apresentam menos serviço e as que tratam
a Aids quase não apresentam.
Isso acontece também nas notícias sobre
epidemia e doenças que acontecem fora da região da Grande Vitória. Por exemplo,
a epidemia de tifo em Laranja da Terra, cidade do interior do estado, teve espaço,sendo
publicadas 4 notícias em A GAZETA, duas com chamadas na primeira página, mas
pouco apresentou de serviço. Também, em 21/06/96 A GAZETA noticiou que as frentes
frias estavam causando aumento de doenças respiratórias em Domingos Martins,
sem se quer identificar as doenças. A falta de serviço, prevenção, primeiros
socorros, aconteceu também na notícia, "Vítimas de jararaca no Estado chegam
a 250", publicada na GAZETA (11/11/96) e em uma outra sobre a preocupação
da classe médica com o grande número de infestados por verminose, A GAZETA 12/11/96.
E em várias outras que tratam a Saúde do interior do estado.
Fontes
As fontes de Saúde do jornalismo impresso
capixaba também foram observadas, inclusive com a separação em grupos: fontes
consideradas oficiais - ligadas as instituições públicas e privadas (governo
do estado, prefeituras, hospitais, pronto socorro); fontes especialistas (cientistas,
médicos, técnicos); fontes representantes de movimentos não governamentais (ONG,
associação de moradores) e; classistas (sindicatos, conselhos). Observe as tabelas
com o número de representantes por grupo e quantidade de declarações publicadas.
Tabela VI - Representação do número
total de fontes por grupo
Grupo de fonte | Números de representantes | % |
Fontes oficiais | 11 | 5,58 |
Especialista | 57 | 28,93 |
Organização Não Governamental | 1 | 0,51 |
Classista | 5 | 2,54 |
Cidadão | 123 | 62,44 |
Total | 197 | |
Tabela VII - Declarações publicadas por número de fontes
Tipo de fonte | A GAZETA | % | A TRIBUNA | % |
Fontes oficiais | 226 | 49,13 | 193 | 40,67 |
Especialista | 81 | 17,61 | 35 | 11,68 |
Organização não Governamental | 1 | 0,22 | ---- | ---- |
Classista | 54 | 11,74 | 66 | 14,83 |
Cidadão | 98 | 21,30 | 146 | 32,80 |
Total | 460 | 100 | 445 | 100 |
Em A GAZETA e A TRIBUNA os representantes de instituições públicas ou particulares
tiveram publicadas suas declarações em quase metade das matérias, estando, quase
sempre, presentes na cobertura feita pela equipe local. Os especialistas aparecem,
na maioria das vezes, em notícias de agências. Também é importante destacar
o limitado número de representantes sociais e a pouca quantidade de vezes que
tiveram suas declarações publicadas.
De acordo com a Teoria de newsmaking
isso se justifica pelo fato das fontes representantes de instituições necessitarem
de quase nenhum controle, atendendo a rotina produtiva das redações, acarretando
a prática de um jornalismo de declaração (8), pois o trabalho do jornalista
acaba, muitas vezes, nas informações fornecidas pelas fontes.
Mais uma característica da cobertura é o
vínculo com o factual. Por exemplo, a questão do aborto só é apresentada quando
foi adiada a votação da lei, "Votação sobre aborto só no próximo ano",
em A GAZETA 12/11, não sendo apresentado o projeto de lei e nem aprofundada
a discussão sobre aborto. Com relação a cobertura da poluição do ar na Grande
Vitória é a mesma coisa, parece que a poluição só aparece quando a Secretária
estadual do Meio Ambiente apresenta algum, esporádico, relatório com os índices.
A relação fonte - jornalista
Como é a relação entre fonte e jornalista
na cobertura de Saúde no ES ? O que pensa a fonte da cobertura de Saúde sobre
Jornalismo e jornalista? O que pensa o especialista de saúde do jornalismo praticado
na área? Qual a visão dos trabalhadores da Saúde em relação ao jornalista? Como
é a estrutura das editorias que publicam notícia sobre Saúde nos jornais capixabas?
Como é a rotina dos jornalistas? Como é o agendamento das matérias? Como é a
repercussão? Qual a importância da cobertura de saúde no contexto capixaba ?
Foram algumas das indagações feitas, através
de entrevistas, aos representantes das empresas jornalísticas; aos produtores
das notícias; as fontes e; aos especialistas.
Os produtores da notícia reclamaram bastante
da estrutura das empresas (9) . Muitos apontaram como problema também a divisão
em Editoria e, propõem a divisão em Cadernos, incluindo a setorização dos repórteres,
algum chegam a propor maior especialização. Os jornalistas também destacam a
dificuldade em contatar as fontes, principalmente os especialistas, que, muitas
vezes, marcam entrevistas mas faltam. Os repórteres entrevistados registraram
o grande medo da má interpretação citando que muitos entrevistados chegaram
a pedir uma cópia da matéria antes da publicação.
Má interpretação é a principal justificativa
apresentada pelos especialistas para recusar as entrevistas, ou terem medo de
conceder. Sendo comum darem entrevista somente escrita ou gravada, pois temem
que as interpretações erradas sejam colocadas na notícia e isso possa refletir
em sua vida profissional.
Quanto as fontes oficiais, o governador
do ES, propõe que o jornalismo deve passar por uma ampla reforma. E, o jornalismo
capixaba, precisa abrir mais a crítica, sendo necessária, inclusive, a presença
de um ombudsman. O secretário municipal de saúde propõe a cobertura voltada
para Saúde relacionada a melhoria da qualidade de vida. Representantes de entidades,
presidente do CRM, presidente e o tesoureiro do SindiSaúde apontam para a necessidade
de mais jornalismo investigativo, mostrando a realidade dos hospitais e dos
trabalhadores da Saúde, sendo que os dois últimos exaltam os jornalistas capixabas,
mas criticam os editores. Para eles são representantes dos jornais e estão ali
para defender somente o interesse do jornal, filtrando muitas notícias que seriam
de interesse do público.
Observe-se que, ao contrário dos especialistas,
as fontes oficiais contam com assessores de imprensa, que auxiliam no contato
com os jornalistas e oferecem as "dicas" dos cuidados necessários
para um bom relacionamento. As fontes oficiais, além disso, tem interesse em
um bom relacionamento com a imprensa, o que não é o caso dos especialistas.
Neste caso, se há interesse, ou é em função da importância social da informação,
ou o interesse nem sempre é legítimo, o que agrava a incomunicação.
Conclusões
O jornalismo de saúde nos jornais diários
impressos capixabas enfrenta algumas dificuldades, relacionadas a seguir.
1. A ênfase no jornalismo declaratório é
ostensiva. Ela se agrava no fato de que grande maioria das declarações são de
fontes oficiais.
2. É quase inexistente a presença de movimentos
populares e ONGs no noticiário.A única ONG presente, o Grupo Pela Vida, de apoio
à Aids movimenta-se para ter presença na imprensa. ONGs importantes na área
de saúde como Alcóolicos Anônimos, Centro de Valorização da Vida, grupos de
apoio a hansenianos, a tuberculosos, a fissurados, entre outros estão ausentes
do noticiário.
3. Embora o estado produza material de qualidade
em pesquisa de doenças tropicais e fisiologia cardiovascular - duas pós-graduações
muito bem avaliadas pela Capes - suas pesquisas e seus pesquisadores estão totalmente
ausentes da imprensa. Perdem-se pautas excelentes sobre hanseníase, tuberculose,
malária, leishmaniose, esquistossomose e outras, praticamente ausentes dos jornais
no período pesquisado.
4. Há uma dificuldade de diálogo muito grande
entre jornalista e fonte. Particularmente com os especialistas. Há uma desconfiança
e antipatia mútua. Fontes têm medo de serem mal interpretadas e jornalistas
têm dificuldade de interpretar os jargões científicos e são ignorados por fontes.
5. Apesar do espaço para o noticiário de
saúde ser relativamente grande, ele não conta com editoria própria nem repórteres
especializados. Violência, esportes e cultura, por exemplo, têm editorias e
jornalistas especializados. Saúde divide espaços com educação, meio ambiente,
transporte, trânsito, clima, serviços, feriadões, etc.
6. Registre-se o espaço para a saúde nas
reportagens especiais de A TRIBUNA (que aliás desmente aqueles que dizem que
a grande reportagem morreu) e a seção Medicina publicada aos domingos por A
GAZETA. Em A TRIBUNA, a maioria das matérias é assinada por Giovana Rangel.
Em A GAZETA, a seção é de responsabilidade da free-lancer quase fixa
Denise Gonring.
7. Os jornalistas, com exceção das acima
citadas, têm grande dificuldade para fazer a cobertura de Saúde. Seja pelas
condições de trabalho, seja pela própria cultura profissional, seja pelo pouco
domínio do assunto Saúde. Da mesma forma, os profissionais de saúde, principalmente
os especialistas, não estão sensibilizados para a importância da informação
pública produzida pelo jornalismo para a melhora das condições de saúde da população.
Notas e Referências bibliográficas
(1) Jornalismo de serviço fornece ao leitor informações para o entendimento
e o exercício de seus direitos e deveres.Seja através do corpo da matéria, de
quadros explicativos, de boxes.
(2) Algumas dessa propostas estão vinculadas a disciplina, "Jornalismo,
Cidadania e Saúde que está sendo criada pelo professor Bernardo Kuscinki, na
ECA - USP.
(3) PARK, Robert E. A notícia como forma de conhecimento: Um capítulo da Sociologia
do Conhecimento. Chicago, EUA, University of Chicago Press, 1967.p.168 - 185.
(4) WOLF, Mauro.Teorias da Comunicação.Segunda Edição. Lisboa, Editorial Presença.
(5) WOLF, Mauro.Teorias da Comunicação.Segunda Edição. Lisboa, Editorial Presença.
6) GENTLLI, Victor. A violência no Jornalismo Capixaba.Pesquisa apresentada
na Intercom.Vitória, 1995.p.6.
(7) Propõe uma cobertura de saúde que encaminhe para a melhoria na qualidade
de vida.
(8) De acordo com Josenildo Luiz Guerra, Jornalismo de declaração é aquele
que a notícia só apresenta descrição de depoimentos. "Fulano disse, Beltrano
afirma..."
(9) Sobre a estrutura dos jornais. A GAZETA possui 113 jornalistas: 1 diretor
de redação, 1 chefe de redação, 1 secretário gráfico, 1 supervisor de arte e
diagramação, 2 bibliotecários, 15 editores, 19 redatores, 50 repórteres, 8 repórteres
fotográficos, 11 diagramadores, 4 ilustradores. O piso salarial é de R$670,
74.A Editoria de Geral possui 11 repórteres e 1 free-lancer, quase fixo, pois
faz matéria todas as semanas para seção Medicina. A TRIBUNA tem 53 jornalistas
na redação, sendo 23 repórteres, 11 editores, 6 redatores, 7 fotógrafos, 6 paginadores.
A Editoria de Cidades tem 5 repórteres.
Bibliografia
BERGER, Peter L. e LUCKMAN, Thomas.- A construção social da realidade:
tratado de sociologia do conhecimento, Petrópolis, Vozes, 2ª edição,
l974.
BUENO, Wilson da Costa.- Comunicação para a Saúde. Edições Unimed,
1996
DINES, Alberto.- O papel do jornal, uma releitura, São Paulo,
4ª edição, Summus, 1986
GENRO Fº, Adelmo, O Segredo da Pirâmide, para uma teoria marxista do
jornalismo, Porto Alegre, Tchê, 1987, 229 pgs.
GENTILLI, Victor.- "A violência no jornalista impresso capixaba"
- Cadernos de Pesquisa da Ufes, edição especial violência, 1996.
Guerra, Josenildo.- A notícia no jornalismo capixaba, mimeo, 1994.
MEDINA, Cremilda.- Notícia: um produto à venda: jornalismo na sociedade
urbana e industrial, São Paulo, 1ª edição, Alfa Ômega, 1978.
MELO, José Marques de.- Sociologia da imprensa brasileira, Petrópolis,
Vozes, 1973.
PARK, Robert E.- "A notícia como forma de conhecimento: um capítulo da
sociologia do conhecimento". In: STEINBERG, Charles (org.) Meios
de comunicação de massa, Cultrix, s/d pags. 168/185.
PITTA, Áurea - Saúde e Comunicação: visibilidades e silêncios.
São Paulo, Hucitec. 1995
ROSSI, Clóvis.- O que é jornalismo. São Paulo, Brasiliense, 1980.
WOLF, Mauro.- Teorias de Comunicação de Massa, Editorial Presença,
2a edição.
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OBS: Trabalho integrante da Pesquisa: Avaliação Crítica do Jornalismo Impresso Capixaba - O jornalismo de saúde e educação, sob a orientação do: Prof. Victor Gentilli, com o apoio do Facitec - Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia da Prefeitura Municipal de Vitória.
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*Ademir Pereira Cruz é mestre em Comunicação Social pela UMESP.