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A saúde nos jornais diários capixabas

Ademir Pereira da Cruz Júnior*

      Resumo

      O trabalho analisa as características da cobertura de Saúde nos jornais A GAZETA e A TRIBUNA, de Vitória, ES. Acompanhamento diário e análise crítica de 284 jornais, no período de Julho/96 a Fevereiro/97, inclusive com a organização e estudo de casos representativos dessa cobertura. E, também, o estudo do processo de produção da notícia e da relação fonte - jornalista. Observou-se que, quantitativamente, os jornais apresentam uma cobertura significativa. Qualitativamente, há presença do jornalismo de serviço (1) na ocasião de epidemias, exceto Aids; falta jornalismo de serviço quando a epidemia não está localizada perto de Vitória; ocorre falta de aproveitamento de ganchos jornalísticos de notícias de outras áreas relacionadas com saúde; ocorrência de matérias bem aprofundadas, com informações úteis para o leitor nas Reportagens Especiais de A TRIBUNA e na seção Medicina de A GAZETA; falta jornalismo investigativo, matérias analíticas e interpretativas; ocorre pouca adaptação das notícias de agência à realidade local; poucos editoriais sobre Saúde, mas presença constante de cartas de leitores. Na relação fonte - jornalista ocorrem problemas de alguma gravidade. O principal levantado pelos especialistas e trabalhadores da Saúde é a mal interpretação, justificando, por isso, as dificuldades que impõem para conceder entrevistas. Os jornalistas reclamam da dificuldade em contatar as fontes, principalmente os profissionais de Saúde. Na produção da notícia, o número limitado de repórteres nas editorias é apontado como limitador da cobertura além da própria divisão em Editoria.

      Introdução

      Neste trabalho, Saúde é compreendida como um direito do cidadão e o jornalismo como atividade fundamental na sociedade contemporânea, como um serviço público, como sempre lembra Alberto Dines. Assim, nada justifica a não integração entre as duas áreas. As vantagens são evidentes: para os produtores da notícia a integração possibilita desenvolver mais o jornalismo de serviço, permite uma linguagem mais eficaz na propagação de conhecimentos preventivos, no sentido de colaborar na profilaxia de doenças; explicar e apresentar com mais facilidade os conceitos das Ciências da Saúde, até mesmo com a compreensão da realidade profissional dos trabalhadores da área; para os profissionais de Saúde uma boa cobertura do setor facilita o trabalho com o paciente e permite inclusive entender melhor a realidade profissional dos produtores de notícias.
      Assim, o jornalismo de saúde é potencialmente útil, inclusive, na promoção da saúde do público; para educação nas ações preventivas; como estimuladora da consciência dos indivíduos sobre a área; e para monitorar as políticas públicas (2). E o jornalismo poderia resguardar o leitor com esse tipo de informação. Porém, o modelo de jornalismo praticado na cobertura de Saúde, nos jornais do ES, mostra algumas limitações para informação de qualidade que tanto se persegue.
      A primeira é a divisão em Editorias, o que acarreta uma grande flutuação dos jornalistas nas diversas áreas, gerando falta de especialização; além do limitado número de repórteres por editoria. Fatores que contribuem para ocasionar uma possível falta de domínio na área.
      A segunda limitação é a complexidade desse tipo de atividade jornalística, pois os assuntos têm ligação direta com as Ciências da Saúde, com questões econômicas, políticas, sociológicas; o que exige uma boa dose de especialização e técnica para reportar o assunto. As outras, se ligam as dificuldades de relação entre as duas áreas, mas principalmente entre trabalhadores da saúde e especialistas (médicos, cientistas, administradores de hospitais) e produtores da notícia. Estes especialistas têm medo da interpretação errada e fogem dos jornalistas. Por outro lado, os repórteres gastam muito tempo para conseguir entrevistas e interpretar os jargões científicos.
      Essas limitações serão abordadas, neste trabalho, e discutidas tendo como fundamentação a teoria de newsmaking, um tipo de abordagem que busca entender, através do estudo das rotinas produtivas dos jornais, o conceito de jornalismo, da importância jornalística e de noticiabilidade. E, a definição proposta por Robert E. Park, na qual notícia é considerada uma forma de conhecimento.
      O conhecimento e a produção (referencial teórico)
      Robert Park em seu texto "A notícia como forma de conhecimento" ( 3) descreve que a reação típica do indivíduo frente a uma notícia será, provavelmente, o desejo de repeti-la a alguém. Isso irá gerar a conversação, poderá despertar novos comentários e até uma discussão. Iniciada a discussão, o acontecimento discutido deixa de ser notícia e, com as diferentes interpretações de um acontecimento as discussões são transferidas do plano da notícia para o dos problemas que ela invoca. O conflito de opiniões, que a discussão proporciona termina, na maioria dos casos numa espécie de opinião coletiva denominada opinião pública. Assim, é na interpretação dos acontecimentos presentes na notícia que se fundamenta a opinião pública.
      Dessa forma, quanto menos um assunto é analisado, quanto menor é o domínio, menor será a percepção, havendo menor reflexão e menos saber acerca, tanto por parte do jornalista, quanto mais ainda por parte da opinião pública.
      Por isso, na construção da notícia, é importante o desenvolvimento de um aprendizado, pelo jornalista, sobre o assunto que irá tratar e informar a opinião pública, pois se nem o jornalista domina o assunto como ele poderá informar? Embora, também, deva-se considerar o curto espaço de tempo que ele tem para dominar um assunto, devido a rotina. Mas, processo de produção, empresas de comunicação, rotina produtiva serão abordados a seguir.
      Uma das maiores buscas da teoria de newsmaking (4) é a compreensão, através do estudo das rotinas produtivas e da cultura profissional, do fato da cobertura jornalística estar voltada, principalmente, para atender o ritmo do processo produtivo, pois o jornal tem que ser feito todo dia e precisa de fatos que sustentem essa demanda industrial. Assim, a abordagem de newsmaking mostra a vinculação da noticiabilidade de um fato e a capacidade do jornal cobrir o fato sem comprometer seu fechamento.
      A teoria de newsmaking também mostra as formas que as empresas jornalísticas desenvolveram para cobrir uma determinada faceta da realidade, até onde conseguem ter acesso, da mesma forma que consolidam valores profissionais que servem para atestar esse processo de produção de notícias e justificar o fato dos jornais como empresas industriais. Nesse processo industrial até mesmo a escolha das fontes, o que é uma fase da rotina produtiva, induz a cobertura para um jornalismo pautado em declarações.
      Assim, é necessário ser feito uma rápida análise dos fatos que podem determinar a escolha das fontes: a - ) oportunidade de ter acesso a ela; b - ) produtividade da fonte, sendo que as fontes oficiais e as instituições são as preferidas, pois fornecem material suficiente para se fazer a notícia; c - ) credibilidade, são consideradas as fontes as quais a informação precisa de um mínimo de controle; d - ) a garantia, relacionada a honestidade da fonte; e - ) a respeitabilidade, o que privilegia as fontes oficiais que ocupam posição de autoridade, pois julga-se que tenham mais credibilidade, principalmente em situações controversas, já que representam o ponto de vista oficial (5).
      Dessa forma, a escolha da fonte é definida pela necessidade de concluir a cobertura dentro dos prazos definidos pela redação, e, muitas vezes, o trabalho do jornalista acaba nas informações dadas pela fonte. E mesmo caso a informação seja importante, mas não tenha quem assuma ou de algum modo a apuração possa comprometer o ritmo do trabalho, isso pode não virar notícia.
      Por fim, é bom lembrar, que o trabalho ora apresentado não se baseia somente na teoria de newsmaking clássica (6), feita com a observação sistemática das redações. Este trabalho irá observar o produto final, também. Porém, a base de referência de raciocínio para análise dos jornais é a teoria citada, além das considerações de Robert Park, sobre jornalismo como forma de conhecimento, e a análise crítica dos pesquisadores.

      Metodologia

      No período de 17 de junho de 96 a 28 de fevereiro de 97, na primeira fase da pesquisa, a leitura dos jornais foi diária, mas a análise crítica foi feita em 284 jornais, 7 por semana em média, escolhidos de forma aleatória. Para análise foram catalogadas 829 notícias, 25 cartas de leitores, 12 artigos de opinião e 2 editoriais relacionados ao assunto Saúde. Do conjunto destas unidades informativas, catalogou-se 452 notícias, 10 artigos, 18 cartas encontradas em 150 edições do jornal A GAZETA, veículo ligado a Rede Gazeta de Comunicação. E 377 notícias, 2 artigos, 5 cartas, 2 editoriais encontrados em 134 edições do jornal A TRIBUNA, pertencente ao Grupo Nassau Editora, Rádio e Televisão Ltda.
      A análise crítica se restringiu as notícias.Sendo verificado: os assuntos tratados(feito um agrupamento); as editorias que publicavam; as fontes(identificação e contagem do número de declarações; o conteúdo; o espaço ocupado na página ; a origem(produção pela equipe local, agência nacional ou internacional) e; se apresentavam ou não o jornalismo de serviço, tanto no corpo da notícia como nos boxes, sub-retrancas e quadros explicativos. E ainda, a seleção das notícias da editoria de Internacional; Seção Medicina, publicada aos domingos em A GAZETA; das Reportagens Especias, de A TRIBUNA e; das chamadas da primeira página, para análise específica.
      Na segunda fase da pesquisa aconteceu as visitas nas redações e as entrevistas aos representantes das empresas jornalísticas, João Luiz Caser, diretor de jornalismo de A TRIBUNA e Maria Alice Lindenberg, assessora de Comunicação de A GAZETA. E aos produtores da notícia Tanit Mário, editora de Geral de A GAZETA; Claudia Feliz, Vanessa Maia, Cristina D’Ávila, Cíntia Bento Alves, Cileide Zanotti, repórteres da Editoria de Geral; Lino Resende, editor de Internacional; Giovana Mazzioli, responsável pela Coluna Linha Direta e; Denise Gonring, repórter free-lancer da seção Medicina vinculada à Editoria de Geral de A GAZETA. Em A TRIBUNA foram entrevistadas Alelvi Carneiro, editora de Cidades, e Giovana Rangel, repórter que assina a maioria das Reportagens Especiais sobre Saúde. As fontes entrevistadas foram o governador do ES, Vítor Buaiz; o secretário estadual de saúde, Nélio de Almeida; o secretário de saúde do município de Vitória, Anselmo Tose; o presidente do CRM, Moacir Soprani; o presidente e o tesoureiro do SindiSaúde, Wagner Papi e Alexandre Fraga. Os especialistas: foram os professores da Faculdade de Medicina da Ufes, José Geraldo Mill e Sandra Martins (em fevereiro assumiu a presidência do CRM) e; a pesquisadora do programa de pós graduação em doenças infecciosas, profa. dra. Maria Carmen Viana. A principal finalidade dessa fase foi o entendimento do processo de produção da notícia e da relação fonte jornalista na cobertura de Saúde.

      Descrição da Pesquisa
      A Saúde nos jornais do ES : Um breve relato

      No agrupamento por assunto (epidemias, saúde de pessoas muito conhecidas, descaso com a Saúde, acidentes e incidentes, Saúde e Doença, Ciências da Saúde), foi feito o levantamento de casos representativos.
      Na cobertura de epidemias - meningite, dengue e Aids, ocorreu uma preocupação em alertar a população sobre os sintomas e a prevenção, no caso da dengue, pois o número de infectados, no estado, era grande. Já a cobrança de atitudes das autoridades para o controle da epidemia foi limitado. Com relação a meningite houve uma grande preocupação em cobrar das autoridades medidas de controle, inclusive a vacinação, mesmo porque o estado corria o risco de não ter. Porém, ocorreu menos informações sobre os sintomas e o modo de prevenção.
      Com relação a Aids, houve pouca produção de notícias, - foram anotadas 14 em 859 catalogadas - . A maioria teve origem em agência de notícias, sem uma regionalização, ou pelo menos uma contextualização ou sequer uma reflexão sobre o controle da doença no ES. Informações como a notificação, os números da infestação foram, assim, omitidas para o leitorado dos jornais.. Em todo período de análise só foi lida uma notícia nesse sentido, publicada em A GAZETA no dia 25/10, "Saúde diz que casos de Aids caíram 30% neste ano", com a defesa do número pelo pessoal da Secretária estadual e com a contestação pela coordenadora do Grupo Pela Vida, entidade não governamental.
      Em A TRIBUNA, no dia 11/12 houve a publicação da única notícia daquele jornal, "Aidéticos desprotegidos", com boxe intitulado "Saiba mais sobre a doença" e a sub-retranca "População é mal informada", na qual se apresenta os sintomas e o modos de prevenção. E em A GAZETA no dia 09/12 aparece a única notícia com o depoimento dos portadores do vírus.
      Já a "greve na saúde", caso representativo do agrupamento,"Descaso com a Saúde", esteve sempre presente nos jornais. Foram catalogadas 44 notícias, com apresentação de várias fontes, - cidadãos, trabalhadores em saúde -, com várias abordagens. Porém, o assunto ocupou tanto espaço, por tanto tempo, que ficou difícil ser criativo. Registre-se ao menos que a banalização da greve não significou o sumiço do noticiário.
      Depoimentos reclamando foi a tônica da cobertura. Os trabalhadores grevistas também foram vocalizados pelos jornais. Mas nas entrevistas concedidas aos pesquisadores reclamaram, que os jornais não fazem reportagens sobre o caos que é trabalhar sem condições de trabalho. De fato isto não se deu. Como também não houve - mais grave - um debate sobre o significado de uma greve num setor tão essencial como saúde.
      Na análise específica da seção Medicina, publicada todos domingos em A GAZETA, e das Reportagens Especiais relacionadas ao tema Saúde, em A TRIBUNA. Verificou-se que a seção Medicina, vinculada a Editoria de Geral, apresenta matérias sobre Doenças, Tratamentos, Pesquisas na área de Saúde, melhoria da qualidade de Vida das pessoas através da Saúde. A produção vêm em grande parte das agências, com compra de material da agência JB. Toda publicação também têm uma matéria da única repórter setorizada em saúde, Denise Gonring, ocupando, geralmente ½ página. Essas matérias apresentam os vários desdobramentos da notícia, com boxes e quadros explicativos, ás vezes ocorre certa confusão na diagramação dos quadros.
      As Reportagens Especiais de A TRIBUNA têm uma abordagem apresentado informações que servem até para educar para a Saúde, inclusive com o aprofundamento e a discussão de questões importantes, como "Médicos x Planos de Saúde - Pacientes levam a pior", no dia 06/08/96; "Pânico dos agrotóxicos",14/01/97; "Movidos a tranqüilizante,09/12/96 "; "Lipoaspiração: caminho nem sempre seguro"e "Emagrecendo com segurança", 11/10.

Análise dos resultados

      As primeiras páginas.
      As notícias de primeira página mereceram um agrupamento pelo tema. Veja o quadro.

Tabela I - Temas da Primeira página (quantidade de notícias)
Tema A TRIBUNA % A GAZETA %
Saúde de pessoas conhecidas 2 15, 4 9 37, 5
Ciências da Saúde 2 15, 4 1 4, 2
Acidentes e Incidentes 3 23, 1 4 4, 2
Epidemias e doenças 2 15, 4 8 33, 3
Greve 4 30, 7 2 8, 3
Total 13 100 24 100

      O tema Saúde têm uma frequência, aproximada, de 1 notícia para cada 4 jornais analisados. Sobre a Saúde das pessoas conhecidas destacaram-se o caso da lipoaspiração de Claudia Liz e os problemas do papa, apresentando, inclusive fotos com tamanho maior do que 10/15cm. Com relação aos acidentes e incidentes destacaram-se a decepação do pênis do comerciante e um menino que foi seqüestrado em hospital do Rio, ocupando sempre o alto da página,com fotos. Já na cobertura da epidemias evidenciou-se, principalmente a cobertura da dengue por A GAZETA, com a apresentação da chamada no alto da página. Meningite teve menor quantidade de notícias na primeira página, menor até do que a cobertura de Tifo no município de Laranja da Terra. Com relação as notícias sobre Aids e outras doenças, poucas ocupam a primeira página, assim como o assunto Ciências da Saúde.
      Editoria Internacional
      O tema Saúde é pouco frequente nas editorias de Internacional, a proporção é de 1 notícia para cada 8 jornais analisados, mas apesar disso, foram agrupadas por tema .Veja o quadro.

      Tabela II - Temas das editorias de Internacional (quantidade de notícias)       

Tema A TRIBUNA % A GAZETA %
Saúde de pessoas conhecidas 11 55 11 73,33
Ciências da Saúde 6 30 2 13,33
Fatos inusitados 3 15 2 13,33
Total 20   15  

        Sobre Saúde das pessoas conhecidas destacaram-se o Papa, Bóris Yeltsin, madre Tereza de Calcutá e o nascimento da filha de Madona, todas ocupando um espaço que varia de 1/8 a ¼ da página. Enquanto as notícias sobre Ciência da Saúde são em menor número e ocupam um espaço que varia de 1/10 a ¼ da página , no pé da página, algumas parecem notas.
      As notícias de fatos inusitados estão relacionadas com a separação das crianças siamesas por médicos americanos e; o protesto contra a destruição de embriões na Inglaterra. São pouco frequentes mas ocupam ½ página e ficam no alto.
      Essa análise mostrou o grande predomínio das notícias sobre saúde das personalidades nas Editorias de Internacional, aparecendo poucas notícias sobre as Ciências da Saúde. O editor de Internacional de A GAZETA, na fase da visita as redações, foi questionado sobre essa situação:
      "Eu percebo essa situação. E, acho importante publicar notícias sobre Ciência. Mas, aqui, tenho que publicar também as notícias sobre guerra e sobre tudo o que está acontecendo no mundo. Tenho pouco espaço, o que A GAZETA deveria fazer é criar um caderno de Ciência como os grandes jornais já estão fazendo".
      As Editorias e a origem da notícia
      A origem da notícia, se ela foi produzida pela equipe local, agência nacional, agência Internacional. E o número de notícias por editoria também foi levantado.

      Tabela III - Produção da notícia

Origem A GAZETA % A TRIBUNA %
Equipe local 369 81,63 313 83,02
Agência nacional 70 13,27 58 15,38
Agência internacional 13 5,10 7 1,86
Total 452   377  

       Tabela IV - Editorias que apresentam notícia sobre Saúde

Editoria A TRIBUNA % A GAZETA %
Geral --- ----- 403 89,15
Cidades 341 90,45 --- ---
Internacional 20 5,30 15 3,31
Esportes 2 0,53 5 1,11
Economia 1 0,26 3 0,66
Segundo Caderno ---- ---- 1 0,22
Polícia 6 1,59 7 1,55
seção Medicina ---- ---- 18 3,98
Reportagem Especial 7 1,85 --- ----
Total 377   452  

      A maioria das notícias da editoria de Geral em A GAZETA e de Cidades em A TRIBUNA são produzidas pela equipe local. Na seção Medicina de A GAZETA, vinculada a editoria de Geral, também há bastante publicação de notícias de agência, principalmente JB, e, sempre uma matéria de Denise Gonring, repórter free-lancer, fixa.
      Para apurar a procedência e se a notícia era ou não de agência foi verificado a referência da cidade de origem, já que esse é o procedimento dos jornais. Exemplo, no início, estava escrita a palavra Rio, São Paulo, Salvador, - agência nacional. Se estava escrito Buenos Aires, Nova York, Paris, - agência internacional-, pois apenas A GAZETA conta com um correspondente em Brasília - que é identificado em suas matérias.

      Jornalismo de Serviço na Saúde

      Por jornalismo de serviço na área de Saúde entende-se a função jornalística de auxiliar a população para ter direitos básicos assegurados e até mesmo informações que sustentem melhorias na qualidade de vida do leitor. Isso pode ser feito tanto no corpo da matéria, como em quadros explicativos, boxes, sub-retrancas.
      Devido a importância, também foi feita a distinção das matérias que apresentam esse tipo de jornalismo, principalmente nos assuntos em que entendemos como fundamental. Assim, na análise quantitativa dessa característica entraram todas as matérias sobre epidemias, doenças e as que encaminhavam para o conceito de Saúde proposto por Anselmo Tose (7). Foram incluídas 7 matérias do agrupamento "Saúde e Doença", 14 de "Aids", 12 sobre Dengue, 9 de Meningite, 6 da Contaminação de xampus(agrupamento acidente e incidente), 9 sobre epidemias e doenças em outras localidades do estado, 7 Reportagens Especiais de A TRIBUNA e 18 notícias da seção Medicina.

      Tabela V - Matérias que apresentam jornalismo de serviço

Jornalismo de Serviço A GAZETA % A TRIBUNA %
Matérias que apresentam 28 54,90 20 64,52
Matérias que não apresentam 23 45,10 11 35,48
Total 51 100 31 100

      Entre as matérias que apresentam jornalismo de serviço estão as publicadas na seção Medicina de A GAZETA; as Reportagens Especiais de A TRIBUNA; as do caso "Contaminação dos xampus" e; as relacionadas com epidemias, principalmente dengue, pois as matérias sobre meningite apresentam menos serviço e as que tratam a Aids quase não apresentam.
      Isso acontece também nas notícias sobre epidemia e doenças que acontecem fora da região da Grande Vitória. Por exemplo, a epidemia de tifo em Laranja da Terra, cidade do interior do estado, teve espaço,sendo publicadas 4 notícias em A GAZETA, duas com chamadas na primeira página, mas pouco apresentou de serviço. Também, em 21/06/96 A GAZETA noticiou que as frentes frias estavam causando aumento de doenças respiratórias em Domingos Martins, sem se quer identificar as doenças. A falta de serviço, prevenção, primeiros socorros, aconteceu também na notícia, "Vítimas de jararaca no Estado chegam a 250", publicada na GAZETA (11/11/96) e em uma outra sobre a preocupação da classe médica com o grande número de infestados por verminose, A GAZETA 12/11/96. E em várias outras que tratam a Saúde do interior do estado.

      Fontes

      As fontes de Saúde do jornalismo impresso capixaba também foram observadas, inclusive com a separação em grupos: fontes consideradas oficiais - ligadas as instituições públicas e privadas (governo do estado, prefeituras, hospitais, pronto socorro); fontes especialistas (cientistas, médicos, técnicos); fontes representantes de movimentos não governamentais (ONG, associação de moradores) e; classistas (sindicatos, conselhos). Observe as tabelas com o número de representantes por grupo e quantidade de declarações publicadas.

      Tabela VI - Representação do número total de fontes por grupo

Grupo de fonte Números de representantes %
Fontes oficiais 11 5,58
Especialista 57 28,93
Organização Não Governamental 1 0,51
Classista 5 2,54
Cidadão 123 62,44
Total 197  

      Tabela VII - Declarações publicadas por número de fontes

Tipo de fonte A GAZETA % A TRIBUNA %
Fontes oficiais 226 49,13 193 40,67
Especialista 81 17,61 35 11,68
Organização não Governamental 1 0,22 ---- ----
Classista 54 11,74 66 14,83
Cidadão 98 21,30 146 32,80
Total 460 100 445 100

      Em A GAZETA e A TRIBUNA os representantes de instituições públicas ou particulares tiveram publicadas suas declarações em quase metade das matérias, estando, quase sempre, presentes na cobertura feita pela equipe local. Os especialistas aparecem, na maioria das vezes, em notícias de agências. Também é importante destacar o limitado número de representantes sociais e a pouca quantidade de vezes que tiveram suas declarações publicadas.
      De acordo com a Teoria de newsmaking isso se justifica pelo fato das fontes representantes de instituições necessitarem de quase nenhum controle, atendendo a rotina produtiva das redações, acarretando a prática de um jornalismo de declaração (8), pois o trabalho do jornalista acaba, muitas vezes, nas informações fornecidas pelas fontes.
      Mais uma característica da cobertura é o vínculo com o factual. Por exemplo, a questão do aborto só é apresentada quando foi adiada a votação da lei, "Votação sobre aborto só no próximo ano", em A GAZETA 12/11, não sendo apresentado o projeto de lei e nem aprofundada a discussão sobre aborto. Com relação a cobertura da poluição do ar na Grande Vitória é a mesma coisa, parece que a poluição só aparece quando a Secretária estadual do Meio Ambiente apresenta algum, esporádico, relatório com os índices.

      A relação fonte - jornalista

      Como é a relação entre fonte e jornalista na cobertura de Saúde no ES ? O que pensa a fonte da cobertura de Saúde sobre Jornalismo e jornalista? O que pensa o especialista de saúde do jornalismo praticado na área? Qual a visão dos trabalhadores da Saúde em relação ao jornalista? Como é a estrutura das editorias que publicam notícia sobre Saúde nos jornais capixabas? Como é a rotina dos jornalistas? Como é o agendamento das matérias? Como é a repercussão? Qual a importância da cobertura de saúde no contexto capixaba ?
      Foram algumas das indagações feitas, através de entrevistas, aos representantes das empresas jornalísticas; aos produtores das notícias; as fontes e; aos especialistas.
      Os produtores da notícia reclamaram bastante da estrutura das empresas (9) . Muitos apontaram como problema também a divisão em Editoria e, propõem a divisão em Cadernos, incluindo a setorização dos repórteres, algum chegam a propor maior especialização. Os jornalistas também destacam a dificuldade em contatar as fontes, principalmente os especialistas, que, muitas vezes, marcam entrevistas mas faltam. Os repórteres entrevistados registraram o grande medo da má interpretação citando que muitos entrevistados chegaram a pedir uma cópia da matéria antes da publicação.
      Má interpretação é a principal justificativa apresentada pelos especialistas para recusar as entrevistas, ou terem medo de conceder. Sendo comum darem entrevista somente escrita ou gravada, pois temem que as interpretações erradas sejam colocadas na notícia e isso possa refletir em sua vida profissional.
      Quanto as fontes oficiais, o governador do ES, propõe que o jornalismo deve passar por uma ampla reforma. E, o jornalismo capixaba, precisa abrir mais a crítica, sendo necessária, inclusive, a presença de um ombudsman. O secretário municipal de saúde propõe a cobertura voltada para Saúde relacionada a melhoria da qualidade de vida. Representantes de entidades, presidente do CRM, presidente e o tesoureiro do SindiSaúde apontam para a necessidade de mais jornalismo investigativo, mostrando a realidade dos hospitais e dos trabalhadores da Saúde, sendo que os dois últimos exaltam os jornalistas capixabas, mas criticam os editores. Para eles são representantes dos jornais e estão ali para defender somente o interesse do jornal, filtrando muitas notícias que seriam de interesse do público.
      Observe-se que, ao contrário dos especialistas, as fontes oficiais contam com assessores de imprensa, que auxiliam no contato com os jornalistas e oferecem as "dicas" dos cuidados necessários para um bom relacionamento. As fontes oficiais, além disso, tem interesse em um bom relacionamento com a imprensa, o que não é o caso dos especialistas. Neste caso, se há interesse, ou é em função da importância social da informação, ou o interesse nem sempre é legítimo, o que agrava a incomunicação.

      Conclusões

      O jornalismo de saúde nos jornais diários impressos capixabas enfrenta algumas dificuldades, relacionadas a seguir.
      1. A ênfase no jornalismo declaratório é ostensiva. Ela se agrava no fato de que grande maioria das declarações são de fontes oficiais.
      2. É quase inexistente a presença de movimentos populares e ONGs no noticiário.A única ONG presente, o Grupo Pela Vida, de apoio à Aids movimenta-se para ter presença na imprensa. ONGs importantes na área de saúde como Alcóolicos Anônimos, Centro de Valorização da Vida, grupos de apoio a hansenianos, a tuberculosos, a fissurados, entre outros estão ausentes do noticiário.
      3. Embora o estado produza material de qualidade em pesquisa de doenças tropicais e fisiologia cardiovascular - duas pós-graduações muito bem avaliadas pela Capes - suas pesquisas e seus pesquisadores estão totalmente ausentes da imprensa. Perdem-se pautas excelentes sobre hanseníase, tuberculose, malária, leishmaniose, esquistossomose e outras, praticamente ausentes dos jornais no período pesquisado.
      4. Há uma dificuldade de diálogo muito grande entre jornalista e fonte. Particularmente com os especialistas. Há uma desconfiança e antipatia mútua. Fontes têm medo de serem mal interpretadas e jornalistas têm dificuldade de interpretar os jargões científicos e são ignorados por fontes.
      5. Apesar do espaço para o noticiário de saúde ser relativamente grande, ele não conta com editoria própria nem repórteres especializados. Violência, esportes e cultura, por exemplo, têm editorias e jornalistas especializados. Saúde divide espaços com educação, meio ambiente, transporte, trânsito, clima, serviços, feriadões, etc.
      6. Registre-se o espaço para a saúde nas reportagens especiais de A TRIBUNA (que aliás desmente aqueles que dizem que a grande reportagem morreu) e a seção Medicina publicada aos domingos por A GAZETA. Em A TRIBUNA, a maioria das matérias é assinada por Giovana Rangel. Em A GAZETA, a seção é de responsabilidade da free-lancer quase fixa Denise Gonring.
      7. Os jornalistas, com exceção das acima citadas, têm grande dificuldade para fazer a cobertura de Saúde. Seja pelas condições de trabalho, seja pela própria cultura profissional, seja pelo pouco domínio do assunto Saúde. Da mesma forma, os profissionais de saúde, principalmente os especialistas, não estão sensibilizados para a importância da informação pública produzida pelo jornalismo para a melhora das condições de saúde da população.

      Notas e Referências bibliográficas

(1) Jornalismo de serviço fornece ao leitor informações para o entendimento e o exercício de seus direitos e deveres.Seja através do corpo da matéria, de quadros explicativos, de boxes.

(2) Algumas dessa propostas estão vinculadas a disciplina, "Jornalismo, Cidadania e Saúde que está sendo criada pelo professor Bernardo Kuscinki, na ECA - USP.

(3) PARK, Robert E. A notícia como forma de conhecimento: Um capítulo da Sociologia do Conhecimento. Chicago, EUA, University of Chicago Press, 1967.p.168 - 185.

(4) WOLF, Mauro.Teorias da Comunicação.Segunda Edição. Lisboa, Editorial Presença.

(5) WOLF, Mauro.Teorias da Comunicação.Segunda Edição. Lisboa, Editorial Presença.

6) GENTLLI, Victor. A violência no Jornalismo Capixaba.Pesquisa apresentada na Intercom.Vitória, 1995.p.6.

(7) Propõe uma cobertura de saúde que encaminhe para a melhoria na qualidade de vida.

(8) De acordo com Josenildo Luiz Guerra, Jornalismo de declaração é aquele que a notícia só apresenta descrição de depoimentos. "Fulano disse, Beltrano afirma..."

(9) Sobre a estrutura dos jornais. A GAZETA possui 113 jornalistas: 1 diretor de redação, 1 chefe de redação, 1 secretário gráfico, 1 supervisor de arte e diagramação, 2 bibliotecários, 15 editores, 19 redatores, 50 repórteres, 8 repórteres fotográficos, 11 diagramadores, 4 ilustradores. O piso salarial é de R$670, 74.A Editoria de Geral possui 11 repórteres e 1 free-lancer, quase fixo, pois faz matéria todas as semanas para seção Medicina. A TRIBUNA tem 53 jornalistas na redação, sendo 23 repórteres, 11 editores, 6 redatores, 7 fotógrafos, 6 paginadores. A Editoria de Cidades tem 5 repórteres.

      Bibliografia

BERGER, Peter L. e LUCKMAN, Thomas.- A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento, Petrópolis, Vozes, 2ª edição, l974.

BUENO, Wilson da Costa.- Comunicação para a Saúde. Edições Unimed, 1996

DINES, Alberto.- O papel do jornal, uma releitura, São Paulo, 4ª edição, Summus, 1986

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OBS: Trabalho integrante da Pesquisa: Avaliação Crítica do Jornalismo Impresso Capixaba - O jornalismo de saúde e educação, sob a orientação do: Prof. Victor Gentilli, com o apoio do Facitec - Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia da Prefeitura Municipal de Vitória.

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*Ademir Pereira Cruz é mestre em Comunicação Social pela UMESP.

 
 
 
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