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Ciência em doses homeopáticas

Fabiane Gonçalves Cavalcanti*

      Em meados dos anos 90 houve um arrefecimento da divulgação científica nos jornais. Várias editorias criadas no final da década de 80 foram fechadas. Nesta época, a editoria de Ciência/Meio Ambiente do Jornal do Commercio (JC) contava com cerca de seis anos e já havia solidificado seu trabalho e se estabelecido como espaço diário fixo no jornal. Apesar disso, chegou a ser cogitada a hipótese do fechamento da editoria e a diluição do noticiário ao longo de outros espaços no jornal. A direção do JC, no entanto, optou por manter a publicação diária, por se tratar de um produto pioneiro no Norte e Nordeste e diferenciado em relação aos concorrentes. Além disso, por já ter conseguido se consolidar junto ao público e às fontes, que também se manifestaram contrárias ao fim do trabalho.
      A editoria foi mantida, porém teve seu espaço reduzido de uma para meia página e a publicação às segundas-feiras passou a ser eventual.
      A resposta à decisão de manter a divulgação da ciência diária, em "doses homeopáticas", mesmo com espaço reduzido, veio anos mais tarde: em 1997, o Jornal do Commercio ganhou o 17º Prêmio José Reis de Divulgação Científica na categoria Instituição. A premiação é concedida anualmente pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a jornalistas, cientistas ou instituições em reconhecimento à qualidade do trabalho de divulgação de temas científicos e tecnológicos. É a mais importante na área em todo o país.
      Desde novembro de 1996, Ciência/Meio Ambiente (CMA, como é chamada na Redação) está vinculada à Editoria de Cidades. Hoje conta com meia página de publicação diária (exceto às segundas-feiras). O espaço pode aumentar ou diminuir de acordo com o tamanho, importância e atualidade do noticiário, chegando CMA algumas vezes a ocupar a manchete de capa do caderno de Cidades. A equipe, sob coordenação do editor de Cidades, conta com uma subeditora, uma repórter setorista e um estagiário, mas, no caso de grandes coberturas, podemos contar com o reforço dos demais repórteres da Editoria de Cidades.
      O principal diferencial de CMA em relação a outras editorias de ciência é o fato de termos uma pauta diária local de temas nesta área. Estamos diariamente em contato com pesquisadores das nossas universidades e institutos, em busca de assuntos que possam se transformar em matéria. Falamos primeiro e com maior destaque da ciência e tecnologia que se faz na nossa terra. E esta é também uma maneira de mostrar que o Nordeste pode ser conhecido por muito mais do que a seca e a miséria do seu povo. Pesquisas de repercussão internacional são realizadas aqui e os leitores devem tomar conhecimento disso. Mesmo dando maior ênfase a assuntos locais, as matérias de agências nacionais e internacionais ocupam lugar de destaque, se o assunto assim merecer.
      Buscamos tratar o texto das reportagens de maneira a torná-lo atraente para público não-especializado, porém não perdendo de vista a precisão e o rigor com os dados científicos. Uma reportagem que consiga equilibrar estes ingredientes é resultado não só do esforço do jornalista, mas, principalmente, de uma boa interação entre o pesquisador e o repórter, na qual haja abertura para questionamentos de ambos os lados. Erros, claro, ocorrem. E, quando acontecem, são corrigidos.
      Além das reportagens, publicamos também serviços para o leitor. Semanalmente, às sextas-feiras, sai a lista das praias poluídas no litoral pernambucano e, aos sábados, a avaliação da qualidade do ar na Região Metropolitana do Recife. Ambos os levantamentos são feitos pela Companhia Pernambucana do Meio Ambiente (CPRH). Aos domingos, publicamos a seção De Olho na Ciência, em que pesquisadores respondem a perguntas enviadas por leitores à Redação do JC. A seção é veiculada desde janeiro de 1996 e teve ampla aceitação dos leitores, que chegavam a enviar dez cartas por semana ao jornal no primeiro ano do projeto, e dos pesquisadores de Pernambuco e de outros estados, que colaboram com muita boa vontade respondendo às perguntas.
      Voltando ao tema desta mesa, acredito que num país em desenvolvimento, como o nosso, a função educativa dos meios de comunicação de massa deveria ser mais salientada e a divulgação da ciência insere-se neste contexto, por tratar-se da difusão do conhecimento para o grande público. Passada a fase em que era preciso transformar em fontes pessoas que nunca tinham tido contato com jornalistas (como é o caso de Pernambuco), a função da imprensa é, hoje, ampliar espaços destinados à difusão da ciência.
      Igual ao pesquisador, o leitor é movido pela curiosidade e sente-se atraído por temas nesta área. Uma pesquisa de opinião nacional, feita por uma organização de pesquisa científica e industrial da Austrália, e divulgada pela BBC News On Line em agosto, mostrou que os australianos se interessam mais por ler ciência do que esporte nos jornais. Oitenta por cento preferem ciência, 67%, esportes e 63%, política. Eles querem saber mais sobre como a ciência e tecnologia vai afetar seu cotidiano no próximo século e estão insatisfeitos com o que a mídia australiana vem lhes oferecendo. No Brasil, pesquisas já obtiveram resultados parecidos. Mas falta, ainda, a mídia dar a estes dados a sua devida importância e tornar os assuntos científicos e tecnológicos parte integrante do dia-a-dia das pessoas. Com a vantagem de que falar sobre ciência é, geralmente, dar boas notícias.

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OBS: Comunicação apresentada ao I Fórum de Jornalismo e Ciência de Pernambuco, em 31 de agosto de 1.999.

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*Fabiane Gonçalves Cavalcanti é jornalista, subeditora de Ciência/Meio Ambiente do Jornal do Commercio, Recife/PE, mestre em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco.

 
 
 
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