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Ciência e Sociedade |
:: Os caminhos da educação
nas teias da ciência
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Eliana de Souza Lima* Cada dia torna-se mais clara a não-neutralidade da teoria e da ciência, o que parece legitimar que se exija dos cientistas uma tomada de posição ideológica e um compromisso político. Num continente onde o subdesenvolvimento associado à dominação/dependência, coloca exigências tão profundas de transformação dos sistemas atuais, a alternativa política da teoria e da ciência deveria ser a de contribuírem para a libertação social, econômica, cultural, política e tecnológica de nossas sociedades e, particularmente, de seus setores mais oprimidos e marginalizados." Juan E. Diaz Bordenave. Introdução Não precisamos reafirmar que a ciência em muito colabora com a educação, já que tenta explicar os fenômenos da natureza, as leis da física e da matemática, a biologia, incluindo o comportamento do ser humano e tantas outras ciências, que precisaríamos de pelo menos várias folhas para enumerar todas. O Governo Federal, há anos, tem anunciado que não lhe compete fabricar aço, cuidar das florestas tropicais e da nossa rica biodiversidade, explorar minas de materiais estratégicos raros como o nióbio, e outros serviços relativos às nossas riquezas e ao nosso patrimônio. Deve dedicar-se antes a atividades como a educação e a saúde. Entretanto, o corte de dotações para as universidades federais, a diminuição do número de bolsas de formação e de aperfeiçoamento no setor científico, o terrorismo propagado pelas autoridades federais, propondo uma redução de 30% nos vencimentos dos professores e pesquisadores ao se aposentarem, segundo o projeto em estudo no Congresso, constituem ameaças ao florescimento das universidades públicas, ao futuro da ciência no Brasil e até à sua sobrevivência. Mas antes de discutirmos em que a ciência pode ajudar na educação da sociedade, devemos refletir sobre o modo de educação que temos atualmente. A estrutura da escola moderna exige – por conveniência, comodidade, acomodação ou por falta de melhor saída organizacional – a fixação de determinados padrões comportamentais que obrigam educadores e educandos. Entre estes padrões está a setorização do ensino (a redução da atividade educativa ao ensino formal, sob responsabilidade de um setor da sociedade especializado por sua administração) e o isolamento dos conteúdos programáticos em disciplinas estanques, reforçando a formação de mosaicos culturais para o que se exige a concorrência da memória como faculdade privilegiada. Com a setorização do ensino e o isolamento dos conteúdos obtém-se o que alguns denominam "cultura administrada", isto é, a distribuição de saber aos grupos humanos de acordo com o papel que lhes é destinado pela sociedade. A multidisciplinaridade tem o potencial de produzir um tipo de currículo de ciência integrada, ou pelo menos uma equilibrada e coerente educação científica e que pode ser descrita pelo aprender ciência, aprender sobre ciência e fazer ciência. É possível a integração via tarefas ou através de questões relacionadas à temas como alimentação e agricultura; recursos energéticos; solo, água e recursos minerais; indústria e tecnologia; responsabilidade ética e social e meio ambiente. Segundo alguns autores, a educação pela capacidade científica é inexoravelmente associada com a capacidade política e com a ideologia da educação como reconstrução social, e que estas orientações fornecem meios poderosos de integração e unificação de educação científica. Outro padrão comportamental implantado é o da competição como atitude natural, saudável e necessária à criança e ao jovem no mundo moderno. Uma competição presente nos estímulos aos estudos, ao comportamento, ao consumo. Competição reforçada pela estrutura dos programas televisivos destinados às crianças. O espírito da concorrência estratifica a consciência, reafirmando atitudes mentais altamente conservadoras, enquanto simula despertar a criatividade: a criatividade para descobrir novos mecanismos para manter em elevado nível e modernizada a rigidez dos valores necessários à estabilidade da concepção tecnificada da sociedade. Um terceiro padrão é a manutenção do mito da aprendizagem pelo poder persuasivo da palavra. A escola foi feita para ensinar. Aos alunos cabe aprender. O código utilizado preferencialmente é o do discurso verbal. O tempo gasto pelo aluno na escola o torna prisioneiro da carteira, e sua principal atitude é a de ouvinte e copiador atento. A falácia do mito da aprendizagem exclusivamente pelo poder persuasivo da palavra está, contudo, no fato de não ser ele adotado para a transmissão do modelo estático e tradicional de sociedade, para o que os colégios fazem questão de adotar uma ação pedagógica não-verbalista, mas participativa, isto é, os alunos aprendem vivendo. Há escolas que adaptam seus discursos e modernizam seus métodos. Em muitas regiões do país, há um esforço para mudar os currículos e adequá-los às exigências de uma educação para ação. Há professores dispostos às mudanças. Os mestres, contudo, dificilmente têm condições materiais e mentais, já que foram educados no mesmo método exposto acima, para se darem a muita reflexão: cumprem as tarefas para os quais foram contratados e pelas quais recebem míseros salários. Os alunos esforçam-se para merecer o elogio da escola e os aplausos dos pais. Uma parte desta evidência é ressaltada diariamente no Show do Milhão, comandado pelo apresentador Sílvio Santos do SBT. Diz em Veja de 05 de abril de 2000 que "o saldo triste do programa está mesmo no campo da educação. O programa comprovou que, no que se refere a conhecimentos gerais, o brasileiro é um verdadeiro fiasco, muito além dos piores pesadelos dos professores de 1º grau. O nível das questões de múltipla escolha é, na maioria das vezes, simplesmente ridículo. Ainda assim, muitas perguntas ficam sem resposta, apesar de a pessoa poder recorrer à ajuda de universitários presentes no palco. O mais assustador é que ela, para chegar até ali, passou por uma seleção prévia." Eduardo Lafon, diretor artístico do SBT diz: "O teste, com até quinze perguntas, é para saber se o candidato tem condição de aparecer no vídeo." Recentemente, uma candidata, professora de 2º grau, mal soube responder perguntas básicas, como quantos pólos possui a Terra. Como ela dá aulas para seus alunos com tal nível de ignorância é uma questão a se esclarecer. Infelizmente, esta ignorância acerca de princípios básicos de ciências não se restringe somente ao 1º e 2º graus. Segundo John Ziman, mesmo os estudantes de ciências são incrivelmente ignorantes acerca de disciplinas que não as suas próprias. Os estudantes de física podem chegar à pós-graduação sem terem a menor noção da função desempenhada pelo DNA na reprodução, e sem dúvida os estudantes de zoologia são igualmente incipientes quanto à natureza das ondas de rádio ou à teoria das valências químicas. Em um nível mais elevado, uma confusão freqüente é tomar os conceitos ciência e tecnologia como sinônimos. A ciência trabalha para fundamentar teorias e produzir um bem em si mesmo: conhecimento. A tecnologia produzida com os fundamentos científicos é que pode ser uma dádiva ou uma maldição: "A aplicação do conhecimento científico para produzir bens e produtos é uma decisão política, não do cientista. Como a construção da bomba atômica", argumenta José Leite Lopes, professor emérito do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e da UFRJ. Uma crítica à universidade Moacir Gadotti formula com entusiasmo uma crítica à trilha da universidade, capaz de retirá-la de seu próprio atoleiro, adquirindo consciência de seu passado, à época de sua criação e buscando redimir-se das omissões e desvios cometidos. Diz ele:
"A relação universidade-sociedade é dialética: a universidade cria cultura para uma sociedade, mas ela é também fruto, reflexo de certas condições culturais que permitem o seu surgimento. Essa relação é particularmente evidente nos países de tradição autoritária como o nosso. O autoritarismo cria o dogmatismo, o conformismo, a inércia cultural, o obscurantismo. A universidade responde também no mesmo tom: inércia cultural, autoritarismo, dogmatismo e perde sua função básica, isto é, seu papel crítico. Por outro lado, ao acender-se a crítica na universidade, ela terá evidentes reflexos na sociedade. Essa é uma esperança para a universidade. Se uma esperança existe para que a universidade transite do velho para o novo, a estratégia deve ser esta: acolher os anseios da população, os interesses da população excluída dos benefícios da industrialização e da tecnologia, do trabalho, do capital acumulado. A universidade precisa pensar constantemente nessa direção. É assim que ela se educa. Estudantes, professores, ultrapassando os muros para aprender junto à população, não por curiosidade intelectual, mas porque aprendem ensinando."
Assim, abrindo-se à sociedade, interagindo com os seus núcleos vitais, a universidade poderá munir-se de referências, estímulos e apoios que lhe permitirão cumprir integralmente suas três finalidades básicas: ensino – pesquisa – serviço à comunidade. O isolamento em que tem permanecido dentro do organismo social provocou descaminhos e distorções. O ensino deixou de concentrar-se na aprendizagem e converteu-se em ato retórico, narrador, unidirecional. A pesquisa desviou-se de sua tarefa de produzir conhecimento novo e ampliar a fronteira do saber, disseminando-a na sociedade, através das novas gerações de profissionais/pesquisadores, e atrofiou-se em atividades dispersas, fragmentadas, que atendem aos anseios particulares/grupais dos cientistas, mas nem sempre correspondem às expectativas da coletividade. O serviço à comunidade pauta-se pelo caráter extensivo (o que pressupõe uma relação autoritária) e circunscreve-se aos bolsões privilegiados, afastando-se da missão de servir às maiorias, por meio da democratização do conhecimento estocado/produzido e da identificação das questões socialmente relevantes, para incorporá-las criticamente ao ensino e transformá-las em objetos de pesquisa. O ensino e pesquisa são inseparáveis em uma boa universidade e seu trabalho é, em geral, acompanhado de aulas, seja de pós-graduação, seja de graduação. Para Leite Lopes, os cientistas, os professores universitários, habituados a lutar por suas reivindicações específicas - mais verbas, mais equipamentos, melhores salários - esqueceram-se dos milhões de brasileiros sem acesso à educação básica e à cesta básica. "Certamente, aos pesquisadores compete pesquisar. Mas estou convencido de que, na situação de guerra contra a falta de educação, os cientistas devem debruçar-se, por algumas horas no mês, sobre o problema e contribuir com aulas e conferências nos estabelecimentos de educação básica para o aperfeiçoamento do ensino nesse nível. Aos nossos cientistas compete igualmente a responsabilidade de escreverem livros de texto - pois só os pesquisadores podem transmitir o conhecimento com a sabedoria da investigação científica - afinal os bons livros alcançarão a mocidade no País inteiro", salienta. A comunicação pode ajudar a educação Pedro Goergen, ex-diretor da Faculdade de Educação da Unicamp, fala da "urgente necessidade de um aproveitamento mais sistemático dos conhecimentos e técnicas acumulados pela área de comunicação, por parte dos educadores". Mostra, também "a característica de anticomunicação que a estrutura universitária oferece, com reflexos profundos no próprio ato educativo, através do fracionamento do saber. E, abordando, as três finalidades básicas da universidade – ensino, pesquisa e extensão dos serviços -, demonstra o íntimo relacionamento entre comunicação e educação. Isto é, tanto o ensino quanto a pesquisa e a extensão de serviços têm um caráter eminentemente comunicativo: o ensino é comunicação, a pesquisa só se justifica se for comunicada; e a extensão é a comunicação mais ampla entre universidade e sociedade." Mais amplamente o que se pretende é a incorporação à cidadania de uma classe até hoje impedida de participar em termos de cidadania, no sentido de que também elas passem a ter voz, através de suas organizações diretas e representativas. Trata-se de incorporar à sociedade, o cidadão alijado dos mecanismos de decisão e controle, a fim de que as classes subalternas possam também participar dos bens produzidos pelo desenvolvimento, desde o direito à vida e à subsistência até os benefícios mais amplos da educação e da cultura. Se concordarmos com essa premissa, no sentido de que a conjuntura atual nos leva a pressentir a emergência de um renovado projeto educacional, no qual os dirigentes se nutram das necessidades e anseios dos dirigidos e estes se reconheçam nos dirigentes, consideramos também inadiável a exigência de um projeto cultural amplo, capaz de, por um lado, aglutinar iniciativas e experiências isoladas e, por outro lado, proporcionar a cada cidadão o acesso aos bens produzidos pela criatividade humana. Este é o grande desafio que compete ao Ministério da Educação e Cultura enfrentar e superar. A Internet como ferramenta educacional Ninguém em sã consciência deixa de reconhecer os notáveis avanços tecnológicos nas últimas décadas. As transições que demoraram séculos, hoje se manifestam a cada momento. Um médico, professor de Medicina Legal e neurocirurgião, dizia a um grupo de professores, no intervalo de uma aula, que há cinco anos havia feito um curso na Alemanha sobre uso de tecnologias em neurocirurgias. No ano passado, retornou para "aperfeiçoar" o que aprendera. Já estava tudo ultrapassado. Tudo era novo. E assim tem sido em todos os setores, desde a agricultura até as chamadas tecnologias de ponta. Na Educação, o que há de novo? Há um movimento para que o aluno adquira habilidade para aprender autonomamente. Isto implica também a possibilidade de uso de tecnologias. Em que medida isto pode estar disponível para todos ainda é uma incógnita, que poderá ser desvendada pelo uso da Internet, apesar de todo lixo que ela contém. Inúmeras escolas e universidades vêm utilizando cada vez mais a Internet, e já é possível colocar à disposição na rede cursos e aulas, com textos, exercícios e listas de discussão. A Internet possibilita, assim, que sistemas hipermídia transformem-se em ferramentas para a "aprendizagem cooperativa" de que falamos, através das quais informações, conhecimentos e materiais produzidos são compartilhados entre os autores aprendentes, estabelecendo-se entre eles um processo de interação, ou seja, a ação e reflexão que se dá pela participação efetiva de todos os elementos do processo de aprendizagem. Eduardo O. C. Chaves, professor da Unicamp e diretor-presidente da Mindware, se dedica ao estudo da tecnologia para fins didático-pedagógicos. Numa de suas palestras, intitulada "Sociedade, Conhecimento, Tecnologia e Educação", de 25/05/99, ele faz uma explanação a respeito, usando a própria tecnologia para divulgar suas idéias, através dos sites "edutecnet.com.br " e "mindware.com.br". Talvez, diz o professor, o desenvolvimento mais importante de nossa era tenha sido o surgimento de um novo meio de produção de riquezas, baseado não na posse da terra, nem na posse de bens de capital, nem no trabalho muscular, mas no trabalho mental. É a indústria do conhecimento, expandida hoje com o advento da Internet. "O conhecimento não tem fronteiras, foi sempre globalizado, não tendo, a princípio, propriedade de ninguém. Mas não podemos esquecer os direitos autorais, quando o conhecimento é fonte de riqueza. A alfândega não inspeciona quanto conhecimento entra e sai do país, apesar que é sempre importante a "produção" de conhecimento interno, quando se trata de mão de obra e pesquisa", diz. Para ilustrar a idéia, Eduardo Chaves mostra um quadro comparativo da mão de obra norte americana, onde se vê uma mudança radical do setor da economia em que predomina a força de trabalho: em 1880 a agricultura tomava 40% da mão de obra, a indústria 38%, os serviços 16% e a informação apenas 6. Hoje a realidade é totalmente diversa: a economia primária ocupa apenas 2% da mão de obra e a informação 50%. E a previsão para o ano 2015 é de uma diferença ainda maior, com a queda para 0,2% na agricultura e 0,3 na indústria, ficando 95% para os serviços e a informação. Os novos empregos exigirão, cada vez mais, pessoas científica e tecnicamente alfabetizadas, facilmente treináveis e adaptáveis a novas tarefas. Mas não podemos nos ater somente à tecnologia e esquecer o ser humano. O ex-presidente da SBPC, Aziz Ab’Saber (1994) observa que a ciência é inocente, até certos níveis. Mas afirma: quando se transforma em propostas, precisa passar pelas tecnologias. No caso brasileiro, pela complexidade de nossa composição, é um conjunto de tecnologias passadas e presentes que devem agir num determinado momento, numa determinada direção. E se nós não conhecemos a sociedade, não há como aplicar a tecnologia. E nesse sentido, as ciências humanas são indispensáveis no processo de esclarecimento. E acrescenta: o conhecimento da estrutura da sociedade, das suas desigualdades, das suas expectativas, é essencial. De um lado, nós temos a consciência tecno-científica; de outro uma sociedade extremamente complexa. Uma de base poderosíssima, outra, pequena, pobre, miserável. Mas é preciso mais do que a própria tecnologia para gerar uma sociedade de direito: um computador sozinho não tem iniciativa. Mesmo que não se consiga uma política para satisfazer a todos, porque somos diferentes, devemos procurar uma política que procure servir à maioria, dando oportunidade para todos. Não somente nos altos escalões do poder, mas em todo setor da sociedade, como nas escolas, por exemplo, principalmente nas universidades. Para Leite Lopes em seu artigo Ciência, Educação e Pátria, deve-se, portanto, convocar os cientistas para que colaborem no aperfeiçoamento do ensino básico. Não bastam as autoridades nem os técnicos tradicionais dos órgãos de educação. Computadores, televisores, educação à distância não dispensam a presença do homem ou da mulher, dos professores de ensino básico‚ devidamente treinados, reciclados, remunerados. Assim, podemos concluir que apesar de todo o seu potencial a Internet tem sido pouco utilizada como ferramenta educacional. A formação do jornalista científico Com as sucessivas vitórias do homem sobre o tempo e o espaço, cada vez mais se reclama a presença e a ação do jornalista no centro do diálogo , como informante e intérprete, entre poder e povo, dirigente e dirigidos, produtores e consumidores, cientistas e leigos. É fora de dúvida que foi a formação universitária do jornalista que possibilitou a reunião em congressos, simpósios, jornadas ou ciclos de estudo de diversas especializações que se foram impondo à polivalência inicial do exercício profissional. Não se discute mais a freqüência à Universidade como pré-requisito para o desempenho satisfatório das atividades do comunicador: procura-se, isto sim, indagar como a escola pode fornecer ao candidato ao jornalismo elementos de maior valia para exercitá-lo em determinadas áreas, notadamente naquelas que surgem como de maior complexidade, exigindo conhecimentos mais aprofundados e sistemáticos, como seria o caso da ciência. A má formação de professores e o problema, sempre recorrente, da falta de dinheiro têm transformado a pesquisa brasileira em hobby, declarou Roberto Leal Lobo Filho, ex-reitor da USP. Para ele, pensar em resultados científicos relevantes sem considerar educação básica e ensino superior é impossível: "Não dá para ter força na área de ciência sem um ensino básico de qualidade." O resultado desse hobby é uma produção científica que não cresce, não estimula o ensino de ciências e não traz resultados sociais relevantes. Lobo Filho diz que um dos caminhos para resolver essa situação é a atuação do jornalismo, participando no debate sobre o desenvolvimento científico e auxiliando a resgatar a pesquisa como fonte produtora de desenvolvimento. O jornalismo científico não deve ser entendido como aquele noticiário comum dos jornais, revistas, rádios e estações de TV que, embora centralizados, às vezes, em questões comuns e corriqueiras, não revela o cuidado necessário no trato dos detalhes que se prendem a questões científicas, e como resultado disto, transmite ao público noções falsas e equivocadas, muitas vezes em prejuízo da saúde, do bem-estar e da própria segurança do cidadão em particular e da comunidade em geral. Para a má informação científica que se constata a cada passo nos veículos de comunicação contribuem vários fatores, entre os quais julgamos que se devem destacar os seguintes, como os mais freqüentes e de maior impacto:
1) Má formação humanística e falta de cultura geral dos formados em cursos de comunicação social; 2) Informação incorreta das fontes; 3) Auto-censura da informação científica; 4) Falta de preocupação pela informação científica.
Da constatação de todas estas deficiências da informação científica encontradas na imprensa, no rádio, na televisão e na Internet, conclui-se que é necessário e urgente dar novo tratamento a tudo o que se refere a conceitos científicos em qualquer órgão de divulgação, principalmente, para que a informação científica como qualquer outra informação, tenha o objetivo não só de informar, como de colaborar com a melhoria da qualidade de vida da sociedade. Este é um trabalho que não depende exclusivamente do jornalista, mas também de suas fontes de informação, e principalmente, dos que geram a informação científica. Notamos que a formação de jornalistas para o mercado de trabalho hoje impõe uma especialização cada vez maior de conhecimentos. Pode-se argumentar que há jornalistas que conseguem comunicar o que os especialistas sabem, mesmo sem nada entender do campo em questão, pois o negócio do jornalista é a comunicação. Mas esses profissionais permanecem na total dependência da orientação de pessoas nem sempre desejosas de contar o que está acontecendo. Muitos erros e deturpações apresentados pelas fontes seriam corrigidos ou mostrados criticamente se jornalistas tivessem especialização nos setores que cobrem. Aliada às melhores concepções éticas e políticas, a especialização é uma garantia de um jornalismo a serviço da população, e disso temos inúmeros exemplos em nossa imprensa. Uma alta qualificação, que o coloque em reais condições de apurar as informações e avaliar criticamente declarações de suas fontes, é um dos requisitos para aumentar o grau de liberdade e de influência do trabalho do jornalista. Concluímos que a formação dos jornalistas para o mercado é um trabalho que cabe à universidade. Cabe às escolas de comunicação e de jornalismo parcela significativa no processo de educar jornalistas, mas é preciso reconhecer suas limitações operacionais. Distribuir aos alunos iniciantes nos cursos de jornalismo a ilusão de que a simples freqüências às aulas os transformará em jornalistas do mais alto nível pedido pelo mercado é um ato que só contribui para alimentar insatisfações futuras. As escolas de comunicação e de jornalismo só poderão cumprir condignamente sua tarefa quando estiverem materialmente equipadas – com todos os órgãos laboratoriais funcionando sem solução de continuidade – e pedagogicamente organizadas a partir de uma concepção de jornalismo visto enquanto atividade partidária em uma sociedade de classes, o que exige dos seus trabalhadores uma sólida formação ética, técnica e política. Acreditamos que a ciência aliada à educação pode contribuir com este pressuposto. Bibliografia consultada ANAIS do 4º Congresso Ibero-Americano de Jornalismo
Científico, 1º Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico. São Paulo,
1982. 583 p.
BORDENAVE, J. E. D. Além dos meios e mensagens. Introdução à
comunicação como processo, tecnologia, sistema e ciência. Petrópolis, Editora
Vozes, 1986. 110 p.
CIÊNCIA E LIBERDADE: escritos sobre ciência e educação no Brasil.
Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1998. 284p.
GADOTTI, M. Educação e Poder Introdução à pedagogia do
conflito. São Paulo, Cortez Editora, 1980, pp. 120-122.
KUNSCH, M. M. K., org. Comunicação e Educação. Caminhos
Cruzados. São Paulo, Edições Loyola, 1986. 501 p.
ZIMAN, J. A força do conhecimento. Belo Horizonte/São Paulo,
Editora Itatiaia/Edusp, 1981, p. 133.
-------------------------------------------------------------------------------- *Eliana de Souza Lima é Jornalista, especialista em Jornalismo Científico pela Unicamp, mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo – Umesp. |
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