Jornalismo Científico: teoria e prática


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De olho na Ciência: a interação leitor/pesquisador através do jornal

Fabiane Gonçalves Cavalcanti*

Introdução

      É inegável a importância da divulgação da ciência para o público não-especializado através dos meios de comunicação de massa. A mídia é hoje a mais importante fonte de informação sobre ciência e tecnologia para a população, segundo informe da NASW (1996). Daí a necessidade da cooperação e integração cada vez maior entre cientistas e jornalistas para a divulgação acurada da ciência. Do lado dos pesquisadores há inúmeras razões para divulgar seus trabalhos. Conforme a NASW, cientistas têm a obrigação ética de prestar contas à sociedade dos recursos públicos utilizados para financiar suas pesquisas; a publicidade ajuda a circular a informação entre os pesquisadores de outras áreas, incentivando a interdisciplinaridade; a divulgação atrai mais recursos públicos e privados, além de possibilitar a atração de jovens para as carreiras científicas. Do lado da mídia, a divulgação científica encontra suas justificativas no crescente interesse do público por estes assuntos, impulsionado pelo avanço tecnológico desencadeado a partir da chegada do homem à Lua, há 30 anos. Porém, mais especificamente a partir da década de 80 foi que observou-se uma explosão do jornalismo científico em todo o mundo, de acordo com Burkett (1990).
      Se a década de 80 marcou a conquista do espaço da ciência nos jornais, a década de 90 selou a interatividade com o público. Jornais, revistas, rádios e televisões abriram seus "olhos" e "ouvidos" para leitores e espectadores, na guerra pela venda e audiência. A disseminação da Internet, cuja palavra de ordem é interação, contribuiu para o crescimento desta tendência. O leitor teve seu espaço ampliado nos jornais brasileiros. O primeiro cargo oficial de ombudsman, ou ouvidor, foi instituído pelo jornal Folha de S.Paulo, em 1989 (cf. Maciel,1998). Foram criadas colunas para tirar dúvidas dos leitores nas áreas de saúde, economia, direito e cidadania. Através dos seus sites na web, emissoras de televisão buscam personagens para suas reportagens. Por meio de correio eletrônico e telefone, a mídia incita seu público a opinar sobre assuntos publicados e sugerir temas de novas matérias.
      Foi neste contexto que, no final de 1995, foi criada, no Jornal do Commercio, do Recife-PE, a seção De Olho na Ciência, na qual pesquisadores e professores de instituições de Pernambuco e de outros estados respondem a perguntas sobre curiosidades científicas enviadas à Redação do Jornal do Commercio pelos leitores. A necessidade de promover uma maior aproximação com o público e a busca de uma nova abordagem da divulgação científica num jornal que já mantinha há seis anos uma Editoria de Ciência/Meio Ambiente diária motivaram, na época, a elaboração do projeto.
      Nosso objetivo, no trabalho ora apresentado, é realizar uma análise descritiva dos três anos da seção De Olho na Ciência, que é publicada aos domingos. Traçaremos um perfil dos leitores participantes e das suas áreas de interesse. Para isso, analisaremos as perguntas publicadas nos 156 domingos dos anos de 1996, 1997 e 1998. Mesmo sendo a quantidade de perguntas publicadas bem menor do que a de recebidas, consideramos esta amostra significativa, tendo em vista que a seleção obedece apenas ao critério de ser a questão interessante e inédita, e a publicação da mesma depende sobretudo do fato de se obter fontes para respondê-la, como veremos posteriormente. Estes critérios, a nosso ver, não são suficientes para interferir no perfil do público participante e na descrição de suas curiosidades.

      Histórico e descrição do objeto de estudo

      O projeto do De Olho na Ciência foi inspirado em seções de perguntas e respostas existentes na editoria de Ciência no jornal Folha de S.Paulo e nas revistas de divulgação científica Galileu, Ciência Hoje e Superinteressante. Antes de preparar o projeto, foi realizada uma consulta a dez pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. Numa correspondência via fax, solicitávamos que opinassem sobre a criação da seção e comentassem a sua disposição em colaborar respondendo aos questionamentos dos leitores. Com as respostas positivas em mãos, elaboramos o projeto que foi aprovado pela Direção de Redação. Um mês antes do início previsto da publicação (o primeiro domingo de 1996), começamos a divulgar matérias incentivando a que os leitores enviassem perguntas à Redação. A resposta foi imediata, com o recebimento de várias cartas, apontando para o interesse do público.
      O primeiro De Olho na Ciência foi publicado no dia 7 de janeiro de 1996, com a pergunta "O que é buraco negro?", feita pelo guarda municipal Rildo Nóbrega Júnior, 24 anos, residente no Recife, e respondida pelo professor Guilherme Pereira, do Colégio São Luís e do Núcleo de Astronomia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O formato do De Olho na Ciência é o de um quadro ilustrado com o contorno tracejado, indicando que é para ser recortado e colecionado (veja no item 6). O tamanho varia de acordo com o espaço editorial destinado a Ciência/Meio Ambiente. Contém sempre: a logomarca do De Olho na Ciência; o tema da pergunta; o nome de quem perguntou; o nome e identificação (cargo e instituição) de quem respondeu; além de um pequeno quadro com as instruções para o envio de perguntas. Como forma de marcar ainda mais a interatividade leitor/pesquisador, adotamos o seguinte formato:

- Fulano de tal, tantos anos, profissão tal, residente em ..., pergunta
- Por que ......?
- Fulano de tal, da instituição tal, responde:
- Resposta

      No início, as perguntas podiam ser enviadas via correio e fax. Posteriormente foi adicionado o e-mail e, depois, o serviço telefônico, através do JC Atende, setor criado pelo Jornal do Commercio para atender a sugestões de pauta, denúncias e reclamações ligadas a questões urbanísticas e de cidadania dos leitores. A carta tradicional ainda é o meio mais utilizado, seguida, hoje, pelo JC Atende.
      No primeiro ano, a média de perguntas recebidas por semana variou de oito a dez, o que dá uma média de 40 para quatro questões respondidas por mês. Ou seja, 10% do que chega à Redação é publicado. Com o passar dos anos, o número de perguntas recebidas caiu para uma média de 3 a 5 por semana, o que já era esperado tendo em vista a estabilização do trabalho e a observação, por parte dos leitores, da proporção reduzida de respostas publicadas. A quantidade de perguntas recebidas no primeiro ano, no entanto, foi um indicativo da repercussão da seção junto ao público leitor do Jornal do Commercio.
      A produção e edição do De Olho na Ciência segue as seguintes etapas:

  1. As perguntas chegam à Redação do JC via carta, e-mail, fax ou telefone;
  2. As perguntas passam por um processo de seleção. São escolhidas as mais interessantes, inéditas e que contenham os dados corretos do leitor (nome completo, idade, profissão e endereço). São descartadas também questões sobre problemas pessoais, excessivamente técnicas ou específicas, e ainda as que não estejam de acordo com o perfil da seção;
  3. É feito contato com pesquisadores ou assessores de comunicação para se descobrir a fonte indicada para responder à pergunta;
  4. Identificada a fonte, checamos, geralmente por telefone, se ela aceita responder à pergunta. Em caso positivo, é encaminhado via fax ou e-mail um texto onde consta a pergunta, os dados do leitor, as instruções para a elaboração da resposta e o prazo para sua devolução;
  5. Devolvida a resposta à Redação, verificamos se o texto está em linguagem adequada e se há dúvidas em relação ao conteúdo. Em caso positivo, entramos novamente em contato com o pesquisador para que ele refaça o texto ou simplifique alguns trechos;
  6. Encaminhamos o texto final revisado à Editoria de Arte, com seu tamanho já delimitado, para que seja dado tratamento gráfico. São utilizadas ilustrações elaboradas no próprio setor ou encaminhadas pelos pesquisadores, e/ou fotos.
  7. Pronta a arte final, o texto é revisado pela última vez antes da publicação.
  8. O texto final também é passado à Editoria de Informática para ser incluído no JC OnLine (versão eletrônica do Jornal do Commercio).

      Muitas perguntas esbarram no item c), quando não se consegue localizar fontes ideais para respondê-las. Para selecionar as fontes, contamos com o apoio de assessores de imprensa e de pesquisadores que viraram espécies de consultores informais do De Olho na Ciência, indicando, sempre que possível, especialistas para responder às questões. O risco do encaminhamento via assessoria é que o mesmo pesquisador venha a responder várias perguntas, o que atrapalha o fluxo de publicação, visto que tentamos evitar a repetição de fontes ao longo do ano. O risco do contato via pesquisador é que algumas vezes os próprios consultores querem responder às perguntas, o que acaba redundando no mesmo problema da repetição de fontes.
      Dos itens a) a e), tudo é feito com antecedência de pelo menos um mês, pois contamos com o atraso na devolução das respostas – há pesquisadores que levaram seis meses para devolver e outros que nunca deram retorno, apesar da cobrança – e com a possibilidade de os textos terem de ser reescritos. Já os itens f), g) e h) são realizados a cada semana, no dia em que as páginas são editadas.
      Alguns leitores encaminham perguntas com o objetivo de realizar trabalhos escolares, dando inclusive prazo para a publicação da resposta; outros querem receber o texto em casa; enquanto que alguns pedem orientação para solucionar problemas de saúde, domésticos, com seus animais ou sua plantação. Sempre que existe telefone de contato, informamos a estas pessoas que suas dúvidas fogem ao alcance e aos objetivos da seção.
      Entre os problemas enfrentados junto aos pesquisadores, verificamos: dificuldade em localizar fontes; falta de interesse em responder às perguntas; demora na devolução do texto da resposta; desobediência aos limites do tamanho do texto; reticência em escrever de maneira simples. Este último problema é registrado sobretudo com profissionais da área de saúde. É muito comum a utilização de termos por demais técnicos sem as devidas explicações. Muitas vezes, ao serem consultadas, as fontes se negam a simplificar os termos, concordando, no máximo, em explicá-los. Observamos que algumas fontes têm receio da crítica dos seus pares, por escreverem com linguagem mais simples. Um argumento para tentar convencê-las é o de que não estão escrevendo para uma revista científica. A diferença de linguagem é um dos principais problemas na relação jornalista/cientista, conforme mostra Cavalcanti (1995). Lembra Gomes (1995) que o jornalista especializado em ciência (o divulgador científico) exerce o papel de mediador do conhecimento científico para o público não-especializado, sendo teoricamente capaz de "traduzir" o discurso do cientista para os cidadãos comuns. Quando os pesquisadores são incitados a escrever diretamente para o público esforçam-se para exercer este papel atribuído ao jornalista, mas nem sempre conseguem. Enquanto alguns se colocam à disposição para, em conjunto com o jornalista, chegar a um texto que possa ser de fácil compreensão para o público, formado predominantemente por jovens estudantes, outros são reticentes em alterar o que escreveram. Lembra Duarte (1998:25) que o cientista deve evitar a erudição no artigo escrito para jornal. Deve evitar também citações bibliográficas, nomes ou termos científicos.
         "Prefira palavras de uso comum. Entre duas palavras, escolha a mais comum. Entre duas comuns, use a menor. Veículos de comunicação de massa não são ideais para apresentar teorias e descrições complexas. (...) Os artigos deverão ter a mesma facilidade de compreensão de qualquer outra notícia do jornal. Simplificar é o ideal."
      A preocupação com a utilização de uma linguagem simples e direta é constante, sobretudo pelo fato de que o De Olho na Ciência passou a ser utilizado em sala de aula. Pesquisa feita por Nascimento (1998), com professores de português, história, biologia e geografia das redes pública e particular do Grande Recife, revelou que há várias formas de uso do De Olho na Ciência nos colégios: confecção de cartazes para mural, interpretação de textos como forma de avaliação complementar dos alunos, e leitura e debates nas aulas de português e ciências. A utilização da seção nas escolas proporciona uma retroalimentação na participação do público juvenil estudantil. Uma amostra é o fato de termos recebido no mês de agosto de 1998 um total de 30 perguntas somente de alunos de 5 a 10 anos da Escola Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, Olinda, Região Metropolitana do Recife.
      As revistas mensais Ciência Hoje (CH), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e Galileu, da Editora Globo, mantêm seções de perguntas e respostas que, como já dissemos, inspiraram a criação do De Olho na Ciência. A Folha de S.Paulo, que também mantinha um espaço desta natureza, deixou de publicar a coluna Sem Mistério há mais ou menos dois anos. As seções das revistas CH e Galileu são intituladas O Leitor Pergunta e Sem Dúvida, respectivamente. Mediante consulta via e-mail aos responsáveis por essas seções, verificamos que o processo de produção e edição nas revistas e no Jornal do Commercio é bastante parecido. Todas são bastante ilustradas e utilizam o texto escrito pelo próprio pesquisador, mas o material sofre edição quando necessário.
      Na CH, a editora Alícia Ivanhisevich informa que o texto final é sempre submetido ao pesquisador. "Selecionamos as cartas mais pelo interesse que, acreditamos, possam despertar no nosso leitor", explica Alícia. Consultas muito específicas não são publicadas, mas a equipe de CH procura atender e responder às perguntas assim mesmo. "Os contatos com os pesquisadores são feitos por e-mail ou pelo telefone. Geralmente as respostas são dadas por escrito e chegam via fax ou e-mail", diz a editora. Em CH, a seção O Leitor Pergunta ocupa duas páginas, onde são publicadas quatro perguntas em média. Os textos variam no tamanho. É publicado o nome de quem perguntou, a cidade e o estado onde mora. Quando a questão é enviada via e-mail isto é registrado. Ao final do texto da resposta vem o nome da fonte e a instituição a que pertence.
      Na Galileu, o editor-assistente Dante Grecco, responsável pela seção Sem Dúvida, informa que, na seleção inicial, são descartadas perguntas ocas, sobre temas a respeito dos quais a revista já publicou matéria ou assuntos gastos, cujas respostas podem ser encontradas em uma boa enciclopédia. As escolhidas são arquivadas e, todo mês, as mais interessantes dentro de cada assunto são selecionadas. São encaminhadas de 15 a 20 perguntas sobre temas variados aos especialistas mensalmente. "Tenho arquivado cerca de 200 fontes de quase todas as áreas de interesse científico que já colaboraram, pelo menos uma vez, com a seção. Se, mesmo assim, não encontro, entre as fontes conhecidas, uma pessoa que possa responder, saio buscando uma nova alternativa", afirma. O pesquisador tem duas a três semanas para responder à pergunta e é cobrado caso não cumpra o prazo. "Não desisto e repito esse procedimento até obter a resposta pronta. Um leitor que envia uma dúvida para a revista quer ver a resposta publicada na Galileu". De acordo com Grecco, algumas fontes que colaboram com certa freqüência já sabem como deve ser o texto da resposta: didático (mas sem ser raso), leve, objetivo, direto e sem floreios técnicos demais. "Outras ainda não dominam o texto jornalístico", salienta. Nesse caso, quando é preciso modificar muito a estrutura do texto ou fazer alguma pesquisa complementar, o texto é devolvido à fonte via e-mail, em geral, para que ela faça sua avaliação antes da publicação. Mas, quando as mudanças são pequenas (de palavras ou construção gramatical), não é necessário devolver a resposta. "Ou você confia no seu trabalho ou não dá para trabalhar em uma revista de divulgação científica. O jornalista tem que dominar a fluência do texto e saber colocar as informações na ordem correta, tornando o texto suave e gostoso para o leitor. Mas ele não deve `inventar’ nada. Quem tem as informações que vão esclarecer a dúvida do leitor são as fontes", ressalta. Dante Grecco afirma que esse procedimento tem dado excelentes resultados. "Edito a seção Sem Dúvida há cinco anos e, nesse período, tive pouquíssimos problemas com os colaboradores. E, sempre que preciso, posso contar com qualquer um deles", completa. Sem Dúvida ocupa quatro páginas, onde são publicadas oito perguntas, em média. Em cada questão consta o tema da pergunta, o nome do leitor, a cidade e o estado onde mora, além da fonte, que pode ser o pesquisador e/ou instituição.
      A tabela abaixo correlaciona as três seções, em relação ao número de perguntas recebidas e publicadas e ao meio mais usado pelo leitor para fazer as consultas:

  O Leitor Pergunta (CH) Sem Dúvida (Galileu) De Olho na Ciência
Perguntas recebidas/mês 15 100 12 a 20
Perguntas publicadas/mês 4 8 4 (uma por domingo)
Meio mais usado E-mail Carta e e-mail Carta e telefone

Análise dos dados

      Analisamos os seguintes aspectos nas 156 edições da seção De Olho na Ciência nos anos de 1996, 1997 e 1998: área de interesse da pergunta; sexo, idade, profissão e procedência do leitor; e instituição à qual pertence a fonte.
      Quase um terço das perguntas publicadas nestes três anos referem-se à biologia animal, perfazendo 28,8% do total. Em cada ano, separadamente, este assunto também foi predominante, como mostra a tabela 1, abaixo. A maioria dos questionamentos dentro desta área do conhecimento diz respeito à reprodução e ao comportamento dos animais, seguidos de sua importância ecológica. Depois de biologia animal, os assuntos de maior interesse são saúde (10,8%), física (9,6%), geologia (7,6%), astronomia (7%)e botânica (7%).

       Tabela 1

Área

1996 1997 1998

Total

Astronomia/Astrofísica 4 6 1 11 (7%)
Biologia animal 13 12 20 45 (28,8%)
Química 3  4 7 (4,4%)
Geologia 7 5  12 (7,6%)
Física 8 4 3 15 (9,6%)
Meio Ambiente/Ecologia 3 2 2 7 (4,4%)
Energia nuclear 3   3 (1,9%)
Fisiologia humana 1 3 2 6 (3,8%)
Botânica 2 7 2 11 (7%)
Saúde 3 5 9 17 (10,8%)
Nutrição 1  2 3 (1,9%)
Clima/meteorologia 4 3 2 9 (5,7%)
Oceanografia  1  1 (0,6%)
Informática  1  1 (0,6%)
Genética  1 1 2 (1,2%)
História   3 3 (1,9%)
Diversa   2 1 3 (1,9%)

      Observamos que as áreas de interesse não diferem muito das registradas na seção Sem Dúvida, da revista Galileu, que são saúde/medicina, astronomia, animais, tecnologia, oceanografia e biologia, conforme informou o editor-assistente Dante Grecco. Na Ciência Hoje, segundo a editora Alícia Ivanhisevich, os assuntos das cartas são dos mais variados, não havendo preferência por uma determinada área.
      A nossa análise reproduz os resultados encontrados por Nascimento (1998:25) em relação às áreas de interesse do leitor. Analisando 144 correspondências recebidas em 1996, 1997 e 1998 pela seção De Olho na Ciência, coletadas aleatoriamente, a autora constatou que a maior parte dizia respeito à fauna, meio ambiente e educação ambiental. Em 1996, 33% das perguntas eram relativas a esses temas, objetos do estudo da autora. Em 1997, a proporção foi de 32% e, em 1998, 42%. "O percentual total dos assuntos referentes a este trabalho (meio ambiente/educação ambiental e fauna) foi de 37%, equivalendo a 54 correspondências. Destacou-se também uma grande preocupação com assuntos relativos a programas de saúde, tendo sido separado um total de 41 correspondências".
      Em nossa análise, observamos que a quantidade de leitores do sexo masculino e feminino é equilibrada, sendo ligeiramente maior a participação de homens (51,8%).

      Tabela 2

Sexo

1996 1997 1998

Total

Masculino 27 29 24 80 (51,2%)
Feminino 25 23 28 76 (48,8%)

      Em relação à faixa etária, verificamos que mais da metade situa-se entre os 11 e 20 anos (51,9%), 14,7% estão entre 21 e 30 anos, e 14,1% de 5 a 10 anos. A maioria absoluta (71%) é constituída por estudantes. Em segundo lugar, vêm os professores/pedagogos, com 5,7%. Ainda em relação aos leitores, vimos que a maioria reside na Região Metropolitana do Recife (86,7%), sendo que mais da metade na capital. Este resultado era esperado, tendo em vista que é no Grande Recife que localiza-se a maior parte das vendas do Jornal do Commercio. A participação de leitores do interior do estado é equilibrada nas três regiões (Zona da Mata, Agreste e Sertão). Os dados Estes dados são mostrados nas tabelas 3, 4 e 5 , nas páginas a seguir.

       Tabela 3

Idade

1996 1997 1998

Total

5-10 anos 8 8 6 22 (14,1%)
11-20 21 32 28 81 (51,9%)
21-30 12 4 7 23 (14,7%)
31-40 7 3 4 14 (8,9%)
41-50 1 1 2 4 (2,5%)
51-60 1  4 5 (3,2%)
Acima de 61 1 2 1 4 (2,5%)
Não consta 1 2  3 (1,9%)

 Tabela 4

Ocupação/profissão

1996 1997 1998

Total

Estudante 30 42 39 111 (71,1%)
Professor/pedagogo 3 2 4 9 (5,7%)
Guarda municipal 2   2 (1,2%)
Aposentado 1 2 3 6 (3,8%)
Músico 2   2 (1,2%)
Vigilante 1   1 (0,6%)
Dona de casa 3   3 (1,9%)
Jornaleiro 1   1 (0,6%)
Instrutor informática 1   1 (0,6%)
Motorista 1   1 (0,6%)
Militar 1   1 (0,6%)
Operador gases especiais 1   1 (0,6%)
Auxiliar escritório 2  1 3 (1,9%)
Agente administrativo 1 1  2 (1,2%)
Contabilista 1 1  2 (1,2%)
Bancário 1   1 (0,6%)
Balconista  1  1 (0,6%)
Técnico eletrônica  1  1 (0,6%)
Técnico seg. do trabalho   1 1 (0,6%)
Secretária  1  1 (0,6%)
Funcionário público   1 1 (0,6%)
Administrador   1 1 (0,6%)
Fotógrafo   1 1 (0,6%)
Não consta  1 1 2 (1,2%)

Tabela 5

Residência

  1996 1997 1998

Total

Região Metropolitana Recife 29 26 16 71
do Recife Olinda 5 6 7 18
Jaboatão dos Guararapes 2 8 9 19
Igarassu 1 3 1 5
Paulista 3 2 2 7
Ipojuca 1    1
Camaragibe  3  3
Cabo de Santo Agostinho  1 4 5
Abreu e Lima    4 4
São Lourenço da Mata    1 1
        134 (86,7%)
Zona da Mata Ribeirão    1 1
Macaparana    1 1
Vitória de Santo Antão  1 1 2
Goiana    1 1
Timbaúba 1    1
Carpina 1    1
        7 (4,4%)
Agreste Pesqueira 1    1
Belo Jardim 1    1
Canhotinho    1 1
Caruaru    1 1
Santa Cruz de Capibaribe    1 1
Feira Nova  1  1
        6 (3,8%)
Sertão Petrolina 2    2
Sertânia 2    2
Cedro 1    1
Ouricuri 1    1
Lagoa Grande    1 1
        7 (4,4%)
Paraíba João Pessoa 1    1 (0,6%)
Não consta    1  1 (0,6%)

      Nossos resultados em relação ao perfil dos leitores também confirmam os dados encontrados por Nascimento (1998), ao analisar as cartas coletadas aleatoriamente: a maioria das correspondências foi enviada por leitores residentes na Região Metropolitana do Recife, sendo a maior proporção de estudantes de 1º e 2o graus, entre 10 e 20 anos.
      A maior parte dos pesquisadores que colaboraram neste três anos com o De Olho na Ciência pertence à UFPE, perfazendo um total de 62,1%, seguida da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), com 18,5% (veja a tabela 6, abaixo). Este resultado também era previsível em virtude de a maior parte da produção científica do estado estar concentrada na UFPE. Vale salientar a preciosa colaboração prestada pela assessoria de comunicação social da UFRPE, que contribui com o trabalho de identificação de fontes e encaminhamento de perguntas aos pesquisadores da instituição. Depois destas duas universidades, as instituições que mais contribuíram nestes três anos com o De Olho na Ciência são de fora de Pernambuco: o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), localizado em São José dos Campos, São Paulo, e o Observatório Nacional, que fica na cidade do Rio de Janeiro.

      Tabela 6

Fonte

199619971998

Total

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)38293097 (62,1%)
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)791329 (18,5%)
Universidade de Pernambuco (UPE)  11 (0,6%)
Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe)22 4 (2,5%)
Projeto Golfinho Rotador1  1 (0,6%)
Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA)12 3 (1,9%)
Fundação Pró-Tamar1 12 (1,2%)
Companhia Pernambucana do Meio Ambiente (CPRH)1  1 (0,6%)
Observadores de Aves de Pernambuco (OAP)1  1 (0,6%)
Instituto de Pesos e Medidas (Ipem-SP) 1 1 (0,6%)
Observatório Nacional 314 (2,5%)
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) 1 1 (0,6%)
Fundação Altino Ventura (FAV/Hope) 1 1 (0,6%)
Hospital Correia Picanço 112 (1,2%)
Comitê executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (Ceeivasf) 1 1 (0,6%)
Projeto Peixe-boi 1 1 (0,6%)
Refúgio Ecológico Charles Darwin 123 (1,9%)
Projeto Baleia-franca  11 (0,6%)
Instituto Butantan  11 (0,6%)
Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip)  11 (0,6%)

Conclusão

      Os resultados encontrados na nossa análise indicam que os jovens estudantes da área urbana são o público leitor/participante predominante na seção De Olho na Ciência e que sua curiosidade está centrada sobretudo no comportamento, hábitos e reprodução dos animais. Em segundo lugar de interesse, vem a compreensão dos fenômenos da natureza. A participação dos jovens é espontânea, mas provavelmente também sofre influência da utilização da seção De Olho na Ciência nas salas de aula de escolas das redes pública e privada da Região Metropolitana do Recife. Os dados sobre os assuntos de interesse dos leitores confirmam a recomendação usual em alguns jornais brasileiros do uso de fotos de animais nas capas. Pesquisas de recall indicam que, em geral, elas chamam mais atenção e são mais facilmente lembradas pelos leitores.
      Como a seção é publicada nas páginas da Editoria de Ciência/Meio Ambiente, os dados sobre a preferência do público participante do De Olho na Ciência também são importantes para nortear a pauta de reportagens da equipe.
      Em relação a outras seções de curiosidades publicadas por revistas de divulgação científica nacionais, verificamos que o processo de produção e edição e as dificuldades enfrentadas em relação aos textos das fontes são semelhantes. As áreas de interesse dos leitores também não diferem muito.

      Referências bibliográficas

Burkett, Warren. 1990. Jornalismo Científico; como escrever sobre ciência, medicina e alta tecnologia para os meios de comunicação. Rio de Janeiro, Forense Universitária. 229p.

Cavalcanti, Fabiane. 1995. Jornalistas e Cientistas: os entraves de um diálogo. In: Intercom – Revista Brasileira de Comunicação. São Paulo, Vol XVIII, nº 1, pp. 50-66, jan/jun 1995.

Duarte, Jorge Antonio Menna. 1998. Pesquisa & Imprensa; orientações para um bom relacionamento. Brasília: Embrapa. 27p.

Gomes, Isaltina M. 1995. Dos Laboratórios aos Jornais: um estudo sobre jornalismo científico. Dissertação de Mestrado, UFPE, (mimeo), 219 p.

Maciel, Luiz Antonio. 1998. Os Quixotes do Jornalismo. In: Revista Imprensa. Ano XII, setembro de 1998, nº 132.

Nascimento, Ernestina. 1998. Influência dos Meios de Comunicação para o Aprendizado do Meio Ambiente/Educação Ambiental e Fauna na Melhoria da Qualidade de Vida. Monografia de conclusão de Curso de Especialização em Biologia/Funeso. 29p. (mimeo)

NASW – The National Association of Science Writers. 1996. Communicating Science News; a guide for public information officers, scientists and physicians. Nova York: NASW. 36p.

Anexo

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*Fabiane Gonçalves Cavalcanti , subeditora de Ciência/Meio Ambiente do Jornal do Commercio, Recife/PE, mestre em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco.

 
 
 
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