Jornalismo Científico: teoria e prática


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Jornalistas e cientistas: os entraves no diálogo

Fabiane Gonçalves Cavalcanti*

1. INTRODUÇÃO

      O jornalismo científico é um dos novos campos da comunicação que evoluíram noséculo XX. O progresso da ciência e da tecnologia levou o público a querer maisinformações, em um curto espaço de tempo, sobre os benefícios ou prejuízos que osavanços poderiam causar. Era necessário conhecer o que os pesquisadores estavam tentandofazer e não apenas esperar pela implantação de resultados.
      Aliado a esse aumento de interesse, a comunidade científica de vários países tambémsentiu necessidade de ter o apoio do público para conseguir um maior volume e melhordirecionamento de verbas para pesquisa. Como o que interessa ao público vende e,portanto, interessa à imprensa, as páginas dos jornais de todo o mundo viram-seinvadidas pelos temas científicos, antes restritos às revistas especializadas.
      O pesquisador espanhol Manuel Calvo Hernando (1990: 63) afirma: "A divulgação daciência e da tecnologia parece imprescindível no mundo de hoje e nos atrevemos a afirmarque ela está fadada a ser a estrela informativa do jornalismo do século XXI". Ocrescimento do jornalismo científico, que está merecendo a atenção de empresas,editores, jornalistas e pesquisadores, demonstra a importância e a atualidade do tema.
      Calvo Hernando (1990) ressalta que a ciência não é patrimônio de um grupo,denominado de aristocracia da inteligência, mas de uma comunidade de massas, datotalidade do gênero humano. "Desta visão da ciência como patrimônio comum dahumanidade se origina a missão quase sagrada do jornalismo científico, que consiste empôr ao alcance da maioria os conhecimentos de uma minoria, adquiridos ao largo dahistória por pequenos grupos de homens empenhados na tarefa fascinante de medir, contar,descrever e explicar o universo, a natureza, o homem e a sociedade" (CALVO HERNANDO,1990: 63)
      Os jornalistas de ciência, num sentido restrito, são aqueles cujo trabalho éexplicar ou traduzir o conhecimento científico ou assuntos a ele relacionados para umpúblico que se encontra, a princípio, fora da comunidade científica. Os temas enfocadosneste tipo de texto vão desde pesquisas básicas ou aplicadas em ciência e tecnologia aassuntos ligados ao meio ambiente, incluindo aí as políticas - governamentais ou não -relativas a essas áreas.
      A exemplo do avanço do jornalismo científico que ocorreu no resto do mundo, osjornais diários brasileiros ampliaram o espaço concedido à informação científica etecnológica na década de 80, respondendo à crescente demanda do público por matériassobre ciência. Tanto que os principais impressos em circulação no país abrirameditorias especializadas em jornalismo científico.
      Pesquisa realizada em 1984 concluiu que os quatro principais jornais diários do Brasil- Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil - reservavam, emmédia, 6,5% do seu espaço editorial para estes assuntos (CHAPARRO, 1993). No início de90, a Folha chegou a publicar, além da página diária, um suplemento semanal deciência.
      Chaparro (1993) ressalta que o agravamento da crise econômica no país também deixouseu rastro por este setor. Vários repórteres dessas editorias foram demitidos. Osuplemento semanal de ciência da Folha de S. Paulo foi reduzido a duas páginaspublicadas no caderno Mais, de arte e cultura, que sai aos domingos, e a página diáriavirou meia-página, quando aparece. No Estadão, as notícias saem numa página publicadaaos sábados e, eventualmente, no noticiário diário da editoria Geral.
      O Globo e o Jornal do Brasil mantêm uma página diária, mas normalmente esse espaçoé ocupado por material do exterior. Mesmo reduzindo o número de páginas para adivulgação científica e o número de repórteres, os jornais continuam a ceder espaçoà ciência e tecnologia, o que para Chaparro (1993), é sinal de que há leitores paraesse assunto. Se, por um lado, a disseminação do jornalismo científico - antes restritaàs revistas especializadas - ampliou o leque de opções para o grande público, poroutro lado, suscitou problemas entre cientistas e jornalistas.
      Os pesquisadores viram-se assediados por jornalistas querendo entender e divulgar ostrabalhos científicos. Mas os cientistas temem que a objetividade e o imediatismojornalísticos simplifiquem em demasia ou deturpem a complexidade de seus trabalhos. Osjornalistas, por sua vez, costumam dizer que os cientistas se mantêm refratários erelutam em fornecer informações.
      Com base neste panorama, o trabalho ora apresentado objetiva identificar os principaispontos de entrave na relação cientista/jornalista, procurando esclarecer os fatores quedificultam o relacionamento entre cientistas e jornalistas.
      O interesse em estudar a questão do relacionamento entre cientistas e jornalistas foidespertado pela freqüência com que este aspecto é abordado nos estudos sobre jornalismocientífico. Esta observação pôde ser feita durante a experiência com bolsista deIniciação Científica da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado dePernambuco (Facepe), na pesquisa Agência de Notícias MEIO/UFPE: a experiência emjornalismo especializado, realizada de dezembro de 1991 a dezembro de 1992 (1)

      1.1. ENUNCIADO DO PROBLEMA

       Que fatores dificultam o relacionamento dos cientistas com a imprensa?

       1.2. OBJETIVOS

       1.2.1. OBJETIVO GERAL

       Identificar os principais pontos de entrave no diálogocientista/jornalista, através de pesquisa descritiva realizada com cientistas da UFPE -que já tiveram matérias publicadas na imprensa diária sobre suas pesquisas - ejornalistas que trabalham ou já trabalharam com jornalismo científico.

      1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

       I. Suscitar as críticas dos jornalistas em relação aos cientistas.
      II. Suscitar as críticas dos cientistas em relação à imprensa.
      III. Traçar perspectivas que possam apontar melhorias no relacionamento entrejornalistas e cientistas.

      1.3. HIPÓTESES DE TRABALHO

       H.1 - A supressão de informações, a tradução de termos técnicos e o uso deanalogias são estratégias utilizadas pelos jornalistas que não são bem-aceitas peloscientistas por darem margem a deturpação, contribuindo assim para acirrar orelacionamento entre estes profissionais.
      H.2 - O sensacionalismo imprimido por algumas publicações às matérias sobreciência contribui para que os cientistas se mostrem reticentes à divulgação em massade suas pesquisas.
      H.3 - A insistência dos pesquisadores em ler a matéria antes da publicação e aresistência dos jornalistas em mostrar o texto são fatores que dificultam orelacionamento entre cientistas e jornalistas.

       2. ORIGENS SECULARES

       A redação científica de hoje tem suas origens num sistema de comunicaçãosecular. Segundo Burkett (1990), no início do século XVI, os primeiros cientistasdefrontaram-se com a censura de suas atividades pela Igreja e pelo Estado. Eram nobres,eruditos, artistas e mercadores que se encontravam em várias cidades para informar unsaos outros sobre suas descobertas no campo da filosofia natural. Dessas reuniões, nasceua tradição da comunicação aberta e oral sobre os assuntos científicos. Em 1560, nacidade italiana de Nápoles, surgiu a Accademia Secretorum Naturae, a primeira de muitassociedades científicas que floresceram em Roma, Florença, Londres, Berlim e nos EstadosUnidos, no período de 1603 a 1863.
      A comunicação entre esses grupos era feita através da troca de cartas, monografias elivros em latim. De acordo com Burkett (1990), os cientistas preferiam as cartas porque osfuncionários do governo eram menos inclinados a abrir o que parecia uma correspondênciaordinária. Esta conduta parecia procedente. Só para se ter idéia, o secretário daRoyal Society for the Improvement of Natural Knowledge, Henry Oldenburg, foi aprisionadona Torre de Londres, em 1667, porque o secretário de estado britânico achou que oscomentários contidos numa comunicação científica criticavam a conduta de guerra daInglaterra contra os holandeses pelo comércio nas Índias Orientais.
      Burkett (1990) afirma que foi Oldenburg quem "inventou" o jornalismocientífico, quando lançou o periódico Philosophical Transactions, da Royal Society, emmarço de 1665. Ele traduzia textos de várias fontes para publicação em inglês elatim. É interessante ressaltar que "muito do que era publicado podia sercompreendido por qualquer das pessoas pouco letradas da época" (BURKETT, 1990: 28).As primeiras versões de jornais e revistas que apareceram na Inglaterra e na Europaimprimiam artigos dos periódicos científicos, na íntegra ou reescritos. Nas colôniasbritânicas da América do Norte isso também se repetiu.
      Mas, segundo Burkett (1990: 28), exatamente durante o século XIX, de grandesinovações científicas, "demonstrações como do barco a vapor (1807), dalocomotiva a vapor (1830) e do telefone (1876) receberam menções relativamenteinexpressivas nos jornais", porque os editores estavam mais interessados em questõespolítico-partidárias.
      "Na década de 1880, os caminhos da ciência e da sua popularização estavamdivergindo. A ciência movia-se em direção à profissionalização extrema, evidenteagora" (BURKETT, 1990: 29). Já não eram mais comerciantes e clérigos que apraticavam como um hobby. A ciência e a pesquisa científica passaram a ser ocupaçõesde tempo integral. Cientistas e não-cientistas ainda tinham em comum o interesse pornovos conhecimentos, mas já começavam a se separar.
      Dessa forma, os pesquisadores científicos abandonaram as sociedades locais, fundaramseus próprios grupos profissionais e assumiram o controle de organizações"nacionais", tais como a American Chemical Society . O jornalismo da épocaajudou esse movimento, mas, embora alguns jornais veiculassem notícias científicasacuradas, outros apelavam para a pseudociência e para a ciência com um enfoquesensacionalista objetivando promover a guerra entre os jornais.
      Os excessos cometidos por algumas publicações americanas fizeram com que oscientistas ficassem receosos. O trauma de terem suas pesquisas mal-interpretadas foi tãointenso que, mesmo décadas depois e apesar do surgimento de jornalistas voltados em tempointegral para a ciência, os cientistas mais antigos contavam aos recém-chegados os`horrores' de se ter o trabalho veiculado pelos meios de comunicação de massa.
      Burkett (1990) diz que, embora os cientistas recuassem do contato profissional com opúblico em geral e com as preocupações práticas da sociedade, os leigos não foramprivados de informações técnica e científica. No início deste século, os jornais,que estavam rapidamente se transformando em veículos de comunicação de massa, traziammatérias sobre o que seus jornalistas e leitores podiam entender. Mas, com o objetivo dedespertar o interesse do público, freqüentemente enfeitavam suas matérias com o bizarroe o imaginário.
      Histórias sobre o estranho, o incomum e o impossível enchiam a imprensa popular edavam a impressão de que a ciência se centrava no bizarro. Mesmo assim, os jornaispublicaram os prodígios das teorias de Albert Einstein sobre a relatividade, apresentadasem 1905, e a revolução física que se seguiu.
      De acordo com Calvo Hernando (1990), pode-se tomar como marco do nascimento dojornalismo científico, como o conhecemos hoje, os anos 20 deste século. Ele cita que aexperiência da primeira guerra mundial e o surgimento dos Estados Unidos como potênciatecnológica, depois de 1919, acenderam a chama do enorme interesse do público pelaciência e a necessidade de proporcionar, a governantes e cidadãos, os conhecimentoscientíficos suficientes para permitir que se formassem critérios sobre sua utilização.
      "No resto do mundo o jornalismo científico começa a estender-se comoconseqüência da popularização da imprensa escrita e da explosãocientifico-técnica", diz Calvo Hernando (1990: 60). Esta opinião é ratificada porBurkett (1990: 33): "A I Guerra mundial foi caracterizada como a guerra dosquímicos, quando os cientistas descobriram novos modos de produzir material deguerra". Os jornalistas glamourizavam as descobertas da química que, todosconcordavam, seriam para uma vida melhor.
      Os resultados a que se chegou, com o uso da química industrial na I Guerra, fizeramcom que os jornalistas e seus patrões reconhecessem que os cientistas precisavam de umaatenção mais séria, e mais crítica. "A II Guerra tornou-se a guerra dos físicospor sua contribuição em dividir o átomo para derivar bombas de fissão e poder nuclear.Dessa vez, nem mesmo os cientistas concordaram que uma vida melhor resultaria daí"(BURKETT, 1990: 33).
      No período entre-guerras, os jornalistas passaram a se dedicar com mais exclusividadeà ciência e os jornais chegaram a colocar profissionais em tempo integral para cobriresta área. Embora esses repórteres especializados cobrissem muitas reuniõescientíficas, as coisas não iam muito bem entre eles e os cientistas. "De modotipicamente americano", assinala Burkett (1990: 35), os repórteres se organizarampara aumentar seu poder de barganha e obter privilégios junto às organizações doscientistas, fundando a National Association of Science Writers (NASW) em 1934.
      Hoje, a maioria dos países conta com associações de jornalistas científicos,existindo inclusive a Associação Internacional de Escritores de Ciência , além daUnião Européia das Associações de Jornalismo Científico e a AssociaçãoIberoamericana de Jornalismo Científico. De 10 a 13 de novembro de 1992, representantesdessas entidades reuniram-se em Tóquio, no Japão, para a primeira Conferência Mundialde Jornalistas Científicos. O tema central do encontro foi O Resgate da Ciência àServiço da Humanidade.
      Os 165 jornalistas participantes, oriundos de 31 nações, mostraram-se preocupados"com os padrões de desenvolvimento adotados por países do Primeiro Mundo, que têmcontribuído com o crescimento da miséria nos países em desenvolvimento e com adestruição do meio ambiente no planeta" (OLIVEIRA, 1992: 1).

       3. O TRATAMENTO EDITORIAL DA CIÊNCIA EMPERNAMBUCO

       Os dois principais jornais de grande circulação em Pernambuco, o Diario dePernambuco (DP) e o Jornal do Commercio (JC), mantêm páginas dedicadas àciência, à tecnologia e ao meio ambiente. Mas este tratamento diferenciado para asnotícias científicas nem sempre foi assim.
      No DP, até os anos 80, qualquer notícia de âmbito científico era jogadaarbitrariamente em páginas aleatórias no corpo do jornal, conforme informou a editora docaderno de arte e cultura Viver, Lêda Rivas. Entre 1983 e 1984, foi incluída no Vivera página Ciência e Tecnologia, circulando aos domingos.
      "Isso veio em resposta ao crescimento do caderno e do público, que ia deadolescentes a idosos. Então nós tínhamos de oferecer um leque mais variado de opçõesnum espaço que quase não tinha anúncio", explica Lêda. Na época, utilizavam-sereleases de agências nacionais e internacionais para a edição da página, que depoissaiu do caderno, mas continuou sob a responsabilidade da editora do Viver. Em 1988,a página Ciência e Tecnologia passou a ser editada pelo jornalista ManoelBarbosa.
      Desde março de 1993, as matérias sobre assuntos científicos voltaram para o caderno Viver.A modificação foi conseqüência do novo projeto do caderno, que agora dedica, todas asterças-feiras, as duas páginas centrais à Ciência e Cultura. O Viver temoito páginas diárias e, de acordo com Lêda Rivas, o trabalho tem sido muito pesadoporque apesar do crescimento do caderno, o número de repórteres continua o mesmo.
      Matérias de agências nacionais e internacionais são utilizadas para compor aedição e, apesar de o DP manter um convênio com as quatro universidades parapublicação de matérias jornalísticas e de artigos dos próprios cientistas, a editorado Viver diz que recebe muito pouco material. De algumas universidades ela nuncarecebeu nada. Lêda está também utilizando matérias de alunos do curso de jornalismo daUniversidade Federal de Pernambuco (UFPE).
      Sobre a questão editorial, ela afirma que a prioridade é a matéria local."Quando o assunto é internacional, ele tem de ser tão importante que interesse atodo mundo. Só em último caso é que eu coloco um texto de fora como matériaprincipal", diz Lêda.
      No JC, da mesma forma que ocorria no DP, as matérias de ciência tambémeram veiculadas dentro do noticiário tradicional, tratadas de maneira superficial, àexceção de alguns artigos ou reportagens eventuais mais aprofundadas. As informaçõessão do editor de Ciência/Meio Ambiente do JC, Antônio Portela, cujaeditoria foi criada em junho de 1989.
      A edição da página, que circula diariamente no caderno de Cidades, reúneecologia, ciência e tecnologia. Portela conta que, nos primeiros dias, chegou-se aalternar Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia. "Decidi que não daria certo: meuprojeto era dar um noticiário dos dois assuntos e a alternância envelheceria asnotícias de ambos. Daí a reunião em Ciência/Meio Ambiente", explica oeditor.
      Portela, que coordena uma equipe de dois repórteres, julga ainda estar"experimentando" no que diz respeito ao tratamento editorial da cobertura deciência. "Tentamos imprimir à página uma filosofia. Na medida que tínhamos umcanal de comunicação com a sociedade, representada pela fração de leitores da nossapágina, deveríamos procurar conquistá-la para transmitir-lhe um conhecimento quepudesse ser útil à sua qualidade de vida. Jornalisticamente, precisaríamos usar umalinguagem cientificamente acessível - ou acessivelmente científica? Tanto faz - paraatrair o leitor. Escreveríamos, pois, para o grande público, mas sem jamais perder aexatidão", descreve Portela.
      De acordo com o editor, a escolha dos assuntos deveria obedecer, sobretudo, aocritério da origem da notícia. Na medida do possível, primeiro as notícias locais,depois as de fora. "Afinal, mesmo a ciência não tendo pátria, o JC é daquie teríamos de dar prioridade à produção científica local". Portela diz que aslimitações de pessoal não permitiram realizar nem perto do ideal, mas acredita que,nestes quatro anos, a editoria tenha oferecido uma cobertura razoável de praticamentetodas as áreas científicas do Estado.
      Portela considera que foi importante para quem faz, quem lê e quem é notícia acriação da editoria. "O tratamento editorial tentou utilizar as regras genéricasdo jornalismo, a escolha e a linguagem visaram ao leitor medianamente esclarecido, não aoscholar, e, mesmo tendo às vezes de abarcar o mundo com a pena, demos preferência ànotícia do lugar"', analisa.

      4. METODOLOGIA

       Para obter os dados necessários à verificação das hipóteses, foramentrevistados sete jornalistas e dez cientistas, no período de 21 de abril a 18 de maiode 1993. As entrevistas, elaboradas com base na releitura da bibliografia já selecionadae nas hipóteses de trabalho, abordaram, fundamentalmente, a experiência do entrevistadona área de jornalismo científico, seja como fonte, seja como repórter (ver anexo).
      Os jornalistas entrevistados, selecionados com base no critério de experiência emjornalismo científico, pertencem ou pertenceram aos quadros do JC e do DP. Vale ressaltar que foram entrevistados praticamente todos os profissionais que trabalhamou trabalharam com jornalismo científico no Recife. Dos entrevistados, quatro são homense três são mulheres. Cinco são graduados em jornalismo e dois outros têm formaçãouniversitária em outro curso.
      Os jornalistas que fazem parte da amostra têm de cinco a 30 anos de trabalho emjornalismo e têm (ou tiveram) de três meses a 25 anos de experiência em jornalismocientífico (v. tabela 1). As entrevistas foram realizadas entre 21 e 28 de abril de 1993.
      Para a seleção dos cientistas entrevistados, foram utilizados os seguintescritérios: ser pesquisador da UFPE e ter tido seu trabalho já divulgado por meio dematérias jornalísticas. Juntamente com os critérios acima, também foram levadas emconsideração as indicações de nomes feitas pelos jornalistas entrevistados.
      Por questões metodológicas, ficou definido que seria entrevistado um pesquisador decada um dos oito centros do campus da UFPE: Centro de Ciências Biológicas; Centro deTecnologia; Centro de Ciências da Saúde; Centro de Ciências Exatas e da Natureza;Centro de Educação; Centro de Artes e Comunicação; Centro de Ciências SociaisAplicadas e Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Também foram incluídas duasunidades de pesquisa que existem no campus: o Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami(Lika) e o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães. Este último não pertence à UFPE, masfunciona no campus. As unidades foram escolhidas por serem alvo de várias matérias naimprensa local e nacional.
      Durante as entrevistas, realizadas de 04 a 18 de maio de 1993, foram entrevistados seishomens e quatro mulheres, formando um total de dez cientistas. Cinco deles têm doutoradocomo grau máximo de formação, dois têm mestrado, um especialização, umpós-doutorado e um livre docência. Os cientistas tiveram de uma a 30 matériaspublicadas em jornais sobre suas pesquisas (v. tabela 2).
      Vale destacar que, neste trabalho, as identidades dos entrevistados estão omitidaspara preservá-los de quaisquer problemas decorrentes das opiniões por eles emitidas.Ressalte-se também que as entrevistas realizadas com Lêda Rivas, editora do caderno Viverdo DP e com Antônio Portela, editor de Ciência/Meio Ambiente do JCnão fazem parte do corpus de análise desta pesquisa, permitindo, portanto, aidentificação. É importante ressaltar também que, neste trabalho, as palavrasjornalista e repórter, apesar de não terem necessariamente o mesmo significado, sãousadas como sinônimas. O mesmo acontece com os termos cientista e pesquisador.
       

 TABELA 1
Total de jornalistas entrevistados: 7
Homens: 4
Mulheres: 3
Tempo que trabalha com jornalismo
Até 5 anos: 1
De 6 a 10 anos: 5
De 11 a 20 anos: -
De 21 a 30 anos: 1
Tempo de experiência em jornalismo científico
Até 11 meses: 2
De 1 ano a 4 anos e 11 meses: 3
De 5 a 25 anos: 2
Formação Superior
Jornalismo: 5
Outro curso: 2

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 2

Total de cientistas entrevistados: 10
Homens: 6
Mulheres: 4
Grau máximo de formação
Doutorado: 5
Mestrado: 2
Especialização: 1
Pós-doutorado: 1
Livre-docência: 1
Número de matérias publicadas sobre suas pesquisas
De 1 a 5: 5 pesquisadores
De 6 a 10: 4 pesquisadores
De 11 a 20: -
De 21 a 30: 1 pesquisador

Obs: Tabela em números absolutos

      5. ANÁLISE DE DADOS

      5.1. FRAGMENTOS DE EXPERIÊNCIAS

      Com opiniões convergentes ou divergentes, cada um dos entrevistados tem umpouco para contar sobre sua experiência no contato com a ciência e com a imprensa.Entretanto, como se trata de experiências pessoais, mesmo as opiniões semelhantes têmum teor muito individual, o que tornou difícil a generalização. Dessa forma, aalternativa foi pinçar trechos das entrevistas que retratassem com precisão ascaracterísticas da experiência dos entrevistados em jornalismo científico.
      Os jornalistas que fazem parte da amostra trabalham atualmente com jornalismocientífico ou tiveram experiência de, no mínimo, três meses na área. A seguir, osrelatos mais relevantes sobre impressões da atuação como repórter na área dejornalismo científico.
      J.1 - Entrei por acaso, comecei a me interessar muito pela área e hoje gostomuito de trabalhar com ciência. Esse gosto especial pela coisa me leva a tentar entendermais. Quando vou fazer uma matéria, costumo ler sobre o assunto e pedir material escritoque possa me ajudar na hora da redigir o texto.
      J.2 - Acho um saco, é um assunto difícil, pesado, embora tenha algumas coisasinteressantes. É mais uma área do jornalismo que tem um processo comum às outras e,como gosto de fazer jornalismo, é legal. Mas não é um assunto que eu pare para ler.
      J.3 - Sempre fui um aficcionado à ciência. Gasto um absurdo em livros porquegosto. Tenho uma obsessão em querer traduzir para o linguajar do cotidiano coisas queconsidero importantes na área científica e acho que as pessoas devem saber.
      J.4 - No início tive muita dificuldade porque era uma área nova, em que eunão tinha experiência. Só com o tempo é que se vai adaptando aos chavões. A grandedificuldade mesmo é conversar com alguns cientistas que insistem em manter uma linguagemmuito técnica e querem que o texto do jornal também saia técnico.
      J.5 - Foi a experiência mais importante da minha vida. Há uma gama imensa deassuntos para trabalhar e você está sempre falando com pessoas diferentes. Há umacondição de apurar seu texto e até sua perspicácia como repórter porque você tem quetraduzir algo, a princípio, difícil para o leigo numa linguagem assimilável. Exige umaobservação intelectual maior, seu conhecimento aumenta, você fica sabendo de coisasfantásticas e também se exige que você leia mais.
      Os cientistas entrevistados tiveram de uma a trinta matérias publicadas sobre suaspesquisas. A experiência como fonte mostra o outro lado da moeda e, como os relatos dosjornalistas, também abrange fatos positivos e negativos. Abaixo, os depoimentos de algunscientistas.
      C.1 - É uma experiência contraditória. Muitas vezes a entrevista sai muitobem escrita, veiculando exatamente o que se disse, com pequenos deslizes que sempreacontecem porque a linguagem popular não é a mesma que a científica. Mas, muitas vezesa distorção é tão grave que a reportagem se torna motivo de chacota dos colegas detrabalho. Outras vezes, vemos nossas entrevistas muito reduzidas ou excessivamenteaumentadas com anexos de que não falamos. Essa hipertrofia faz com que o trabalho pareçavago ou muito ambicioso sem ter estofo para isso. Por outro lado, um trabalho profundoapresentado de forma muito pequena também não é muito agradável.
      C.3 - Há um certo pavor dos cientistas diante da imprensa. A imprensa vive demanchetes, o que lhe interessa é o escandaloso, o que choca, e a ciência trabalha comdados com base científica. Muitas vezes vê-se a informação científica ser aumentada,deturpada, dita de maneira mentirosa, além de, às vezes, falsa, pelo impacto que elapode provocar na comunidade. Outras vezes, a imprensa também cria uma certa inimizadeentre o cientista e os órgãos públicos com os quais tem convênios, destilando, nasentrelinhas e linhas, críticas feitas pelos pesquisadores com a intenção de corrigir,de despertar o interesse das autoridades. Isso porque nem sempre a política adotada poressas entidades de financiamento é condizente com o que fazemos. Talvez seja por isso quehá um retraimento do cientista na hora de dar informações. Critico essa falta de ummaior entrosamento dos cientistas com a imprensa quando toda pesquisa deve ter umarepercussão na sociedade, mesmo que nem sempre de imediato. Eu vivo em função dasociedade e minha pesquisa deve ser conhecida.
      C.4 - Há uma dificuldade de comunicação do jornalista com o pesquisador,principalmente por causa de termos técnicos que são difíceis e que levam os jornalistasa interpretar coisas que não foram ditas. Hoje tenho um cuidado muito grande comentrevistas. Prefiro entregar ao jornalista um texto pronto e depois tirar suas dúvidas.
      C.5 - O jornalista presta um inestimável serviço à população porque é oveículo de comunicação entre os vários setores e a sociedade. Tenho um respeito enormepelo jornalista que leva a sério sua profissão. A pressa com que se fazem os contatoscom os cientistas, o fato de os jornalistas não serem especializados no setor e de teremmuita facilidade para interpretar as coisas, às vezes, fazem com que eles avancem osinal, colocando coisas que não são corretas cientificamente.
      C.6 - Acho importante que o grande público tome conhecimento das pesquisas,mesmo aquelas que não ofereçam um produto acabado, como é o caso da pesquisa básica.Mas o jornal utiliza a informação que o jornalista vem buscar para melhorar suaqualidade e, portanto, vender mais. Então não usa as informações de forma lícita.Deveria pagar por esse serviço e esse dinheiro seria dirigido para a melhoria delaboratórios e condições de estudo na Universidade. O jornal acha que temos obrigaçãode dar entrevistas. De forma nenhuma.
      C.10 - Como tudo na vida, tem seus prós e contras. Se por uma parte serve paraque as pesquisas sejam divulgadas e haja um maior conhecimento do que os pesquisadoresestão trabalhando, há também um lado negativo da repercussão errada das informações.Eu não dou importância em sair na imprensa, mas é estimulante principalmente para ospesquisadores iniciantes.

       5.2. AS DIFICULDADES NO ACESSO DOS "CAMELÔS" ÀS"BAILARINAS"

       O físico Luiz Pinguelli Rosa utiliza as imagens de "camelô" e de"bailarina" numa analogia às atividades desempenhadas por jornalistas ecientistas, respectivamente. Para Rosa, o termo "camelô" refere-se a pessoas deprofissões muito pragmáticas, voltadas para venda de um produto ou para sua produção -"o que pode ser tarefa de um jornalista, mas também de um engenheiro, de umeconomista quase sempre, de um administrador de empresas sempre" (IN: BRASIL, 1989:19).
      Já "bailarinas", diz Rosa, são artistas, intelectuais, escritores,professores, pesquisadores, ou seja, profissionais que, mesmo sem desprezar a renda, sãogeralmente mais interessados na glória. "Não são voltados para a produção em si,mas para atividades mais abstratas e prazerosas, mesmo sendo ambiciosos e valorizandoganhos materiais" (IN: BRASIL, 1989: 20).
      As diferenças evidentes entre as duas profissões, ilustradas de maneira jocosa nestasfiguras, já sinalizam para as dificuldades no diálogo entre ambos. Conforme assinalaBurkett (1990), tanto os cientistas como os jornalistas procuram conhecer a realidade e,possivelmente, a verdade, e partilham do interesse pela objetividade. Mas ambosfreqüentemente discordam sobre os graus de precisão e meticulosidade da reportagem. Arealidade para o redator implica o arredondamento e supressão de alguns detalhes porque,do contrário, o público não se interessaria em ler.
      A maioria dos jornalistas entrevistados disse que não teve ou teve poucos problemas norelacionamento com os cientistas. Alguns afirmaram só ter tido dificuldades no início(v. tabela 3). De acordo com eles, o maior problema é o primeiro contato. A resistêncianatural é maior no início porque as informações são técnicas e, portanto, exigem umapuro maior. "Quando você chega dizendo que é de tal jornal e que gostaria de fazeruma matéria sobre o trabalho do professor, é comum ouvir: `Ah, mas um jornal leigo?'", diz o jornalista 1.
      Mesmo assim, eles ressaltam que depois que sai a primeira matéria boa, a fontenormalmente adquire confiança. "Como em qualquer área do jornalismo, as fontesprecisam de provas de que você é confiável, decente, que não vai entregar o que elalhe confiar em off", completa o jornalista 2. De acordo com os repórteres, basta umapalavra sair "mais ou menos" para que o pesquisador os "crucifique".
      O jornalista 1 conta que já teve de ir três dias atrás de um cientista paraconquistar sua confiança e, então, conseguir uma entrevista sobre sua pesquisa."Agora imagine como é que você vai explicar ao seu editor que saiu três dias paraa rua e voltou sem matéria? Era uma pesquisa interessante, mas nem eu entendia o que elefalava, nem ele entendia o que eu perguntava. No final, a matéria saiu boa e ele virouuma fonte que me ligava quase toda semana para sugerir pauta".
      Apesar de a maioria dos jornalistas dizer que não teve problemas no relacionamento comos pesquisadores, em praticamente todas as entrevistas ficou evidente que sempre hádificuldade no acesso às fontes. De acordo com Dieguez (IN: BRASIL, 1989), na Europa ocientista faz questão de divulgar suas pesquisas porque sabe que essa atitude dámelhores condições de receber verbas.
      Segundo ele, no Brasil a situação é diferente, o pesquisador já não tem verba esabe que vai continuar sem recebê-la. Mas ele afirma que a recusa em receber a imprensaé uma atitude elitista, que só serve para que não se expanda o número de pessoas adominar o conhecimento. Isso reforça a imagem de que a comunidade científica fazquestão de encastelar-se em torres de marfim.
      Mesmo considerando este fato, a maioria dos cientistas disse nunca ter se negado a darentrevista. Da mesma forma, a maior parte dos jornalistas afirmou que ninguém nunca serecusou a dar entrevista ou não se lembra de alguma recusa. Apenas um disse ter recebidonegativas diversas vezes (v. tabela 4).
      Este jornalista disse que várias vezes já lhe aconteceu agendar entrevistas e, nahora marcada, o pesquisador dizer que não queria divulgar seu trabalho naquele momento.Os jornalistas afirmam que a justificativa mais usada é a de que o trabalho ainda nãoestá pronto. "Muitos pesquisadores acham que sair na imprensa leiga não vale nada.Eles se encastelam e não querem perder tempo dando explicações. Outros não, sãofontes maravilhosas, extremamente conscientes do seu papel de melhorador social".
      Um outro repórter entrevistou um pesquisador por duas horas e, no final, o professordisse que tudo que havia falado era em off e que o jornalista não poderia publicar. Se aomenos isso tivesse sido dito antes da entrevista, seria opção do jornalista gastar ounão seu tempo coletando informações que não poderia usar na matéria. Há também aquestão do corporativismo dos pesquisadores. O jornalista 6 diz que são profissõesnormalmente muito corporativistas, onde as pessoas são contra teorias de outras, mas nãoquerem se indispor. "Dizem as coisas, mas falam: `cuidado com o que você vaicolocar".
      Uma das questões levantadas no Guia Prático para Camelôs e Bailarinas (BRASIL, 1989)é que, algumas vezes, a resistência à divulgação de uma pesquisa pode ser uma formade mantê-la sob controle e imune a questionamentos quanto ao método ou mérito dotrabalho. Na divulgação, a pesquisa é colocada em julgamento e o cientista pode serquestionado. Segundo Dieguez (IN: BRASIL, 1989: 22), "se ele se nega a divulgar, oque está querendo é não discutir. A alegação de que o leigo não entende temprocedência no sentido de que quem tem mais preparo questiona melhor. Mas todo mundo écapaz de dar palpite - e muito bom".
      Questionada se a resistência à divulgação de uma pesquisa pode ser uma forma demanter o trabalho imune a questionamentos, a maioria dos cientistas afirma que sim, mesmocolocando ressalvas sobre a prudência do pesquisador (v. tabela 5). "Pode ser porqueo sujeito não é competente e não quer falar sobre o assunto. Outra causa é que aindanão há resultados concretos. Uma terceira razão é o pesquisador ter um concorrente quepode copiar sua idéia", diz o cientista 1. Ratificando esta opinião, o cientista 8diz que o pesquisador é alguém muito vaidoso. "Ou ele não quer que seu trabalhoseja questionado ou ele quer muito que seja divulgado".
      Para o cientista 2, a resistência à divulgação pode ser uma forma de evitarquestionamentos dependendo da finalidade da pesquisa. Mas ele alerta que é arriscadopublicar na imprensa antes de publicar numa revista científica porque nesta há o crivode outros pesquisadores, que julgam a idoneidade e a ética do trabalho, "o que aimprensa não tem até certo grau e isso pode ser traumático". O cientista 6 diz quepode até ser uma forma de evitar críticas, "mas o questionamento não vem da grandeimprensa, vem das revistas especializadas que têm referees para julgar meutrabalho".
      A prioridade para o pesquisador é a divulgação no meio científico, embora oscientistas entrevistados ressaltem que a divulgação na imprensa também é importante(v. tabela 6). A prioridade é justificada porque é disso que dependem as verbas, segundoo cientista 1. O cientista 3 destaca que a divulgação no meio científico não éprioridade, "mas o cientista é um indivíduo mal pago, então sua recompensa é versua descoberta publicada numa revista de circulação nacional ou internacional, em queele mostra aos seus pares que está fazendo algo de bom".
      O cientista 4 concorda que a divulgação no meio científico não é prioridade. Paraele, o problema é que os cientistas não têm muita oportunidade com a imprensa."Não há muita procura, nem divulgação por parte da universidade dos eventos, nemum bom espaço dedicado à ciência nos jornais. É necessário que o povo tomeconhecimento de que a universidade não só ensina, que faz pesquisa e que hoje temcondições de fazer trabalhos de ponta, usando tecnologia avançada e reconhecida",diz o cientista. Segundo ele, isso pode ser usado para mudar os conceitos sobre auniversidade hoje no Brasil. "Tem muitas verdades, mas também tem muitas coisas quese escondem".
      Ratificando esta opinião, o cientista 7 diz que, neste momento histórico, adivulgação na imprensa é fundamental para a universidade dar uma resposta à sociedadesobre a qualidade do seu trabalho. "Hoje em dia, estamos vendo a resposta da forçaque a imprensa tem no processo político. Os meios de comunicação são um espaçoexcelente para a população saber, julgar e exigir da universidade, porque nós estamosaqui com dinheiro público", justifica ele.
      O cientista 4 lembra que também não é agradável ficar procurando jornalista parainformar porque se imagina logo que isso é uma necessidade de auto-afirmação perante asociedade. Para ele, deveria haver uma comissão, talvez por centro na UFPE, quedivulgasse os trabalhos da universidade. O cientista 10 critica os pesquisadores quechamam a reportagem, dizendo que eles adoram aparecer.
      A maioria dos jornalistas entrevistados tenta convencer o cientista a dar a matériaquando este se mostra hostil ou pouco receptivo (v. tabela 7). Conversar é a melhorestratégia, dizem eles. "Às vezes o pesquisador não queria falar sobre seutrabalho, mas começava a conversar e acabava falando", diz o jornalista 7. Para orepórter 6, a habilidade de convencer é inerente ao jornalista.
      Um dos entrevistados diz que se o cientista se mostrar pouco receptivo, "a melhorpostura é esnobar". Já o repórter 2 afirma: "No caso específico dojornalismo científico, uma das formas que se pode utilizar para contornar isso é dizerque não vai sair nada sem antes mostrar a matéria ao entrevistado". Doisentrevistados dizem que nunca cientista algum se mostrou hostil.
      Segundo Burkett (1990), diz-se que os cientistas sociais são os menos inibidos nocontato com a imprensa. Talvez pelo fato de as ciências sociais serem um campo que tem sedesenvolvido junto com os veículos de comunicação de massa. De acordo com osjornalistas, os pesquisadores que se mostram mais avessos à imprensa são os das áreasde ciências exatas e da área médica.
      Para o jornalista 7, além de os jornalistas não dominarem esses assuntos, oscientistas desses setores são muito vaidosos e se sentem num patamar superior ao pessoalde ciências humanas e, conseqüentemente, aos jornalistas. O jornalista 4 disse que háuma concorrência muito grande na área médica e, por isso, o receio de revelar algo quepossa prejudicar o trabalho. Além de que, segundo o jornalista 6, a reserva de mercadoentre os médicos é bem maior. Para os jornalistas 1 e 5, não se pode generalizar, poishá pessoas que dificultam o contato com a imprensa em qualquer área.
      Indagada se utiliza algum critério para dar entrevista, a maioria dos cientistasresponde que não. Dois deles alertam que, dependendo da experiência do jornalista naárea, adotam uma linguagem diferente (v. tabela 8). "Se é um aluno da Universidade,uso uma linguagem mais simples procurando não aprofundar o assunto. Quando o jornalistaé tarimbado, aprofundo bem mais", afirma o cientista 1.
      O cientista 3, no entanto, diz que é preciso considerar o meio de divulgação e afinalidade da entrevista. "Não vou ficar toda semana recebendo jornalista que vaipublicar um troço que é lido por dez pessoas". Já o cientista 6 diz que utiliza umcritério político e ideológico. "Há certos veículos que eu não gostaria deprestigiar devido à sua postura ideológica. Nesse caso só dou entrevista se tiveralguma compensação".
      Oito dos dez cientistas entrevistados já tiveram problemas com as matérias publicadassobre suas pesquisas (v. tabela 9). A maioria dos problemas citados refere-se àinterpretação errada e à deturpação das informações dadas pelo cientista. Ospesquisadores ficam sempre preocupados em como a matéria vai ficar e riem de certasreportagens, "onde saem coisas que todo mundo aqui sabe que você não é capaz dedizer, portanto foi interpretação do jornalista", como afirma o cientista 4. Ocientista 3 lembra que os jornalistas sempre dizem que a linguagem jornalística não é acientífica. "Mas eu não sei que linguagem jornalística é essa que deturpa tantoas informações dadas", ressalta.
      Um dos pesquisadores diz que certa vez deu uma entrevista sobre amebas junto com umprofessor de origem japonesa, traduzindo o que o professor falava em inglês para orepórter. "O japonês afirmou em dado momento, e com razão, que as amebas que nóstemos aqui não são patogênicas, não produzem doenças, mas levam a culpa de muitasenfermidades que são causadas por outros organismos. Portanto ele não via necessidade detratar as amebíases porque elas nunca iriam produzir diarréias, muito menos invadir oorganismo provocando abscessos. Em determinada parte da matéria, o jornalista dizia queas amebas eram benéficas. Ora de não serem patogênicas a serem benéficas há umadiferença enorme". Segundo o cientista, esta matéria foi motivo de piadas e asexperiências negativas foram tantas que chegou ao ponto de o chefe do laboratórioproibir que fossem dadas entrevistas sem sua permissão. "Depois de algum tempo nãohouve mais problemas e saíram boas matérias", completa.
      O pesquisador 3 enfatiza que 90% das entrevistas que concedeu saíram comdeturpações, umas mais sérias, outras menos. Para ele, o mais grave é quando ojornalista começa a atribuir ao cientista coisas que ele não disse. "Se é umjornal de ampla circulação, quem lê aquilo vai considerar você como um mentiroso oucharlatão".
      Este cientista conta que, numa entrevista, falou sobre um dos principais hormônios dosinsetos, que havia usado na sua tese. "No dia seguinte saiu uma grande manchetedizendo que eu havia descoberto o tal hormônio. Depois eu disse até brincando:felizmente o pesquisador alemão que descobriu o hormônio não lê este jornal dePernambuco, senão iria pensar que eu estava me apropriando de sua descoberta".
      O destaque sensacionalista nos títulos também está no rol dos problemas enfocadospelos cientistas. O pesquisador 6 conta que durante uma entrevista disse que o cloro naágua produz substâncias chamadas clorofórmios e que elas são cancerígenas acima de umdeterminado limite. O título saiu: "Cloro na água dá câncer". "Isso éuma irresponsabilidade. Portanto, sou a favor de que se gravem as entrevistas. A manchetetem que ser apelativa, mas não pode distorcer o conteúdo das informações".
      O cientista 8 destaca, como um outro problema, a colocação de frases entre aspas comoliterais, mas que não foram ditas exatamente daquela forma. "Isso pode dar margem acertos mal-entendidos". O jornalista 1 diz que para evitar este problema, prefereretirar as citações dos textos escritos que pede, como subsídio, ao pesquisador. Mas, amaioria dos jornalistas aconselha repassar com o cientista no final da entrevista tudo quefoi anotado, tantas vezes quantas forem necessárias até que tudo fique claro para ambos,comprometendo-se a ser fiel ao que foi anotado. Tomar nota do número do telefone da fontepara entrar em contato no caso de alguma dúvida na hora de escrever é outra dicaimprescindível.
       

TABELA 3

Jornalistas
Problemas com os cientistas
Nunca teve: 3
Muito poucos: 3
Diversas vezes:1

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 4

Cientista
Já se recusou a dar entrevista
Não: 8
Sim: 2
 
Jornalista
Não conseguiu fazer matéria porque cientista recusou-se a falar
Nunca: 3
Não se lembra: 3
Diversas vezes: 1

       Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 5

Cientista
A resistência à divulgação de pesquisa pode ser uma forma de manter o trabalho imune a questionamentos
Sim: 7
Não: 1
Depende da finalidade da pesquisa: 1
Às vezes: 1

Obs: Tabela em números absolutos       

TABELA 6

Cientista
A divulgação no meio científico é prioritária para o pesquisador
Sim, mas a divulgação na imprensa também é importante: 3
Tanto no meio científico quanto na imprensa: 3
Sim: 2
Não, mas é a recompensa para o pesquisador: 1
Não, mas os cientistas não têm muita oportunidade com a imprensa: 1

Obs: Tabela em números absolutos       

TABELA 7

Jornalista
Quando o cientista se mostra hostil ou pouco receptivo...
Tenta convencê-lo a dar a matéria, conversando: 4
Nunca ninguém se mostrou hostil: 2
Esnoba: 1

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 8

Cientista
Utiliza critérios para dar entrevista
Não: 5
Não, mas adota linguagem diferente, dependendo da experiência do jornalista: 2
Não, mas considera o meio de divulgação e a finalidade da entrevista: 1
Sim, um critério político e ideológico: 1
Não respondeu: 1

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 9

Cientista
Já teve problemas com a divulgação de suas pesquisas através da imprensa
Sim: 8
Não: 2

Obs: Tabela em números absolutos

      5.3. FALANDO LÍNGUAS DIFERENTES

       A utilização de uma linguagem adequada ao público é uma meta do jornalismo. No jornalismo científico, a situação se complica pois a linguagem deve ser acessívelao público e satisfazer a precisão científica. Levando-se em consideração que aprecisão da ciência deixa pouca margem a interpretações, qualquer tentativa deescrever um texto mais leve pode implicar erros se o assunto não estiver bemcompreendido. De acordo com Almeida (IN: BRASIL, 1989: 24), "é preciso que haja umacorrespondência exata entre a explicação dirigida ao leigo e o fato científicoabordado tecnicamente e que esta transposição seja feita preservando a compreensão donão-especialista, sem o que, obviamente, não haverá comunicação".
      Há uma questão que influi diretamente na redação das matérias e que ocorre na horada entrevista. Jornalistas e cientistas falam linguagens diferentes. Esse foi o problemamais abordado pelos jornalistas entrevistados como fator que dificulta o relacionamentoentre os pesquisadores e os repórteres.
      "Não há comunicação. Essa é a melhor forma de explicar para nós quetrabalhamos com comunicação. Falamos linguagens diferentes para públicosdiferentes", destaca o jornalista 1. Os jornalistas 5 e 7 também concordam que ogrande problema é de comunicação. "Às vezes o cientista não sabe expressarexatamente o que está querendo dizer e a gente entende de outra forma", diz ojornalista 5.
      Sobre este assunto, Jacques Cousteau (IN: OLIVEIRA, 1992) tem uma opinião semelhante,externada durante a primeira Conferência Mundial de Jornalistas Científicos, realizadade 10 a 13 de novembro de 1992, em Tóquio. Para ele, "as pessoas precisam saber dosfatos, até mesmo das notícias ruins; elas estão sendo enganadas há tanto tempo, quenão mais acreditam em seus líderes, em seus representantes, e na mídia. E orelacionamento entre a ciência e a mídia espelha esta confusão. As duas comunidadesnão falam a mesma língua, e alguns poucos intérpretes não são ainda suficientes paraconquistar a opinião pública.".
      Os cientistas também concordam que a diferença de linguagens entre estas duas classesé outro fator que contribui para dificultar o relacionamento. "Nós temos o vícioterrível de ter uma linguagem muito hermética, muito preocupada com a definição deconceitos precisos. Já o jornalista tem que transmitir a coisa de uma forma que não sóos acadêmicos entendam, graças a Deus. Não tem escrito em lugar nenhum que a gentetenha que falar de forma incompreensível, muito pelo contrário", analisa ocientista 8.
      Concordando com a opinião do pesquisador, o jornalista 7 acrescenta que os cientistastêm dificuldade em colocar as informações de modo simples para o repórter. Ojornalista 5 conta que certa vez entrevistou um professor de física que, apesar de terboa vontade, não conseguia expressar seu trabalho de forma simples. "Foram dois diasde conversa e nós não conseguíamos nos entender. Foi quando eu perguntei se ele tinhafilho e de que idade. O cientista disse que tinha um de oito anos. Então eu perguntei: sevocê fosse contar essa história a seu filho, explicaria dessa forma? Ele disse que não.Então eu disse que ele fizesse de conta que eu era seu filho e me falasse sobre seutrabalho. Só então conseguimos nos entender e saiu um texto leve", conta ojornalista.
      Para o cientista 1, os pesquisadores têm uma pretensa inabilidade de falar a linguagempopular. "Todo mundo, quando quer, é capaz de explicar a coisa mais complicada domundo numa linguagem que o peão entenda. Muitas vezes, quem fala numa linguagem assimquer esconder sua ignorância por trás de palavras complexas. A formação do cientistaé, muitas vezes, deficiente, portanto ele usa essa linguagem difícil para que, se sairalguma coisa errada, ele diga que foi o jornalista que não entendeu direito", dizele. Contrariando essa opinião, o cientista 3 afirma que lamentavelmente nem todaciência pode ser popularizada. Para ele, não é toda pesquisa que pode ser transmitidanum linguajar comum e popular.
      Por outro lado, o cientista 1 também diz que o jornalista, em geral, não tem nenhumaformação na área científica que aborda nas entrevistas, nem informação anterior. Poresta razão, ele diz que muitas vezes é difícil conversar com o jornalista. O repórter1 afirma que quem trabalha com ciência precisa começar a falar o dialeto, aprenderdeterminadas palavras-chave e entender um pouco de metodologia, o que, para ele, éfundamental. "A unificação das linguagens - entender o que o cientista diz e fazercom que ele entenda o que você está perguntando - é uma barreira que o repórter temque transpor", justifica ele.
      Medina (1982) diz que a alegação de que um repórter de área deve dominar aquelalinguagem específica resulta em um fechamento contraproducente. "Como técnica detrabalho, qualquer jornalista precisa traduzir linguagens setorizadas para a linguagemjornalística de grande alcance social". De acordo com ela, "o jornalista nãoprecisa saber discutir no mesmo nível do entrevistado, precisa saber questionar,perguntar, exigir explicações compreensíveis a todos, chamar à realidade social umafonte que, por sua profissão, está condicionada a um universo fechado" (MEDINA,1982: 155-156).
      Opinião semelhante é a de Melo (1982), quando diz que a especialização não énecessária, mas o jornalista deve ser capaz de codificar qualquer informação para ogrande público, independentemente da sua especificidade. "Ao cientista cabe produziro conhecimento. Ao jornalista compete democratizá-lo, popularizá-lo" (MELO, 1982:21)
      O jornalista 1 relata que ocorre também um certo preconceito do pesquisador para com ojornalista. "Ele pressupõe que o jornalista é um especialista em generalidades e,como tal, não sabe de nada. Outros respeitam seu trabalho, mas a maioria lhe trata comoaluno. Para muitos cientistas, o jornalista é um grande analfabeto que está ali paradeturpar o que ele tem a dizer", diz ele. Entretanto, afirma que se a universidadeobrigasse o estudante de jornalismo a ler um livro por semana, ele se tornaria umespecialista em generalidades de fato. "E, sendo um especialista em generalidades,você conversa com qualquer pessoa sem maiores problemas", justifica o repórter.
      Para Medina (1982), sempre que uma fonte é colocada diante de um jornalistaautenticamente profissional, seguro de sua função, vê-se na contigência de abandonar omonólogo e entrar em um diálogo que deve ser, em última instância, com o público."Se o jornalista insistir na linguagem especializada (a de determinada fonte), nãodesaparecerá a função de monólogo - apenas um monólogo a dois" (MEDINA, 1982:157).

       5.4. QUANDO A CIÊNCIA É NOTÍCIA

       O que deve determinar a publicação de uma pesquisa em jornal? As opiniões sedividem e ao mesmo tempo convergem para um mesmo ponto: o público. A importânciajornalística de uma pesquisa científica pode ser medida, segundo os jornalistas, pelosbenefícios que aquele trabalho venha a trazer para o leitor ou pelo interesse dele peloassunto (v. tabela 10).
      O jornalista 1 diz que é difícil medir a importância de uma pesquisa científica.Para ele tudo é importante se tem função social, mas o que pode ser medido é adedicação do pesquisador "em correr atrás dos resultados de forma consciente,coerente, dentro de um cronograma saudável. Tem gente que pesquisa há dez anos e nuncaescreveu uma linha enquanto outros publicam três vezes por ano uma coisa nova".
      O jornalista 4 afirma que um trabalho científico é importante pelo número de pessoasque ele vai afetar para o bem ou para o mal. Quanto mais gente, maior o nível deimportância. Já o jornalista 6 chama atenção para notícias sobre doenças que atingemuma minoria ou sobre aparelhos que facilitam a vida de determinado número de pessoas.Essas matérias são igualmente importantes e merecem publicação, segundo ele, porque"até dentro de um princípio político as minorias têm vez". Um dosrepórteres também enfatiza que, para merecer publicação, a pesquisa tem que serinédita ou conter um fato novo.
       

TABELA 10

Jornalistas
Como mede a importância de uma pesquisa científica
Pelos benefícios que ela traz ao leitor: 2
Se é um assunto de interesse do público: 2
Pela dedicação do pesquisador: 1
Pelo número de pessoas que vai atingir: 1
Se é inédita ou tem algum fato novo: 1

Obs: Tabela em números absolutos

       5.5. O TEXTO JORNALÍSTICO NO BANCO DOS RÉUS

       "Esteja preparado para encontrar irracionalidade em pessoas que consideram aracionalidade como seu ponto mais forte" (BURKETT, 1990: 3). A advertência doestudioso em jornalismo científico vem bem a calhar quando se fala nas reclamações doscientistas. Embora a maior parte de suas queixas tenham fundamento, alguns exigem pequenosdetalhes como, por exemplo, que se mencionem na matéria os nomes de todos os integrantesda equipe de pesquisa. Para os jornalistas, as maiores reclamações dos pesquisadoresreferem-se ao enfoque da matéria, ao uso de termos técnicos desapropriados e àdeturpação das informações fornecidas (v. tabela 11).
      Muitas vezes o enfoque dado à matéria não é o que o cientista esperava ou gostariaque fosse. "É o velho problema do que eles entendem que é prioritário e o que ojornalista acha que é importante", diz o jornalista 3. O repórter 5 afirma que ocritério de hierarquia da notícia choca os pesquisadores.
      O conflito de interesses entre a fonte e o repórter é um fenômeno comum, qualquerque seja o conteúdo da matéria, não estando excluída, portanto, a informaçãocientífica. Para Chaparro (1990), esse conflito ora representa uma dificuldade àdifusão da notícia, ora um estímulo à criatividade jornalística, o que nem sempreagrada aos detentores da informação. "Deriva desse confronto o clima dedesconfiança e insatisfação que, freqüentemente, marca o relacionamento entre ocientista e o jornalista" (CHAPARRO, 1990: 129-130).
      De acordo com os jornalistas, os pesquisadores às vezes se preocupam com detalhes quenem sempre são importantes para a matéria, mas para eles são fundamentais. O jornalista1 ilustra a situação com o exemplo de um cientista que está fazendo uma pesquisa sobrea produção de papel usando caule de bananeira. Para ele, o pesquisador está muito maispreocupado com quantos gramas de soda cáustica ou de cloro vai usar para branquear."Entretanto, jornalisticamente é mais importante dizer ao pequeno produtor que abananeira que ele tem no fundo do quintal, que é tratada como lixo, serve para fazerpapel".
      O erro nos termos técnicos é outro sério problema porque pode comprometer opesquisador. Basta trocar uma palavra ou a sua ordem para mudar o sentido do que foi dito.O cientista 6 conta que empregou em uma entrevista o termo "degradável"referindo-se a um tipo de plástico e, na matéria, o jornalista colocou"biodegradável", tornando a afirmação do pesquisador cientificamente errada.
      O jornalista 1 conta que certa vez um cientista lhe disse "rocha alterada" eele escreveu na matéria "rocha modificada", e o que é pior, colocando o termonuma citação aspeada do pesquisador. "Eu poderia até dizer que a rocha eramodificada no meu texto jornalístico, mas não colocar na boca do pesquisador, porque eleé um técnico que tem a obrigação de saber o termo técnico correto". Para evitaresse tipo de erro, o mais aconselhável é checar todos os termos técnicos - inclusivesua grafia - com a fonte.
      Na visão de Burkett (1990: 73), "a tradução de termos técnicos em analogias ouilustrações ameaça basicamente o amor que os cientistas têm pela precisão".Entretanto, para a maioria dos cientistas entrevistados, a tradução de termos técnicosnão ameaça a precisão científica até porque a matéria do jornal não tem o objetivode ser científica (v. tabela 12). O cientista 5 alega que esta tradução éindispensável porque o leigo não tem a obrigação de gerir aqueles termos técnicos. Noentanto, alerta: "Aí é que é preciso uma revisão do cientista, porque ojornalista pode incidir em erro".
      Os pesquisadores indicam que é necessário que se utilizem termos técnicos corretos,até mesmo para que o leitor passe a conhecê-los, enriquecendo seu vocabulário. Além domais, "há coisas que não têm tradução, têm definição. Por exemplo,espectroscópio é um aparelho que mede a luz emitida pelos materiais", afirma ocientista 6.
      Os pesquisadores alertam que a tradução dos termos técnicos é muito difícil porquepode não refletir perfeitamente a idéia. É justamente por isso que o jornalista devevoltar para consultar as fontes ou buscar ajuda em livros e dicionários, caso tenhaalguma dúvida.
      Todos os cientistas reclamam das deturpações das informações fornecidas nasentrevistas. Entretanto, acham que, em geral, as matérias não distorcem as informaçõescientíficas, embora ressaltem que a deturpação depende do jornal, do público a que sedestina e de quem entrevista e é entrevistado (v. tabela 13).
      O cientista 9 destaca que não ocorrem distorções. "Distorcer tem umaconotação um pouco política, intencional. Prefiro interpretar como uma falta decompreensão do assunto que leva a uma redação deficiente, que por sua vez fere alógica do processo. Se eu interpretasse como distorção jamais daria umaentrevista". O jornalista 7 ratifica essa opinião dizendo que nenhum repórterprocura distorcer os fatos. "Ele pode ter dificuldade de entender e não passar bem oconteúdo, mas distorcer, não".
      Segundo Burkett (1990), tanto jornalistas quanto cientistas acreditam que as pioresdistorções ocorrem nos títulos das matérias. Contrariando esta assertiva, oscientistas acham que as distorções acontecem mais no corpo de matéria, enquanto que osjornalistas se dividem, considerando que tanto é comum acontecer no título quanto namatéria (v. tabela 14).
      O cientista 6 cita um professor do seu departamento que trabalhou numa universidade dosEstados Unidos, na qual também trabalhava um cientista que recebeu um Prêmio Nobel, em1992. Quando o prêmio foi anunciado, foram pegar informações com o professor sobre opesquisador premiado, e o título da matéria saiu "Pernambucano perto doNobel". "Ora, ele só estava perto porque trabalhou no mesmo departamento",destaca.
      Este cientista considera que o problema é que há mais impacto quando o erro sai notítulo do que na matéria. "No texto, quem nota são as pessoas que lêem com maisatenção, colegas e o pessoal da mesma área. Estamos acostumados a sobrelevar esseserros porque sabemos que não íamos dizer uma bobagem daquela", justifica opesquisador.
      Burkett (1990) diz que raramente os repórteres são os únicos responsáveis pelasdistorções. A ênfase do entrevistado em determinados aspectos chega, às vezes, a"contagiar" os repórteres, a ponto de o jornalista, também entusiasticamente,acreditar e passar isso na matéria, criando as temidas "falsas esperanças". Oscientistas e jornalistas entrevistados também acreditam que a responsabilidade pelasdistorções tanto pode ser do repórter quanto do cientista. Apenas três cientistasdisseram ser o jornalista o responsável (v. tabela 15). Os pesquisadores acham que aresponsabilidade é do jornalista quando o entrevistado procura falar numa linguagemclara, mas o repórter não se prepara para ouvir aquele assunto ou quando não dá oretorno da entrevista antes da publicação.
      "A distorção é oriunda da precipitação do entrevistador em redigir e publicarsem voltar para conversar com o pesquisador. Isso é condição sine qua non para que saiauma boa matéria. O jornalista sabe mais a linguagem do povo, mas está muito distante doobjeto de trabalho porque é um assunto que não domina. Então, vale o trabalho emconjunto", diz o cientista 9. Por outro lado, eles afirmam que a responsabilidadepode ser do cientista quando este não é acostumado a dar entrevistas e acaba falandodemais, ou quando o jornalista está preparado, mas o pesquisador se esconde atrás de umalinguagem muito complexa.
      Mesmo achando que tanto o cientista quanto o jornalista podem ser responsáveis pelasdistorções, os repórteres afirmam que a responsabilidade sempre recai sobre ojornalista, que é o autor da matéria. O repórter pode não ter tido cuidado aoescrever, ou não ter entendido e esquecido ou não querido tirar suas dúvidas, ou estardistraído na hora da entrevista ou ainda ter querido florear demais esquecendo oconteúdo para falar de coisas inócuas. Segundo eles, a culpa pode ser do cientistaquando este está distraído na hora da entrevista e não sabe explicar direito ou nãopassa a informação corretamente.
      O jornalista 4 resume da seguinte forma: "Oitenta por cento da culpa são dojornalista, porque ele tem a obrigação de perguntar enquanto houver dúvidas; 15%, docientista, que às vezes fala por metáfora, diz coisas pela metade, deixa subentendido,porque não tem o hábito de comunicar-se. Os outros 5% são do editor, que às vezes errano título". Segundo Burkett, a ocorrência de distorções nos títulos resulta, emparticular, do sistema de edição do jornal, que tem que causar impacto no leitor. Poroutro lado, "os redatores de ciência não conseguem mostrar os pontos principais desuas matérias de forma clara, direta o suficiente para seu primeiro leitor: oeditor" (BURKETT, 1990: 64-65).
      O jornalista 4 completa que "na pressa e na pressão do fechamento do jornal, oeditor pode ler rapidamente o lead e não captar bem o que o repórter quer dizer e sairum título ruim". Beaumont (1990: 85) acrescenta: "É verdade que muitas vezesfalha o jornalista por não ter uma preparação adequada, mas outras falham os meios detransmissão da informação e em outras ocasiões a pressão do tempo. A urgência comque tem que codificar uma informação não permite verificar com o devido rigor todos osargumentos dos pontos assinalados."
      Vale lembrar que, quando acusam os jornalistas por distorções, os cientistas devemanalisar como as informações foram passadas durante a entrevista. De acordo com Chaparro(1990: 131), "como fonte de informação, o cientista precisa tomar consciência deque só é possível esperar textos jornalísticos competentes quando o jornalista éalimentado também de forma competente, com informações de boa qualidade, principalmenteno que se refere à precisão, à clareza e à relevância social dos conteúdosoferecidos". É evidente que esta consideração não retira a culpa do jornalista,nem justifica a abordagem sensacionalista ou o erro do enfoque dado à matéria. Mas orisco de haver distorções existe sempre. Assim, é interessante ter em mente que "adivulgação científica não deve presumir infalibilidade, como é aliás o caso daprópria pesquisa científica", conforme ressalta Almeida (IN BRASIL, 1989: 29).
       

TABELA 11

Jornalista
Os cientistas reclamam com mais freqüência
Do uso de termos técnicos desapropriados: 2
Do enfoque dado na matéria: 2
Da deturpação nas informações fornecidas: 2
Da independência dos jornalistas: 1
Dos erros: 1
Da não citação dos outros integrantes da pesquisa: 1

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 12

Cientistas
A tradução de termos técnicos ameaça a precisão científica
Não: 6
Sim: 3
Às vezes sim: 1

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 13

Cientistas
As matérias, em geral, distorcem as informações científicas
Não: 4
Sim: 1
Isso tem melhorado muito: 1
Quase sempre: 1
Uma boa porcentagem sim: 1
Depende de quem entrevista e de quem é entrevistado: 2

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 14

As deturpações ocorrem com mais freqüência
Cientistas Jornalistas
No corpo da matéria: 4 2
Nos títulos: 3 2
Em ambos: 1 2
Não sei dizer: 2 1

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 15

O responsável pelas distorções é
Cientistas Jornalistas
Tanto o jornalista quanto o cientista: 6 3
Na maioria das vezes, o jornalista: 3 2
A pressa com que se fazem as entrevistas: 1 -
Não respondeu: - 2

Obs: Tabela em números absolutos

       5.6. CIÊNCIA X SENSACIONALISMO

       De acordo com Burkett (1990), o nível de leitura das matérias aumenta quando osredatores colocam a informação científica sob a forma de narrativa ou de história;quando a adaptam às necessidades de seu público; quando a personalizam e quando a tornamsensacionalista. Apesar de instrumento fácil para chamar atenção, o sensacionalismonão é bem visto pela comunidade científica.
      Para os cientistas entrevistados, o sensacionalismo é um dos principais problemas quedificultam o relacionamento entre os pesquisadores e a imprensa."O jornalista tem umcerto vício de puxar as coisas mais sensacionalistas do tema quando a nossa preocupaçãonão é com o sensacionalismo", diz o cientista 8. Já o cientista 6 afirma que estaexploração de um lado que não interessa é motivada pela "formação do jornalistana área científica que, às vezes, não é muito abrangente".
      A maioria dos cientistas acha que a imprensa trata a ciência com sensacionalismo,apenas dois dizem que depende do jornal ou do assunto e somente o cientista 9 diz que aciência não é tratada com sensacionalismo nos jornais (v. tabela 16). Embora dizendoque o sensacionalismo é inerente à imprensa, o cientista 9 justifica sua opiniãodizendo que a imprensa entende tão pouco do que está publicando nesta área "que setorna incapaz de fazer isso. É uma questão de incompetência para desviar oassunto".
      Praticamente concordando com esta opinião, o jornalista 4 diz que a imprensa fazsensacionalismo até com uma certa ignorância porque ela poderia usar um apelo maisracional. "Ela destaca tolices, enquanto há coisas mais graves e profundas para sedestacar. Deveria usar o sensacionalismo no bom sentido para despertar a população parao que há de grave, como as experiências perigosas nos laboratórios".
      Os jornalistas se dividem nas opiniões. Para o jornalista 5, a imprensa não trata aciência com sensacionalismo. "O jornalismo científico é muito sério mas,dependendo do veículo, você encontra sensacionalismo para vender jornal".Concordando com esta opinião, o jornalista 7 diz que depende das intenções da empresajornalística, porém "acontece mais nas outras editorias do que nas deciência". O jornalista 3 alerta que o sensacionalismo, às vezes, é muito perigosoporque se pode criar expectativas que não correspondem à realidade e há muitostrabalhos que afetam diretamente a vida de milhares de pessoas.
      Confirmando a hipótese 2 deste trabalho: "O sensacionalismo imprimido por algumaspublicações às matérias sobre ciência contribui para que os cientistas se mostremreticentes à divulgação em massa de suas pesquisas". Jornalistas e cientistasconcordam que o sensacionalismo contribui para provocar o afastamento dos cientistas daimprensa (v. tabela 17).
      O cientista 1 diz que o pesquisador tem que explicar ao repórter que não pode sersensacionalista em determinados assuntos. "Não é com um tremendo entusiasmo que agente vai divulgar que uma bactéria produz uma doença horrível por respeito às pessoasque estão doentes", explica ele. O cientista 6 diz que o sensacionalismo provocaessa reação de afastamento não só no meio científico. "O jornalista é vistocomo aquela pessoa que não tem a função de veicular a realidade. Buscando o furojornalístico, ele dá um enfoque maior do que o que a notícia comporta", justifica.
      Três cientistas entrevistados ressaltam que alguns pesquisadores até gostam dosensacionalismo. Para eles, estes profissionais não são sérios. Segundo o cientista 9,o pesquisador sério não quer saber de emoção no seu relato. Já o cientista 10 diz que"o verdadeiro cientista não gosta de muita publicidade, o que não impede que, devez em quando, saia uma matéria. O cientista sério não está sempre nos jornais. Se umapessoa está muito nos jornais, é suspeita", sentencia.
       

TABELA 16

A imprensa trata a ciência com sensacionalismo
Cientistas Jornalistas
Sim 4 1
Não 1 2
Às vezes 3 1
Não respondeu 1 3
Quase sempre 1 -

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 17

O sensacionalismo afasta os cientistas da imprensa
Cientistas Jornalistas
Sim 5 4
Não 2 -
Não respondeu - 3
Afasta alguns 3 -

Obs: Tabela em números absolutos

       5.7. MOSTRAR OU NÃO MOSTRAR A MATÉRIA, EIS A QUESTÃO 

      Quem trabalha com jornalismo científico depara-se freqüentemente com os pedidos doscientistas para ler a matéria antes da publicação. A atitude dos jornalistas diantedeste tipo de requisição varia: uns desconversam, outros dizem que podem mostrar amatéria e outros fazem que não escutam. Mas a maioria diz que o jornalista deve mostrara matéria ou lê-la por telefone se estiver inseguro ou com dúvidas (v. tabela 18).
      "Não acho nenhum absurdo voltar para mostrar a matéria, especialmente na áreade ciência, tecnologia e meio ambiente, porque são setores onde ou você estuda ouprecisa ter orientação. Essa atitude facilita o relacionamento porque mostra que vocêestá preocupado em dar informações corretas", diz o jornalista 2. Já o repórter4 afirma, com veemência, que o jornalista profissional, por ética, jamais mostra umamatéria à sua fonte porque ela tem que confiar no repórter. Concordando com estaopinião, o jornalista 5 enfatiza que esses pedidos são um desrespeito muito grande aoprofissional. "Se você foi fazer a matéria, é porque, a princípio, se julgacapaz", relata.
      O jornalista 1 diz que, via de regra, repassa todas as informações anotadas com opesquisador tantas vezes quantas forem necessárias, até que não haja dúvidas e diz aele que vai escrever exatamente o que anotou. "Noventa por cento dos casos seresolvem assim. Os 10% restantes existem na insegurança do repórter porque há assuntosrealmente muito específicos em que você deixa de captar toda a riqueza dos detalhes ounão consegue fazer uma síntese perfeita. Quando isso acontece, não hesito em ligar parao entrevistado e ler parágrafos inteiros. Voltar lá para mostrar é complicado, maspode-se mandar pelo fax também"
      A maioria dos cientistas diz que sempre pede para ler a matéria antes da publicação,mas os jornalistas nunca mostram (v. tabela 19). Segundo os pesquisadores, muitos dosrepórteres prometem que vão mostrar e, com raríssimas exceções, dão retorno."Alguns chegam a dizer `não tenha dúvida que amanhã eu passo aqui e lhe mostro amatéria' e nunca aparecem", diz o cientista 5. Essa é uma atitude que só aumenta adesconfiança com relação à classe dos jornalistas.
      Três cientistas dizem que não pedem para ver a matéria. "Isso é uma afronta aojornalista, cuja função é produzir um texto para ser lido. É um princípio básico dojornalismo, que eu compreendo do ponto de vista profissional e respeito muito. Se ele pedeque eu leia, faço com o maior prazer", justifica o cientista 1. Para o cientista 6,essa atitude tem que ser uma iniciativa do jornalista. "Acho que para garantir umaqualidade melhor da sua matéria ele deveria mostrar". Já o cientista 7 acha que,não necessariamente em todos os casos, a matéria tem que ser revista. "Isso é atéinviável. Solicito dependendo da condução da entrevista", completa.
      Numa regra todos concordam. Sempre que o jornalista se sentir inseguro ou tiverqualquer dúvida, deve entrar em contato com a fonte. Para o jornalista Wilson Moherdaui(IN: BRASIL, 1989), o bom senso deve prevalecer, mas se o cientista exige isso, porinsegurança, ingenuidade ou por alguma idiossincrasia, deve ser convencido a desistir daidéia. "No jornalismo científico, de toda forma, não me parece grave que uma vezou outra se concorde em mostrar o texto à fonte antes da publicação. Ao tratarmos dedeterminados assuntos, pode até ser recomendável fazer isso", ressalta Moherdaui(IN: BRASIL, 1989: 28).

TABELA 18

Jornalistas
Os pedidos para ver a matéria são freqüentes
Sim: 5
Não: 1
Sim, mas só na primeira matéria: 1
O que faz quando pedem para ver a matéria
Pode mostrar: 2
Desconversa: 2
Faz que não escuta: 2
Repassa as informações anotadas: 1
O jornalista...
Deve mostrar a matéria quando tem dúvidas: 4
Não deve mostrar: 3

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 19

Cientistas
Pede para ver a matéria antes da publicação
Sim: 1
Sim, mas eles nunca mostram: 5
Não: 3
Depende do assunto e da condução da entrevista: 1

Obs: Tabela em números absolutos

       5.8. PREPARAÇÃO ANTES, ENTREVISTA DEPOIS!

       A falta de conhecimento prévio do assunto a ser tratado na entrevista foi o itemmais citado pelos cientistas como fator que contribui para dificultar o relacionamentoentre pesquisadores e jornalistas. Em um ponto ambos concordam: a preparação anterior àentrevista, nem que seja uma simples leitura de verbete de enciclopédia, é importantepara que o repórter se "acostume" ao tema da entrevista e possa já começar araciocinar sobre o assunto, elaborando inclusive algumas perguntas.
      O cientista 6 afirma que seria bom que o jornalista fizesse previamente uma consultasobre o assunto que vai explorar. "O pessoal cai do céu para fazer uma matériasobre supercondutores, por exemplo, sem nem saber se é homem ou mulher", diz.
      Entretanto, essa exigência dos pesquisadores, apesar de ratificada como necessáriapor alguns repórteres, esbarra na urgência do trabalho jornalístico. Com exceção dedois jornalistas, todos eles dizem que não se preparam para fazer uma entrevista e aprincipal justificativa é mesmo a falta de tempo (v. tabela 20). Para contornar isso,eles afirmam pedir material escrito como folhetos, relatórios e resumos ao pesquisador,para subsídio na hora de escreverem a matéria. "Costumo ler esse material esubtrair algumas informações que às vezes não foram ditas pelo pesquisador, mas écomo se ele tivesse dito, já que o trabalho é dele", diz o jornalista 4. Mas essaconduta não é muito bem vista pelos cientistas. Eles reclamam da colocação de adendosque não mencionaram na entrevista.
      Para o jornalista 1, é preciso ter documentação na mão para falar sobre ciência.Já o jornalista 2 concorda que é importante pedir material, mas diz que procura secolocar na posição de leitor. "O leitor é preguiçoso, não está interessado emdetalhes técnicos, em ler dissertações, mas no que pode entender. A entrevista é omelhor caminho", destaca.
      O jornalista 6, por sua vez, diz preparar-se antes e depois. Ressalta que quando orepórter tem um pequeno domínio do assunto, conquista o entrevistado mais facilmente."Ele passa a ter menos precauções e receios. Deve-se conversar e perguntar muito,não deixando nenhum tipo de dúvida", diz, aconselhando que é sempre bom dar umaamplitude maior à matéria. "Sempre tinha a preocupação de fazer um box explicandoalguma coisa que não estava na matéria. Se era sobre uma doença, falava de alguémfamoso que tivesse tido a enfermidade, colocava os sintomas, os tipos de tratamento e comoa ciência está progredindo na área", completa o repórter, justificando que issoé importante para levar melhor ao cotidiano aquele assunto.
       

TABELA 20

Jornalistas
Prepara-se antes de fazer uma entrevista
Não: 5
Sim: 1
Depende do assunto: 1

Obs: Tabela em números absolutos

       5.9. GUERRA DE ESTRELAS

       "A maioria dos escritores de ciência tentam confirmar os fatos einterpretações de suas matérias com especialistas eruditos e de reputação. Essescientistas incluem o pesquisador original e outros cientistas que trabalham nocampo", (BURKETT, 1990: 9). Esta assertiva diferencia-se da realidade pernambucana.Apesar de os cientistas acharem que as informações devam ser confirmadas, a maioria dosjornalistas não verifica as informações dadas pelos cientistas (v. tabela 21). Osjornalistas alegam que normalmente entrevistam o titular da pesquisa e, então, não épreciso confirmar com mais ninguém. A não ser, segundo eles, que o assunto gerepolêmica ou o pesquisador diga algo que é claramente absurdo.
      É importante levar em consideração que a competição na área científica tambémé muito acirrada e, ao checar uma informação com outra fonte, pode-se criar umapolêmica infundada, trazendo sérios problemas para o jornalista, para o jornal e para ospesquisadores. "Pode-se tornar até antiético, porque há departamentos que têmpesquisas de linha e estilos diferentes e existem rivalidades entre pesquisadores. Podemser criados impasses, e eu não tenho acesso para dizer quem está correto", alerta ojornalista 1.
      Os jornalistas dizem que se pode também verificar a informação com outra pessoaquando há alguma dúvida e não se encontra a fonte que deu a entrevista, mas nesse casoé sempre bom procurar pelo menos alguém que trabalhe com a fonte. A maioria doscientistas entrevistados não vê problemas em suas informações serem confirmadas (v.tabela 22). "Na divulgação via jornal, se houve retorno, foi publicado e eu estoude acordo com o que foi dito, não existe nenhum medo de ser checado", diz ocientista 3. Quatro afirmam que é importante porque quanto maior a polêmica, mais aciência avança.
      Entretanto, outros alertam para os riscos de se verificarem as informações com outraspessoas. Segundo Burkett (1990) há uma piada do meio científico que diz que, para todoPhD, existe um PhD igual e oposto. Eles podem, portanto, discordar das opiniões um dooutro, mais por suas convicções do que por seus estudos. O cientista 6 diz que se devechecar, mas isso não pode ser usado subliminarmente. "Para mencionar que talinformação está errada tem que se dizer quem está afirmando que ela éincorreta", acrescenta ele. Já o cientista 10 diz que é necessário que o outropesquisador a ser consultado seja uma pessoa relevante, que tenha o mesmo nível daprimeira fonte. Ele alerta também para o perigo da falta de ética. "O pessoal podeopinar sobre um trabalho não cientificamente, mas porque não tem a menor simpatia pelocientista. Eu não daria opinião sobre o trabalho de um colega", destaca.
      Concordando com esta posição, o cientista 1 afirma que dar opinião sobre pesquisa é função dos referees (árbitros) das revistas científicas, e não dos colegas, pelos jornais. Ele acha que, em geral, checar as informações com outra pessoa não é produtivo porque é muito provável que o outro cientista não seja alguém que está colaborando com você, senão ele estaria na hora da entrevista. "No Brasil, como no resto do mundo, os cientistas são iguais aos outros seres humanos, ou seja, vis, egoístas, mesquinhos, rábulas de primeira ordem. Então, vão fazer o possível para avacalhar o trabalho do colega, com raríssimas exceções", analisa o cientista 1.

TABELA 21

Jornalistas
Costuma checar as informações com outros cientistas
Não: 5
Depende de área: 2

Obs: Tabela em números absolutos

TABELA 22

Cientistas
Acha que as informações devem ser checadas
Sim : 7
Sim, mas colocando na matéria a autoria das opiniões: 1
Em geral, isso não é produtivo: 1
Depende do pesquisador que vai dar a opinião: 1

Obs: Tabela em números absolutos

       5.10. FINALMENTE, O CONSENSO!

       Como melhorar o relacionamento entre a imprensa e a comunidade científica? Parao médico e redator científico Júlio Abramczyk (IN: BRASIL, 1989), o jornalista precisafalar e entender a linguagem científica e o cientista precisa reconhecer que uma matérianão é um trabalho científico, com detalhes e explicações obrigatórios.
      Já Luiz Pinguelli Rosa (IN: BRASIL, 1989), diz que o real problema é o jornal, oveículo, a massificação, o espaço reduzido para as matérias, a pressa e a prioridadeao que é comercial e é moda. Então, para ele, o jornalista tem que ter influênciasobre quem edita e dita a linha do jornal.
      A maioria dos jornalistas entrevistados acredita que, para melhorar o relacionamentoentre os cientistas e a imprensa, a simplificação da linguagem do cientista é uma dasprincipais alternativas. Mas eles também levam em consideração que, com o tempo, atendência é haver mais confiança e credibilidade mútuas.
      Já os cientistas apontam para uma modificação na formação básica do jornalista -ou seja, nos cursos de jornalismo - como uma das principais saídas para que orelacionamento entre a imprensa e a comunidade científica melhore. Eles dizem que o cursode graduação deveria oferecer oportunidade de o estudante se aprofundar nas áreas emque queira se dedicar.
      Esta opinião coincide com uma das recomendações dos jornalistas no documentoresultante da primeira Conferência Mundial de Jornalismo Científico, realizada emTóquio, em 1992: "Que a Unesco e seus parceiros continuem a incentivar a inclusãoda disciplina jornalismo científico nos currículos das universidades, e a promover acooperação entre as universidades". (Oliveira, 1992)
      As opiniões dos entrevistados sobre o que pode ser feito para melhorar orelacionamento entre cientistas e jornalistas podem ser agrupadas nos seguintes tópicos:

      A. COMUNICAÇÃO

      C.2 - Que haja mais periodicidade na procura do jornalista pelo cientista.
      J. 1 - O jornalista tem que ter jogo de cintura e estar disposto a aprender. Ocientista precisa estar consciente do seu papel, de que o leigo tem direito de saber o queele está fazendo. No mais, é tudo uma questão de conversa, de comunicação.
      J.2 - Essa dificuldade no relacionamento entre cientista e jornalista éultrapassada. O que faltava no início era esse tempo para adquirirem confiança ecredibilidade mútua. Com o tempo a ciência vai se transformar numa área qualquer dojornalismo.
      J.3 - Que continue existindo essa relação para que um lado possa sefamiliarizar com o outro. A tendência é que, com o tempo, essa convivência se tornemais amistosa. Pode-se também promover cursos e encontros entre jornalistas e cientistas.
      J.4 - Deve existir um intercâmbio maior entre cientistas e jornalistas parafacilitar o diálogo. Outra coisa que precisa ser revertida é o preconceito doscientistas contra a imprensa da própria terra por achá-la incompetente.
      J.5 - Os jornalistas devem ser bem fiéis ao que o cientista diz, nãodistorcendo, para ganhar mais credibilidade. Os cientistas também têm que procurarsimplificar suas informações porque os jornalistas sempre ficam numa posição muitocrítica - parece que quem faz tudo errado somos nós. Muitas vezes o cientista é culpadoporque quer manter uma linguagem técnica preocupado com seus colegas que vão ler. Eleesquece que o jornalista não é cientista, seu papel é comunicar, levar a notícia aopúblico.
      C.8 - Tanto os jornalistas devem procurar ter um pouco mais de conhecimentosobre o tema que está abordando como o pesquisador procurar ter uma linguagem menoshermética.
      C.9 - Os pesquisadores devem ter uma maior receptividade com os jornalistas,dando uma atenção privilegiada quando eles nos procurarem para que consigam seinteressar mais pela questão da ciência e se sintam recompensados por um trabalhodifícil de ser feito. Não dificultar um trabalho que já é complicado. Os jornalistasdeveriam manter um canal aberto com os pesquisadores e departamentos como o que mantêmcom as delegacias, por exemplo.

      B. FORMAÇÃO BÁSICA

      J.6 - O jornalista deve tentar se especializar lendo sempre, mesmo que não tenha isso no curso. A confiança é muito circunstancial. Se você chega preparado para tratar de qualquer assunto, é natural que venha a confiança. Seria interessante que o jornalista saísse da universidade preparado para atuar em determinadas áreas. Os cientistas também têm que ter em mente que você não tem o conhecimento puramente acadêmico.
      J.7 - A universidade poderia promover uma espécie de especialização emvárias áreas como economia, ciência, criando disciplinas no curso. O melhor é oscientistas aceitarem que os jornalistas divulguem sua produção, porque, mesmo semaceitar, nós não vamos deixar de procurá-los.
      C.3 - Modificar o curso de jornalismo para que ele não seja o sensacional, paraque os profissionais tenham um pouco mais de abertura, para que sua formação tenha maisamplitude nas áreas a que ele vai se dedicar. A especialização é importante para que ainformação seja feita de uma forma mais qualitativa.
      C.4 - Pela formação básica dentro da própria universidade. Quando os alunoschegassem a determinado período, seriam divididos em grupos e cada um ficaria noscentros, procurando pesquisas para irem se acostumando a fazer matérias dentro dessaconcepção de ciência e tecnologia, com os professores e as pessoas entrevistadasfazendo críticas das matérias. Com certeza isso iria melhorar bastante o nível dasmatérias.
      C.5 - Melhorar a universidade, tornando-a mais dinâmica, mais voltada para osproblemas da sociedade, porque aí ela irá sentir falta do jornalismo.
      C.6 - Profissionalizar a relação - com os jornais remunerando a universidade,os centros de pesquisas e, eventualmente, o pesquisador pela entrevista - e os jornalistasse preparando melhor, lendo antes e depois, procurando sempre enriquecer sua formação.Para isso, no curso de jornalismo deveria haver uma maior preocupação com essa parte deconteúdo de outras disciplinas como medicina, química, física e matemática. Os jornaisnem nos mandam uma assinatura de cortesia; no entanto, quando querem fazer matéria,acham-se no direito de vir aqui e a gente tem que interromper as pesquisas para darentrevista. Do lado do cientista, acho que ele tem que aprender a divulgar para o grandepúblico. É uma obrigação do cientista se preparar para a divulgação ao grandepúblico. Não existe pesquisa sem transmissão dessa informação para outras pessoas.Então, é preciso saber traduzir isso em qualquer nível, para sua mãe, para seu aluno,para seu par.
      C.7 - Trabalhar na formação do jornalista, a imprensa abrir os espaços ondesejam publicados artigos dos cientistas e os cientistas se abrirem mais para a imprensa,deixando de se restringir às revistas especializadas e acreditando que o jornal é umponto de divulgação por excelência para ampliar o trabalho do jornalista.

      6. CONCLUSÃO

       Conforme o exposto na análise dos dados, os problemas no relacionamento com asfontes não são características exclusivas do jornalismo científico. Os jornalistas dequalquer especialidade podem se deparar com todo tipo de exigências, de vícios e demazelas no exercício de sua atividade.
      Entretanto, pela especificidade dos temas, que exigem um apuro técnico maior, e pelaespecialidade das fontes com as quais invariavelmente tem que lidar, o jornalismocientífico exige uma postura diferente tanto do jornalista quanto do jornal. O repórterprecisa investir nele mesmo, buscando cada vez mais informação para poder efetuar umcontato mais integrado com a fonte e se aprofundar nos temas das matérias. Para aempresa, é uma especialidade que custa caro, tendo em vista que, dentro de uma mesmaredação, enquanto repórteres de editorias como geral, política e economia produzemduas ou três matérias numa tarde, os de ciência produzem, habitualmente, uma.
      Da mesma forma que jornalistas de política e economia encontram problemas com asfontes por questões de divergências ideológicas, jornalistas da área científicadeparam-se com dificuldades em obter informações por vários motivos, inclusive razõespessoais nem sempre plausíveis. Enquanto alguns cientistas condicionam a concessão deuma entrevista à leitura prévia da matéria, por exemplo, outros evitam divulgar suasinformações simplesmente por não confiarem no jornalista.
      Os cientistas, por sua vez, queixam-se dos erros nas reportagens, da rearrumação deinformações, do sensacionalismo imprimido irresponsavelmente a assuntos sérios emalguns veículos e da deturpação das informações emitidas. Apesar de todos essesprotestos, os cientistas foram muito menos "duros" com a imprensa do que eraesperado. Frustrando expectativas, desfiaram muito mais ponderações construtivas do quecríticas.
      De qualquer maneira, observando o panorama aqui traçado, mais parece que trabalhar comjornalismo científico é como estar em um campo de batalha, travando uma guerra sem fimcom as fontes. Não é bem assim, há uma satisfação dos repórteres em trabalhar com ostemas científicos, os quais, pelo menos a princípio, tendem a apontar para a melhoriadas condições de vida dos cidadãos. É o que se pode extrair das entrevistas comaqueles que se dedicam exclusivamente ao setor ou que têm interesse pela área. Por outrolado, percebe-se nos cientistas realmente comprometidos com o desenvolvimento da sociedadeuma enorme disposição e boa vontade em tornar públicos seus trabalhos e contribuir paraa disseminação do conhecimento. Há também que se considerar que o jornalismocientífico é ainda incipiente no Brasil.
      O certo é que dificuldades neste relacionamento existem e os principais fatores quecontribuem para os entraves deste diálogo foram apontados neste trabalho. Todospossíveis de serem contornados por meio de uma maior integração entre repórteres efontes. A diferença de linguagem entre cientistas e jornalistas, a falta de umapreparação anterior à entrevista por parte do repórter, o sensacionalismo e ojornalista não mostrar a matéria ao cientista antes de ser publicada foram os fatoresmais mencionados por pesquisadores e repórteres como entraves no relacionamento entreeles.
      Os cientistas não gostam de ver suas pesquisas expostas de forma reduzida ou aumentadademais. A hipertrofia e a supressão das informações, além da tradução de termostécnicos, foram criticadas com veemência, confirmando parcialmente a hipótese detrabalho 1 - A supressão de informações, a tradução de termos técnicos e o uso deanalogias são estratégias utilizadas pelos jornalistas que não são bem aceitas pordarem margem a deturpação, contribuindo assim para acirrar o relacionamento entre essesprofissionais.
      Cientistas e jornalistas concordam que o sensacionalismo contribui para afastar acomunidade científica da imprensa, o que vem confirmar a hipótese 2 - Osensacionalismo imprimido por algumas publicações às matérias sobre ciência contribuipara que os cientistas mostrem-se reticentes à divulgação de massa. O fato é que osensacionalismo feito exclusivamente com o objetivo de vender jornal, é nocivo a qualquermatéria, ao público, às fontes e à credibilidade dos veículos e dos repórteres.Entretanto, é preciso distinguir este tipo de sensacionalismo do destaque a assuntos como objetivo de atrair a atenção do leitor. É lógico que os limites entre os dois sãomuito tênues e passíveis de subjetividade. A prudência é, portanto, o melhor caminho.
      Também foi parcialmente confirmada a hipótese 3 - A insistência dos pesquisadoresem ler a matéria antes da publicação e a resistência dos jornalistas em mostrar otexto são fatores que dificultam o relacionamento entre cientistas e jornalistas.Apesar de ser um pedido muitas vezes incômodo, submeter o texto antes da publicação àfonte pode ser até uma alternativa para que erros sejam evitados. A maioria dosentrevistados acredita que tudo vai depender do assunto, da maneira como as informaçõesforam passadas e do aprofundamento que se queira dar ao tema.
      Como já foi destacado no capítulo 5.7, o bom senso deve sempre prevalecer. Nãonecessariamente voltar todas as vezes com matéria para apresentar ao entrevistado, mas,no caso de dúvidas ou insegurança, o melhor é, sem nenhuma vergonha, não hesitar emconsultar a fonte, pessoalmente ou não. O interesse que tudo saia correto é de ambos.
      Um ponto a ser enfatizado é que alguns cientistas queixam-se que a imprensa não osprocura freqüentemente e, para eles, não é interessante ficar solicitando divulgaçãoaos jornais. Essa ressalva dos cientistas é pertinente. Entretanto, deve-se levar emconsideração que não há uma boa divulgação da produção científica pelos órgãosresponsáveis na universidade, não cabendo aqui o julgamento das razões. Por outro lado,também não há pessoal suficiente nos jornais para cobrir todas as áreas científicas.
      Os jornalistas também não gostam de quem insiste em "aparecer" mas,considerando as razões acima citadas, sugestões de pauta são sempre bem-vindas, mesmoque sejam sobre sua própria pesquisa. Manter a imprensa informada sobre o que o cientistaestá pesquisando vai contribuir para que o conhecimento se expanda e não vai denegrir aimagem do pesquisador pois, afinal de contas, o critério de edição, ou seja, do quemerece ser pautado e do que vai ser publicado, é exclusivo do jornal. Outro fator quevale ser destacado é que é difícil acompanhar a evolução da ciência e da tecnologia.Haja vista os avanços da informática, onde computadores e outros equipamentos tornam-seobsoletos em curto espaço de tempo. Daí, a necessidade de jornalistas preparados, de umlado, e de pesquisadores atenciosos e dispostos a divulgar seus trabalhos, de outro.
      Os objetivos específicos desta pesquisa - suscitar críticas dos jornalistas emrelação aos cientistas e vice-versa, além de traçar perspectivas que possam apontaralternativas para um melhor relacionamento entre a comunidade científica e a imprensa -foram alcançados, embora os fatos aqui expostos não esgotem os limites da abrangênciado assunto.
      Recomenda-se, pois, que esta coletânea de experiências e opiniões possa serdesmembrada em outros estudos. Espera-se também que este trabalho possa contribuir paraestender a incipiente bibliografia sobre o assunto disponível no país e que os pontosaqui tocados sejam avaliados, questionados e discutidos por grupos que tenham interesse noassunto, sejam eles de cientistas ou de jornalistas.

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      PORTELA, Antônio. Depoimento escrito. Recife, 23 a 26 de maio de 1993.

RIVAS, Lêda. Entrevista gravada em áudio. Recife, 30 de abril de 1993.

RUDIO, Franz Victor. 1986. Introdução ao Método de Pesquisa Científica. 14ed. Petrópolis, Vozes. 128p.

       8. ANEXOS

       8.1. PERGUNTAS FEITAS AOS JORNALISTAS

      1 - Fez curso de jornalismo? Onde? Quando se formou?
      2 - Quais os locais que trabalhou e as funções que exerceu na área de jornalismoaté hoje? Há quanto tempo trabalha com jornalismo?
      3 - Há quanto tempo trabalha/trabalhou com jornalismo científico? Como é/foi suaexperiência?
      4 - Você já teve dificuldades no relacionamento com os cientistas?
      5 - Que fatores dificultam o relacionamento entre cientistas e jornalistas?
      6 - Alguém já se recusou a dar entrevista? Qual a justificativa usada pela fonte?
      7 - O que você faz quando o cientista se mostra hostil ou pouco receptivo?
      8 - Como se mede a importância de uma pesquisa científica?
      9 - O que os cientistas mais reclamam nas matérias?
      10 - Os pedidos para ler a matéria são freqüentes? O que você faz nessa situação?
      11 - Onde as deturpações ocorrem com maior freqüência? Nos títulos ou no corpo damatéria? Quem normalmente é o responsável pelas distorções?
      12 - Você se prepara para fazer uma entrevista? De que forma?
      13 - Você costuma checar as informações com outros cientistas?
      14 - Em que área da ciência os pesquisadores se mostram mais avessos à imprensa?
      15 - A imprensa trata a ciência com sensacionalismo? O que você acha disso? Osensacionalismo afasta os cientistas dos jornalistas?
      16 - O que fazer para melhorar o relacionamento entre cientistas e jornalistas?

      8.2. PERGUNTAS FEITAS AOS CIENTISTAS

      1 - Qual a sua formação acadêmica em graduação e pós-graduação?
      2 - Quantas matérias sobre suas pesquisas saíram nos jornais?
      3 - Como foi/é a experiência de ter suas pesquisas divulgadas através da imprensa?
      4 - Já teve problemas com a divulgação de suas pesquisas através de matériasjornalísticas?
      5 - Que fatores dificultam o relacionamento entre cientistas e jornalistas?
      6 - Você já se recusou a dar entrevista? Por quê?
      7 - Em geral, as matérias distorcem as informações científicas? Onde acontecem aspiores distorções, nos títulos ou nas matérias? Quem normalmente é o responsável poressas distorções?
      8 - Você pede para ler a matéria antes da publicação?
      9 - A tradução de termos técnicos ameaça a precisão científica?
      10 - O que acha se suas informações forem checadas com outros cientistas?
      11 - Utiliza algum critério para dar entrevista?
      12 - Qual a prioridade para o pesquisador: a divulgação no meio científico ou naimprensa?
      13 - A resistência à divulgação de uma pesquisa pode ser uma forma de manter otrabalho imune a questionamentos?
      14 - A imprensa trata a ciência com sensacionalismo? O que acha do sensacionalismo?Ele afasta os cientistas da imprensa?
      15 - O que pode ser feito para melhorar o relacionamento entre cientistas e jornalistas?

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*Fabiane Gonçalves Cavalcanti é subeditora de Ciência/Meio Ambiente do Jornal do Commercio, em Recife/PE, mestre em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco.

 
 
 
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