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Jornalismo Científico e o ensino de ciências

Wilson da Costa Bueno*

      As pessoas bem informadas sobre a precária situação do ensino brasileiro não ignoram que temos um déficit imenso de professores no segundo grau, particularmente para as disciplinas de Química, Física, Biologia, e que chega a ser dramático nas  regiões menos favorecidas do País. Isso significa que um número formidável de alunos termina o segundo grau sem ter efetivamente aulas específicas nestas áreas, submetidos a improvisações de toda ordem.
       Mas o problema não se resume a esta ausência de professores, mas também à capacitação daqueles que se dispõem a ministrar conteúdos nestas disciplinas. Como resultado deste cenário, os alunos acabam não tendo os conhecimentos mínimos sobre ciências e, portanto, incapazes de, no futuro, se situarem num mundo em que a ciência e tecnologia desempenham um papel cada vez mais importante.
       A avaliação internacional sobre o conhecimento dos alunos, realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conhecida como Pisa, na edição de 2007 já indicava este panorama para o Brasil, mas ele foi corroborado recentemente em São Paulo por meio de trabalho do Governo do Estado junto aos estudantes da rede estadual de ensino.
       Os resultados relativos ao ensino de ciências são assustadores, evidenciando que uma porcentagem significativa dos alunos não detém  informações e conhecimentos científicos compatíveis com a série em que estão matriculados. Assim, por exemplo, os alunos da sexta série não sabem como a malária é transmitida, não associam saneamento básico com mortalidade infantil, não reconhecem a participação do barbeiro na Doença de Chagas. Já os da oitava série não sabem que o álcool é menos poluente do que a gasolina, desconhecem o efeito básico da gravidade e os do terceiro ano não conseguem dizer porque não se deve jogar pilhas e baterias no lixo comum e nem identificam fontes renováveis de energia.
       Dados da  CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior mostram que menos de 10% dos professores de Física e apenas 12% dos professores de Química têm formação específica nestas áreas, ou seja,  o ensino de ciências não está sendo conduzido por profissionais capacitados.
       Se isso ainda é pouco, pode-se ainda arrolar mais argumentos para justificar a precariedade do ensino de ciências, como a proposta básica da maioria destes cursos, voltada para o uso repetido de fórmulas e pouca preocupação com o aprendizado dos conceitos. Na prática, os alunos decoram, fazem contas, mas não estimulados a experimentar, a descobrir por conta própria como as coisas funcionam.
       Este cenário preocupante tem um impacto negativo para o jornalismo cientifico e a divulgação científica de maneira geral, visto que cidadãos analfabetos cientificamente têm sempre muita dificuldade para ler, assistir ou ouvir notícias, reportagens de ciência e tecnologia, visto que não dominam conceitos ou termos básicos.
       Mas, como toda crise traz sempre uma oportunidade,  o jornalista científico, ciente destas dificuldades, pode cumprir uma função importante no processo de alfabetização científica, buscando favorecer o contato do cidadão comum com as informações e os conceitos em ciência e tecnologia.
       Na prática, isso significa que ele deve assumir que o leitor, telespectador, radiouvinte ou internauta pode não ter conhecimento adequado de conceitos e termos técnicos e buscar resgatá-los, esclarecê-los de modo a favorecer a compreensão do texto (notícia ou reportagem) sobre ciência e tecnologia.
       Com isso, o jornalista científico não estará substituindo o papel do professor de ciências (que continua sendo indispensável), mas pelo menos estará contribuindo para que as informações em ciência e tecnologia estejam acessíveis, sejam mais facilmente entendidas por pessoas pouco iniciadas nos temas das pautas que, em geral, na cobertura de ciência e tecnologia, são complexas e pouco familiares ao  público leigo.
       Infelizmente, muitos jornalistas científicos acabam deixando de atuar como mediadores no processo de divulgação científica, exatamente porque ignoram esta realidade ( o baixo nível de alfabetização científica da audiência) ou porque, tentando demonstrar erudição, se afastam dos não iniciados ou iniciantes nestas áreas.
       Como temos também destacado, o jornalismo científico pode , ao mesmo tempo, contribuir para despertar novas vocações, estimular sobretudo crianças e jovens a decidirem pela carreira científica ou docente, em especial nas áreas de Química, Física ou Biologia, preenchendo esta lacuna significativa do País na formação de professores para o ensino de Ciências.
       As avaliações do Pisa e do Governo do Estado de São Paulo estão apontando para a necessidade de medidas urgentes e tanto os educadores como os divulgadores científicos têm uma função importante a desempenhar.

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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

 
 
 
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