Ciência e Sociedade


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Pesquisa do MCT revela como o brasileiro percebe a ciência e a tecnologia

Wilson da Costa Bueno*

     

     Os meios de comunicação e, particularmente os editores , encontrarão, a partir de agora, maior dificuldade para justificar a ausência de uma cobertura sistemática de ciência e tecnologia.

Pesquisa recém realizada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia mostrou que o brasileiro contempla a área de ciência e tecnologia, enquanto foco de interesse, tão positivamente como o esporte e a coloca em posição nitidamente superior à política, que costuma ocupar inúmeras páginas nos jornais e revistas e tempo precioso nas emissoras de rádio e televisão.

A leitura atenta dos dados da pesquisa, que envolveu mais de 2.000 pessoas, poderia contemplar a área ainda de maneira mais positiva, se nela estivessem incluídas as sub-áreas de Medicina e Saúde e Meio Ambiente, consideradas as de maior interesse da população brasileira. Na maioria dos casos, a cobertura dessas áreas passa, obrigatoriamente, pela divulgação dos resultados de pesquisa, como têm acontecido com as células-tronco, com os relatórios científicos sobre o impacto do aquecimento global e o debate acirrado sobre a vantagem dos transgênicos. Em particular, neste último caso, ao contrário do que postulam os defensores da biotecnologia na agricultura, o brasileiro julga que a ciência e a tecnologia não vão ajudar a eliminar a pobreza e a fome do mundo, provavelmente associando-as a outros fatores, como a vontade política, por exemplo.

Além disso, a pesquisa evidenciou que, embora os brasileiros admitam que a ciência e a tecnologia produzam mais benefícios do que malefícios para a sociedade, parcela não desprezível (18% no total) julga que elas acarretem tanto benefícios como malefícios, mais malefícios do que benefícios ou só malefícios, apontando particularmente os problemas para o meio ambiente, a redução do emprego e o surgimento de novas doenças. Isso significa que há uma percepção que se forma sobre o chamado impacto do progresso técnico.

O brasileiro , em grande parte, acredita também que os cientistas devam ser olhados com atenção ("72% admitem que eles dispõem de poderes que os tornam perigosos" e "88% querem que eles exponham publicamente os riscos do desenvolvimento científico"). Mais ainda: 89% dos entrevistados julgam que a sociedade deve ser ouvida nas grandes decisões sobre os rumos da ciência e da tecnologia. Ou seja, confirma-se a tese de que a ciência e a tecnologia não devem permanecer restritas a um grupo de privilegiados.

O brasileiro não subestima a sua capacidade de entender a ciência e a tecnologia e reconhece (esta é a opinião de 81% das pessoas) que é capaz de compreendê-las se "o conhecimento científico for bem explicado".

Os resultados apontam, de imediato, para a indiscutível importância do processo de divulgação científica e do Jornalismo Científico em particular, bem como para a necessidade premente de reorganização e fortalecimento do ensino de ciências. E dão algumas pistas: a divulgação científica deve contextualizar as novas descobertas da ciência e da tecnologia, empenhar-se para incluir no debate a maioria dos cidadãos, promover a alfabetização científica e a democratização do conhecimento científico. Além disso, esta divulgação, ao promover o debate, deve abranger os diversos segmento da sociedade e não apenas os que produzem ciência e tecnologia e as financiam.

O brasileiro tem consciência de que é necessário estar vigilante e participar do processo de tomada de decisões e exige ser informado.

Os meios de comunicação, os educadores, os governos, os pesquisadores e cientistas deveriam estar atentos aos resultados da pesquisa do MCT: ciência e tecnologia são assuntos de interesse de todos nós e não abrimos mão de participar do debate.

Você pode consultar a pesquisa do MCT e também outras pesquisas sobre a percepção pública da ciência no site do MCT. Confira. Vale a pena.

 

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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e professor de Jornalismo Científico da ECA/USP. Editor do Portal do Jornalismo Científico on line e da revista digital Ciência & Comunicação.

 
 
 
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